Pelo twitter, prefeito de Goiânia diz que vai responder a todos os críticos de sua administração. Será essa a solução para os problemas da cidade?

Mesmo os opositores mais empedernidos aliviam nas críticas pessoais ao prefeito Paulo Garcia. Todos eles o vê como uma pessoa educada, honesta e bem intencionada. Mas o Paulo Garcia administrador de Goiânia não tem esse mesmo tratamento. Em parte, porque quem faz oposição tem como meta encontrar defeitos, e explorá-los. É assim em todos os lugares e em todos os níveis. Esse, portanto, é o jogo democrático da política.

Paulo Garcia tem sido criticado duramente pelos seus opositores. Aliás, não apenas por estes, mas pela população de maneira geral, conforme mostraram pesquisas de opinião que lhe garantem uma reprovação recorde. Parte dessa rejeição tem plena e total razão de ser. A Prefeitura de Goiânia no ano passado bateu no fundo do poço. A cidade se transformou num lixão a céu aberto. Isso para ficar em apenas um dos grandes problemas vividos pela população, que teve que conviver com pilhas e mais pilhas de lixo doméstico sem o devido serviço de recolhimento. Num quadro assim, não há popularidade que sobreviva.

Reforma

A crise no essencial serviço de recolhimento do lixo doméstico tem como origem o drama financeiro geral dos cofres goianienses. O serviço parou de ser prestado pela Prefeitura por falta de dinheiro, e não por alguma falha estratégica ou por falta de planejamento. Como não havia dinheiro para pagar as empresas prestadoras desse serviço, o sistema entrou em colapso.

Mas Paulo Garcia, e talvez graças ao pessimismo com que a população vê a administração como um todo, tem sofrido críticas também em outras áreas, mesmo quando adota medidas que, embora polêmicas, não sejam equivocadas. Recentemente, por exemplo, ele sofreu um vendaval de ataques porque na reforma da avenida 85 foram retiradas palmeiras imperiais que se encontravam na ilha de separação das pistas. É óbvio que as palmeiras são um belo ornamento, mas é igualmente evidente que elas jamais serão mais importantes do que priorizar o transporte coletivo através de corredores preferenciais para ônibus.

Os problemas da administração, porém, vão muito além dessas questões mais impactantes. Aparentemente, o que falta na Prefeitura é alguém com olhar “clínico” para questões aparentemente banais, mas que acabam compondo a imagem da administração desde o subconsciente coletivo. Uma cidade bem cuidada é bem cuidada nos pequenos detalhes, e isso é algo que tem faltado na Prefeitura de Goiânia.

Também recentemente, a Prefeitura refez a praça do relógio, no Jardim Goiás, que já foi um dos cartões postais da cidade. Não precisava. A praça estava bem plantada. Ainda assim, tudo foi arrancado e replantado. Ficou pior do que era. Nos últimos dias de 2014, outra pracinha, na avenida E, passou por reforma. Que, por sinal, ainda não terminou. A pracinha, na verdade um “queijinho” era coberta por grama. Bastaria manter o gramado em boas condições. Arrancaram tudo, trocaram a terra e… nada. Permanece dessa forma, sem planta alguma.

Esse tipo de serviço, de arrancar grama para replantar grama no mesmo lugar, não é raro. Isso não conta pontos para a Prefeitura. Pelo contrário, acaba servindo como mais lenha na fogueira da impopularidade. Principalmente, como no caso da avenida E, porque o mato crescia alto nas ilhas de separação das pistas a apenas alguns metros da pracinha que está sendo refeita.

Um olhar mais atento revela outros detalhes que a administração parece não se dar conta. No setor Pedro Ludovico, em uma das avenidas circulares na vizinhança da praça principal, uma enorme placa diz que a marginal Botafogo está em obras. Não está. Apesar do atraso de mais de um ano do prazo inicial, as obras do complexo de viadutos Mauro Borges Teixeira foram concluídas. Outras placas como essa ainda se encontram instaladas na região sul da cidade. E esse tipo de coisa, que revela falta de zelo pelo detalhe, não tem nada a ver com falta de dinheiro em caixa.

Trânsito

Outro ponto que causa bastante desgaste na imagem da Prefeitura é a política de trânsito. De uns tempos para cá, a SMT tem adotado uma política que provoca mais engarrafamentos do que os evita. Basta observar algumas mudanças de trajeto para se perceber essa anomalia.

É óbvio que não se pode desconhecer o fato de que Goiânia tem, proporcionalmente, mais veículos do que a cidade de São Paulo. É muito carro para pouca rua. O problema se agrava porque a política de trânsito desenvolvida atualmente pela SMT prioriza o afunilamento do trânsito para as avenidas. Como as caixas dessas avenidas já estão lotadas, o problema só se agrava. Agora mesmo, na avenida 85, criou-se dois ou três looping de quadra para dar mais fluidez no trânsito. Medida correta, mas a solução pode ser problemática porque, além de manter carros mais tempo na 85, os desvia para avenidas secundárias ou paralelas, que também tendem a ficar entupidas. E haja engarrafamentos.

A SMT também consegue complicar até o trânsito em ruas internas nos bairros. No Jardim Goiás, que mais uma vez serve de exemplo por viver uma explosão populacional alucinante, enfrenta esse problema. Algumas ruas, de caixa estreita, tem mão e contra-mão. E o resultado é que muitos carros que poderiam circular pelo bairro apenas em ruas internas, são desviados para as avenidas E e 136, que estão abarrotadas. Resultado: mais engarrafamentos.

Respostas

A promessa do prefeito Paulo Garcia no twitter, de não deixar nada sem resposta, aparentemente é algo bastante positivo. Mais ainda é melhor quando ele escuta as críticas da bancada do PMDB e chama os vereadores do partido para contribuírem com a proposta de reforma administrativa que ele precisa fazer. Esse é o tipo de atitude que desarma o espírito crítico, e acrescenta parcela de responsabilidade para o parceiro administrativo. A reforma passa a ser do governo como um todo e não apenas do prefeito. O presidente da Câmara Municipal, vereador Anselmo Pereira, não perdeu tempo e anunciou que os vereadores de uma maneira geral também querem dar alguma contribuição ao projeto. Tudo certo, desde que a solução a ser proposta seja a de corte nas despesas. O tesouro municipal acabou, e não tem como mais manter as coisas no nível em que estão. No caso, é necessário aguardar mais alguns dias para se saber que tipo de coelho vai sair desse mato.

Paulo Garcia, de toda forma, tem este ano para mudar a situação em que se meteu política e administrativamente. Somente assim ele terá condições de conduzir bem o final de seu mandato, em 2016, sem ver a crise se agravar. A abertura que ele se propõe, e não apenas através do twitter, é boa. Significa, no mínimo, que ele quer mudar o perfil que moldou a sua imagem até aqui.