“Sabe o que vai mudar a história da política no Brasil? A internet”, diz Amauri Ribeiro

17 fevereiro 2019 às 00h00

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Parlamentar ‘bruto, rústico e sistemático’ conta sua história de vida, trajetória política e polêmicas

Com uma fala rápida, sotaque goiano acentuado e jeito simples, o deputado estreante de 46 anos, Amauri Ribeiro, afirma não se incomodar com o assédio da imprensa. Ao explicar que desejamos contar a trajetória do polêmico político do chapéu, Amauri agradece o contato e narra ao Jornal Opção como um trabalhador rural e comerciante de Piracanjuba, município com 25 mil habitantes, tornou-se vereador, prefeito e inicia agora seu primeiro mandato como deputado estadual, eleito com 24.922 votos.
“Fui nascido e criado na roça, onde fiquei até os meus 20 anos. Meu pai era peão de fazenda e usa chapéu e bota até hoje”, diz o parlamentar ao falar sobre seu estilo característico. Ele conta com orgulho que teve sua carteira assinada como tirador de leite e foi trabalhador braçal. “Trabalhei como inseminador de gado em fazendas da minha região até os meus 18 anos. Servi a Aeronáutica e voltei para a roça, onde consegui juntar dinheiro para, aos 21 anos, comprar um mercado na cidade de Piracanjuba.”
Amauri conta que “tocou” esse comércio por quase 20 anos até que um juiz impôs uma espécie de Lei Seca na cidade, fechando comércios e prejudicando comerciantes. Indignado, ele foi à rádio e deu uma entrevista falando que não concordava com as ações do magistrado. “Perguntei onde ele colocaria bandido, uma vez que estava colocando trabalhadores na cadeia. Fui chamado ao Fórum da cidade no mesmo dia e ele fez uma audiência, exigindo retratação. Eu não me retratei e acabei preso”, contou.
“Fiquei 15 dias preso, tratado como bandido, em uma cela comum e sofrendo humilhações. Tive um habeas corpus negado e tive que recorrer ao TJ, que determinou minha soltura imediata. Isso gerou uma comoção no município de Piracanjuba. E, até por revolta, por ele ter me chamado de bandido resolvi me candidatar. Fui o vereador mais votado daquela eleição”, conta orgulhoso.
Ao rememorar sua atuação na Câmara, Amauri relata que fez uma oposição incisiva ao prefeito, que teria feito uma gestão desastrosa, segundo o deputado. Após desentendimentos com um possível candidato de seu grupo político, que se aliou a um rival, mais uma vez Amauri sentiu-se motivado a engatar uma candidatura, desta vez à Prefeitura de Piracanjuba.
“Eu achei que não teria condição alguma de me eleger prefeito por não ter dinheiro para bancar a campanha, mas após uma traição do candidato e todo o meu grupo político, decidi que entraria na disputa por pirraça. Esse candidato falou na minha cara que eu não tinha dinheiro, base e apoio popular. Eu disse ‘opa, apoio popular eu tenho’ e levei mais uma eleição.”
O deputado relata que, ao chegar à Prefeitura de Piracanjuba, pegou uma cidade destruída, com funcionários e aposentados com salários atrasados, além de uma fila de fornecedores para receber. “Fiz mutirões para limpar a cidade e realizei uma administração com muito pulso. Deixei um caixa de quase R$ 6 milhões nos cofres municipais ao final da gestão. Tinha uma reeleição garantida, mas tinha decidido sair de vez da política”, contou.
Após dois anos fora da vida pública, o comerciante disse ter ouvido o clamor popular que sempre pedia que ele se candidatasse. “As pessoas me pediam, aonde eu ia”, afirma o deputado, que frisa nunca ter deixado de conceder entrevistas, até mesmo em seu período sabático.
Bolsonaro do Cerrado
“Mais uma vez sem dinheiro e sem barganha consegui a vitória”. Questionado sobre a quantidade de votos obtidos no último pleito, Amauri é rápido na resposta: as redes sociais. “Eu tinha e tenho uma rede muito extensa, até pelas encrencas que me envolvi na prefeitura e na minha vida pessoal. Porque eu nunca mandei recado, chegava e resolvia. Eu fui um prefeito que ia varrer rua, mas nunca fiz isso para aparecer, é meu jeito. Tudo isso sempre chamou a atenção das pessoas.”
