Ex-deputado estadual e ex-presidente do diretório metropolitano do PSB em Palmas, empresário deixa a sigla e vai para o Podemos

Alan Barbiero, deputado do Tocantins | Foto: Dicom/Aleto

Empreendedor no agronegócio, produzindo grãos e sementes na região central do Estado do Tocantins e no Estado do Pará, Alan Barbiero é agrônomo, professor universitário com vínculo ativo na UFT – Universidade Federal do Tocantins, da qual foi reitor por dois mandatos.

Ex-deputado estadual e ex-presidente do diretório metropolitano do PSB em Palmas, Barbiero acaba de deixar a sigla – onde entendeu não ter mais espaço para se lançar candidato a prefeito – migrando para o Podemos, após convite do prefeito de Araguaína e presidente estadual do partido, Ronaldo Dimas.

Nesta entrevista, ele fala sobre a atual gestão do município, expõe suas razões para a mudança de partido, apresenta propostas para administrar a capital do Tocantins, bem como aborda suas perspectivas acerca do pleito eleitoral de 2020.

O sr. anunciou que deixará o PSB e migrará para o Podemos. Em quais circunstâncias isso se deu?
A saída do PSB foi muito dolorida para mim, porque há 15 anos eu ajudei a construí-lo, dar uma identidade, formar e compor o quadro diretivo com conteúdo, formulando políticas para Palmas e planos de governo. O ex-prefeito Amastha trouxe sua experiência empresarial e uma capacidade de execução muito grande. A cidade de Palmas ganhou muito com isso e nossa gestão foi reconhecida como eficiente.

Fui eleito por três mandatos como presidente metropolitano no partido e exerci o cargo de secretário de planejamento e gestão da Prefeitura de Palmas. Implantamos muitos projetos, como o “Palmas Solar”, por exemplo, que contava com menos de cinco empresas no ramo e, hoje, são mais de cento e cinquenta. Criamos o “Instituto 20 de maio” que capacita os servidores públicos, além de firmar parcerias com as universidades, criando condições para qualificar nossos colaboradores. Implantamos um programa de valorização do mérito, bonificando os servidores que apresentavam os melhores desempenhos. Tudo isso foi uma construção feita dentro do PSB e, por esse motivo, minha saída da sigla é dolorida.

Diante dessa trajetória, qual é a verdadeira razão da sua saída?
A política é dinâmica. Entendo que o presidente estadual, Carlos Amastha, demonstre sua preferência pelo vereador Tiago Andrino, para disputar a Prefeitura de Palmas em outubro, face à relação que eles mantém há muito tempo. Por respeitar essa posição e ter uma excelente relação com o ex-prefeito, resolvi me antecipar. Democraticamente, eu poderia arrastar essa discussão dentro do partido até as convenções, mas isso só contribuiria para depreciar essa relação.

Recebi o convite do prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas, agora presidente do PODEMOS, para me filiar e disputar a Prefeitura de Palmas na próxima eleição. Nossa relação remonta à época que ele foi presidente da FIETO, ainda nos anos 2000. Fiz parte do IEL e implantamos – após uma parceria com uma universidade da França – um núcleo de transferência de tecnologia aqui no Tocantins, ajudando  desenvolver indústrias de laticínios, cerâmicas, frigoríficos, entre outros. Foi um trabalho que se tornou referência nacional, dentro do sistema SNI.

“O Podemos é um partido aberto ao diálogo com trabalhadores e sindicalistas” | Foto: Dicom / Aleto

Após me tornar reitor da UFT, Dimas se tornou deputado federal. Empreendemos novas parcerias e ele ajudou muito a Universidade através de emendas parlamentares, que resultou, inclusive, na criação de um centro tecnológico de produção pecuária em Araguaína e um centro tecnológico de produção vegetal em Gurupi. Ambos os centros deram origem aos primeiros mestrados e doutorados do Tocantins.

Portanto, há um histórico de parcerias e uma relação de amizade verdadeira. Fiquei feliz e honrado com o convite para me filiar ao Podemos, porque eu acredito muito na capacidade do Dimas e considero que ele conseguiu – durante sua gestão como prefeito em Araguaína – fazer uma verdadeira revolução naquela importante cidade.

