Ex-gestores falam do que fizeram e o que esperam para a cidade

14 maio 2016 às 12h19

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Cinco ex-prefeitos rememoram suas respectivas contribuições para a capital do Estado

Dock Júnior
Palmas, capital do Tocantins, foi erguida no vale da Serra do Carmo, na margem direita do Rio Tocantins — hoje em forma de lago em virtude da barragem da hidroelétrica do Lajeado. Concebida como a última cidade planejada do milênio, a capital foi simetricamente desenhada e arquitetada para suportar um grande fluxo de trânsito, usuários do serviço de transporte urbano, além de ciclistas e pedestres. A subdivisão entre o lado comercial e público e o residencial da cidade também é algo que chama a atenção, bem como a preocupação com a ecologia e arborização urbana. Hoje Palmas possui uma população superior a 250 mil pessoas, oriundas dos mais diferentes Estados da federação, bem como de outros países. Quente como sempre, bela como nunca, a capital do Tocantins, além de oferecer excelente qualidade de vida, é a mais linda das cidades do Norte do Brasil.
A sua pedra fundamental foi lançada em 20 de maio de 1989, contudo, assumiu a condição de capital do Estado apenas em 1º de janeiro de 1990, quando os poderes efetivamente constituídos foram transferidos da capital provisória, Miracema, para o plano diretor da nova cidade.
O Jornal Opção, eminentemente goiano, estende seus braços e laços sobre seu irmão — o Estado do Tocantins e consequentemente sobre a capital Palmas — reservando a eles um caderno semanal, onde são divulgadas as notícias dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, firmando seu profundo compromisso com nossa gente. Por esta razão, em 2016, na semana do 27º aniversário, o semanário homenageia a capital tocantinense, entrevistando todos os prefeitos que já comandaram a caçula das capitais do País. Os questionamentos foram os mesmos para todos eles, e cada qual a seu modo respondeu sobre os fatos históricos, gargalos e avanços da cidade.
Parabéns, Palmas, pelo 27º aniversário!!
PS.: O atual gestor, Carlos Amastha, mesmo após insistentes contatos com o próprio prefeito e também com sua assessoria de imprensa (via ligações telefônicas, mensagens de Whatsapp e e-mails) não demonstrou interesse, nem tampouco se dignou a responder as perguntas formuladas por este veículo de comunicação.
Qual a sua relação histórica com Palmas e quais as razões que lhe trouxeram para a capital do Estado do Tocantins?
Fenelon Barbosa:
Fenelon Barbosa, gestão 1989-1992
Eu residia em Porto Nacional e me mudei para o distrito do Taquaruçu, bem antes da fundação de Palmas. Minha esposa era professora do município-sede e eu me enveredei pelos negócios de compra e venda e gado. Fizemos um trabalho de base na luta pela emancipação do referido distrito.
Veio a criação do Estado do Tocantins e a instalação da capital na cidade de Miracema. Contudo, já haviam acertos para que a capital fosse instalada na margem direita do Rio Tocantins. O governador Siqueira Campos me procurou para que instalássemos a capital utilizando a documentação do município de Taquaruçu, do qual eu já era prefeito. Eu aceitei, assumi e me tornei o primeiro prefeito de Palmas, juntamente com os vereadores da época. Ajudei a implantar tudo: estradas, ruas, pontes, escolas, loteamentos, postos de polícia e saúde, etc… Na região onde hoje é o Taquaralto, negociei com alguns proprietários de chácaras e abrimos loteamentos, fiz doações de lotes aos mais necessitados e ajudamos os mais carentes a construir suas próprias casas. Foi um verdadeiro alvoroço nessa região, outrora tão esquecida e abandonada. Desenvolvemos com a implantação da capital, a margem direito do Rio Tocantins, anteriormente conhecida como “corredor da miséria” e isso, foi gratificante.
Eduardo Siqueira Campos:

Na verdade cheguei ao Estado ainda em 1964, ainda antes da revolução. Viemos em um caminhão pela Belém/Brasília. Antes mesmo da criação do Estado em 1988 pela Assembleia Nacional Constituinte, meu pai já havia revelado não apenas a mim, mas a várias pessoas que gostaria de ter uma capital centralizada, à margem direita do Rio Tocantins. Logo após sua posse em 1º de janeiro de 1989, vim a área da futura capital muito antes do dia 20 de maio de 1989. Eu estava com o meu pai em cima do trator que abriu a primeira rua.
Odir Rocha:

Cheguei em palmas do dia 1º de janeiro de 1993. Entreguei a Prefeitura de Colinas e vim tomar posse como secretário de Ação Social e Habitação da Prefeitura de palmas, exatamente no dia da posse do prefeito Eduardo Siqueira Campos. O convite foi feito devido ao sucesso frente a administração de Colinas.
Nilmar Ruiz:
Em 1992 fui convidada, pelo então prefeito eleito Eduardo Siqueira Campos, para estruturar a Educação da capital recém-criada. Na época eu era coordenadora de Projetos Especiais da Secretaria da Educação do Distrito Federal e foi a oportunidade de participar da consolidação de uma nova cidade e, principalmente, de poder colocar em prática minha experiência como educadora, que me fez vir para Palmas.

