Em uma entrevista exclusiva ao Jornal Opção, Luziano Carvalho, titular da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema) apresentou um panorama das ações da delegacia no combate a incêndios e na proteção de nascentes em Goiás, incluindo áreas urbanas de Goiânia. “Já recuperamos diversas nascentes em Goiás”, destaca.

O delegado elogia a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) pelas multas aplicadas e o embargo das obras irregulares relacionadas aos crimes ambientais no empreendimento JeF Floresta Agropecuária Araguaia Ltda., pertencente a José Batista Sobrinho, fundador da JBS.

A propriedade está localizada às margens do Lago Rico, um afluente do Rio Araguaia, no município de Aruanã. Segundo o delegado, a simples aplicação de multas não é suficiente; é essencial embargar todas as obras que impactam negativamente o meio ambiente, o que foi feito pela Semad. Ele menciona um desmatamento alarmante em uma área adjacente ao Lago Rico: “Há alguns anos, nós recuperamos e reflorestamos toda aquela área, e hoje ela está completamente desmatada. Isso é um crime gravíssimo, e os responsáveis foram indiciados”, afirma.

Nascente do lago Azul recuperada, no município de Mineiros l Foto: DEMA

O delegado convida a população a conhecer as nascentes de rios como o Meia Ponte, em Itauçu, onde se encontra a nascente principal, além de Santo Antônio e Goianira. Ele ressalta que, com o trabalho realizado, áreas antes desmatadas agora são verdadeiras matas. “Desde 1999, fazemos esse trabalho, e se não fosse nosso esforço para recuperar essas nascentes, o rio, que é tão importante para o abastecimento da capital, talvez estivesse seco hoje”, afirma.

Luziano enfatiza que os resultados positivos são fruto do engajamento dos produtores, que participam ativamente do processo desde o início. O delegado destaca que nem tudo se resolve pela força: “É claro que existem casos em que não há alternativa a não ser indiciar e abrir um inquérito, mas asseguro que os maiores resultados do nosso trabalho são alcançados por meio do diálogo e da conscientização.”

Para ele, a punição deve ser sempre o último recurso utilizado pela DEMA. “Em primeiro lugar, trabalhamos com a conscientização; em segundo, com a prevenção; em terceiro, com a fiscalização; e, por fim, com a punição. A lei não muda comportamentos ou culturas. Isso só acontece quando introduzimos uma nova mentalidade nas pessoas”, afirma.

O delegado ressalta a importância de ensinar desde cedo nas escolas sobre questões ambientais. “É preciso começar do berço, no início da vida”, reforça. Ele destaca que mais de cinco mil nascentes já foram recuperadas em Goiás e alerta para a ameaça que as lagoas naturais na bacia do Rio Araguaia enfrentam devido à intensificação da agropecuária. “Os pecuaristas não protegem essas lagoas e deixam o gado pisotear e destruir esses mananciais. Precisamos proteger as nascentes, pois elas alimentam os rios”, sublinha. Ele assegura, no entanto, que a DEMA trabalha incansavelmente.

Incêndios em Goiás

Sobre os incêndios que devastaram o estado neste ano, Luziano explica que a grande maioria não é intencional, mas resulta de ações como o descarte inadequado de lixo. Ele alerta para os lixões espalhados pelo estado, que frequentemente pegam fogo de forma natural. “Fomos a locais como o Parque Lagoa Vargem Bonita e a Serra das Areias, onde pessoas, muitas vezes vizinhos, colocaram fogo em lixo e, devido ao vento forte, perderam o controle, culminando em incêndios. Os lixões também são um problema, pois o vento propaga o fogo para a vegetação. Esses incêndios são, em sua maioria, crimes culposos, ou seja, sem a intenção de causar danos”, conclui.

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