As gestões dele e do Amastha são realmente revolucionárias e inovadoras…
Sem dúvida, elas se comunicam. Por ser parceiro de ambos, vou me esforçar para que esses dois líderes caminhem juntos nas eleições municipais de 2020, principalmente em Palmas e Araguaína. Já tenho o apoio do Podemos e, a partir do diálogo com os membros do PSB, talvez seja possível trazê-los para o nosso projeto. Como eu disse, não houve brigas na minha saída do partido e, da minha parte, há uma maturidade para dialogar e minimizar divergências.

Se a sua saída do PSB se deu por falta de espaço dentro da sigla,  visto que os pessebistas já apostaram no vereador Andrino para ser o candidato a prefeito, o sr. acha mesmo que é possível essa composição?
Em princípio, somos ambos pré-candidatos, cada qual por um partido. Contudo, isso não impede de, no futuro, confluirmos nossas ideias, uma vez que somos democráticos.

Posso dizer que eu tenho um projeto para Palmas, construído por mais de quinze anos. Tenho experiência como gestor em diversas áreas e conheço os problemas da cidade. Por isso, acredito que posso oferecer uma alternativa de qualidade para o eleitorado. É possível consolidar o legado do ex-prefeito Amastha, mas podemos avançar – ainda mais – em alguns pontos que ele não pôde realizar, ou não teve tempo, ou mesmo rever algumas políticas que podem ter sido implementadas de forma equivocada.

Falando em ideologia partidária, os princípios previstos no estatuto do Podemos se assemelham aos do PSB?
Sem dúvidas. O Podemos defende a democracia direta, partindo de uma trajetória social-democrata, cujo maior líder é o senador Alvaro Dias. É um partido aberto ao diálogo, tanto com trabalhadores e sindicalistas, como também com empresários ou profissionais liberais, sem ranços ideológicos. Estou muito a vontade na sigla, em razão dessa primazia pelo debate.

Há uma crítica velada que o sr. agrega muito, é conhecido e reconhecido pelo eleitorado mais politizado e intelectual – até mesmo em razão de ter sido reitor da universidade federal – entretanto, falta-lhe o “cheiro de povo”. Qual é a sua percepção acerca do tema?
Sou de origem muito simples, fui criado em Gurupi, quando ainda era Estado de Goiás e não havia sequer asfalto nas ruas. Meus pais tinham uma pensão e não havia quaisquer luxos. Com muita dificuldade fui para Goiânia estudar agronomia, porque sou uma pessoa ligada ao campo.  Às vezes, pela graduação ou pelo fato de sido reitor da UFT, as pessoas acham que pertenço à elite, mas estou longe disso.

Todavia, tenho caminhado pela cidade, pelos mais diversos bairros e sinto que essa capilaridade eleitoral existe. Claro que não são todas as pessoas que me conhecem, contudo, em todos os locais há sempre pessoas que possuem vínculos com minha atuação. Umas participaram do projeto UMA – Universidade da Maturidade, outras me conhecem por terem sido alunos da UFT, algumas por ter sido ou ainda são servidores públicos do município e entre outros tantos, pelas mais diversas razões. Há vários instrumentos que podem ser utilizados para chegar até a população mais desassistida, mas inobstante a isso, há várias pessoas que estão dispostas a me ajudar nessa tarefa.

Enquanto deputado estadual o sr. propôs alguns projetos interessantes para a capital. Poderia explaná-los?
Gosto não apenas de propor projetos interessantes, mas também de realizá-los. Me considero um empreendedor, um sujeito focado nos resultados. Eu me tornei reitor da UFT quando ela não tinha praticamente nada, todavia, ao final do mandato, o legado foi excepcional, uma explosão de crescimento.

Palmas é uma cidade maravilhosa, com milhões de oportunidades para as mais diversas áreas e pode se tornar, economicamente, muito ativa. Contudo, atualmente faltam projetos arrojados e políticas públicas para aqueles jovens sem expectativas, para os trabalhadores desempregados, como também, para os empresários.

A gestão atual tem uma visão míope, pequena e muito doméstica, preocupada apenas com o dia a dia, sem projeções que possam elevar a cidade a outro patamar, atraindo novos investimentos.

Permaneci um ano na Assembleia Legislativa e creio que fui o recordista na apresentação de projetos naquele período. O lago de Palmas é muito mal explorado. Ele tem capacidade de produzir, sozinho, a metade da produção de peixes do Brasil. Essa cadeia produtiva geraria, com toda certeza, milhares de empregos. Essa é a principal cadeia de proteína do mundo, porque consome-se quatro vezes mais peixes do que carne bovina no planeta, principalmente no oriente. Apresentei o projeto e foi aprovado na Assembleia, o plano de desenvolvimento da piscicultura e, se hoje, esse segmento está em franca ascensão, foi graças a esse projeto.

