O ex-governador Siqueira Campos nunca foi unanimidade no Tocantins. Após sua morte, ocorrida na terça-feira, 4, em Palmas, decorrente de uma sepse de foco pulmonar, poderá vir a ser. O cearense que se tornou o tocantinense mais ilustre alterou o mapa do Brasil, criando o novo Estado e concretizou a luta secular do povo nortense, ganhou status de herói.

Durante os seus quatro mandatos de governador, Siqueira enfrentou oposição ferrenha, comandada por líderes como Moisés Avelino, Derval de Paiva, Eudoro Pedroza, Edmundo Galdino e Júlio Resplandes, entre outros; alguns posteriormente se tornariam aliados, não sem antes lhe causar dores de cabeça.

Dr. Júlio Resplandes, como era chamado, transitou nos três Poderes – Judiciário, Executivo e Legislativo – com a mesma competência e zelo e sobretudo com postura democrática. Foi desembargador em Goiás e, pelo Tocantins, secretário de Estado da Segurança Pública e deputado estadual. Era um dos maiores adversários do ex-governador Siqueira Campos, mas também um admirador de sua trajetória. Certa feita, durante uma entrevista ao Jornal Opção, por volta de 2010, previu que um dia Palmas poderia vir a se chamar Siqueira Campos. Uma declaração dessas, vinda de um opositor, óbvio que tem credibilidade.

Quis saber mais quando isso poderia vir a acontecer. Naquela época, ocorria um debate acalorado em torno da tramitação de um projeto de lei na Câmara de Palmas, apresentado pelo ex-prefeito Raul Filho, então filiado ao PT e adversário declarado do ex-governador, propondo alterar o nome da Avenida Teotônio Segurado, o eixão de Palmas, para Governador Siqueira Campos. Siqueira Campos que deu o nome de Teotônio Segurado à principal avenida de Palmas, na época, diante da polêmica que o assunto vinha suscitando, se declarou contrário à mudança do nome.  

Perguntei então ao ex-deputado, chamado carinhosamente de Dr. Júlio, quando Palmas poderia se chamar Siqueira Campos, já que a mudança do nome de uma avenida estava rendendo muita polêmica. Dr. Júlio foi taxativo: “Quando Siqueira morrer. A comoção vai ser tamanha que vai aparecer alguém para sugerir a mudança e certamente não terá nenhuma resistência para ser aprovada”.

A primeira previsão ainda não se pode dizer que vai se confirmar ou não. Ainda é muito cedo. Mas a segunda, o Dr. Júlio acertou em cheio. A comoção em torno da morte do ex-governador Siqueira Campos tomou conta de todo o Estado. As emissoras de televisão, de rádio e sites de notícias do Estado, além da cobertura especial durante o velório, mantiveram canais abertos para a manifestação da população, “esticando” o adeus a grande líder.

Ainda durante o funeral, pelo menos três propostas de homenagem ao ex-governador foram apresentadas. A prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) anunciou que vai implementar o projeto de lei já devidamente aprovado que altera o nome da Avenida Teotônio Segurado para Siqueira Campos. A Prefeitura já determinou estudos para efetivar o projeto, que estava engavetado desde sua aprovação, em 2010.

O governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) sugeriu que a sede do governo do Estado, o Palácio Araguaia, pode ganhar o nome de Palácio Governador Siqueira Campos. Para o governador seria uma homenagem mais do que justa, por ser o símbolo maior do poder no Tocantins. Na quinta-feira, 6, a Assembleia Legislativa aprovou por unanimidade o Projeto de Lei nº 295/2023, que altera o nome do Palácio Araguaia para Palácio Araguaia Governador José Wilson Siqueira Campos.

O projeto foi apresentado conjuntamente pelo presidente da Assembleia Legislativa, deputado Amélio Cayres (Republicanos), e todos os demais parlamentares da Casa.

De acordo com o texto, a homenagem ao ex-governador “é uma forma justa e merecida de honrar sua memória e reconhecer seus feitos”. Para os legisladores, a medida contribui para preservar a história do Tocantins a partir do conhecimento sobre a contribuição de Siqueira Campos para a criação, implantação e consolidação do Estado do Tocantins”.

O deputado federal Lázaro Botelho (pP), anunciou que vai apresentar projeto de lei na Câmara Federal sugerindo o nome de Siqueira Campos para a ponte sobre o rio Araguaia, ligando Xambioá e São Geraldo, no Pará, em homenagem ao ex-governador.    

Siqueira, que era chamado de “mito” antes da morte, agora definitivamente virou herói. Considerado o maior homem público do Tocantins, criador e implantador do Estado do Tocantins e construtor de Palmas. Foi o líder mais influente no Estado por mais de três décadas. Eleito governador quatro vezes e ainda foi o responsável direto por levar Raimundo Nonato Pires dos Santos (Raimundo Boi), Marcelo Miranda, Sandoval Cardoso e Mauro Carlesse ao comando do governo do Estado.

Isso sem contar os que apadrinhou na conquista de uma cadeira no Senado: Moisés Abrão, Carlos Patrocínio, Antônio Luiz Maia, João Ribeiro, Leomar Quintanilha, João Rocha, Vicentinho Alves e Eduardo Gomes, além de tantos outros que fez chegar à Câmara dos Deputados. Eduardo Siqueira Campos, Kátia Abreu, Antônio Jorge, Nilmar Ruiz, Pastor Amarildo Martins, eentre outros. Se conseguiu “fazer” de governadores a senadores, basta imaginar a quantidade de prefeitos e deputados estaduais que lograram êxito nas urnas ao se lançarem como fiéis seguidores do mito criado do Estado.

Também foi responsável por colocar na política o maior número de nulidades. Sandoval Cardoso e Mauro Carlesse se enquadram bem nesta concepção, para ficar apenas nesses que desceram tão rápido quanto subiram. 

No caso de Carlesse, vale uma ressalva. Siqueira foi mais usado do que propriamente um entusiasta do empresário paulista que, de uma hora para outra, se assenhorou do Tocantins, com a mesma volúpia dos velhos coronéis. Siqueira teve participação mínima, se resumiu a raras aparições em comícios e apoio discreto, porém o siqueirismo foi fiador do empresário na sua ascensão e queda política.

Siqueira Campos tem merecimento de sobra para confirmar a previsão do Dr. Júlio. Seu maior legado, o amor pelo Tocantins e sobretudo a paixão pela sua cidade. Aliás, a cidade que ele sonhou, projetou, escolheu o local, o nome e o traçado das ruas, já tem tudo de Siqueira Campos. O nome é do menos.