Oposições e governo não têm candidatos naturais
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Vice-governador José Eliton tem preferência na ordem do dia, mas nem a candidatura dele está definida. Oposição não sabe nem como formar aliança
Afonso Lopes
É claro que ainda falta muito tempo. O mandato do governador Marconi Perillo está apenas no início. Há não muita água, mas um rio inteiro para passar sob a ponte. De qualquer forma, no mundo político o amanhã é exatamente a próxima eleição. Então, se já é possível perceber as andanças para a definição do quadro partidário e eleitoral para as eleições do ano que vem, muito mais próximas, também há muita gente mirando as eleições de 2016 para tentar acertar o alvo de 2018.
Há muito não se via um quadro como o atual, em que todos os eixos políticos do Estado, principais e periféricos, não têm a menor ideia de qual estratégia preparar para viabilizar a eleição sucessória de 2018. É verdade que na base aliada, até pelo cargo que exerce, existe uma via preferencial pelo vice-governador José Eliton. Provavelmente, será ele o governador de Goiás quando a eleição acontecer. Isso porque ninguém imagina que o governador Marconi Perillo vá se aposentar ao final deste mandato. Ao contrário. É bem mais razoável pensar que ele vá se introduzir nacionalmente e, se de toda forma não der, o Senado pode ser o destino dele. Mas mesmo que José Eliton seja o governador em 2018, ainda assim ele tem muito chão pela frente para se consolidar como candidato à reeleição. Ele já está fazendo isso.
Entre os opositores, o quadro não é melhor. Aliás, é bem pior. O único fato realmente animador para todos eles é a previsível e inevitável não participação direta de Marconi Perillo na eleição para governador, pois ele vem de processo de reeleição. Com Marconi, a base aliada tem sido imbatível. Sem ele, como se observou nas eleições de 2006, que mesmo assim significou uma virada ao longo da campanha, o quadro é muito mais parelho — Alcides Rodrigues, carregado eleitoralmente pelo exercício do cargo de governador e pela altíssima popularidade de Marconi, conseguiu vencer o peemedebista Maguito Vilela, atual prefeito de Aparecida de Goiânia.
Mas quem irá conduzir o processo da oposição em 2018? Eis a grande dúvida. Tão grande que ninguém sabe dizer pelo menos como as composições vão se dar agora em 2016. O maior partido da oposição, o PMDB, tinha até meados do ano passado um acordo que era anunciado como permanente com o PT. Esse acordo, se voltar a existir, terá que ser refeito. Para complicar o meio-campo da dupla, o divórcio não litigioso entre as candidaturas do PMDB e do PT em 2014 acabou favorecendo a aproximação do DEM do hoje senador Ronaldo Caiado aos peemedebistas. Hoje, e abertamente, a maioria do partido é muito mais “caiadista” do que “petista”.
Dentre os dois grandes grupos políticos de Goiás, a pior situação é mesmo entre os opositores. A base aliada, apesar de ondas internas de descontentamento com a radicalíssima reforma administrativa promovida pelo governador Marconi Perillo neste início de quarto mandato, se mantém unida. E até pode ser ampliada, caso realmente o ex-prefeito de Senador Canedo e ex-candidato a governador Vanderlan Cardoso se junte ao grupo e leve junto seu PSB. Há comentários de que ele poderá inclusive disputar a Prefeitura de Goiânia com apoio de toda a base, o que daria à sua candidatura um petardo formidável e com o qual ele jamais contou. Nas duas vezes que ele disputou o governo, em 2010 e 2014, ele caminhou praticamente isolado, dentro daquilo que costuma ser chamada de terceira via, mas que é um caminho cheio de buracos e que até hoje não levou ninguém a lugar algum. Na base aliada, esse problema não existiria.
Já a oposição vive crise séria permanente. A aliança preferencial com o PT afundou na divisão de 2014. Para 2016, em Goiânia, ninguém sabe o que vai acontecer. Há muitos setores do partido que querem distância do PT do prefeito Paulo Garcia. Aliás, uma distância tão grande que já tem peemedebista ensaiando discurso claramente de oposição, como o deputado estadual José Nelto, que teria afirmado que com uma semana ele seria capaz de limpar Goiânia inteira. Como se sabe, a administração municipal tem sofrido bastante para manter o serviço de coleta de lixo desde o ano passado. O auge da crise parece ter passado, mas os problemas ainda existem aqui e ali diante de uma Comurg desacreditada.
Há também o problema de relacionamento entre o empresário Júnior Friboi e Iris Rezende. Friboi conta com o apoio do grupo liderado pelo prefeito Maguito Vilela, e são exatamente os maguitistas que detêm maior parcela de mandatos importantes no partido. Os iristas contavam como certa a expulsão de Friboi, mas atualmente parece que não estão mais tão confiantes. Tanto que a situação ainda não se definiu, e nem há um prazo fatal para essa definição. Então, e por enquanto, Iris e Friboi vão continuar vivendo sob a mesma guarita da calçada, o PMDB.
Os petistas também estão em situação pra lá de complicada. As denúncias de fortes indícios de participação de seus dirigentes em falcatruas milionárias na Petrobrás, que jogou a popularidade da presidenta Dilma Roussef no chão, arrastou o partido para o lodo. Na semana passada, e pela segunda vez em poucos anos, o partido viu seu tesoureiro atrás das grades. Antes de João Vaccari Neto, preso pela PF no Paraná, Delúbio Soares também esteve uma temporada no xilindró por conta do julgamento do chamado mensalão, que ocorreu durante o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Prestígio partidário nenhum resiste a golpes tão duros.
É evidente que esses fatos desgastantes se erguem como uma barreira de dúvidas sobre o potencial dos candidatos do PT tanto em 2016 como em 2018. Pior ainda por não deter mais a preferência única no pequeno leque de opções de coligação do PMDB. E pra fechar esse ciclo de inferno astral, o ultrarrival DEM é o queridinho da vez entre boas parcelas do PMDB.
O mais curioso é que nem isso significa vida boa e tranquila para o Democratas. Em Brasília, os dirigentes do partido tentam acertar uma fusão com o PTB, o que significaria a extinção dos dois partidos para a criação de um só. O senador Ronaldo Caiado, presidente regional do DEM e único detentor de mandato federal pelo partido em Goiás, já declarou ser radicalmente contrário à fusão. O deputado federal Jovair Arantes, presidente regional do PTB e líder da bancada do partido na Câmara dos Deputados, também não quer saber dessa conversa de fusão.
Em resumo, enquanto os grupos oposicionistas navegam em águas turbulentas e inseguras, a base aliada pelo menos vive sob algumas perspectivas, que podem ou não serem confirmadas no futuro. E o futuro que todos querem desde agora é 2018.