PT buscará recuperação de Paulo Garcia para chegar forte em 2016
06 dezembro 2014 às 11h39
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Em 2015, sigla vai perseguir união das tendências para fortalecer a administração, que é mal avaliada
Frederico Vitor
Ao término das eleições de 2010, o PT goiano deixava a impressão de que havia dois partidos dividindo a mesma sigla. Os eleitores que acompanham mais afinco os rumos da política goiana devem ter percebido a atuação tímida do prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), na campanha do candidato de sua legenda ao governo de Goiás. Parecia que Antônio Gomide estava órfão de cabos eleitorais na capital. A origem desta aparente falta de unidade partidária vem da forte disputa interna entre as diversas correntes que formam o organismo político do partido no Estado.
Costuma-se dizer que, ao se filiar na sigla da presidente Dilma Rousseff em Goiás, o cidadão não apenas opta por uma agremiação política. No ato de sua filiação ele também precisa escolher uma das várias tendências que compõem o corpo partidário para se alinhar e seguir as orientações do grupo interno escolhido. Neste complexo sistema que caracteriza o PT, as arestas internas precisam ser aparadas o mais rapidamente possível para o novo cenário eleitoral que se aproxima, isto é, as eleições municipais de 2016.
Nos pleitos em que os eleitores vão às urnas para escolher os próximos chefes do Executivo municipal e os componentes da Câmara dos Vereadores, tradicionalmente, o PT consegue imprimir bons desempenhos eleitorais em cidades importantes do Estado. Prova disto são as atuais administrações petistas nos dois maiores PIBs de Goiás: Goiânia e Anápolis.
Na capital, a situação do PT é mais sensível. É baixa a avaliação do prefeito Paulo Garcia e sua gestão tem enfrentado dificuldades administrativas, o que o leva a colecionar desgastes. Velhos gargalos que assombram os moradores da capital parecem distantes de se resolverem, tais como: os atrasos e superlotação da maioria dos ônibus das principais linhas do transporte coletivo, a falta de estrutura e incapacidade de prover atendimento humanizado na saúde e o cada dia mais caótico trânsito que tem irritado motoristas e usuários do transporte público.
Para piorar ainda mais a situação, o Paço Municipal tem insistido em medidas impopulares, como o aumento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) em quase 60%. Diante do quadro de inoperância e falta de rumo, nos bastidores se diz que a gestão de Paulo Garcia é o principal cabo eleitoral de seus opositores.
Na tentativa de reverter esse quadro desfavorável, já existe um movimento dentro do PT pela busca da união de forças das várias tendências — principalmente as beligerantes — para que a sigla consiga chegar em 2016 na condição de protagonista. Não será uma terefa fácil, porém será crucial para a sobrevida da legenda em Goiânia, principalmente se for considerado que a capital é caixa de ressonância para todo o Estado, verdadeira vitrine política no qual o partido não deseja abrir mão.
Reabilitar a gestão municipal é essencial para o partido
Mas, afinal de contas, o que o PT vai fazer para recuperar Paulo Garcia? Há tempo hábil para a prefeitura voltar a fazer um trabalho com notabilidade e aprovação? Quem são os quadros com maiores condições de pré-candidatura para suceder o prefeito, caso ele consiga se reerguer? Respondendo a primeira pergunta, a resposta é sim. É completamente possível a recuperação da gestão municipal, inclusive há um exemplo doméstico de como dar a volta por cima político e administrativamente. Trata-se do governador Marconi Perillo (PSDB), reeleito com 57,44% dos votos válidos nas eleições deste ano.
Até meados de 2012, Marconi estava com a popularidade baixa, seu governo saía do olho do furacão da Operação Monte Carlo. O governador conseguiu a superação por meio de uma tática que será copiada por muitos homens públicos pelo Brasil afora em situação de crise: a saída do político para dar espaço ao gestor. No período de menos de dois anos, o governador tucano conseguiu recuperar o caixa do Estado, buscou empréstimos e parcerias com o governo federal e tocou um monumental programa de obras.
