A falta de resposta coordenada e a negação da ciência podem ter contribuído para o alto número de mortes por Covid 19 no Brasil. Neste mês, o país chegou a triste marcar de 700 mil mortes em decorrência da doença. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde divulgou que nesta terça-feira, 28, data do primeiro registro de óbito por Covid, 700.329 vidas foram perdidas para a doença. Para se ter ideia, apenas os Estados Unidos têm mais mortes globalmente, com mais de 1,1 milhão. Lá também a doença foi negligenciada.

A emergência foi reconhecida como pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março de 2020. Um dia depois, em 12 de março, o país enfrenta o trauma da primeira morte pela doença. Tratava-se de uma paciente de 57 anos, que estava internada em tratamento no Estado de São Paulo. O momento era desafiador com negacionistas do governo federal. Além da desigualdade social e um sistema de saúde com estruturas precárias, com profissionais sem saber como enfrentar o problema. A única certeza que tinha era o medo.

A Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico Brasil) elaborou um relatório com sugestões de ações reparadoras e de responsabilização, que foi entregue ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Entre as medidas estão: a criação de um Museu Nacional da Pandemia de Covid-19, o estabelecimento de políticas públicas de saúde mental para enlutados da doença e a criação de cotas em universidades e cursos técnicos para órfãos, sobreviventes e viúvas de vítimas.

O infectologista Julio Croda, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), pontua que uma das principais causas do grande número de mortes pela doença foi a falta de coordenação com base científica. “[O governo] negou medidas não farmacológicas, negou a vacina, todas essas medidas só são efetivas na redução de mortes se forem entendidas como medidas coletivas, quanto maior a adesão, menos mortes”, frisou para o site Metrópoles.

Croda destacou que a pirâmide etária do Brasil, com grande número de idosos, também pode ter contribuído para o maior número de internações e óbitos, já que essa população era mais vulnerável ao vírus. Para ele, a “virada do jogo” foi a vacinação generalizada. “Tínhamos três ou quatro mil mortes por dia, agora temos cerca de 50 ou 100, sem medidas restritivas, máscaras apenas nos aeroportos, festas de Carnaval”, recorda. “O que mudou o risco foi a vacina, foi o que nos permitiu retomar nossas atividades habituais”, emendou.

Covid e as variantes

O infectologista ressaltou o aumento de óbitos em decorrência de novas variantes. “Agora temos subvariantes do Omicron. Estamos há mais de um ano sem uma nova variante, o que demonstra a estabilidade da imunidade da população. Poucas pessoas são suscetíveis a desenvolver doenças graves,” acentua.

O primeiro caso de Covid-19 no Brasil foi registrado em 26 de fevereiro de 2020, em São Paulo. O paciente, um homem de 61 anos que viajou para a Itália, foi hospitalizado e se recuperou posteriormente.