O prefeito eleito de Goiânia, Sandro Mabel (UB), anunciou em novembro mudanças para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), a serem implementadas no início de sua gestão na capital. Segundo ele, os alunos do segundo segmento, correspondente ao 6º ao 9º ano, serão transferidos para a EJA estadual. De acordo com Mabel, a medida tem como objetivo aprimorar essa modalidade de ensino no município, além de proporcionar uma economia significativa para a prefeitura.

A equipe do prefeito eleito explicou que os alunos transferidos contarão com diversos benefícios, incluindo uma bolsa de R$ 111,92 -, acesso a laboratórios de informática e a possibilidade de ensino à distância por meio da EJA-Tec. “Vai ser um processo em que todos ganham. Economizamos para investir na estrutura das escolas, criar vagas para a educação infantil e valorizar os servidores. Os alunos ganham com a possibilidade de profissionalização e outros benefícios”, afirmou o prefeito eleito. Mabel ressaltou que essa medida fortalece a parceria entre a Prefeitura de Goiânia e o Governo de Goiás, que deve ser mantida nos próximos anos.

A EJA é uma modalidade educacional que oferece oportunidades de aprendizado e desenvolvimento para aqueles que, por diversas razões, não puderam concluir seus estudos na idade apropriada. Voltada para jovens acima de 15 anos e adultos de todas as idades, a EJA permite que esses indivíduos retomem sua trajetória educacional e obtenham a certificação do ensino fundamental ou médio.

Turma de EJA segundo segmento l Foto: Benjamim Bagmanian/SME

Essa modalidade desempenha um papel crucial no cenário educacional brasileiro, promovendo a inclusão social e educacional de pessoas que enfrentaram desafios que as afastaram da escola. A EJA atende jovens, adultos e idosos, garantindo o direito básico à educação, essencial para o desenvolvimento pessoal e o pleno exercício da cidadania. Além disso, contribui para a redução das desigualdades sociais, oferecendo novas oportunidades de aprendizado e capacitação.

A importância da EJA está diretamente relacionada à luta contra o analfabetismo e à promoção da equidade no acesso à educação. No Brasil, muitas pessoas enfrentam dificuldades econômicas, sociais ou geográficas que as afastam das escolas durante a infância e adolescência. A EJA oferece a chance de resgatar a trajetória educacional, abrindo portas para melhores condições de trabalho e qualidade de vida. Dessa forma, não apenas supre lacunas educacionais, mas também fortalece a autoestima e a autonomia dos participantes.

Outro aspecto relevante da EJA é sua adaptação às realidades e necessidades dos estudantes. Os currículos são planejados para atender públicos diversos, conciliando responsabilidades familiares e profissionais com os estudos. Essa flexibilidade reduz os índices de evasão escolar e contribui para a permanência dos alunos no programa. Além disso, a valorização das experiências de vida dos estudantes enriquece as discussões em sala de aula, tornando o aprendizado mais significativo.

Por fim, a EJA desempenha um papel estratégico no desenvolvimento do país. Ao capacitar cidadãos e ampliar suas oportunidades, impacta diretamente o mercado de trabalho e o crescimento econômico, ao mesmo tempo em que reforça valores democráticos e de justiça social. Investir na EJA significa acreditar no poder transformador da educação e trabalhar por um Brasil mais igualitário e inclusivo, onde todos tenham a oportunidade de realizar seus sonhos e contribuir para a sociedade.

Palestra para alunos de EJA l Foto: Benjamim Bagmanian/SME

Seduc

A reportagem procurou a Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc) para entender como ocorrerá a transição mencionada. Por meio de sua assessoria, a Seduc explicou que a equipe de transição dialogou com a secretaria e ficou decidido que o Estado assumirá apenas o segundo segmento. Conforme o comunicado, os novos alunos serão realocados para polos estaduais que já oferecem a modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

A assessoria informou que essas tratativas estão em andamento e que os estudantes terão acesso a todos os benefícios garantidos aos alunos da rede estadual. Sobre a possibilidade de os alunos serem direcionados a escolas distantes de suas residências, a assessoria ressaltou que o Estado dispõe de polos e também oferece a modalidade EJA-TEC, que permite aos alunos concluírem os estudos de forma remota, ou seja, online.

Os estudantes da EJA estadual recebem material escolar e uniforme. Além disso, os alunos do ensino médio têm direito a Chromebooks e a uma bolsa de estudo no valor de R$ 111,92.


EJA Municipal

De acordo com a equipe de transição, o município continuará responsável pelo primeiro segmento, enquanto o Estado assumirá o segundo. Atualmente, há 3.240 alunos matriculados na EJA municipal, que é oferecida em 55 escolas e atende estudantes acima de 15 anos no período noturno, com algumas extensões de alfabetização nos turnos diurno, matutino e vespertino.

