Muitas goianas têm conseguido se destacar no mundo dos negócios, e, neste Mês da Mulher, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Goiás (Sebrae-GO) oferece um ciclo de eventos específico para elas

Larissa Mundim, proprietária da Nega Lilu Editora, é uma empreendedora e tem como lema “fazer livros lindos” | Foto: André Costa/Jornal Opção

 

Em seu artigo de 2009, intitulado “Empreendedorismo feminino no Brasil: políticas públicas sob análise” e publicado na Revista de Administração Pública – RAP (Rio de Janeiro, n. 43 [1]), a pes­quisadora Daise Rosas da Na­tividade, da Escola Brasileira de Ad­mi­nistração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (Eba­pe/FGV), assinala que, de forma geral, duas são as principais razões que levam os indivíduos a empreender. A primeira está relacionada ao vislumbre de alguma oportunidade, que implica na escolha de “um em­preendimento entre as diversas op­ções para suas carreiras”; a segunda está relacionada à necessidade ou sobrevivência, que inclui indivíduos que encaram o empreendedorismo como uma alternativa, por não terem outras opções de trabalho.

Segundo Daise, esta última modalidade “predomina em países em desenvolvimento como o Brasil, com elevada participação na informalidade. No decorrer dos anos, foi perceptível a influência do empreendedorismo por sobrevivência na posição do Brasil, referente aos outros países participantes da análise do Global Entrepreneurship Moni­tor (GEM)”. A pesquisadora destaca ainda que, no ranking dos países que apresentam competitividade, “o Brasil distancia-se daqueles que têm ambiente favorável e condições estruturais, assim como um processo educacional que envolve orientação empreendedora no ensino fundamental e médio, além de incentivo em pesquisa e desenvolvimento”.

Entretanto, com todas as dificuldades, o empreendimento no Brasil tem seus pontos positivos, dadas algumas condições características de nossa cultura. Ainda de acordo com Daise, um desses pontos, e talvez o mais importante, é “a criatividade brasileira em buscar alternativas de sobrevivência, flexibilidade no enfrentamento das dificuldades de um clima econômico incerto e interesse em se informar, buscando conhecimentos não adquiridos na educação formal.” A intensificação dos brasileiros na prática de micro-empreendimentos passou a se efetivar sobretudo a partir de meados da década de 1990, com o fenômeno global de flexibilização do mercado de trabalho e o avanço tecnológico. E uma das principais consequências disso foi, segundo Daise, “a deflagração da participação das mulheres como empreendedoras”.

De alguns anos para cá a presença das mulheres no cenário em­preendedor vem se tornando cada vez mais crescente, em grande parte devido à junção entre o potencial inventivo das mesmas e o auxílio na elaboração de estratégias de administração, marketing, obtenção de crédito e afins; auxílio este proporcionado por instituições como o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

E a seção do Sebrae em Goiás tem se empenhado em executar ações especiais que tenham em vista potencializar a capacidade empreendedora da mulher. No dia 7 de março, terça-feira, véspera do Dia Internacional da Mu­lher, o Sebrae-GO deu início ao ciclo de eventos “Mulher de Negócios – Empreendedorismo Feminino em Pauta”. Estes eventos se estenderão até o dia 22 de março, contando com debates e palestras, tendo também um caráter beneficente, pois recebe doações de produtos de higiene pessoal e beleza, em apoio ao Centro de Valorização da Mulher (CEVAM), que acolhe mulheres e adolescentes vítimas de violência doméstica.

Exemplos

Uma das participantes do ciclo de eventos será La­rissa Mundim, sócia-proprietária da Nega Lilu Editora. Larissa é um dos exemplos mais pertinentes do em­preendedorismo feminino em Goiás. Em entrevista ao Jornal Opção, Larissa disse que o que a motivou a criar a Nega Lilu Editora, em 2013, foi a publicação de um livro de sua autoria, o romance “Sem Pala­vras”. Ela buscava uma publicação de qualidade e desejava para o seu livro “um tratamento cuidadoso, que não identificava no mercado editorial local.” A editora surgiu então para “produzir livros lindos”, completou. Não demorou muito e Larissa descobriu “que isso era insuficiente e que era preciso apoiar ações em toda a cadeia produtiva, ou seja, atuar também nas pontas: apoiar iniciativas de incentivo à leitura e formação de leitores, qualificação de novos autores e, principalmente, difusão e circulação da obra literária independente.”

