Tucano afirma que era voz dissonante no Senado quando denunciava a existência de uma caixa-preta nas entidades do sistema

Ataídes: “A prisão do presidente Robson Andrade é apenas a ponta do iceberg”. Foto: Agência Senado

Na terça-feira, 19, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, foi preso pela Polícia Federal, em mais uma etapa da “Operação Fantoche”, que investiga um esquema de corrupção envolvendo contratos com o Ministério do Turismo e entidades do Sistema S, entre elas o Sesi. 

A investigação aponta que um grupo de empresas, sob o controle de uma mesma família, vem executando contratos desde 2002 por meio de convênios tanto com o Ministério, quanto com o Sesi. Eles receberam mais de R$ 400 milhões por esses serviços. Também foram alvo da referida operação policial, os presidentes das Federações das Indústrias dos estados de Pernambuco, Alagoas e Paraíba, além de empresários e outros profissionais liberais.

Segundo a Polícia Federal, o Ministério do Turismo e entidades do Sistema S fechavam contrato com uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) para oferecer o serviço cultural. A Oscip foi uma forma encontrada pela organização criminosa para não prestar contas diretamente aos órgãos de fiscalização e se afastar da contratação direta com o Ministério e o Sistema S e, por consequência, livrar-se da fiscalização dos órgãos de controle, entre os quais, o Tribunal de Contas da União.

A bem da verdade, para os eleitores que ouviram os discursos do ex-senador tocantinense Ataídes Oliveira (PSDB) no Congresso Nacional, não se trata de novidade. Muitas foram as vezes que Oliveira reverberou que havia uma caixa preta no Sistema “S”. Ao Jornal Opção, o ex-parlamentar foi enfático: “Em 2011, quando comecei a vasculhar e investigar o Sistema S, percebi que a coisa era muito feia. Por muitos anos no Congresso eu tentei convencer meus pares, dia a dia, semana após semana. Mas eu era apenas uma voz dissonante. A imprensa também se recusou a me ouvir. Contudo, nunca desisti e continuei a fazer meus discursos acerca do tema. Recebi desde proposta de propina até ameaça de morte para que eu me calasse. Não aceitei e nem tive medo. O que posso afirmar é que a prisão do presidente Robson Andrade é apenas a ponta do iceberg, ainda há muito mais para vir à tona. Tenho um contato próximo com as autoridades responsáveis pelo caso e enfatizo que o rombo tem proporções dantescas”.

Combate à corrupção
É provável que os tocantinenses perderam uma oportunidade ímpar de contar com um senador que estava realmente comprometido com o combate à corrupção, mesmo porque deu mostras disso enquanto relator de vários processos polêmicos, entre os quais a prisão do ex-senador Delcídio Amaral e o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, como também a presidência de Comissões Parlamentares de Inquérito que investigou o desvio de R$ 200 bilhões no Conselho Administrativo de Recursos Federais (Carf) e, a mais famosa delas, a CPMI da JBS, que investigou os irmãos Joesley e Wesley Batista.

Já o gargalo do Sistema S, que Ataídes tanto trouxe à pauta no Senado, foi agora desvendado pela Polícia Federal e, pelo jeito, ainda vai prender muito “peixe graúdo”. É, verdadeiramente, uma pena o percursor e denunciante dessas barbáries com o dinheiro público não ser mais detentor de mandato. Sem sua voz reverberando, talvez o parlamento federal não se interesse em cumprir seu papel fiscalizador e, a “caixa preta” do sistema “S”, sequer seja aberta.