Agrotóxicos no Brasil: estudo associa uso a maior mortalidade infantil por câncer

04 novembro 2023 às 17h04

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Um recente estudo norte-americano estabeleceu uma conexão entre a utilização de agrotóxicos na plantação de soja no Brasil e um aumento significativo na taxa de mortalidade infantil por câncer.
“Descobrimos que as populações foram expostas aos defensivos agrícolas por meio do abastecimento de água, mas os efeitos negativos na saúde foram mitigados pelo acesso a centros de tratamento de câncer de alta qualidade”, contaram as autoras.
O estudo, divulgado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) nesta semana, é assinado por Marin Elisabeth Skidmore, do Departamento de Agricultura da Universidade de Illinois; Kaitlyn M. Sims, do Instituto de Políticas Públicas da Universidade de Denver; e Holly K. Gibbs, do Centro de Sustentabilidade e Meio Ambiente da Universidade de Wisconsin.
Ao analisar dados dos últimos 15 anos nos biomas do Cerrado e da Amazônia, as pesquisadoras identificaram um “um aumento estatisticamente significativo na ocorrência de leucemia pediátrica após a expansão da produção local de soja”.
Além disso, o estudo revela um aumento notável nas mortes de crianças devido à leucemia linfoblástica aguda após a expansão da produção de soja no Brasil. Esse aumento corresponde a 123 óbitos adicionais de crianças com menos de 10 anos, entre 2008 e 2019. O estudo enfatiza que a principal fonte de exposição a esses produtos químicos nocivos é a contaminação da água potável.
A pesquisa ressalta que, nas últimas décadas, o Brasil se tornou o maior produtor global de soja, ao mesmo tempo em que é o segundo maior consumidor de agrotóxicos. Segundo o estudo, o Brasil utiliza agrotóxicos em uma taxa 2,3 vezes superior por hectare em comparação aos Estados Unidos, e três vezes mais em comparação à China, que são os maiores consumidores de defensivos agrícolas em volume, ocupando o primeiro e o terceiro lugares, respectivamente.
“O uso de agrotóxicos na soja aumentou desde a aprovação, em 2004, de variedades de soja geneticamente modificadas resistentes ao glifosato. Os agricultores do Brasil também aplicam mais insumos por hectare de soja do que em outras culturas temporárias, incluindo milho, arroz, feijão e cana-de-açúcar”, conclui o estudo.
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