Recuperar a imagem
Marconi gestor recuperou, duplicou e construiu rodovias, edificou viadutos e pontes. Os grandes hospitais estaduais foram reformados e entregues à administração das OSs. Foi construído o Hospital de Urgências de Goiânia 2 (Hugo 2) que vai atender a demanda da região noroeste da capital. O governo está para concluir o complexo olímpico do Centro de Excelência e reformou o Autódromo Internacional de Goiânia. O resultado deste esforço de recuperação administrativa foi mais um triunfo nas urnas sobre seu maior e tradicional adversário: Iris Rezende (PMDB).
Portanto, o prefeito da maior e mais rica cidade goiana tem plenas condições e tempo para se recuperar. Fala-se em uma força-tarefa do PT na busca por recursos federais para a prefeitura tocar obras importantes. Projetos de grande monta como o BRT Norte/Sul — sistema de transporte coletivo com 21,7 km de extensão de corredores exclusivos e seis terminais de integração orçados em R$ 180 milhões — e o Parque Macambira Anicuns já teriam recursos assegurados.
Não bastam apenas ações administrativas, há também a necessidade de esforços políticos dentro da tática de fortalecimento do PT em 2015 para 2016, com vistas a 2018. O objetivo maior da sigla em Goiás é de dobrar o número de prefeituras sob sua administração, saltando de 17 para 35 prefeitos, além de permanecer à frente dos Executivos municipais de Goiânia e Anápolis. A Prefeitura de Aparecida de Goiânia, segundo município mais populoso do Estado, também entrou no radar petista — comenta-se uma provável candidatura do atual vice-prefeito, Ozair José. Rio Verde, a maior cidade do Sudoeste goiano também está nos planos expansionista do partido. Karlos Cabral, da tendência Movimento PT, deve concorrer mais uma vez à prefeitura local.
Aidar quer PT na cabeça de chapa; Luis Cesar Bueno admite compor com PMDB
Em relação a Goiânia, o partido vai deixar o seu diretório municipal dirigir tanto as conversações em relação à sucessão de Paulo Garcia quanto a condução da estratégia a ser adotada para 2016. Segundo o deputado federal Rubens Otoni, da tendência PT Pra Vencer, nomes para serem trabalhados não faltam. O parlamentar aponta para a deputada estadual eleita Adriana Accorsi (da tendência Articulação, a mesma de Paulo Garcia) e dois de seus futuros colegas na Assembleia Legislativa, Humberto Aidar (PT Pra Vencer) e Luis Cesar Bueno (Movimento PT), como quadros fortes a serem considerados como naturais pré-candidatos.
O ex-reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Edward Madureira Brasil (ainda não definiu alinhamento a nenhuma tendência) foi outro nome revelado na última eleição que chega com capilaridade para o próximo pleito na capital. Até mesmo a deputada federal Marina Sant’Anna (Movimento Cerrado) está no páreo pela postulação ao Paço. De acordo com Rubens Otoni, o partido terá como tática de preparação para chegar forte em 2016 a consolidação de três pilares: o fortalecimento da administração de Goiânia, das lideranças petistas locais e a unidade partidária. “O prefeito tem se esforçado e não tenho dúvida nenhuma que chegaremos em 2016 com avaliação positiva.”
Cidade sustentável
O presidente do diretório municipal do PT, o deputado estadual Luis Cesar Bueno, reafirma que o partido em Goiânia vai trabalhar em 2015 pela reconstrução da abatida imagem de Paulo Garcia. Ele considera essencial para o sucesso desta diretriz o resgate do principal mote da campanha do petista, que foi a de cidade sustentável. O parlamentar avalia ainda que o Paço vai procurar desenvolver um amplo programa de obras que, primeiramente, vai depender da aproximação da prefeitura com o governo federal para fechar futuras parcerias e angariar repasses de recursos em benefício da capital. “O prefeito deve cumprir todos os compromissos firmados em campanha para chegar em 2016 com alta aprovação.”