Com certeza foi uma das decisões mais acertadas da minha vida. No Tocantins, não só participei da estruturação da educação da capital e do Estado como secretária municipal e estadual da Educação, como fui deputada federal e também prefeita de Palmas.
Para mim foi um grande privilégio ter sido a primeira e, até hoje, a única mulher a administrar a capital. Foi sem dúvida um grande desafio, um momento de muito aprendizado, que me proporcionou realizar muitos sonhos e projetos e melhorar a vida de muitas pessoas.
Depois de mais de 20 anos aqui em Palmas, só tenho o que agradecer a Deus. Aqui moram meus quatro filhos, nasceram quatro dos meus seis netos e vivo muito feliz com meu marido César. Aqui me realizei pessoal e profissionalmente. Sou apaixonada por Palmas!
Raul Filho:

Na condição de deputado constituinte participei da comissão que escolheu o local onde a capital seria implantada e a conheci ainda em sua concepção. Continuei acompanhando sua história e vi cada palmo dessa cidade ser construído.
Sempre acalentei o sonho de contribuir com seu desenvolvimento de forma mais efetiva, e o jeito mais concreto seria me tornando prefeito. Então, em 1996 disputei a primeira eleição ao Paço Municipal. Tornei a concorrer em 2000. Porém, só em 2004 fui eleito e reeleito em 2008. Contudo, a relação histórica e pessoal é também afetiva. Não acaba nunca. Sobre vir morar aqui, foi consequência natural de minha história com o Estado.
Como avalia o desenvolvimento da cidade, passando pela sua gestão até a presente data? Quais as grandes conquistas e quais os grandes problemas a serem solucionados?
Fenelon Barbosa:
Vejo que a cidade se desenvolveu em níveis muito mais elevados do que aqueles esperados por nós. Foi surpreendente. Hoje há tudo nessa cidade: saúde, educação, além de um comércio forte. Classifico como um sonho realizado. Como ponto fraco, vejo Palmas, assim como várias outras cidades do país, muito insegura para o ser humano viver. Somos perseguidos pelos bandidos. Porém, tenho que compreender que o desenvolvimento e o progresso, infelizmente, trazem isso.
Eduardo Siqueira Campos:
Depois de dotarmos a capital de um aeroporto de fazer inveja a Goiânia, uma ponte de 8 km, maternidade, rodoviária, estádio, kartódromo, espaço cultural, parque da cidade, a praça dos girassóis, infraestrutura urbana de água e esgoto, vejo que não tivemos mais grandes obras na capital. Hoje, fora o indispensável hospital de urgências e emergências (que faz muita falta ) os mais graves desafios estão ligados à falta de regulamentação da ocupação da área. Para implantar a capital, meu pai fez a necessária desapropriação de toda a área, mas que infelizmente foi desfeita – o Estado voltou atrás na desapropriação – o que gerou gravíssimos problemas de escrituras, posse e regularização. Cito apenas um dos problemas, os moradores do Taquari moram em casa, porém não detêm uma escritura. Isto é gravíssimo. O atual prefeito venceu as eleições falando corretamente em não expandir o plano diretor, mas a palavra correta é regulamentar, para que não ocorra o que aconteceu em Brasília, onde há mais de 2 mil condomínios irregulares.
Odir Rocha:
Palmas sempre progrediu e evoluiu muito desde a sua fundação, passando por todas as administrações de seus prefeitos. Como sempre ocorre, uns contribuem mais e outros menos.
Nilmar Ruiz:
O maior patrimônio de Palmas é a sua gente. Pessoas que, como eu, saíram das suas cidades e Estados de origem em busca de melhores oportunidades e com o sonho de participar da consolidação da nova cidade. Uma cidade planejada, em que tudo precisa ser feito, passa por diversos estágios. Eu tive o privilégio de ver na minha gestão o grande Lago de Palmas ser formado, de inaugurar grandes obras estruturantes como a Ponte da Amizade, ligando Palmas à Belém/Brasília, o aeroporto, a rodoviária, o HGP. Inauguramos três praias, o Shopping da Cidadania, iniciamos a democratização da internet com a Cidade do Conhecimento, a construção do Parque do Povo, a Av. Palmas/Brasil e a implantação de um projeto de turismo com a finalidade de atrair consumidores e fazer mais recursos circularem na capital, já que naquele momento a economia girava em torno do poder público.