Como toda empreendedora, a proprietária da Nega Lilu Editora enfrentou dificuldades no início do empreendimento. Ela já possuía uma microempresa de comunicação quando decidiu abrir a editora, então já compreendia a dinâmica de empreender. Segun­do Larissa, as dificuldades no início foram inúmeras, sobretudo por se tratar de empreendimento com inovação: “Para além da determinação de prestar serviço com qualidade, o que é uma conquista, faz parte do trabalho uma certa militância em torno do que se faz, de como se faz, na perspectiva de ruptura com o que está cristalizado e que demanda atualização. Mas colaborar para a implantação de novas culturas é algo motivador e vale a pena acompanhar os processos de transformação no olhar, no comportamento das pessoas. Cos­tumo dizer que os processos individuais nos fazem seres humanos melhores, mais interessantes, mas é no coletivo que me realizo. Trabalhar com literatura é colaborar para a construção de subjetividades e apoiar a formação de leitores é o mesmo que fortalecer a cidadania.”

Larissa já participou de palestras e bate-papos promovidos pelo Sebrae-GO, além de manter contato com um gestor importante na cena nacional da Economia Criativa, Décio Couti­nho, que faz parte dos quadros do Sebrae-GO. “Este contato já me possibilitou a potencialização de minhas redes”, acentua.

Perguntada ainda se as mulheres têm conseguido conquistar espaço no mercado editorial, Larissa deixou claro que sim: “As mulheres estão ativas de ponta a ponta na cadeia produtiva, como agentes de leitura, escritoras, editoras e também à frente da organização das maiores feiras de publicações independentes, além de outras iniciativas estratégicas de difusão do novo mercado editorial.”

Entretanto, há uma observação importante a ser feita. De acordo com a empreendedora, “não é possível negar a invisibilidade histórica das mulheres no mercado editorial”. Larissa destaca que “a professora da UnB, Regina Dalcastagnè, pesquisou o comportamento de três grandes editoras brasileiras (Record, Com­panhia das Letras e Rocco), observando características de obras eleitas para publicação, ao longo de 15 anos. Chamou a atenção da pesquisadora o fato de que 72,7% dos livros publicados têm homens como autores. Ainda mais crítica que a baixa presença feminina entre autores publicados é a homogeneidade racial: 93,9% dos autores e autoras estudados são brancos, 3,6% não tiveram a cor identificada e os ‘não brancos’ somam 2,4 pontos percentuais. Os dados estão disponíveis no livro ‘Literatura brasileira contemporânea: um território contestado’ (Editora Horizonte, 2012)”.

Sherol Vinhas, proprietária do Ateliê Sherol Vinhas, especializado em ecodesign | Foto: Reprodução Facebook

Outra empreendedora entrevistada pelo Jornal Opção foi Sherol Vinhas, proprietária do Ateliê Sherol Vinhas, especializada em ecodesign. De acordo com Sherol, o que a motivou a ir para o ramo do ecodesign de bijuterias foi a vontade de criar algo novo, diferenciado e que tivesse alguma ligação com o meio ambiente e o consumo consciente. Entre as dificuldades enfrentadas no início do empreendimento, Sherol destacou o “preconceito pelo fato de lidar com material alternativo, e com isso havia a desvalorização do produto”. Entretanto, hoje em dia “isso quase não existe mais”, acentua, dado o fato de que ecologia e reciclagem estão “na moda”.

Indagada a respeito do auxílio que recebeu para tocar adiante o seu negócio, Sherol disse que o Sebrae-GO “foi e continua sendo a parceria mais importante que o ateliê possui, ao lado do “PAB – Programa Artesanato Brasileiro”. Reiterou ainda que o Sebrae-GO lhe dá toda a ajuda no desenvolvimento e qualidade do seu produto, e também nas ações para os negócios. A respeito da prática do ecodesign como empreendimento feminino, Sherol disse que conhece muitas outras mulheres que tiveram sucesso no ramo, tanto no Brasil como fora: “Vou citar só algumas, pois são muitas: Thiana Santos, de Pernambuco, artista plástica, Neza, mais conhecida como “Maria reciclona”, de Belo Horizonte, que dá palestras e desenvolve material didático para escolas, a Petala Elartedereciclar, de Santiago de Chile, que faz ecojoias e Virginia Fleck, artista plástica America”.

