O mês de setembro se tornou o período dedicado às campanhas de conscientização sobre a prevenção do suicídio. Especialistas e órgãos oficiais de todo o mundo alertam para os crescentes dados, o que reforça a importância do cuidado com a saúde mental. As campanhas do ‘Setembro Amarelo’, que ganham espaço na mídia, buscam estimular o cuidado com a saúde mental para pessoas de todas as idades e em todos os contextos econômicos e sociais. Nesse sentido, o Jornal Opção conversou com profissionais da área a fim de entender o processo do adoecimento mental e quais as possibilidades de tratamento estão disponíveis para todos. 

O psicólogo Fernando Gobbato explica que ainda existe um tabu muito grande ao redor da busca por ajuda psicológica. “Tem pessoas que fazem terapia de forma preventiva, mas tem aquelas que esperam a bomba estourar”, resume. O especialista conta que muitas pessoas buscam ajuda quando já estão no limite, já recorrendo muitas vezes ao tratamento medicamentoso. Ele reforça que “a psicoterapia não é para apagar incêndio, ela deveria ser preventiva e de autocuidado”. 

Gobbato destaca o tabu sobre buscar a terapia como prejudicial especialmente para homens l Foto: Arquivo.

Para Gobbato, existem três fatores fundamentais que definem a psique do indivíduo: fatores genéticos, o ambiente que cerca o indivíduo e sua cultura. Para o psicólogo, mesmo que exista fragilidade em um desses pontos, os outros dois sendo bem estruturados, é possível equilibrar a saúde mental. Entretanto, eventualmente, dar a devida atenção a pontos de fragilidade nesse tripé é fundamental para manter uma saúde mental sólida. 

Pensando na acessibilidade ao tratamento terapêutico, Gobbato conta que existem alternativas mais acessíveis economicamente: auxílio gratuito nos Centros de Atenção Psicossociais (CAPs), atendimento nas clínicas escola (ligadas às universidades que têm o curso de psicologia), profissionais que fazem preços sociais, além do Centro de Valorização da Vida (CVV), em casos de emergência, disponível pelo através do número 188.

Tratamento medicamentoso

Em entrevista ao Jornal Opção, Marcelo Trindade, Chefe do departamento de saúde mental e medicina legal da faculdade de medicina da UFG, fala sobre o processo de adoecimento mental. “O adoecimento mental é um amplo espectro de sinais e sintomas do nosso psiquismo e que geram repercussões no viver da pessoa”, explica.

O especialista cria duas categorias, o adoecimento que possui “sintomas compreensíveis”, que são aqueles que surgem em resposta a alguma situação concreta do nosso cotidiano. Luto, assédio no ambiente de trabalho e dificuldades financeiras são alguns exemplos dados pelo psiquiatra. Nesses casos, comumente, não há tratamento medicamentoso dos pacientes. Nesse caso, “as psicoterapias e as intervenções psicológicas são fundamentais” já que conseguem trabalhar nossa capacidade de lidar com frustrações, e desenvolvem nosso autoconhecimento. Dessa forma, mesmo que não consigamos evitar esses contextos, somos capazes de lidar melhor com as situações que puxam o adoecimento. 

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A segunda categoria destaca por Marcelo aborda os adoecimentos que não possuem esses “sintomas compreensíveis”, ou seja, não é uma reação aos fatos do nosso cotidiano. Nesse tipo de adoecimento, “cabe as intervenções psiquiátricas propriamente ditas”, fazendo uso de medicamentos para controle químico das reações no cérebro. Transtorno bipolar, depressão grave, transtorno obsessivo compulsivo e transtorno esquizofrênico são algumas das doenças que podem ser tratadas dessa forma. 

Marcelo destaca os efeitos da pandemia e do excesso de tempo de tela na saúde mental, especialmente dos jovens l Foto: Arquivo.

Nesses contextos em que não há controle sobre a situação que puxa o adoecimento, Marcelo destaca a importância de se manter “hábitos de vida saudáveis são fundamentais”, no intuito de prevenir ou amenizar esses sintomas. Exercícios físicos regulares, uma boa alimentação, exposição diária ao Sol por alguns minutos e práticas de lazer são alguns fatores que podem contribuir para o tratamento, nesses casos. 

De toda forma, o psiquiatra reforça que “o adoecimento mental pressupõe necessariamente o sofrimento psíquico tanto para a pessoa quanto para o núcleo familiar ou social no qual a pessoa está inserida”, ou seja, a rede de apoio do paciente deve sempre estar atenta e ser participativa. “ É fundamental que tanto a pessoa quanto o familiar estejam atentos aos primeiros sinais e procurem as equipes capazes de realizar essas intervenções”, resumiu.