Mulheres se unem para eleger primeira desembargadora indicada pela OAB ao TJ-GO
17 março 2018 às 11h02
COMPARTILHAR
Na reta final das inscrições, quatro advogadas disputam espaço e votos dos conselheiros da Ordem com 16 homens para entrar na lista sêxtupla
Augusto Diniz
Desde que o quinto constitucional foi incluído na Constituição Federal de 1934, apenas uma mulher inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil Seção Goiás (OAB-GO) conseguiu ter seu nome incluído na lista sêxtupla encaminhada ao Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO). A advogada Maria Thereza Alencastro Veiga recebeu 26 votos dos conselheiros da entidade em fevereiro de 2013 e apareceu entre os profissionais indicados ao cargo de desembargador da Corte goiana. Na ocasião, o escolhido pelo governador Marconi Perillo (PSDB) foi o advogado Nicomedes Borges, que permanece entre os 36 magistrados do TJ-GO. Ele recebeu 43 votos na eleição da Ordem.
Com a confirmação em 18 de dezembro de 2017 da aposentadoria do desembargador Geraldo Gonçalves da Costa, integrante da 5ª Câmara Cível do TJ-GO, uma das vagas reservadas à indicação da Ordem volta a ser disputada. Entre os candidatos inscritos na eleição da OAB-GO para ocupar o lugar deixado no Tribunal por Geraldo, até o momento surgiram quatro mulheres entre os 20 advogados registrados na disputa. São elas Sônia Maria Caetano Fernandes, Antonia Chaveiro Martins, Rosângela Magalhães de Almeida e Arlete Mesquita.
Até pelo fato de uma mulher advogada nunca ter sido nomeada desembargadora por meio da lista sêxtupla da OAB goiana, as quatro candidatas dizem entender que chegou o momento de fortalecer as representantes femininas na disputa. “A sociedade está refletindo o fato de até hoje ter sido indicada apenas uma advogada mulher ao cargo de desembargador pelo quinto constitucional e nunca ter sido escolhida uma mulher pela lista da Ordem”, diz Sônia.
As inscrições na OAB-GO se encerram às 18 horas de sexta-feira, 23. A eleição acontece no dia 18 de maio. Têm direito a votar 38 conselheiros seccionais titulares, cinco diretores e quatro conselheiros natos (ex-presidentes) da Ordem goiana. Cada um deles recebe uma cédula com os nomes de todos os candidatos e vota em seis concorrentes. Para ter chance de entrar na lista sêxtupla que será encaminhada ao TJ-GO é preciso atingir um mínimo de 24 votos. Caso um conselheiro titular falte à eleição, o colegiado presente elege um suplente para substituir aquele ausente. A entidade explica que o voto é aberto.
As mulheres candidatas chamam atenção para a divisão quase igualitária entre os inscritos ativos na OAB goiana. De acordo dados de dezembro de 2017 fornecidos pela Ordem, são 17,3 mil homens inscritos e as mulheres 18,1 mil. Mas o número de novas advogadas nos últimos seis anos é maior do que o de homens que entram na atividade. Entre o início de 2012 e o final de 2017, chegaram à entidade 8,9 mil advogadas e 8,1 mil advogados.
Das advogadas que colocaram o nome na disputa, todas atendem às exigências para ocupar o cargo de desembargadora: ter reputação ilibada, mais de dez anos de atuação profissional e notório saber jurídico. Outro ponto lembrado por elas é o de que a atual composição do plenário do Tribunal de Justiça conta apenas com oito desembargadoras dos 35 em atividade.
A própria OAB goiana teve apenas uma mulher presidente, e mesmo assim por um curto período. A advogada Ana Maria Morais exerceu o cargo na gestão do falecido Eli Alves Forte por dois meses. Ela ficou na presidência da Ordem entre os dias 8 de julho de 1996 e 12 de setembro do mesmo ano. Mesmo que ainda muito discutida a situação, se de fato ela teria exercido o cargo na entidade, a foto e nome dela constam no site da instituição no espaço separado à galeria de presidentes.
Candidatas defendem que lista se forme com ao menos duas advogadas
Cada uma defende individualmente a sua candidatura à lista sêxtupla da OAB para a vaga aberta no Tribunal. Mas todas se defendem para que uma delas consiga chegar à disputa final, quando o TJ-GO recebe os seis nomes eleitos pela Ordem, reduz as indicações a apenas três e as apresenta ao governador, que é o responsável por decidir o profissional a ser nomeado.
Sônia Fernandes atua há 23 anos como advogada e já foi indicada pela Presidência da República à lista tríplice ao Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO). Ela é uma das sócias da Medialle Câmara de Mediação e Conciliação e foi professora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). “Estamos colocando nossos nomes à disposição pelo fato de sermos profissionais competentes que estão diariamente na lida com o Poder Judiciário. Tanto mulher como homem, desde que preencha os pré-requisitos, está apto a concorrer à vaga do quinto constitucional.”
Mestre em Direito, Relações Internacionais e Desenvolvimento pela PUC-GO, a advogada civilista Sônia defende que a área da vaga para desembargador, que é a da 5ª Câmara Cível, é de seu domínio por conhecimento e atuação. Ela destaca a idoneidade de sua atuação profissional, “principalmente no momento político que estamos vivendo”. “Atuei junto com meu pai, que é magistrado aposentado e aprendi a advogar com ele. Antes de estar na Faculdade de Direito, eu falo que cresci nos corredores do Fórum e nas comarcas do interior”, destaca.