E no que concerne a geração de emprego e renda com base na tecnologia?
Poderíamos ainda implantar, como em Florianópolis, um parque tecnológico para incentivarmos a instalação de empresas de tecnologia da informação, startups, incubadoras, etc. Conheço bem as universidades daqui, como também pessoas e os caminhos no Ministério, que poderiam contribuir muito com esse projeto. Quanto conhecimento e potencial desses jovens estão desperdiçados? É preciso recolocá-los no caminho da prosperidade, ensinando-lhes empreendedorismo.

Poderíamos desenvolver, também, o agronegócio, atraindo grandes empresas para atender a região do Matopiba, por exemplo, quer seja na pesquisa e desenvolvimento de variedades de milho ou soja, ou mesmo montadoras de tratores e implementos, assim como fabricação de vacinas e sanidade animal para o próprio Tocantins, Pará e Mato Grosso, uma vez que todo esse medicamento vem de São Paulo. Assim como em Anápolis/GO é o centro de produção de medicamentos de saúde humana, poderíamos tornar Palmas uma referência na produção de fármacos para a saúde animal.

E quanto ao turismo na capital?
Um potencial enorme a ser desenvolvido que, infelizmente, não é explorado. Estamos perdendo oportunidades ímpares de conectar Palmas com o Jalapão ou com o Cantão e Ilha do Bananal. Já o braço do grande lago, entre o estádio e o aeroporto, pode ser aproveitado – após o devido tratamento sanitário – para competições náuticas nacionais e internacionais, como canoagem e remo, devido a sua navegabilidade. Existem muitas opções viáveis, porque, logicamente atrairíamos empresas interessadas em fabricar caiaques, lanchas, barcos à vela, etc, gerando emprego e renda para nossa população.

Como seria, caso eleito fosse, o seu eventual relacionamento com o parlamento municipal?
Eu gosto de aglutinar. Como reitor da UFT, por exemplo, enfrentei divergências e uma série de questões e pensamentos para administrar, uma vez que ali estão aglutinados sindicalistas, professores, estudantes e os mais variados críticos. Não há como impor nada aos professores universitários, por exemplo. Eu só consegui tocar a instituição com diálogo.

Após quatro anos de mandato, fui reeleito por aclamação com 93% dos votos. Isso significa que tenho habilidade para lidar com ideias dissonantes. Dentro desse raciocínio, posso dizer que terei uma relação muito propositiva com a Câmara de Vereadores de Palmas e vereadores eleitos pelo povo, uma vez que tenho primazia – desde os tempos do movimento estudantil – pela democracia.

Sei aceitar e absorver divergências e, ao contrário de outros gestores, consigo lidar bem com críticas. Aliás, na ampla maioria das vezes, utilizo as críticas como oportunidade para transformá-las em inovação. Onde não há críticas, permanece a apatia e isso é péssimo para o processo evolutivo.

Na eleição de 2020, o sr. não poderá ser considerado um outsider, uma vez que já exerceu vários cargos públicos e, até mesmo, o cargo de deputado estadual. Contudo, acredita que pode representar o novo, considerando que seus adversários serão velhos conhecidos do eleitorado?
Eu acredito que sim, podemos (risos, ele faz um trocadilho com o partido) fazer a diferença nesta eleição. Tentarei qualificar mais o debate e não entrarei na disputa para falar mal de quem quer que seja. Meu discurso será propositivo e resolutivo, apresentando propostas viáveis para melhorar a vida dos palmenses. Tentaremos, até o prazo final das convenções, articular e aglutinar forças para implantar essas ideias numa só candidatura. Em breve, vamos divulgar quem estará conosco nesse projeto, além do prefeito Dimas e vários aliados.

E quanto à base de sustentação da chapa, os candidatos a vereador? O sr. já articulou para que isso se solidifique?
Vários são os interessados em migrar para o PODEMOS após o meu anúncio. Fui procurado por várias pessoas, inclusive pré-candidatos do PSB que querem me acompanhar, além de várias lideranças de bairros. O próprio Dimas também já estava firme no propósito de filiar outros líderes no Estado e, também, em Palmas. Isso torna nossa base sólida. Até o início de abril, prazo final da lei eleitoral, estaremos com todos esses nomes perfilados – chapa completa e competitiva com 27 candidatos e 30% mulheres – de forma tal que consigamos eleger pelo menos dois vereadores em Palmas.