O atentado sofrido na escola em Santa Tereza de Goiás e os frequentes acontecimentos de violência nas escolas em todo o Brasil, levantaram debates importantes em Goiás. Na terça-feira,11, o Governador Ronaldo Caiado realizou audiência pública para propor ações que o governo pode realizar para melhorar a segurança nas unidades escolares. O debate levantado pelo governador motivou outros projetos ligados à questão.

Na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Issy Quinan (MDB) apresentou, ainda na terça-feira, 11, projeto de lei sobre a garantia de acompanhamento psicossocial para alunos e profissionais das escolas públicas e privadas do Estado de Goiás.

Para o deputado, a assistência social e psicológica nas escolas tem o papel de fortalecer o processo de ensino-aprendizagem dos alunos, auxiliando corpo docente e discente nas diversas áreas.

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Na Câmara de Goiânia, a vereadora Kátia Maria (PT) usou a tribuna durante sessão na quarta-feira, 12, para alertar sobre o que ela considera ser a origem dessa onda de violência nas escolas. A vereadora ressaltou ainda que apenas a adoção de medidas como detector de metais e polícia na porta das escolas não irão resolver a questão.

“Se quisermos resolver a questão da violência nas escolas, precisamos falar de desigualdade social, de combate à violência contra as mulheres, de bullying, de racismo, de combate à violência doméstica e, sobretudo, precisamos falar sobre a saúde emocional dos nossos estudantes”, afirmou.

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Para a vereadora, esse quadro piorou nos últimos anos também por conta da postura do ex-presidente Jair Bolsonaro “que rodou o País incitando a violência, colocando crianças no colo e fazendo arminha”. “É o presidente que mais gerou fome e desigualdade e muito do que estamos vendo hoje é consequência disso”, destacou Kátia.

Questão social

Um trabalho do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostra que oos últimos episódios estão longe de serem casos isolados. Nos últimos 21 anos, o Brasil registrou, pelo menos, 23 ataques cometidos em escolas por estudantes ou ex-estudantes, entre 10 e 25 anos.

Desses, nove, ou seja, cerca de 40%, ocorreram entre o segundo semestre de 2022 e março deste ano. Um estudo global da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), publicado em 2019, aponta o Brasil como líder mundial quando se trata de violência contra professores.

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Ataques a escolas, gravações com boatos, desinformação e ameaças, que “antes pareciam atitudes descoordenadas, têm se mostrado uma onda perigosa”, diz o sociólogo Rudá Ricci, pesquisador dos temas educação e cidadania, em entrevista à Agência Brasil.

Segundo o especialista, outras soluções seriam “criar protocolos de orientação para pais e professores sobre como agir em casos de ameaça, violência, agressividade e incivilidade” e “criar serviço de apoio e escuta de psicólogos e assistentes sociais” para pais e profissionais da educação.

Apoio psicossocial é fundamental

O ministro da Educação, Camilo Santana, ao comentar os ataques recentes a professores e alunos em São Paulo, Goiás e Santa Catarina, defendeu fortalecer “um grande programa psicossocial” para as escolas do país. Ele descartou ainda fazer investimentos na militarização de colégios.

Na avaliação de Danielle Tsuchida, psicóloga e coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz, a grande quantidade de casos nos últimos meses é reflexo do aumento do isolamento social de crianças e adolescentes, uma consequência da pandemia.

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“Para parte dos jovens, a internet se tornou a única possibilidade de convívio. E sabemos que, nessa terra sem lei, os usuários mais novos ficam expostos a inúmeras possibilidades de violação de direitos, pouco ou nada monitoradas. Temas como intolerância à diversidade e culto às armas são frequentes”, disse a psicóloga.

Com o retorno do convívio presencial nas escolas, porém, muitos alunos continuaram a ver no ambiente virtual um local de refúgio e autoafirmação, em oposição aos problemas presenciados em casa e nas instituições de ensino.

“Nós sabemos que essa nova geração deseja ser escutada, deseja, mais do que tudo, ter voz. Se esses jovens são discriminados no convívio social, mas são aceitos e muito bem cooptados em um espaço virtual onde o ódio é disseminado, eles encontram essa posição de poder, de legitimidade, em um lugar preocupante e violento”, reforça a psicóloga.

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Combate ao bullying

O bullying tem papel fundamental na crescente onda de tragédias. A prática se caracteriza por agressões repetidas explícitas entre colegas de escola. Os efeitos, no entanto, são devastadores, segundo a psicóloga.

“Elas geram medo e ansiedade extremas, isolam a vítima, e corroem profundamente sua autoestima. Em casos extremos, que vêm se tornando cada vez mais frequentes, geram tanto ódio, tanta raiva e desejo de vingança, que acaba resultando em tragédias.”

A solução, para a psicologa, passa por um trabalho constante com educadores para que busquem relações de diálogo e confiança com os alunos. “É importante que os professores reconheçam a existência do bullying e discutam temas como o próprio bullying, ética, moral e democracia com os alunos”, reforça.