Evangélicos mostram descontentamento com aproximação entre Vanderlan e PT
21 janeiro 2024 às 00h34
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À medida que as eleições municipais de 2024 se aproximam, os partidos políticos intensificam suas atividades, realizando as articulações necessárias para lançar seus pré-candidatos. Até o momento, a única candidatura que parece confirmada é a de Adriana Accorsi (PT). As demais, como Vanderlan (PSD), Gustavo Gayer (PL), Bruno Peixoto (UB) ou Jânio Darrot (MDB), ainda não foram oficialmente definidas.
Vanderlan Cardoso, senador e ex-prefeito de Senador Canedo por dois mandatos consecutivos (de 2004 a 2010), licenciou-se para concorrer ao governo de Goiás em 2010 e 2014, sem êxito nas duas tentativas. Em 2016, candidatou-se à prefeitura de Goiânia, sendo derrotado por Iris Rezende de Machado no segundo turno.
Em 2018, foi eleito senador por Goiás com expressivos 1.729.637 votos, correspondendo a 31,42% dos votos válidos, sendo o candidato ao Senado mais votado no Estado. Atuou como presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática. Nas eleições municipais de 2020, disputou novamente a prefeitura de Goiânia, sendo derrotado no segundo turno pelo candidato Maguito Vilela (MDB).
Vanderlan, além de ser um empresário bem-sucedido no setor alimentício, demonstrou habilidades gerenciais enquanto governava Senador Canedo, onde está sediado o Grupo Cicopal, empresa que fundou em 1993. Defensor da Operação Lava Jato, propõe a institucionalização da operação no Senado Federal. Apoia reformas consideradas cruciais para o crescimento do país, incluindo a tributária, previdenciária e política.
Apesar de ter declarado apoio à ex-presidente Dilma Rousseff na campanha de 2010, em 2018 demonstrou afinidade com o discurso do então candidato a presidente da República Jair Bolsonaro (PL). Como político evangélico, conquistou o voto do segmento ao lado de Bolsonaro, adotando uma postura contrária às pautas da esquerda brasileira, como aborto, segurança pública, não legalização das drogas e “ideologia de gênero”.
Entretanto, recentes notícias veiculadas pela imprensa goiana sugerem que o senador está articulando uma possível aliança com o PT, desistindo de sua própria candidatura e apoiando Adriana Accorsi (PT) na capital. O movimento seria uma forma de trazer a aliança PT-PSD que já funciona em nível nacional para Goiás. Localmente, a perspectiva de Vanderlan unir-se à esquerda tem causado tensões em sua relação com parte dos evangélicos e alguns líderes religiosos.
Além disso, há relatos de que Vanderlan tem votado a favor de projetos alinhados aos interesses do atual governo brasileiro, contrariando assim parte de seu eleitorado. O Jornal Opção buscou compreender essa situação ouvindo membros de diferentes denominações.
Membros do segmento evangélico
Assir Barbosa, advogado e membro da Assembleia de Deus, expressa sua decepção com Vanderlan, afirmando que o senador perdeu seu voto ao trair os evangélicos. Barbosa acusa Vanderlan de agir de maneira contraditória, alegando que o senador, uma vez eleito, se envolveu em práticas corruptas do governo federal. “Tenho vergonha de ter votado nesse senhor”. Ele enfatiza seu constrangimento em associar-se a Vanderlan, a quem anteriormente apoiou e pediu votos.
Assir declara sua intenção de realizar uma campanha contrária a Vanderlan em futuras eleições. “Em razão disso, destaco a necessidade de um mecanismo de recall para responsabilizar os políticos que traem a confiança de seus eleitores.”
Anizabete Pereira do Nascimento, membro da Assembleia de Deus ministério Jardim América, alerta que, caso Vanderlan se alinhe verdadeiramente com a esquerda, perderá seu apoio em Goiânia e em Goiás. A esquerda vai contra os princípios dos evangélicos e Vanderlan, como membro desse grupo, não deveria compactuar com tais ideias.”
O Pastor Ricardo Santos adverte que se Vanderlan declarar apoio a Adriana Accorsi e se alinhar com as pautas do governo no Congresso Nacional, será um passo equivocado. Ele ressalta a complexidade da política. “Esse meio é como um terreno perigoso cheio de vaidades, onde o poder pode mudar as pessoas e seus princípios.”
Eudes Souza Barcos Cirqueira, que já votou duas vezes em Vanderlan, expressa arrependimento, destacando que o senador começou a flertar com a esquerda desde que assumiu o cargo, votando contra o governo Bolsonaro. “Vanderlan já é passado na política goiana.”
Marlene Menezes, da igreja Batista, faz um contraponto, mencionando que, até o momento, Vanderlan não a decepcionou, mas ressalta que qualquer apoio à esquerda seria uma grande decepção para ela.
Joaquim Manoel, que frequenta a igreja Videira, argumenta que Vanderlan, e o deputado estadual Cairo Salim do mesmo partido do senador e membro da mesma igreja, deveriam mudar de partido se quisessem seu voto, pois o PSD tem uma característica ideológica de esquerda.