Sherol destacou ainda que “as novas matérias primas que estão surgindo como forma de reutilização é o futuro para todos os seguimentos em todas as áreas. O mundo está tomando consciência de que precisa consumir de forma correta, e a moda já toma outros rumos”. Além disso, o futuro de seu ateliê, disse ela, conta com vários projetos de curto e longo prazo: “Cada dia mais ganhamos novos clientes querendo algo novo e inusitado, então sempre estamos trabalhando com novas técnicas e já estamos estudando novas matérias primas também. O objetivo é que em até no máximo um ano e meio já estejamos exportando nossas peças para vários países”.

O terceiro e último exemplo de empreendedorismo feminino em Goiás abordado pela reportagem foi o de Karla Doca, que gerencia o empreendimento familiar Pizza Fácil. Segundo Karla, a Pizza Fácil é uma empresa familiar que atua no mercado desde 1999. Seu pai, o proprietário, foi expandindo a produção e a administração continuou retraída ao modelo utilizado quando a empresa tinha apenas a finalidade de subsistência. Na medida em que o negócio foi se expandido, Karla optou voltar para Goiânia – já que havia trabalhado em várias empresas fora da cidade, em sua área de formação, a área da saúde – e auxiliar na administração da Pizza Fácil.

Disse Karla que, “apesar de ter o perfil organizacional, não tinha experiência administrativa”, então assumiu a administração da empresa e precisou buscar conhecimentos de forma intensificada: “Inicialmente acreditava que ia auxiliar a organizar e depois voltaria a atuar na minha profissão. Entretanto me encontrei em meio aos desafios diários do empreendedorismo e virou minha paixão”.

Para levar adiante o desafio da administração da empresa, Karla buscou diversos cursos e palestras do Sebrae-GO: “Concluí a pós-graduação em Gestão de Negócios e continuei fazendo atualizações de cursos no Sebrae-GO. Recebi a visita da Leila Santiago, agente do Projeto Agentes Locais de Inova­ção (ALI), que me apresentou o pro­jeto. Abraçamos todas as oportunidades no período que aplicamos os modelos de gestão. Ade­ri­mos ao Serviço em Inovação e Te­c­nologia do Sebrae, o Se­braeTec, que foi um auxílio importante no estudo da produção, otimizando processos e proporcionando uma gestão de custos mais eficiente”.

Perspectivas

Primeiro dia do evento “Mulher de Negócios: Empreendedorismo Feminino em Pauta”, promovido pelo Sebrae-GO | Foto: Divulgação / Acervo Sebrae

Estes exemplos apresentam um pouco do panorama do empreendimento feminino em Goiás que tende a crescer constantemente e está ao encontro das perspectivas do ciclo de eventos “Mulher de Negócios – Empreendedorismo Feminino em Pauta”, promovido pelo Sebrae-GO.

Segundo a Ge­rente da Unidade de Aten­dimento Individual do Sebrae-GO, Elaine Souza, estes eventos estão sendo a forma que o Serviço “definiu para homenagear as mulheres empreendedoras, neste mês de março. Partimos do pressuposto de que as histórias reais contadas pelas próprias protagonistas, seria a melhor estratégia para inspirar e encorajar as mulheres que pretendem se tornar o que já são: empresárias. A ideia criou corpo e se transformou nesta exitosa série de três edições do ‘Mu­lher de Negócios’.”

Perguntada sobre quais fatores dificultam as mulheres a colocar em prática algum empreendimento, Elaine Souza disse que “talvez o que mais atrapalhe a mulheres a se inserirem no mundo dos negócios seja o mito ou o preconceito alimentado por parte da sociedade de que existem atividades empresariais para desempenho exclusivo dos homens”. “Isto não existe”, enfatizou a gerente, “pois o que vale é a afinidade que a empreendedora terá com o tipo de negócio. Veja, por exemplo, o caso de mulheres que estão empreendendo com muito sucesso na área de Inovação e Tecnologia – setor que até bem pouco tempo era dominado, em grande parte, por empreendedores do sexo masculino”.

