“Está praticamente tudo pronto para inaugurarmos o Centro de Referência de atenção ao Covid em Palmas”
16 agosto 2020 às 00h00
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Edgar Tollini foi subsecretário, ocupou o cargo de diretor-geral do Hospital Geral de Palmas (HGP) e assumiu efetivamente o cargo de secretário Estadual de Saúde de Tocantins em maio de 2019
Homem forte do governo Mauro Carlesse após a explosão da pandemia decorrente da Covi-19, o Secretário Estadual da Saúde, Edgar Tollini, tem apresentado números satisfatórios na condução da Pasta. O Tocantins é estado que mais investiu recursos em Saúde neste ano contabilizando 17,86% dos recursos provenientes da Receita Corrente Líquida (RCL) somente nos primeiros semestre. Figura, portanto, em primeiro lugar no ranking de investimentos na área da Saúde, seguido pelos estados de Pernambuco, que aplicou 17,2%, e Pará, com 16,47%.
Luiz Edgar Leão Tollini é graduado em Medicina pela Universidade Federal de Goiás (UFG) desde 1989, exerceu cargos de gestão em tecnologia, administração e saúde entre 2004 e 2010 no governo do Estado de Goiás. Entre 2012 e 2013 serviu ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) no Rio de Janeiro. A partir de 2016, assumiu a direção do Departamento de Atenção Hospitalar e de Urgência (DAHU) do Ministério da Saúde em Brasília (DF). Já em 2017, exerceu as funções de secretário da Saúde de Aparecida de Goiânia.
No Tocantins, inicialmente nomeado subsecretário, ocupou posteriormente o cargo de diretor-geral do Hospital Geral de Palmas (HGP). Assumiu efetivamente o cargo de secretário Estadual de Saúde em maio de 2019.
Recentemente surgiu uma polêmica acerca de respiradores encaixotados na sede da Secretaria de Saúde, oportunidade em que a imprensa questionou tal situação, na medida em que as unidades hospitalares necessitam urgentemente desses equipamentos. Qual é a sua versão desse episódio?
Já implantamos 120 leitos de UTI, mas recebemos apenas 114 ventiladores do Ministério da Saúde. Temos alguns de sobressalentes – mais de trinta – visto que esses aparelhos funcionam 24h por dia. São estruturas mecânicas, que podem entupir válvulas ou apresentarem outros problemas. Considerando que os pacientes dependem dos equipamentos para continuar sobrevivendo, é necessário haver aparelhos reservas (20%), que possam substituir aqueles que porventura estragar.
É necessário ressaltar, entretanto, que leitos de UTI não são compostos apenas por respiradores, ao contrário do que muitos pensam. É preciso, também, monitores cardíacos, bombas de infusão, kits de aspiração, anestésicos e relaxantes musculares e, acima de tudo, recursos humanos. Esse último, um dos mais complicados. Já promovemos treinamentos, capacitamos cerca de mil pessoas para esse enfrentamento. Não se trata apenas de “jogar” o profissional na UTI. É muito mais complexo que isso.
Ao final da pandemia, esses leitos de UTI devidamente implantados serão, se é que pode se dizer assim, o grande legado do coronavírus?
Metaforicamente sim. Uma vez controlada a pandemia da Covid-19, todos esses equipamentos ficarão à disposição da nossa rede hospitalar. Logicamente, nesse pós-pandemia, haveremos de dispensar muitos dos profissionais que contratamos em caráter emergencial. Digo-lhe que não temos condições de mantê-los, na medida em que a folha de pagamento foi onerada em cerca de R$ 7,5 milhões de reais por mês.
O governo do Tocantins fez um trabalho hercúleo e se esforçou em relação às suas contas públicas. Saímos do limite prudencial e houve um reenquadramento na Lei de Responsabilidade Fiscal. Por fim, o Tocantins foi reclassificado pela Secretaria do Tesouro Nacional.
Ocorre que todos esses gastos com a pandemia desequilibrou, novamente, essas contas. O ponto interessante é que há uma gestão do Ministério da Saúde em relação aos Tribunais de Contas, sinalizando que esses gastos eram necessários e vitais no combate à pandemia. Certamente, face a essa emergência, pode ser que haja outros entendimentos nos fechamentos das contas. É necessário aguardar.