José Alves, da igreja Fonte da Vida, acredita que Vanderlan não terá coragem de apoiar o PT, pois isso não condiz com a fé dos evangélicos. “Vejo a necessidade de o senador esclarecer seu verdadeiro posicionamento.”
Raimundo Nonato, do Ministério Fama, apesar de ter votado em Vanderlan, concorda que muitos membros estão descontentes e destaca a importância de ouvir a versão do político antes de julgá-lo.
Ana Lúcia, do ministério Esperança, não votou em Vanderlan, mas está atenta às notícias que indicam um afastamento do senador dos bolsonaristas e evangélicos. “Estou aguardando um pronunciamento de Vanderlan antes de formar uma opinião definitiva.”
O obreiro Antônio Carlos, da igreja Mundial do Poder de Deus, critica Vanderlan por trair os evangélicos e conservadores, destacando que esses grupos foram fundamentais para a eleição do senador.
Líderes Religiosos
O Bispo Oides José do Carmo, presidente da Convenção das Assembleias de Deus do Ministério de Madureira em Goiás, ponderou sobre a possível candidatura de Vanderlan e indicou a consideração de apoio no momento oportuno. Ele ressaltou que a decisão será tomada em conjunto com outras lideranças da igreja, destacando o contínuo prestígio de Vanderlan no segmento religioso e minimizando a suposta insatisfação.
Pr. Gentil do Ministério Bethel expressa seu respeito e admiração por Vanderlan, cultivando uma amizade de longa data, mesmo antes de o senador entrar para a política. Gentil revela sua descrença em uma aliança entre o senador e o PT, apesar da postura de seu próprio partido. Ele enfatiza o conhecimento de Vanderlan sobre a posição dos evangélicos e acredita que o senador ponderará cuidadosamente as consequências de suas decisões, apesar de Vanderlan ser um político.
O Pastor Josué Gouveia, presidente das Assembleias de Deus Ministério Vila Nova, aponta que o senador não é mais unanimidade entre os membros e parte da liderança da igreja. Ele destaca um desgaste devido à proximidade de Vanderlan com pautas de esquerda, contrastando com a orientação da igreja, embora reconheça as habilidades administrativas do senador.
Cairo Salim, deputado estadual e colega de partido de Vanderlan na igreja Videira, esclarece que a igreja não toma posição com base em rumores, apenas em fatos. Ele afirma que a igreja recebe bem qualquer candidato, mas isso não implica apoio. “Vanderlan é livre para tomar suas decisões”, disse.
Questionado sobre sua relação pessoal com Vanderlan, Cairo Salim enfatiza que sempre foi excelente, mas ressalta que não apoiaria um eventual alinhamento com o PT. Tenho certeza que Vanderlan não se aproximará do PT, mas, em caso de tal decisão, não compactuaria com ela”, garante.
Cairo Salim argumenta que respeita todos os membros do PT, apesar de ter uma visão diferente da ideologia do partido. Quanto ao posicionamento nacional do PSD em apoio ao governo de Lula da Silva, ele destaca que a sigla não impõe obrigações aos filiados, permitindo-lhes formar suas bases nas cidades e nos estados.
O deputado destaca que Vanderlan continua comprometido com pautas conservadoras alinhadas aos eleitores que o elegeram. Ele acredita que, até o momento, as declarações são de terceiros e não do senador. “Vanderlan é, sem dúvida, candidato a prefeito de Goiânia pelo Partido Social Democrático (PSD)”, afirma
Veja na íntegra a resposta de Vanderlan Cardoso
Vanderlan assegura que não percebe qualquer afastamento com os evangélicos. O senador enfatiza que não há razão para tal distanciamento, sugerindo que quem alega isso pode estar mal informado. Ele destaca que mantém alinhamentos com as pautas que sempre defendeu, alinhadas com as demandas cristãs.
O senador indica que a decisão sobre sua candidatura em Goiânia será tomada a partir de março. Ele ressalta que as conversas políticas são constantes, mas tem direcionado seu tempo ao trabalho no Senado Federal e em benefício do Estado de Goiás. Vanderlan afirma que, neste momento, o foco não é a eleição, mas sim o trabalho por Goiânia e pelo estado.
Vanderlan explica que as decisões eleitorais costumam ser tomadas próximo das convenções, sendo uma estratégia comum não apenas no PSD, mas em outros partidos. Ele esclarece que é incorreto afirmar que o PSD declarou apoio a pautas petistas e destaca a natureza centrista do partido, que abriga lideranças com diferentes perspectivas.
O político reforça sua postura conservadora e sua participação na reeleição do presidente Bolsonaro em Goiás. Ele ressalta que ainda não decidiu sobre sua participação na disputa deste ano, mas enfatiza que, se decidir concorrer, seu enfoque será o trabalho e a busca por melhorias para a população.
Vanderlan reconhece que não foi possível eleger Bolsonaro como candidato a presidente, mas destaca a importância de olhar para o futuro e resolver questões por meio do diálogo. Ele enfatiza seu compromisso com uma política respeitosa, independentemente das divergências ideológicas.
O senador refuta qualquer possibilidade de apoiar a candidatura de Adriana Accorsi, indicando que o PT já lançou sua pré-candidatura e que o PSD lidera as pesquisas de intenção de votos, descartando a possibilidade de uma aliança.
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