Aumento de casos de mpox deixa Ministério da Saúde em alerta
14 agosto 2024 às 10h22
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Os registros de novos casos de mpox e o surgimento de uma variante mais perigosa do vírus acende alerta nas autoridades nacionais e internacionais de saúde. Instituições como o Ministério da Saúde (MS), Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos acompanham de perto o desenvolvimento da doença.
O MS realizou reunião na última terça-feira, 13, a fim de atualizar as recomendações e o plano de contingência para a doença no país. Em 2024, segundo dados do próprio Ministério, foram registrados 709 casos da doença no Brasil e 16 óbitos, sendo o mais recente em abril. Atualmente, o risco no país é considerado baixo.
A OMS convocou um Comitê de Emergência, que se reunirá ainda esta semana, para avaliar o surto da doença na África e o risco de sua disseminação global. A decisão considera a crescente de casos fora da República Democrática do Congo, onde as infecções estão em alta há mais de dois anos, e também a mutação que possibilitou a transmissão do vírus de pessoa para pessoa.
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Além disso, a OMS emitiu um comunicado oficial solicitando que os fabricantes de vacinas contra a mpox apresentem pedidos para análise do uso emergencial das vacinas. Em 2023, em meio a alta de casos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou de forma emergencial e provisória a aplicação de doses de vacinas ainda não registradas. Novas medidas nesse sentido podem ser adotadas, caso necessário.
A mpox é uma doença viral zoonótica, transmitida a humanos por contato com animais silvestres, pessoas infectadas ou materiais contaminados. Os sintomas geralmente incluem erupções ou lesões na pele, febre, dores no corpo, dor de cabeça, calafrios e fraqueza. Embora a maioria dos pacientes se recupere em até um mês, a doença pode ser fatal se não for tratada adequadamente.
Surto no Brasil
Em 2022, o Brasil viveu alta de novos casos. Naquele ano, foram 40 mil casos. Em 2023, foram pouco mais de 400 novos casos. Em 2024, o maior número de casos foi registrado em janeiro, com mais de 170 novos casos. Em agosto do mesmo ano, a média de novos casos se estabilizou entre 40 e 50 por mês. O Ministério da Saúde considerou o número “bastante modesto, embora não desprezível”.
À Agência Brasil, o diretor do Departamento de HIV, Aids, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis da pasta, Draurio Barreira afirmou: “Sem absolutamente menosprezar os riscos dessa nova epidemia, o risco de pandemia e tudo o mais, o que trago do Brasil não é ainda um cenário que nos faça temer um aumento muito abrupto no número de casos”. Pensando nos fluxos de pessoas num cenário pós globalização, o diretor reforçou preocupação com o cenário africano, que pode rapidamente se espalhar pelo mundo.
Barreira lembra que durante o surto de 2022, o Brasil e os Estados Unidos foram os países com maior incidência da doença. Por isso, existe preocupação das autoridades brasileiras, apesar dos indicadores atuais baixos.
Dados
Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 2022 e 2024, o Brasil registrou quase 12 mil casos confirmados e 366 casos prováveis da doença. Além disso, há 66 casos classificados como suspeitos e um total de 46.354 casos descartados.
O número de casos em mulheres foi aproximadamente 10 vezes menor do que em homens, com cerca de mil mulheres afetadas, todas na faixa etária de adultos jovens. No entanto, há uma alta proporção de casos com gênero não informado, o que pode, após análise, aumentar ainda mais os indicativos para ambos os gêneros.
Entre os casos confirmados e prováveis da doença no Brasil, 45,9% relataram viver com HIV. Entre os homens diagnosticados com a mpox, esse índice é de 99,3%.
“Todos os esforços que a gente tem feito se concentram, prioritariamente, na população HSH [homens que fazem sexo com homens]. Não por acaso, a responsabilidade pela vigilância e atenção está no Departamento de Aids, Tuberculose, Hepatites e ISTs”, completou Draurio.
O Brasil registrou, de 2022 a 2024, 23 gestantes infectadas por mpox em diferentes estágios da gestação.
Internações
O MS avalia que a infecção apresenta complicações em uma parcela muito pequena de casos: 3,1% dos pacientes foram hospitalizados devido a necessidades clínicas ou agravamento do quadro clínico; 0,6% foram internados para isolamento; e 1,6% foram hospitalizados por motivos desconhecidos. No total, 45 pacientes foram internados em unidades de terapia intensiva (UTIs).
Atualmente, a taxa de letalidade da doença é de 0,14%.
Os dados indicam que todos os pacientes falecidos apresentaram febre e múltiplas erupções, predominantemente genitais. Além disso, 15 das mortes ocorreram entre imunossuprimidos vivendo com HIV (93,8%). Apenas um dos 16 óbitos ocorreu em um paciente imunodeprimido devido a câncer.
Medicação
A Anvisa concedeu licença para que o MS importe o remédio Tecovirimat. Por ser um medicamento off label, não foi ainda autorizado para o tratamento de mpox, mas, efetivamente, reduz a mortalidade”, avaliou Barreira.
“Estamos agora procedendo junto à Opas [Organização Pan-americana da Saúde]. Já pedimos a compra, via Opas, de tratamentos para a eventualidade de um surto no Brasil. Hoje, não temos tratamento específico”, concluiu.