Alunos de EJA em atividade física l Foto: Benjamim Bagmanian/SME

Os estudantes do segundo segmento serão encaminhados para a escola estadual mais próxima de suas residências que oferte a modalidade. Os alunos do primeiro segmento (1º ao 5º ano) continuarão na Rede Municipal de Educação, enquanto os do segundo segmento (6º ao 9º ano) serão transferidos para a Rede Estadual de Educação.

O Governo Municipal de Goiânia atuará em regime de colaboração com o Estado de Goiás, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação municipal. A reorganização das matrículas da EJA faz parte de uma ação conjunta entre os dois entes.

A equipe de transição destacou que a mudança beneficiará os alunos, que poderão participar do Programa Bolsa Estudo do Governo de Goiás. Este programa concede um auxílio mensal de R$ 111,92 aos estudantes da rede pública estadual, desde que apresentem frequência e notas mínimas. Ainda segundo a equipe, a transferência ocorrerá no início do próximo ano letivo.

A futura gestão da capital justificou a mudança ao apontar uma economia significativa para o município. Foi constatado que, em algumas turmas, há apenas três ou quatro alunos devido à alta evasão nessa modalidade, o que gera um gasto desnecessário. “Há casos em que o professor dá aula para apenas um aluno, quando poderia estar em uma sala com 40 estudantes”, explicou um dos representantes.

Valdivino de Oliveira, que assumirá o cargo de secretário de Finanças em 2025, afirmou à reportagem que ainda não é possível estimar o valor da economia gerada pela mudança, mas garantiu que será relevante. “Estamos analisando durante o processo de transição, mas tenho certeza de que será uma economia significativa”, avaliou.

Aluno atendido pela professora da EJA l Foto: Benjamim Bagmanian/SME

Escola Municipal Professora Marília Carneiro

A equipe de reportagem visitou a Escola Municipal Professora Marília Carneiro, localizada no Jardim Guanabara III, para ouvir os alunos que serão transferidos e entender suas opiniões sobre a mudança. Também buscou avaliar a participação dos estudantes na unidade, que conta com 44 matriculados no 2º segmento.

Jerlison Cavalcante: “Se me mandarem para longe de casa, infelizmente vou ter que parar de estudar” l Foto: Cilas Gontijo/Jornal Opção

Jerlison Cavalcante, 16 anos, morador do Jardim Guanabara III e vizinho da escola, compartilhou sua experiência. Ele veio do Pará há pouco mais de dois anos e trabalha para ajudar no sustento da família. Para ele, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) foi a solução para continuar os estudos enquanto trabalha durante o dia. No entanto, Jerlison teme abandonar os estudos caso seja transferido para um bairro distante:
“Se me mandarem para longe de casa, infelizmente vou ter que parar de estudar. Não conheço nada aqui e, como saio do trabalho quase no horário da aula, não daria tempo de pegar ônibus para ir à escola.”

Já Graziella de Souza, também de 16 anos e moradora do Jardim Guanabara II, próximo à unidade, considera a EJA essencial para recuperar o tempo perdido nos estudos. Ela explica:
“Escolhi a EJA porque fiquei um ano sem estudar e quero terminar o 9º ano mais rápido para continuar meus estudos.”

Graziella de Souza: “Já parei de estudar uma vez e não farei isso novamente” l Foto: Cilas Gontijo/Jornal Opção


Apesar de preferir estudar perto de casa, Graziella afirma que não desistirá, mesmo sendo realocada para uma escola mais distante. “Já parei de estudar uma vez e não farei isso novamente, mesmo que tenha que enfrentar a distância.”

Raquel Reis, 19 anos, casada e moradora do Jardim Guanabara III, trabalha e estuda graças à flexibilidade da EJA. Ela reconhece que uma transferência dificultará sua rotina, mas não desistirá:
“Penso que será mais complicado, mas vou persistir enquanto puder. Não quero largar os estudos.”

Raquel Reis: “Não quero largar os estudos” l Foto: Cilas Gontijo/Jornal Opção

O diretor da escola, Alexandre Vinícius, destaca que, no período noturno, a unidade atende exclusivamente alunos da EJA, com cerca de 90 matriculados. No entanto, ele aponta a baixa assiduidade como um desafio, devido ao perfil dos alunos, cuja faixa etária varia de 15 a mais de 70 anos, e muitos trabalham o dia todo.

