Estão cada vez mais distantes as possibilidades de segundo turno na eleição para o governo do Tocantins. Muitos ainda acreditam que essa possibilidade exista, sobretudo os aliados do candidato de oposição, Ronaldo Dimas (PL), que não estão conseguindo entender o crescimento vertiginoso do candidato governista. A diferença de Wanderlei Barbosa (Republicanos) para Dimas ultrapassa 30 pontos percentuais, o que indica vitória no primeiro turno, com uma vantagem expressiva.

Pelo menos é o que apontam as últimas pesquisas de intenção de voto. A segunda rodada da pesquisa Vetor, encomendada pela Federação das Indústrias do Tocantins (Fieto) em parceria com a TV Jovem Palmas/Record, mostra que Wanderlei tem 46% de intenções de voto, o que corresponde a 59% dos votos válidos, na abordagem estimulada. Dimas tem 15%, o que representa 19% dos votos válidos. Pelos dados da pesquisa, Wanderlei vence no primeiro turno, com mais de 300 mil votos de vantagem sobre o segundo colocado.

Na comparação com a primeira rodada, divulgada em 31 de agosto, se verifica um crescimento contínuo do governador Wanderlei, que sai de 42% para 46%, enquanto se observa uma regressão de Dimas que tinha 17% de intenções de voto na primeira rodada e agora aparece com apenas 15%. No quesito rejeição, ambos estão equilibrados: Wanderlei tem 6%, Dimas tem 7%. Nessas condições, fica muito difícil imaginar 2º turno. Mas eleição é eleição. Enquanto as urnas não forem apuradas, não se pode declarar ninguém vencedor.  

O que os números das pesquisas estão dizendo é o que a movimentação das ruas está mostrando. Wanderlei Barbosa tem conseguido realizar as maiores concentrações, do Bico do Papagaio ao Sudeste. É indiscutivelmente o candidato com maior volume de campanha, tem apelo popular e tem conseguido ampliar a base de apoio atraindo líderes de peso da oposição, a exemplo do vice-presidente do PSD, empresário Edison Tabocão, que abandonou a candidatura de Irajá Abreu para apoiar a reeleição do governador.

Isso explica grande parte do crescimento contínuo do governador desde que iniciou sua campanha e a perda de consistência da candidatura do ex-prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas, que iniciou sua caminhada rumo ao Palácio Araguaia ainda no ano passado. Dimas liderou a corrida a maior parte do tempo, até às convenções e de lá pra cá parece ter estacionado, senão regredido.

O grande nome da oposição conta com o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL), do MDB do ex-governador Marcelo Miranda, e tem como candidato a senador o ex-prefeito de Palmas, considerado um fenômeno eleitoral, Carlos Amastha (PSB), mas não tem conseguido sequer polarizar com o governador. O candidato ainda é o segundo colocado, mas distante do que se considera polarização.

Não é fácil explicar, porém. Esse contexto tão favorável ao governador Wanderlei Barbosa não se deve a um único fator, é certamente resultado de uma somatória. Dimas, em parte, é responsável por esse desfecho. O excesso de confiança quando liderava as pesquisas o fez atrasar a organização de sua estrutura partidária para disputar as eleições. Subestimou demais o vice-governador quando ascendeu ao poder. Imaginou que seria fácil combater o aliado mais próximo do governador afastado. Não percebeu que Wanderlei era vice, mas não fazia parte do governo. Sempre foi visto como uma ameaça para Carlesse, que o tratou de isolá-lo. Quando ascendeu, Wanderlei tratou de construir um novo governo, o qual seus adversários continuaram erroneamente tratando como extensão do carlessismo.

Dimas dormiu e, quando acordou, Wanderlei já era o principal nome da sucessão estadual

É compreensível a ausência de críticas consistentes das oposições ao governo. As oposições ainda estão combatendo Carlesse porque não tiveram a preocupação de acompanhar a formação de uma nova estrutura de poder, não alinhada ao carlessismo – pelo contrário, com uma perspectiva de desconstrução do carlessismo.

Voltando a Dimas, ele deixou de costurar apoios consistentes quando liderava as pesquisas e não tinha adversário. Dormiu e, quando acordou, Wanderlei já era o principal nome da sucessão estadual. O ex-prefeito teve de fazer um esforço enorme até o último momento para montar a chapa para concorrer ao governo. Ainda assim, sem os nomes que desejava.

Na televisão, Dimas é apático. Excessivamente técnico, pouco convincente, falando sempre de Araguaína. De fato, é um bom exemplo de capacidade de gestão, mas quem não esteve na cidade nos últimos anos não vai entender muita coisa. Dimas é mais do que tem conseguido mostrar nesta campanha. 

O fato de ser governo sempre exerceu um fascínio muito forte em qualquer eleição, mas não é só isso. Wanderlei tem uma qualidade que o diferencia de todos os adversários. Tem jeito e gosto de povo. É o candidato mais popular. Fala a língua do povo, não por acaso é chamado de “curraleiro”, que significa filho da terra, igual aos daqui. Montado na estrutura do governo fica mais fácil transitar no meio do povo e demonstrar que é uma pessoa simples, acessível, que tem amor pelo seu povo.

Esse bom desempenho do governador deve ser atribuído primeiramente ao ex-governador Mauro Carlesse, que passou todo seu governo juntando dinheiro para que tivesse caixa para plantar obras pelos quatro cantos do Estado no último ano eleitoral e conquistar uma eleição qualitativa para o Senado. O dinheiro que Carlesse guardou serviu para Wanderlei pavimentar sua reeleição. Wanderlei aplicou os recursos que encontrou em caixa em prioridades que dão visibilidade, como recuperação de rodovias, melhoria da saúde, da educação e concedeu benefícios aos servidores que vinham sendo protelados. Não demorou muito para cair nos braços do povo. De quebra, tem grandes chances de eleger como senadora a deputada Professora Dorinha (UB) e deve ter a maioria dos deputados federais e estaduais de sua base.

O bom desempenho do governador nestas eleições deve ser atribuído também à oposição, que não conseguiu em nenhum momento confrontar o governador e suas obras improvisadas e pouco planejadas. Wanderlei faz uma campanha tranquila, sem ter de explicar nada. Seus adversários, em vez de apresentar suas contradições, que são muitas, o ajudam, dizendo que o Estado vem há 16 anos com governadores que não concluem seus mandatos e tendo gestores tampões. Se o Estado vem há quase duas décadas vivendo esse processo de instabilidade institucional em função da interrupção do mandado dos gestores, nada se pode atribuir ao governador Wanderlei, que está no cargo a apenas 11 meses.  

Ao que tudo indica, Wanderlei terá uma reeleição tranquila, segura e consagradora, como nos bons tempos de Siqueira Campos. Wanderlei pode vencer no primeiro turno e ainda em outubro iniciar um novo governo que, se quiser, poderá ficar na história. Basta querer. O mais importante para isso, pelo jeito, já conseguiu: o apoio popular. Dimas, Mourão e Irajá ainda têm 15 dias para tentar o impossível. Agora precisam lutar também contra outro adversário implacável: o tempo.