Você já experimentou falar sobre um produto ou serviço e, em seguida, perceber anúncios relacionados a ele, mesmo sem ter realizado pesquisas prévias? Agora, parece que há uma confirmação do motivo por trás desse fenômeno. Em postagens recentes em seu blog, a equipe de mídia estadunidense Cox Media Group (CMG) afirmou ter a capacidade de captar conversas de consumidores por meio de diferentes dispositivos, como smartphones e Smart TVs, a fim de direcionar anúncios personalizados.

A informação foi inicialmente divulgada pelo portal 404media e confirma uma especulação recorrente: a habilidade dos smartphones (e outros dispositivos) de captar áudio do ambiente, mesmo quando os usuários não desejam. O portal apresentou exemplos de trechos de conversas que foram capturados e posteriormente utilizados para personalizar anúncios.

Segundo a publicação da CMG, a empresa explica que seu recurso de “Escuta Ativa” é analisado por inteligência artificial (IA) para identificar “conversas relevantes por meio de smartphones, Smart TVs e outros dispositivos”. A empresa detalha ainda que os anúncios personalizados são entregues aos usuários por meio de plataformas como streaming de TV, áudio, YouTube, Google e Bing.

A postagem levanta a questão de como seria vantajoso para uma empresa alcançar potenciais clientes que discutem ativamente a necessidade de seus serviços em suas conversas diárias. Isso não é um episódio de Black Mirror; são dados de voz, e o CMG tem os recursos para utilizá-los em benefício de seus negócios.

Embora a página tenha sido removida, é possível visualizá-la por meio de uma versão arquivada no Internet Archive, como reportado pela revista Variety. Um profissional de marketing da CMG mencionou que, ao ingressar na empresa, desativou as permissões de microfone de seus dispositivos.

Captações de conversas são permitidas?

Segundo a CMG, é “totalmente legal que telefones e dispositivos ouçam você. Isso porque os consumidores geralmente dão consentimento ao aceitar os termos e condições de software ou downloads de aplicativos”, explicava o site.

Após a repercussão do caso, o conglomerado mudou o tom de posicionamento inicial ao publicar uma nota dizendo que seus negócios não “ouvem nenhuma conversa nem têm acesso a nada além de um conjunto de dados agregados, anônimos e totalmente criptografados de terceiros que podem ser usados ​​para colocação de anúncios”.

A empresa não especificou o motivo de as publicações terem sido removidas, mas acrescentou: “Lamentamos qualquer confusão e estamos empenhados em garantir que nosso marketing seja claro e transparente.”

O que dizem as fabricantes?

À revista Variety, o Google disse que durante anos, o Android impediu que aplicativos coletassem áudio quando não estavam sendo usados ​​ativamente e, sempre que um aplicativo ativa o microfone de um dispositivo, há um ícone em destaque exibido na barra de status.

A Apple disse que nenhum aplicativo pode acessar o microfone ou câmera de seus aparelhos sem a permissão do usuário. A partir do iOS 14 e iPadOS 14, a fabricante também lembra sobre a exibição de um ícone que indica se a câmera ou microfone estão sendo utilizados. Sobre a Siri, assistente de voz da Apple, a empresa diz que os dados coletados não são usados para personalizar anúncios e “nunca são vendidos para ninguém”.

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