Ex-deputado faz duras críticas ao prefeito Carlos Amastha

Benhur de Sousa
Benhur de Sousa

Gilson Cavalcante

A eleição para a prefeitura de Palmas passa a ganhar contornos que colocam os opositores do prefeito Carlos Amastha (PSB) em uma arena de possíveis entendimentos, embora ainda esteja muito cedo para qualquer prognóstico. No entanto, o ex-deputado Sargento Aragão, que agora é o presidente estadual do PEN, começa a conversar com lideranças de outros partidos, mas sem nenhum compromisso formal de possíveis alianças. Aragão acha que está cacifado à disputa, considerando que obteve quase 44 mil votos para senador, em Palmas, nas eleições do ano passado, à frente de Kátia Abreu (30 mil) e Eduardo Gomes (31 mil). “A pisa foi grande e boa. Eu tive mais votos que a Dilma. A nossa chapa está pronta. Se tiver que sair só, nós vamos sair; estamos trabalhando para fazer alianças, mas se não for possível, será uma chapa puro sangue”, pondera o comandante do PEN no Tocantins, na entrevista que concedeu ao Jornal Opção, na Sala das Comissões, na Assembleia Legislativa, na terça-feira, 1º.

Aragão foi eleito vice-prefeito na chapa de Amastha, mas nem chegou a tomar posse, porque se desentendeu com ele antes mesmo de o prefeito assumir o cargo. Na entrevista, ele fez duras críticas ao prefeito Amastha. “O atual gestor fez um contrato de R$ 10 milhões sem licitação e contratou a empresa Total Segurança para fazer a segurança patrimonial do município, sendo que isso é função específica da Guarda Metropolitana. Com esse dinheiro, eu contrataria mais de 500 guardas de quarteirão e, assim, nossa cidade estaria bem mais segura”, sustentou.

Aragão afirma que a administração do prefeito da capital não tem prioridades, ao citar os gastos de R$ 10 milhões com segurança patrimonial em um ano, fora o R$ 1 milhão gastos com o filme da atriz Cléo Pires. “Agora esse dinheiro está fazendo falta. Para onde foi esse dinheiro? As regiões mais afastadas não veem investimento e no centro é só pintura de meio fio. A cidade tem que ter alguém que cuide das pessoas, mas não está tendo”.

O sr. assumiu no primeiro semestre o diretório estadual do PEN, com o propósito de disputar a prefeitura da capital. Como estão as articulações?
O PEN tem um pré-candidato a prefeito da capital. Tem o Sargento Aragão, mas nós temos também o doutor Luciano (Cruz), presidente metropolitano do partido, que é um nome forte. E as nossas propostas vêm ao encontro da insatisfação do povo com o gestor municipal (prefeito Carlos Amastha). Baseado nessa insatisfação, na falta de compromissos e credibilidade do prefeito, com o qual discordamos ainda antes de tomar posse, até pela catrevagem que foi levada para a prefeitura. Discordamos dessa prática de trazer gente de fora para compor a administração, mesmo porque o lema do então candidato a prefeito era “um novo caminho é possível”, lema que foi esquecido, pois Amastha utilizou-se da velha prática política. Que novo caminho foi esse?

O que de fato aconteceu entre o sr. e o prefeito?
Eu deixei de tomar posse como vice-prefeito (à época, era do PPS) porque o senhor Eduardo Gomes era o coordenador financeiro da campa­nha do deputado Marcelo Lelis (PV), que foi candidato na coligação siqueirista na eleição para prefeito em 2012. Depois da nossa eleição, Amastha deixou, de cara, o Gomes indicar quatro secretários. Isso é justo? Um cara que era coordenador financeiro do candidato adversário? Antes de tomar posse já indicar quatro secretários, e conseguir elevar o irmão (Iran Gomes), que ficou na suplência de vereador pelo PSDB à condição de titular? Então, essa foi a minha primeira discordância com o prefeito. A segunda discordância foi no final do ano, quando ele se uniu à Câmara de Vereadores para alterar a porcenta­gem que o Executivo pode mexer no orçamento de 12% para 50%. Rema­nejamento de orçamento. Hoje, o gestor desta cidade pode remanejar 50% do orçamento de qualquer secretaria sem pedir autorização ao Legis­lativo. Eu não concordei com isso e nem concordo. Isso é coisa de ditador. É por isso que ele cria secretaria extraordinária todo dia, se quiser. E fizemos uma série de questionamentos à época, até porque quem ajuda a eleger ajuda a governar e com responsabilidade. Hoje, Palmas é uma república de Santa Catarina; basta veri­ficar a relação de secretários. Pelos menos há cinco meses era assim. Não é surpresa também quando ele publicou um decreto dando plenos poderes ao senhor Thiago Andrino para contratar e exonerar e fazer o quiser. Veja bem: você ganha a eleição para prefeito e nomeia uma pessoa para fazer isso? Eu acho que a sociedade, no momento certo, reagiu, e nas eleições do ano passado, para governador e deputados, e vai reagir fortemente agora em 2016.