Sobre as comparações entre seu estilo e o do presidente Jair Bolsonaro (PSL), o deputado afirma que se sente honrado, pois o presidente é sincero e simples como ele, defende. Amauri conta que durante a campanha chegou a ganhar o apelido de Bolsonaro do Cerrado. “Tenho um grande respeito e admiração pelo presidente. Ele foi eleito pelo clamor popular, eu também. Por isso, comparo a eleição dele à minha.”
Internet
O mundo digital é um tema que o parlamentar tem muito interesse e, de forma espontânea, ele começa a falar sobre o assunto, questionando: “Sabe o que vai mudar a história da política no Brasil? A internet. Ou você acha que um cara sem dinheiro, sem estrutura política e sem coligação como eu seria eleito sem as redes sociais? Ainda bem que isso mudou. Se você analisar a eleição do Jair Bolsonaro e tantos outros aí perceberá que muitos políticos foram eleitos graças às redes sociais. Isso vai mudar a história da política porque pessoas que entram assim vêm com outros princípios”.
Sem papas na língua, Amauri emenda o assunto e diz que políticos endinheirados chegam aos municípios, compram lideranças e apoio, por isso não têm compromisso com o povo. “Eles não vão fazer o que precisa ser feito”, conclui.
Bruto, rústico e sistemático
O ex-trabalhador rural fala que sente orgulho quando o chamam de ‘bruto, rústico e sistemático’. Essa expressão, segundo ele, remete à roça, a um cara sério e que gosta das coisas corretas, então isso o representa. “Não se muda a personalidade de uma pessoa, serei na Alego o que sempre fui durante toda a minha vida. Não sou um personagem, minha história política é essa. Às vezes eu extrapolo porque não tenho muito tato na língua. Não faço tipo, defendo o que acredito e talvez esse seja o meu diferencial.”
O deputado então cita o exemplo das recentes denúncias sobre a Assembleia que repercutiram na imprensa. “Você acha que os levantamentos que fiz sobre a Casa surgiram do nada? As pessoas que votaram em mim acreditam no meu trabalho. Quando fui eleito essas pessoas começaram a me trazer denúncias e eu fui investigar. Acabei achando muito mais do que procurei, apurei gastos absurdos com excesso de funcionários comissionados na Alego, isso me levou também a outros contratos milionários. Depois, me deparei com contratos de carros que eram uma verdadeira fortuna. Isso me levou a verificar a existência de carros da Casa com placas frias no Detran, isso entre tantos outros absurdos que aconteceram no passado, não sei agora”, explica.
Polêmicas
Segundo Amauri, essas denúncias atingiram muita gente, principalmente deputados da última Legislatura. Para o parlamentar, isso explica o porquê todas suas falas ganham repercussão e muitas vezes são distorcidas por parte da imprensa. “A última foi a da Assembleia”, reclama. Amauri se refere à sua fala, em entrevista, de que há servidoras comissionadas que atuam para “servir” parlamentares na Casa. “Não chamei ninguém de prostituta, a jornalista que disse isso inclusive já foi acionada judicialmente. Quem tem que se explicar é ela, não eu”, fala ao se referir à jornalista Fabiana Pulcineli, do jornal O Popular.
O deputado emenda e diz que sempre pede a Deus que o conduza e, por isso, até mesmo quando fala algo que não deveria isso acaba sendo revertido a seu favor. “Sempre que me ouvirem falar alguma coisa saibam que eu tenho prova. Não sou idiota para falar algo que eu não tenha um documento ou algo gravado que comprove o fato. Isso vale para algumas declarações sobre a Alego. Tenho vídeos de pessoas falando o que acontecia lá e, acredite, foram muitos absurdos.”
Sobre as acusações de ser machista, o deputado é incisivo ao discordar do rótulo e relembra o episódio envolvendo a agressão à sua filha. O parlamentar defende que foi uma ação de um pai corrigindo uma adolescente. Segundo Amauri, ele e a jovem têm uma excelente relação e aquela teria sido a única vez que ela apanhou daquela forma. “Eu amo muito minha filha e ela me ama. Nunca mais tive motivos para brigar com ela novamente. Tenho certeza de que ela me entende e, pela sua personalidade, será uma mãe como eu fui pai.”