Dentro da tática de fortalecimento de Paulo Garcia, o deputado estadual Humberto Aidar, cujo nome também é ventilado como provável pré-candidato, afirma que as tendências do partido vão se aproximar para trabalhar juntas em busca de recursos para sanar as dificuldades financeiras pelas quais passa a prefeitura. Outra questão levantada por Aidar é de que a sigla não vai abri mão de candidatura como cabeça de chapa em 2016. O deputado argumenta que o partido estaria admitindo sua incompetência administrativa se cedesse espaço a outro aliado para encabeçar uma postulação à prefeitura. “Para mim é ponto pacificado, a base do partido exige candidatura como cabeça de chapa.”
Ao contrário de Aidar, Luis Cesar Bueno pensa diferente em relação à posição de protagonismo da sigla. Segundo o presidente do diretório municipal do PT, o partido não deve se precipitar e precisa dialogar com aliados para formação de um chapa consistente, mesmo que isso represente a candidatura de um peemedebista na cabeça de chapa. “O PT sozinho não ganha eleição, o que precisamos é construir uma nova unidade em um novo processo de aliança.”
Não faltam nomes no PT de Goiânia para a sucessão municipal
Em síntese, quais são os nomes que o PT tem hoje que podem se cacifar como naturais pré-candidatos à Prefeitura de Goiânia? O primeiro nome de consenso é o da delegada de polícia e deputada estadual eleita Adriana Accorsi. Seus 43.424 votos para deputada são um bom indicativo. Da mesma tendência de Paulo Garcia — a Articulação, a mais influente na capital —, corre nos bastidores que o prefeito poderia bancá-la na vice do peemedebista Iris Rezende. Se a manobra política não vingar, ela é bem cotada para a cabeça de chapa. Tem a seu favor sua expressiva votação ao Legislativo estadual, sua imagem como delegada de polícia de postura rígida e dedicada, além é claro, de seu DNA político como filha do falecido ex-prefeito Darsi Accorsi.
O segundo nome na lista é a de Edward Madureira Brasil. Ex-reitor da UFG, o professor universitário teve destacada atuação na expansão da universidade com novos campus em municípios do interior, e tem boa aceitação na comunidade acadêmica e possui forte poder de articulação. Não conseguiu ser eleito deputado federal em outubro, mas teve grande votação em Goiânia. Ele não faz parte de nenhuma tendência, sendo considerado “independente” apesar da proximidade com o prefeito Paulo Garcia, do grupo Articulação.
Humberto Aidar, que faz parte da tendência PT Pra Vencer — grupo que não tem muita força na capital, ao contrário do interior do Estado —, tem sido comentado nos últimos dias como possível pré-candidato. Ele pode se lançar à empreitada política caso o partido venha a dar sinais que vai ceder espaço na cabeça de chapa para algum aliado em 2016, como o PMDB. Reeleito deputado estadual com 28.375 votos, ele é ligado à Igreja Católica e possui amplas bases na região metropolitana de Goiânia.
Podem entrar no jogo
Luis Cesar Bueno, da tendência Movimento PT — grupo mais próximo ao grupo Articulação de Paulo Garcia do que o PT Pra Vencer de Rubens Otoni — e Marina Sant’Anna, da tendência Movimento Cerrado (grupo do ex-prefeito e atual presidente da Amma, Pedro Wilson), correm por fora no embrionário processo sucessório. Ambos são quadros com forte apelo eleitoral, mas não dão sinais de estarem trabalhando em prol da consolidação de seus nomes. O comportamento político destes quadros deixa a entender que estão de stand by, ou seja, se o partido os convocar eles estarão prontos para tentar garantir mais quatro anos de supremacia petista à frente da administração municipal da capital.