Com relação aos programas que o Sebrae-GO disponibiliza aos empreendedores, sobretudo aqueles destacados por Karla Doca, da Pizza Fácil, o ALI e o SebraeTec, Eleine disse o seguinte: “O programa ALI tem por objetivo estimular os empresários a inovarem em seus negócios, seguindo o conceito de que inovação é tudo aquilo que a empresa se propõe a fazer diferente e que acarrete resultados positivos, quer seja no campo da inovação tecnológica ou no campo da inovação de marketing, layout, relacionamento com clientes, dentre outros campos da gestão. Tal estimulação é feita por meio de uma metodologia que contempla as etapas de sensibilização, adesão, diagnóstico de inovação e elaboração de plano de ação, com acompanhamento contínuo por 36 meses. Por sua vez, o SebraeTec apoia a implementação da inovação, e nos casos de empresas que estão sendo atendidas pelo ALI, atua diretamente em ações que foram previstas no plano de ação. Trata-se de um programa que subsidia em 70% os custos dos serviços, algo que é altamente vantajoso para os empreendedores.”

Além disso, a gerente Elaine fez questão de enfatizar que o Sebrae-GO é “a casa do empre­endedor, onde ele pode usufruir tanto de ações de capacitação (palestras, seminários, oficinas, cursos), quanto de ações de consultoria em gestão ou tecnológica, independentemente do estágio em que o empreendedor esteja – inclusive se ele ainda não possui empresa formalizada. O Sebrae-GO está à sua disposição com uma vasta gama de conteúdos que tratam de temas relevantes para a gestão empresarial, tais como: planejamento, liderança, empreendedorismo, marketing e vendas, atendimento, gestão de pessoas e inovação”.

Luciana Albernaz: “Mulheres se preparam e atingem níveis de excelência que as permitem figurar na alta administração“ | Foto: Divulgação/ Acervo Sebrae

Essa é também a posição de Luciana Albernaz, diretora de Administração e Finanças do Sebrae-GO que, em se tratando especificamente do empreendedorismo feminino, deixou claro ao Jornal Opção que “as mulheres es­tão se preparando cada vez mais, nos estudos, intelectualmente, em suas expertises e atingem níveis de excelência que as permitem assumir cargos de gerência e figurar na alta administração das empresas. O Sebrae reforça a importância de darmos visibilidade ao empreendedorismo feminino. O quanto ele cresce a cada ano de forma cada vez mais qualitativa. O Sebrae tem como pilares de atuação atividades e projetos de atendimento, consultoria, capacitações, ações de mercado, inovação e sustentabilidade com um propósito maior de apoiar e fomentar os pequenos negócios e os clientes que nos procuram.”

Luciana disse ainda que as mu­lheres empreendedoras, empresárias ou que querem abrir o próprio negócio procuram o Sebrae-GO cada vez mais. E a equipe do Sebrae-GO “está preparada para atender a todos que nos procuram. O Sebrae está de portas abertas e cumprindo com sua missão de sempre apoiar as pequenas empresas e buscar parceiros e instituições que também podem atuar de forma cooperativa e colaborativa em prol do setor empresarial dos pequenos negócios que é a força motriz da nossa economia.”

“Mulher de Negócios – Empreendedorismo Feminino em Pauta”:

15/03 – Inovação e Criatividade, novos modelos de negócio (Áreas: Artesanato e Literatura)
Larissa Mundim – Nega Lilu Editora
Paula Del Bianco
Sherol Vinhas – Ateliê Sherol Vinhas
Palestra – Milena Curado – Cabocla Criações

22/03 – Tendências de consumo contemporâneo (Áreas: Moda e Serviços)
Naya Violeta
Walkiria Barros
Fabiana Queiroga
Palestra – Eleonora Hsiung

Horário: 9h
Local: auditório do Sebrae – Goiânia (GO).
Inscrições: 0800 570 0800 ou pelo site 
Informações para Imprensa: (62) 3250-2252 — 2236 / 99456-2491