A cidade foi crescendo, a iniciativa privada ocupando espaços, ampliando as oportunidades de trabalho e desenvolvendo outros setores. A verticalização está acontecendo. Porém, os grandes vazios urbanos continuam sendo um dos maiores desafios de todas as administrações. Os serviços públicos se tornam muito dispendiosos e a mobilidade difícil. E outra grande necessidade é aumentar, cada vez mais, as oportunidades de geração de emprego e renda, para que as famílias tenham seus anseios e necessidades atendidos e vivam com mais conforto e dignidade.
Raul Filho:
O período de minha gestão coincidiu com uma época de progresso e desenvolvimento, com a chegada de grandes empreendedores; melhoria e humanização da saúde, aumento da cobertura pelos programas sociais e desenvolvimento de um novo modelo na Educação e que Palmas virou referência para o Brasil. Na educação: Construção de 3 escolas de Tempo Integral e adaptação de mais 13, sendo que 5 na zona rural. Construção de 5 Escolas Padrão e 12 Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs). Ficaram projetos e recursos aprovados para execução de mais três Escolas de Tempo Integral, uma Escola Padrão e nove CMEIs.
Já na saúde: construção de 3 Unidades de Saúde e mais 14 ficaram em construção. Construção do Pronto Atendimento Sul e ficaram projetos e recursos aprovados para a construção do Pronto Atendimento Norte; implantação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), regionalizado em 2010; Humanização no Centro de Apoio Psicossocial (CapsA/D); estruturação das farmácias municipais, que foram distribuídas por regiões estratégicas facilitando o acesso do cidadão.
No que concerne a infraestrutura foram 32 mil metros lineares de ampliação da rede de iluminação pública; recuperação de mais de 900 mil m² de pavimentação de ruas e avenidas; 9 mil metros de construção para drenagem pluvial na LO-15, na LO-19, NS-5 e NS-7; duplicação da Avenida Theotônio Segurado, sentido Sul e Norte da cidade; abertura e duplicação da avenida NS-1 e duas pontes sobre o córrego Brejo Comprido; pavimentação asfáltica nas quadras 612 sul, 712 sul, 912 sul, 1012 sul, 1005 sul, 1105 sul e 1203 sul, além da primeira etapa do Distrito Industrial de Taquaralto e da conclusão da pavimentação do setor Santa Bárbara; recursos para pavimentação e drenagem das quadras 305 sul, 405 sul, 605 sul e parte do Aureny III; duplicação da LO-27 (sentido rodoviária); LO-19 (sentido 804 sul); LO-15 (sentido Av. Palmas Brasil); acesso ao Rodoshopping pela LO-27; Avenida NS-3; pavimentação da avenida Goiás, em Taquaralto, da Avenida B no Aureny e Morada do Sol II; sistema de irrigação de praças e bosques, eliminando os caminhões-pipa.
Em relação à habitação: No primeiro mandato, em 2005, havia menos de 2 mil unidades habitacionais populares construídas em Palmas. Até o final de nosso segundo mandato, em 2012, esse número foi ampliado para mais de 8 mil unidades habitacionais.
No quesito desenvolvimento econômico: dispensa de ICMS, em consonância com o Estado, atraiu grandes empresas para Palmas, dentre as principais: Atacadão; Makro; Hipermercado Extra. Lojas âncoras a exemplo da Renner, Marisa, Americanas, Riachuelo, Lojas Avenida e Casas Bahia. Geração de Renda: criação do Banco do Povo; Em 2008 o Previpalmas foi transformado em autarquia, possibilitando a autonomia financeira e administrativa do instituto; implantamos o Festival Gastronômico de Taquaruçu; reforma e modernização das Feiras, dentre elas, destaque para a 304 Sul; criação da Fundação Cultural.