Defensora da imparcialidade do integrante do Tribunal, Sônia é favorável à garantia de um terço das vagas na lista tríplice por advogadas mulheres, não só por serem representantes do sexo feminino, mas pela capacidade e competência profissional. “Coloco meu nome à disposição sabendo que estando lá terei muito mais ônus do que bônus. Há um número pequeno de 36 desembargadores frente à enormidade de processos em tramitação no Estado de Goiás.”
Já Arlete Mesquita, que é pós-graduada em Direito Civil, Processo Civil, Direito do Trabalho e Processo do Trabalho, afirma que “acorda e dorme advogada”. “Eu estarei no gabinete de portas abertas, independentemente de agendamento. Aquele que quiser falar comigo eu estarei lá para atendê-lo se o governador ou quem estiver ocupando o cargo indicar o meu nome.” Ela diz que a lida diária com o Fórum e as Varas como advogada traz a sensibilidade necessária para trazer um novo olhar à atuação como desembargadora.
Com 24 anos de exercício profissional, Arlete quer garantir o respeito à moralidade administrativa e a prática de atos que objetivem a razoável duração dos processos judiciais. “A jurisdição tem de atender o cidadão. E essa experiência cotidiana deve levar o que o quinto constitucional espera, que é a oxigenação necessária do Judiciário”, afirma.
Arlete se tornou em 2016 a primeira mulher integrante, como auditora, do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Antes, ela passou pelo Tribunal de Justiça Desportiva de Goiás (TJD-GO), foi conselheira seccional da OAB e tem longa experiência na assessoria jurídica de diferentes sindicatos. “Eu conheço não só os clamores dos jurisdicionados, mas também os desejos e anseios dos meus colegas advogados e advogadas.” Para ela, o profissional da advocacia tem a capacidade de apontar alternativas ao Judiciário para ultrapassar a barreira da dificuldade de gestão e de déficit de servidores para melhorar o atendimento à sociedade.
Pós-graduada em Direito Penal, Processual Civil, Civil e da Família, Rosângela Magalhães é professora da PUC-GO e Universidade Paulista (Unip). “O fato de a Ordem nunca ter indicado uma mulher que foi nomeada é um motivador importante. Traz um componente diferenciado para o Tribunal.” Ex-diretora do antigo Cepaigo, Rosângela já ocupou o cargo de conselheira seccional e de presidente das comissões de Advocacia Jovem e de Direitos Humanos da OAB. Ele afirma que é importante que os magistrados passem a atuar com mais discrição.
A advogada das áreas Criminal e da Família também foi diretora e presidente da Agência Goiana do Sistema Prisional. Rosângela afirma que a mulher tem mais dificuldade de ser uma profissional de destaque pela cultura que a coloca com outras obrigações. “Mesmo que seja a mantenedora do lar, ela também se dedica às funções domésticas, como cuidar dos filhos, a organização e a administração de uma casa. Esse tempo que a lida diária nos consome é um dificultador em uma disputa como a da eleição do quinto constitucional da OAB, por exemplo, que exige mais tempo à disposição.”
De acordo com Rosângela, a experiência como advogada há 28 anos possibilita que a visão de lidar diariamente com a profissão torne a atuação como desembargadora mais fácil. “Eu digo que eu venho de uma vida muito real. A advocacia criminal e de família me trazem as dores e as situações mais dramáticas das pessoas. E isso me dá sensibilidade e conforto para, na magistratura, ter plenas condições de julgar com equidade, decência e maturidade”, descreve. “O maior gargalo do Judiciário está na falta de material humano. E quando estamos em crise, cada vez mais o Judiciário é necessário.”
Diretora-adjunta da Escola Superior de Advocacia (ESA-GO), Antonia Chaveiro Martins diz que acatou uma sugestão de colegas e consultou a família para contribuir com a atuação do Judiciário. Mestre em Direito Agrário pela Universidade Federal de Goiás (UFG), a advogada que atua nas áreas de Direito da Família e Sucessões foi a gestora que ajudou a construir o curso de Direito da Universidade Salgado de Oliveira (Universo), onde é professora.
“São tantas mulheres advogadas que são aguerridas e conquistaram seu espaço trabalhando. É importante ter quatro candidatas à vaga de desembargadora do Tribunal de Justiça.” Assim como as outras três concorrentes, Antonia diz que a receptividade dos conselheiros seccionais e diretores da OAB-GO tem sido muito boa. “Nós somos competentes, somos corajosas, temos disposição para o trabalho. Temos condições de postular na lista sêxtupla e até chegar à escolha do quinto constitucional”, afirma.
Na opinião dela, o olhar do magistrado que veio da advocacia e vivenciou de perto o sofrimento e a ansiedade de alguém que busca seus direitos na Justiça é uma vantagem para quem chega ao cargo de desembargador depois de passar pela atuação como inscrito na Ordem. Na busca pela celeridade, Antonia defende que a continuidade da digitalização dos processos pode contribuir para que a Justiça seja mais ágil, mesmo com as dificuldades por falta de um número satisfatório de magistrados.
“Em momentos difíceis, nós depositamos confiança nas pessoas que julgam casos importantes. Quando nós aplicamos a lei corretamente, isso traz à população confiança no Judiciário.” Antonia afirma que todos os colegas que colocaram seus nomes à disposição da OAB na eleição são competentes. “Eu sempre busquei a Justiça em todas as áreas que atuei, seja como advogada ou na sala de aula”, pontua.