Sobre ter quebrado o regimento da Alego com o uso chapéu, sua marca registrada, o representante de Piracanjuba diz que o regimento anterior entregue aos parlamentares da Casa não proibia o uso desse tipo de adorno, tanto que o ex-deputado Marlúcio Pereira compareceu a muitas sessões de boina. Segundo Amauri, o novo regimento teria sido votado dia 18 de dezembro de 2018, às escuras, e que ninguém tinha noção dessa mudança no regimento interno. “No dia da posse eu não sabia dessa alteração. Se eu soubesse não teria entrado de chapéu. Inclusive fui olhar com calma e vi que o novo regimento foi votado de forma toda errada”, critica.
A respeito da foto que viralizou nas redes sociais, em que o deputado aparece com a mulher Cristhiane Rodrigues Gomes Ribeiro, de 42 anos, sentada em seu colo, enquanto tomava posse no plenário da Alego, Amauri afirma que a sessão era festiva e que cedeu a cadeira para uma idosa. “Foi bem no finalzinho da sessão, já tínhamos jurado. Cedi um lugar para uma senhora de 84 anos que estava em pé clamando dores há 40 minutos. E eu tenho um carinho e respeito imenso pelas pessoas com mais idade. Quem me conhece e me acompanha nas redes sociais sabe muito bem disso.”
O deputado estreante relata que pediu uma cadeira ao cerimonial, mas não foi atendido. Como não poderia ficar em pé na primeira fileira, pois todos os demais deputados estavam sentados, o político tomou a atitude de ceder o lugar à senhora, acomodando a esposa Cristhiane em seu joelho.
“Se eu ficasse em pé seria chamado de animal. Se eu deixasse minha esposa em pé iriam me chamar de grosso. Eu fiz o que qualquer casal poderia fazer. Você nunca se sentou no colo do seu namorado?”, questiona o deputado. E emenda: “Assim que ela sentou, os seguranças providenciaram imediatamente uma cadeira, minha mulher ficou 30 segundos sentada na minha perna. Só que isso foi suficiente para registrarem o momento. Parece até que tinha alguém ali me vigiando para tirar uma foto que me comprometesse”, reclama o deputado. “E depois descobri que a senhora era avó do deputado Wagner Neto. Ele até me agradeceu publicamente por eu ter cedido o lugar a ela.”
Amauri segue falando e explica que, alguns minutos antes, o deputado Alysson Lima (PRB) foi repreendido por ceder o lugar à própria mãe e ficar em pé. “Nessa hora eu levantei imediatamente e fiz ‘a gata parir’. Organizei para que todos abrissem espaço para a senhora. Isso é o que aconteceu. Eu sou assim, gosto de resolver as coisas.”
Caiado
Sobre sua relação com o governo estadual, Amauri explica que foi eleito na base do governador Ronaldo Caiado (DEM), mas que isso não quer dizer que falará amém para tudo o que o gestor fizer. “Fiz questão de não aceitar ajuda alguma do governador e não devo satisfações a ninguém exceto meus eleitores. Nunca defenderei o errado”, argumenta.
“Tenho que falar que entendo o que ele passa, também peguei uma prefeitura quebrada, com fornecedores na minha porta. Sei o que o Ronaldo está passando. Para eu conseguir administrar, tive que impor nos primeiros seis meses uma forma diferenciada que assustou muita gente. Acho que fui o prefeito mais odiado da história por certo tempo. Caiado pegou um Estado destruído.”
Para Amauri, as críticas de Caiado à gestão anterior são compreensíveis. “Como não falar que o gestor que nos antecedeu fez coisa errada? Eu também falava, é preciso dar nome aos bois. E, olha, é preferível que as pessoas passem um ‘aperto’ por uma gestão mais enxuta agora para colocar a casa em ordem depois. Estou vendo toda a situação com os olhos de gestor e acredito piamente que ele tem a principal qualidade para um gestor público: honestidade.”
Próximos passos
Sem planos. Assim Amauri diz ter chegado até a Assembleia Legislativa. “Nunca planejei nada na minha vida. Não planejei ser vereador, prefeito, muito menos deputado. Sei que tenho apoio popular e de Deus. Deixo meu destino nas mãos dele e, no mais, quero fazer um bom trabalho na Alego. Falam que eu sou brigão. Pois a população fez o meu slogan e gosto muito dele. Se quiser coloca aí: ‘Ele é brigão, mas não é ladrão’”, finaliza o deputado.