Amastha sabe administrar shopping. Você já viu algum shopping sujo? o centro de Palmas está limpo, mas vai na Capa­dócia, no Morada do Sol. A cidade não precisa só de um administrador de shopping”
Amastha sabe administrar shopping. Você já viu algum shopping sujo? o centro de Palmas está limpo, mas vai na Capa­dócia, no Morada do Sol. A cidade não precisa só de um administrador de shopping” | Foto: Divulgação

Hoje, no que o sr. discorda do prefeito de Palmas?
Discordamos dele como gestor nos seguintes pontos: ele contratou uma empresa, no mês de maio de 2014, por um período de um ano, por R$ 10 milhões, sem licitação. É a empresa Total Segurança, para fazer segurança patrimonial. E a Guarda Metropolitana serve para quê? Nin­guém viu alguém vestido com o uniforme da referida empresa. Eu desconheço e a Guarda Metropo­litana também. Então, foi um esquema para pegar dinheiro para a campanha de 2014.

R$ 10 milhões davam para contratar 500 guardas-quarteirão a R$ 800 por mês. Eram 500 famílias que a prefeitura deixou de atender na cidade, com esse dinhei­ro. Deu R$ 1 milhão para a atriz Cléo Pires para ela gravar uma cena na Quadra 75; depois R$ 6 milhões para a iluminação de Natal. Estou falando de prioridades que a gente discorda. E, depois, R$ 2 milhões para enfeitar rotatórias com coelhinhos da páscoa de material plástico. E, agora, mais R$ 495 mil para o Festival Gastronômico. Ele demitiu quase 400 pais de família e contrata uma empresa por R$ 495 mil só para gerenciar o evento de gastronomia. São aproximadamente R$ 20 milhões gastos em ações e eventos que não são prioridades. E agora vem falar em contenção de gastos? Se antes esse dinhei­ro não fazia falta, agora está fazendo? A prefeitura arrecada cerca de R$ 1 bilhão. Então, nós discordamos dessas mazelas, das ações do gestor de Palmas.

Qual o projeto do PEN para 2016?
O Projeto PEN 51 defende a cons­trução imediata do Hospital de Urgência e Emergência. E como seria efetivada essa obra, na hipótese de eu ser candidato e ser eleito? A prefeitura repassa R$ 5 milhões para o Estado todo mês, sem contar que o prefeito paga mais de R$ 500 mil de aluguéis por mês (de prédios para abrigar órgãos públicos). Esse dinheiro daria para construir um prédio por mês. Todo trabalhador sai do aluguel e tenta ter a sua casa própria. A prefeitura de Palmas fez o caminho inverso: saiu da casa própria para o aluguel. Nós discordamos disso, mas a prioridade dele (Amastha) é essa. A nossa é outra. Outro projeto do PEN é o guarda-quarteirão. Segurança Pública não é só o Estado, não. É o Estado-mãe, o Estado-membro e o município. Com relação ao passe livre, com o Sargento Aragão prefeito – por enquanto sou pré-candidato – será implantando; e eu sei como tirar o dinheiro para isso.

Hoje, a prefeitura renuncia o ISS às empresas de ônibus, que é de 5%. Se o Toninho da Miracema (dono de empesa de transporte coletivo) e outras empresas fa­tu­­­ram R$ 10 milhões por mês, 5% disso são R$ 500 mil mensais. Este montante distribuído em passes livres daria para quantas pessoas? Seriam beneficiados todos os alunos da rede pública de ensino, estudantes universitários, desde que comprove a sua renda familiar. É claro: teremos critérios e certa preferência para os alunos dos cursos profissionalizantes. Outro projeto do PEN é a suspensão, por 120 dias, a partir de janeiro de 2017, da cobrança abusiva da tarifa de estacionamento, que não tem nada de rotativo. Você paga R$ 2 por uma hora e, se for para outro estacionamento, vai pagar mais R$ 2 pelo mesmo tempo.

A majoração no valor do IPTU foi uma das ações do prefeito Amastha que mais mexeu com a população. O sr. pensa em rever a Planta de Valores, que serve como base de cálculo para a cobrança do IPTU, caso venha a ser prefeito da capital?
Vamos fazer a revisão geral da Planta de Valores Imobiliários. É aí que o bicho pega. Se pegarmos o dinhei­ro do BRT, não precisa pegar todo, não, bastam os 5% que paga para a empresa de ônibus e os R$ 5 milhões que a prefeitura repassa para o Estado todo mês, que dá para cons­truir o Hospital de Urgência e Emergência da nossa cidade.

Mas o PEN não necessitaria de uma ampla aliança para ter sucesso nas urnas? Alguma articulação nesse sentido?
Qualquer aliança que o PEN vir a fazer é no sentido de a gente garantir a melhor condição de trabalho para os trabalhadores de Palmas. Não vamos trocar educadores por cuida­dores, não, como o prefeito vem fazendo. Isso é um crime de respon­sa­bilidade e uma falta de respeito para com os professores e a sociedade. O PEN, na sua sustentabilidade, temos um projeto pronto na questão da preservação das nascentes. O Rio Taquaruçu está morrendo e só se consegue salvá-lo preservando as nascentes, e o gestor de Palmas tem que fazer isso. Não vamos fazer aliança pura simplesmente para se eleger.