O haitiano Guestlor Walker Lazarre Saintilmat, 20 anos, está no Brasil há dois anos e mora ao lado da escola. Ele conta que a EJA tem sido fundamental para conciliar trabalho e estudo, além de ajudá-lo a aprender português por meio da convivência com colegas brasileiros. Guestlor reforça que a mudança não o desmotivará:
“Eu vou continuar. Meu pai vai me ajudar, e eu não vou desistir.”

Guestlor Walker: “a mudança não me desmotivará” l Foto: Cilas Gontijo/Jornal Opção

Nilton da Silva, 54 anos, começou a estudar na EJA no ano passado. Morador próximo à escola, ele destaca que a localização foi determinante para retomar os estudos. Atualmente no 6º período do 1º segmento, Nilton avalia a EJA como uma oportunidade única:
“Para pessoas mais velhas, a EJA é excelente, especialmente por ser próxima de casa.”
Contudo, ele pondera que uma transferência para longe pode inviabilizar sua continuidade:
“Estudar perto de casa foi o que me motivou. Se nos mandarem para longe, ficará muito difícil, principalmente por causa do trabalho.”

Nilton da Silva: “Para pessoas mais velhas, a EJA é excelente, especialmente por ser próxima de casa” l Foto: Cilas Gontijo/Jornal opção

Cristiano Alves da Paixão, 58 anos, e sua esposa Márcia Suelene dos Anjos da Paixão, 47 anos, estudam juntos no 1º segmento, que também poderá ser afetado pela mudança. Cristiano afirma que já é um sacrifício estudar mesmo morando perto:
“Já enfrentamos dificuldades para continuar, vamos muitas vezes na força de vontade. Se colocarem a gente longe, será ainda mais complicado. Talvez eu tente, mas não sei se conseguirei.”
Ele revela que voltar a estudar reacendeu um sonho de juventude:
“Sempre quis ser policial, mas acabei enterrando esse sonho. Agora, ele voltou e meu objetivo é me tornar delegado da polícia civil.”

O diretor teme que a transferência impacte a frequência dos alunos mais velhos, que representam a maioria no 1º segmento, e provoque evasão escolar. Ele ressalta:
“Esperamos que isso não aconteça, mas será difícil manter a escola funcionando dessa forma. Acreditamos que o município criará polos para reduzir gastos, como parece ser a intenção da nova gestão.”

A Secretaria Municipal de Educação, por meio de sua assessoria, orientou a reportagem a buscar informações com a equipe de transição da nova administração de Goiânia, pois ainda não estão totalmente inteirados sobre o assunto.

Educação de Jovens e Adultos

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil tem raízes históricas ligadas ao movimento de alfabetização de adultos, com iniciativas que remontam ao início do século XX. No entanto, o modelo formal da EJA como conhecemos hoje se consolidou após a Constituição de 1988, que garantiu a educação básica como direito de todos e dever do Estado. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), promulgada em 1996 (Lei nº 9.394/96), regulamentou a EJA como modalidade específica de ensino.

Alunos de EJA l Foto: Benjamim Bagmanian/SME

Criação da EJA em Goiás

Em Goiás, as iniciativas voltadas para a alfabetização de adultos também ganharam força ao longo do século XX, especialmente a partir dos anos 1940 e 1950, com programas como o Movimento de Educação de Base (MEB) e campanhas nacionais promovidas pelo Governo Federal, como o Programa Nacional de Alfabetização (PNA) de Paulo Freire.

O estado oficializou e estruturou a EJA seguindo a LDB de 1996, integrando-a ao sistema estadual de ensino. Assim, Goiás implementou programas específicos voltados para jovens e adultos que não haviam concluído os estudos na idade regular, como parte de políticas públicas voltadas para a inclusão educacional.

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) existe em Goiás há várias décadas, com registros de iniciativas para atender essa modalidade desde meados do século XX. Ela foi implementada para atender pessoas que, por diversos motivos, não tiveram a oportunidade de concluir a educação básica na idade apropriada.  Essa lei reconheceu a EJA como parte do sistema formal de ensino, estimulando estados e municípios a organizarem e ofertarem programas voltados para essa modalidade.

Em Goiás, programas específicos começaram a ser estruturados em maior escala nas décadas de 1980 e 1990, com o objetivo de reduzir os índices de analfabetismo e ampliar o acesso à educação básica para jovens e adultos, especialmente em regiões rurais e periferias urbanas. Desde então, a EJA tem sido ofertada em escolas públicas estaduais e municipais, muitas vezes adaptada às necessidades dos estudantes, como aulas no período noturno.

No município, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) está presente desde 1960. Atualmente, a rede atende 3.058 alunos, dos quais cerca de 2.186, matriculados do 6º ao 9º ano, foram transferidos para a rede estadual.

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