Falta de vaga em UTI leva à morte de jovem de 25 anos em Goiânia

06 março 2025 às 11h28

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A falta de vagas em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) continua provocando mortes nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Goiânia. Nesta quinta-feira, 5, a jovem Graziely, de 25 anos, faleceu em decorrência de parada cardiorrespiratória enquanto aguardava uma vaga na UTI, que não foi disponibilizada a tempo. Ela estava internada na UPA Maria Pires Perillo, localizada no Jardim Curitiba I, na região Noroeste da capital.
A situação não é isolada. Segundo relatos de familiares de pacientes, a espera por um leito de UTI tem ultrapassado sete dias, contrariando a legislação, que determina um prazo máximo de 24 horas para transferência. Além da escassez de vagas, parentes denunciam a falta de insumos, medicamentos respiratórios e antibióticos utilizados nas salas de reanimação.
Na quarta-feira, 4, o Jornal Opção expôs o descaso do poder público em relação à crise na saúde. No Cais de Campinas, um bebê só conseguiu uma vaga na UTI após três dias de espera. No fim do ano passado, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) havia informado que a fila por leitos de UTI estava zerada, o que contrasta com a atual realidade.
Ainda na quarta-feira, 5, a SES afirmou que a oferta de leitos de UTI, tanto para adultos quanto para crianças, segue dentro da normalidade na rede pública estadual. O órgão destacou que o aumento da demanda está relacionado à sazonalidade de doenças respiratórias e arboviroses, o que tem sobrecarregado o sistema de saúde.
Secretaria de Estado da Saúde
Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, a gerente de Regulação da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Lorena Mota, afirmou que a pasta conta atualmente com 841 leitos de terapia intensiva. Segundo ela, o governo tem investido na ampliação e fortalecimento da rede hospitalar.
“O que a gente tem feito nos últimos anos é realmente um fortalecimento e ampliação do número de vagas de terapia intensiva. Contamos com negociações em unidades contratualizadas para aumentar a oferta de leitos dentro da rede municipal”, explicou.
Lorena Mota ressaltou que o atual período sazonal tem impactado a demanda por atendimento médico, especialmente devido ao aumento de doenças respiratórias e casos de arboviroses. “Não estamos em um cenário tão crítico quanto no ano passado, mas também estamos percorrendo um momento desafiador, o que acaba gerando uma sobrecarga no sistema de saúde”, afirmou.
A gerente destacou que a SES tem investido na otimização da ocupação dos leitos. “Trabalhamos para fortalecer o chamado ‘giro de leito’, garantindo que o paciente receba alta no tempo oportuno, evitando permanência prolongada e liberando vagas para novos pacientes que necessitam de atendimento”, disse.
Tempo de espera para internação
Sobre a demora relatada por alguns pacientes para conseguir uma vaga em UTI, Lorena explicou que a SES monitora constantemente as solicitações e busca garantir o encaminhamento em até 24 horas. “O que pode ocorrer é que alguns casos exigem perfis específicos de leitos, como neurocirurgia, cardiologia ou vascular, que demandam recursos especializados, insumos e materiais específicos. Isso pode estender o tempo de espera”, esclareceu.
Ela também comentou sobre o caso de uma paciente específica citada na entrevista. “Essa paciente entrou no nosso sistema de regulação ontem. A SES tentou oportunizar a vaga, mas a ficha foi encerrada por Goiânia informando o óbito”, disse.
Superlotação na pediatria
Sobre casos de longa espera para atendimento infantil, como o de um bebê de seis meses que aguardou três dias por uma vaga, Lorena atribuiu a situação à alta demanda pediátrica. “A sazonalidade tem gerado um aumento nos casos de bronquiolite e pneumonia, impactando diretamente a capacidade de atendimento. Ainda assim, temos conseguido direcionar pacientes de forma célere para nossas unidades”, pontuou.
Falta de insumos nas unidades de saúde
Questionada sobre a falta de insumos denunciada por pacientes, Lorena esclareceu que a responsabilidade pelo abastecimento das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Centros de Atenção Integrada à Saúde (CAIS) é da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). “A SES gerencia as unidades estaduais, operadas por organizações sociais, e não temos falta de insumos, materiais ou medicamentos nelas. Quanto às UPAs e CAIS, a SMS é a responsável pelo abastecimento e deve verificar eventuais falhas”, esclareceu.
Parceria entre Estado e Município
Sobre a cooperação entre as secretarias municipal e estadual, Lorena afirmou que as reuniões entre as equipes de regulação continuam acontecendo semanalmente. “Temos reuniões regulares para otimizar o acesso a leitos de terapia intensiva, enfermaria e consultas, garantindo um fluxo mais eficiente para os pacientes”, afirmou.
A SES, segundo ela, tem apoiado a SMS dentro de suas competências, mas enfatizou que “a gestão municipal é plena e tem autonomia para administrar sua rede hospitalar, reorganizar contratos e garantir o abastecimento das unidades”.
Por meio de uma nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que a saúde da capital está em estado de calamidade desde o início da nova gestão. Veja a nota na íntegra.
Secretaria Municipal de Saúde
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informa que uma paciente, G.S.S., faleceu enquanto aguardava vaga em UTI em Goiânia. A solicitação ocorreu às 09h da última quarta-feira (5), e o óbito, causado por parada cardiorrespiratória, foi registrado às 17h do mesmo dia.
Atualmente, duas crianças aguardam leitos em UTI Pediátrica na capital. As solicitações foram encaminhadas tanto ao complexo regulador municipal quanto ao estadual (SES), e os pacientes serão transferidos assim que houver disponibilidade de vagas.
A rede de saúde enfrenta estado de calamidade. Desde o início da atual gestão, a SMS tem realizado uma força-tarefa para minimizar o desabastecimento das unidades, com a compra e distribuição emergencial de 72 tipos de medicamentos.
A reportagem entrou em contato com a SES, mas até o fechamento da matéria não obteve resposta. O espaço segue aberto.
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