E quanto aos leitos para atendimento à Covid-19, propriamente ditos, qual é o quadro no Tocantins hoje?
Saímos de 360 leitos – entre clínicos e de UTI – para 1800 leitos na rede hospitalar do Tocantins. Foi necessário gastar recursos, contratar e gerir pessoas e, ao mesmo tempo, substituí-las. Nesta data, por exemplo, 900 profissionais não estão desenvolvendo suas atividades, quer seja porque tem mais 60 anos, estão grávidas ou apresentam comorbidades, como também, aqueles que contraíram Covid e precisam ficar em isolamento. Não é uma situação fácil, mas não é particularidade nossa, pois todos os Estados brasileiros passaram por esse dilema. Importante frisar que outras áreas do governo podem implantar o trabalho remoto em algumas funções, mas na saúde – em plena pandemia – isso é impossível.
Como vai funcionar o Centro de Referência de atenção ao Covid a ser implantado pelo governo do Tocantins em Palmas?
Contratualizamos com o Hospital Oncológico Dr. Jorge Saad e vamos disponibilizar 60 leitos clínicos e 10 leitos de UTI. Uma estrutura que estava pronta e equipada há dois anos, mas não estava sendo utilizada. Repassamos a gestão para uma organização social com experiência em saúde, porque é muito complicado para a Secretaria conseguir gerir mais 350 profissionais para atuar nessa luta. Em breve, no máximo em 15 dias, essa unidade estará em pleno funcionamento em Palmas.
Nesse contexto, desde a primeira entrevista ao Jornal Opção/Tocantins, o Sr. tem dito que a Prefeitura de Palmas não tem feito a parte dela no que concerne do município. Analisando o enfrentamento à Covid, qual a sua percepção?
Quem recebe o tanto de recursos como a Prefeitura de Palmas recebeu, tem que dar respostas efetivas sobre os investimentos dessas verbas. A responsabilidade dos municípios – ao contrário do que muitos imaginam – não é apenas a atenção básica e, sim, tripartite. A união, os estados e os municípios estão todos envolvidos para garantir saúde à população. Por isso, os gestores municipais precisam assumir suas responsabilidades e, especificamente em Palmas, comecem a ajudar o governo estadual nas tarefas de média e alta complexidade.
Fui secretário de saúde de Aparecida de Goiânia-GO, cuja população é 700 mil habitantes, enquanto Palmas tem apenas 300 mil. A receita corrente líquida de lá era R$ 1 bilhão, enquanto a capital do Tocantins conta com R$ 2,4 bilhões de reais. Mesmo assim, deixamos como legado: 42 UBS inauguradas; 03 UPAs porte 3, inauguradas e qualificadas; 12 SAMUs e, por fim, 01 hospital municipal com 220 leitos, 20 deles de UTI adulto e 10 pediátricos.
Ora, basta comparar esses dados com aquilo que é investido na saúde de Palmas para se verificar que está muito aquém do que poderia ser alocado na saúde. Deveriam começar, por exemplo, por um Centro de Parto Normal, que já foi prometido várias vezes, mas nunca iniciado. Todas crianças que nascem em Palmas, são responsabilidade do Estado do Tocantins, através do Hospital Dona Regina. Caso haja complicações, as crianças são atendidas pelo Hospital Infantil. Neste contexto, fica claro que o município de Palmas não está fazendo a parte dele, mesmo porque, parto normal faz parte da atenção básica na saúde.
Quando o Sr. assumiu a gestão havia muitos problemas no fornecimento de medicamentos por parte do Estado do Tocantins. Qual é a atual situação?
Exceto no caso da oncologia, que é sempre um tratamento muito complicado, o abastecimento do estoque regulador está totalmente normalizado. Também não há falta de EPIs dentro das unidades hospitalares. Não há, portanto, falta de medicamentos e temos adquirido, constantemente, dentro das nossas necessidades. Praticamente não temos problemas, neste particular.