Os outros partidos também apresentam quadros para a sucessão na capital
Acreditando que o projeto político da aliança entre PT e PMDB está com os dias contados, tanto a oposição quanto aliados da atual administração já buscam nomes para possível postulação para a Prefeitura de Goiânia em 2016. Partidos oposicionistas apostam que Paulo Garcia não terá condições de se recuperar, por lhe faltar a habilidade política de, por exemplo, Marconi Perillo. O principal parceiro político do Paço, o PMDB, pode se desvencilhar de Paulo se sua administração não deslanchar.
Nomes dentro do PMDB com condições de se apresentar como pré-candidatos não faltam, inclusive de Iris Rezende. O líder histórico perdeu as eleições estaduais deste ano na maioria dos municípios do interior, mas ganhou em Goiânia. A capital ainda se insinua irista, apesar de que Paulo Garcia foi o seu candidato em 2012. Mas a imagem do atual prefeito não é tão atrelada assim com a de Iris. Prova disso foi sua vitória em Goiânia no pleito de 2010 ao governo tanto no primeiro quanto no segundo turno — 258.863 votos no primeiro (36,63%) e 371.622 votos no segundo (54,98%).
Outro peemedebista que pode entrar na jogada é o vice-prefeito Agenor Mariano. Visto como discreto, mas com grande habilidade de articulação, o vice-prefeito tem a confiança de Iris Rezende e capilaridade em Goiânia, principalmente entre o eleitorado evangélico.
No lado da oposição, o presidente da Agetop, Jayme Rincón (PSDB), é o nome que mais tem sido citado como possibilidade de sair candidato do governo à prefeitura. Tocador de obra, ele esteve na linha de frente dos projetos de infraestrutura do governo estadual que impulsionaram politicamente o governador antes do processo eleitoral para a chefia do Estado. O tucano tem a seu favor a agenda positiva de obras em Goiânia à frente da Agetop — duplicação e iluminação das rodovias estaduais que saem de Goiânia, a construção do Hugo 2, reforma do Autódromo e o Centro de Excelência.
Outro quadro com grande prestígio nas hostes oposicionistas é o vereador Virmondes Cruvinel Filho (PSD). Professor universitário, foi eleito deputado estadual com 19.075 votos, e mantém bom diálogo com o eleitorado jovem. Ele ostenta uma imagem leve que vai ao encontro do discurso de renovação na política que soa bem ao ouvido do eleitorado. Também do PSD, Francisco Júnior surge como aposta para 2016. Ele teve boa atuação como vereador e foi presidente da Câmara Municipal no biênio 2009/2010. Foi responsável pela elaboração e aprovação do novo Plano Diretor de Goiânia quando secretário municipal de Planejamento, na administração de Iris Rezende em 2005.
O deputado federal Sandes Júnior (PP) estaria avaliando uma pré-candidatura. A capital é sua principal base política. O radialista sempre obteve satisfatória votação em Goiânia, apesar do revés a deputado federal no pleito deste ano. Caso viabilize sua candidatura em 2016, ele estaria disputando a prefeitura pela quarta vez. O ex-prefeito de Senador Canedo e presidente estadual do PSB em Goiás, Vanderlan Cardoso, tem sido colocado para uma nova empreitada política nas próximas eleições municipais. O empresário conquistou 171.760 votos (24,30%) em Goiânia, o que se traduz em considerável capital político.
O deputado federal e presidente estadual do Solidariedade em Goiás, Armando Vergílio, é outro cotado para concorrer à Prefeitura de Goiânia na próxima eleição. Sua legenda recém-criada conta com três vereadores (Paulo Magalhães, Cida Garcêz e Djalma Araújo) e sólidas bases eleitorais na região metropolitana na capital. Resta saber se Armando vai caminhar em 2016 mais uma vez com o PMDB de Iris Rezende e com o DEM de Ronaldo Caiado.