O sr. tem conversado com lideranças de outros partidos, com vistas a uma composição para 2016?
Já estamos conversando sim. Conversando com o deputado Wan­derlei (Barbosa, SD), o ex-deputado Marcelo Lelis (presidente estadual do PV), o ex-prefeito Raul Filho (PR) e com as lideranças que discordam da gestão atual. Pode ser que dessas conversas saia uma grande aliança. Agora, todos nós estamos trabalhando para uma candidatura própria. Mas o PEN terá candidatura própria, tanto que estamos montando uma chapa puro sangue. Caso não dê para se coligar ou os partidos de oposição entenderem que devam fazer uma coligação com o PMDB, junto com o governador Marcelo Miranda e ou­tros entenderem que se deve fazer uma aliança com a senadora Kátia Abreu e o prefeito Amastha, juntos, podem ir, mas nós estamos fora desse time. Não fazemos aliança com alguém ligado à prefeitura de Palmas. A eleição é municipal. Não temos que falar em eleições estaduais agora.

Nas eleições de 2014, o sr. foi o candidato a senador mais bem votado na capital, deixando para trás Kátia Abreu e Eduardo Gomes. O resultado do pleito o cacifou para postular a prefeitura de Palmas em 2016?
Eu acho que o que leva a gente a colocar o nosso nome para a aprecia­ção foi, primeiro, a campanha para prefeito de 2012, quando nós dissemos à população da cidade que colocaríamos um ponto de ônibus, todo ano, com ar condicionado, com banca de revista e com internet. Na realidade, nada disso foi feito. Dis­semos que íamos acabar com o monopólio maléfico, que é o transporte público de Palmas. Aconteceu tudo ao contrário: o prefeito co­meçou a alugar prédios do detentor da maior empresa de ônibus da cidade. Então, sou pré-candidato a prefeito de Palmas baseado em todo esse descompasso da gestão municipal e baseado também na votação expressiva que obtivemos na capital, quando fomos candidato a senador no ano passado. Qual foi o candidato que o prefeito Amastha apoiou em Palmas e que ganhou? Nenhum. Todos que ele apoiou perderam. Ele (Amastha) apoiou o Eduardo Gomes e eu dei uma taca de cinco votos por um, no bairro Taquari e quase 50% no Plano Diretor da cidade. Ele (Amastha) apoiou o Sandoval Car­doso, que perdeu; apoiou o Aécio Neves no primeiro turno, que foi o sexto colado em Palmas; apoiou o Major Negreiros (PP) a deputado estadual, que ficou em quarto lugar em Palmas; quando foi no segundo turno, ele foi apoiar a Dilma e eu apoiei o Aécio, que pulou de sexto para primeiro lugar na capital. Em Palmas, tive quase 44 mil votos para senador; Kátia Abreu, 30 mil, e o Eduardo Gomes, 31 mil. A pisa foi grande e boa. Eu tive mais votos que a Dilma.

O sr. não acha que falta ao prefeito mais experiência política?
Eu acho que o Amastha é um faxi­neiro de luxo. Dono de shopping sabe administrar shopping. Você já viu algum shopping sujo? Todo shopping é limpinho. O Centro de Palmas é todo limpo. Agora, vai na Capa­dócia, no Morada do Sol I, II e III, vai no Amaro, no Irmã Dulce. Eu visito todos os bairros, como chambari com as pessoas. Então, Palmas não está precisando só de um administrador de shopping, não. Ninguém pode reclamar da limpeza da cidade. Agora, como trocar educador por cuidador? Os monitores hoje são cuidadores, pessoas que não têm nem o ensino médio.

O deputado Wanderlei Barbosa, que apoiou o então candidato a prefeito Amastha, hoje é um dos seus principais adversários políticos. O sr. já entabulou algum entendimento com ele no sentido de abraçar o seu projeto para 2016?
O Wanderlei está fazendo o trabalho dele como parlamentar. O Raul Filho está fazendo a sua plataforma politica. O Lelis está fazendo a dele também e nós estamos na nossa batalha de organização do partido e levando o nosso nome. Isso não significa alinhamento politico, não.

Significa alinhamento de conversa até o dia 30 de junho do próximo ano. Se der para caminharmos juntos, vamos caminhar. E se isso não for possível, vamos continuar na nossa luta. Agora, eu tenho um compromisso até o dia 30 de setembro, que é a missão de filiar mil pessoas na capital ao PEN e chegarmos com a nossa chapa completa para vereadores, em torno de 40 pré-candidatos, no mínimo. A nossa chapa está pronta. Se tiver que sair só, nós vamos sair; estamos trabalhando para fazer alianças, mas se não for possível, será uma chapa puro sangue.