Qual a sua perspectiva de futuro, em aspectos gerais e principalmente no que concerne aos vazios urbanos? Se lhe fosse possível presentear a cidade no seu 27º aniversário, qual seria o presente?
Fenelon Barbosa:
A questão do vazio urbano está intimamente ligada à preferência do Siqueira Campos – governador da época – pelo centro da capital, pelo plano diretor. Como Taquaralto já era um pequeno povoado pronto para receber moradores e o Canela também já tinha um certo número de moradores, a população se acomodou por lá. Mas o Siqueira queria fazer do centro da cidade um lugar de negócios, com estrutura para órgãos públicos, bancos e o centro comercial de Palmas. Ele incentivou – de forma indireta – as pessoas mais humildes a irem morar nas periferias. Isso criou os vazios urbanos que existem hoje na nossa cidade. Ficou basicamente assim: o governo do Estado do Tocantins cuidava do plano diretor e eu cuidava da sede do município, que englobava Taquaruçu, Taquaralto, Canela e Buritirana.
De qualquer forma, considero que os acertos do governador Siqueira Campos devem ter muitos mais destaques do que os equívocos. Poucos homens conseguiriam fazer o que ele fez, mesmo porque ele possuía uma disposição diferenciada e venceu muitas e muitas batalhas.
Quanto ao presente da aniversariante, merece tudo de bom e que o progresso esteja cada mais próximo, beneficiando seu povo, que por aqui resolveu se estabelecer.
Eduardo Siqueira Campos:
O presente que Palmas precisa é o Hospital de Urgências e Emergências, a exemplo do Hugo, de Goiânia. O HGP jamais fará as cirurgias eletivas se não houver um hospital de urgências e emergências. Quanto aos vazios urbanos cabe ao prefeito regulamentar a sua destinação. Se for preciso acionar o governo, a harmonia deve prevalecer para o bem da cidade.
Odir Rocha:
Está reservado a palmas, como sempre afirmei, ser a grande metrópole do Centro-Norte brasileiro. Há uma necessidade urgente de melhoria no transporte público urbano, além de ocupar os vazios urbanos principalmente no plano diretor central. Existem muitos imóveis que prejudicam até imagem da cidade, que estão ali apenas por pura especulação de seu donos. E olha que tem muitas autoridades envolvidas nessa atividade!
O grande presente seria livrar Palmas do mosquito Aedes aegypti, causador da dengue e outras viroses, além do flagelo do calazar. Criei o Centro de Zoonoses com essa finalidade, contudo, infelizmente, de lá pra cá nada evoluiu. Naquela época livramos Palmas de uma epidemia de malária.
Nilmar Ruiz:
Sabemos que a crise política e econômica nacional está interferindo diretamente na vida das pessoas. Com a queda do poder aquisitivo, com o aumento do desemprego, com a instabilidade governamental, com o descrédito da política e das instituições e, principalmente, com a desesperança, desmotivação e irritabilidade que estão acometendo, de uma forma geral, a todos os brasileiros. Nesse aniversário de Palmas não podemos pensar apenas na nossa cidade. Precisamos de obras estruturantes sim, como a Av. Orla, que contornará toda a cidade, como um grande anel viário, que puxará a ocupação e o desenvolvimento para as regiões onde se encontram os grandes vazios. Precisamos sim consolidar os setores industriais e atrair novas empresas, precisamos sim de um grande Centro de Convenções, para que Palmas entre de vez para o circuito nacional do turismo de eventos e negócios, e aumente o mercado consumidor fazendo com que o dinheiro circule mais na nossa cidade. Mas não são as obras físicas que eu gostaria de dar de presente. Nesse 27º aniversário de Palmas os presentes que eu gostaria de dar são diretamente para os palmenses. Desejo que possamos manter a perseverança, a tranquilidade e a paz para superar todos os desafios. Quero que a esperança brote em abundância no coração de cada um e que a alegria seja uma constante e que a felicidade esteja sempre presente. Peço a Deus que ilumine e proteja a todos nós.
Raul Filho:
Essa pergunta é um tanto abrangente. Perspectivas de futuro abrange vida pessoal e profissional – as minhas são as melhores possíveis. Sou um otimista por natureza. Mas nesse particular que se refere a Palmas, desejo que ela retome o ritmo pujante de desenvolvimento que tinha alcançado até poucos anos antes. Desejo que nossas crianças tenham outra vez uma educação da melhor qualidade, que contribua integralmente para o desenvolvimento e cidadania.
Que a saúde pública ofertada ao cidadão tenha outra vez a característica de acolhimento e humanização, com toda qualidade e respeito ao usuário. Que nossa economia volte a ser a propulsora do Estado e da Região Norte, como foi até 2011, com dados confirmados por órgãos oficiais de pesquisa, a exemplo do IBGE, Ministério do Trabalho e Emprego, por meio do Caged, dentre outros.
Sobre os vazios urbanos sempre fui e continuo sendo favorável ao adensamento, desde que respeite os preceitos de sustentabilidade e mobilidade urbana. Que o cidadão palmense possa ocupar os espaços vazios hoje existentes. Em nossa gestão, priorizamos a questão de moradia. Não superamos a demanda, porque essa é crescente. Mas, ultrapassamos a que existia no início de nossa gestão.
Acredito que o desejo de presente é o mesmo desejo de trabalhar por nossa cidade, junto de cada homem e cada mulher. Trabalhar para que nossas crianças e adolescentes se tornem os próximos dirigentes de Palmas e que a ética e a responsabilidade não sejam só slogans de campanhas eleitorais, mas sejam parte da rotina de nossa população.