Explicações para o bom desempenho do estado são: diversificação e distribuição da indústria, vocação para commodities e economia voltada para a exportação

Distrito Agroindustrial de Anápolis | Foto: divulgação

A atual crise econômica está sendo classificada por especialistas como Larry Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA, como a pior desde a Segunda Guerra Mundial. O professor emérito de Harvard afirmou à imprensa brasileira que o desemprego poderá chegar a 20% nos Estados Unidos – o índice já se encontra na marca de 14,7%. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta que a economia brasileira encolherá 5,3% em 2020. 

A crise é global, acelerada pela pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), mas prevista desde 2019. Mesmo antes do imprevisível surgimento da nova infecção viral, o doutor em Economia pela Universidade Federal de Brasília e professor da PUC-Goiás, Jeferson de Castro Vieira, alertou que o período entre crises financeiras vinha diminuindo. Há 80 anos, os colapsos ocorriam em hiatos de 20 em 20 anos, mas recentemente o intervalo foi reduzido para para 10 anos. 

As razões previstas para o declínio econômico de 2020 envolviam a guerra fiscal entre China e Estados Unidos, a automatização do trabalho e uma mudança do eixo produtivo mundial para países asiáticos. A crise global foi antecipada pela paralisação do tráfego de pessoas, mercadorias e commodities, mas apesar de generalizada, nem todas as atividades foram atingidas da mesma forma. Os principais países afetados são aqueles onde o setor de serviços correspondem a principal atividade econômica. 

Dentro do Brasil, estima-se a produção de montadoras automotivas regridam 15 anos, com a demanda por veículos caindo até 40%. Antonio Filosa, presidente da Fiat Chrysler Automóveis (FCA), afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que, em abril, houve queda de 90% na demanda enquanto o mês de maio caminha para retração de 70% a 75%. Entretanto, a agroindústria brasileira teve alta em demanda e exportações.

Presidente executivo da Adial, Edwal Portilho, o Chequinho | Foto: Reprodução

Edwal Freitas Portilho, diretor executivo da Associação Pró-desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás (Adial), afirma que o parque industrial goiano deverá sofrer relativamente menos impactos da crise por conta de sua característica diversificada e bem distribuída pelo estado (cerca de metade das 246 cidades goianas possuem indústrias de pequeno, médio ou grande porte). 

“Ao longo de 30 anos, programas de incentivo à industrialização proporcionaram um cenário muito favorável para a indústria em Goiás. Temos um parque industrial forte: somos os sétimos maiores do país com uma produção muito diversa. Enquanto em setores houve paralisação ou decrécimo, como indústrias têxteis e montadoras automotivas e de máquinas agrícolas; as indústrias produtoras de fármacos, higiene, limpeza e alimentos ainda não foram impactadas”, afirma Edwal Portilho. 

Com uma vocação para o agronegócio e exportação de commodities, o Estado ainda não sentiu impactos da crise, pois, como explica Edwal Portilho, a demanda internacional por alimentos aumentou e a produção brasileira ficou mais competitiva com o câmbio desvalorizado: “com o dólar às margens R$ 6, fica mais barato para o mundo comprar a produção brasileira”. 

No fim das contas

Estes fatores tornam-se visíveis na balança comercial goiana. No último mês de abril, as exportações do Estado somaram US$ 611,87 milhões, 6,4% a mais do que no mesmo período do ano passado, produzindo superávit de US$ 411,6 milhões. Os dados constam de um relatório produzido em conjunto pelas secretarias de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Desenvolvimento e Inovação (Sedi) e Indústria, Comércio e Serviços (SIC). 

Foto Aérea Futuro Distrito Industrial de Piracanjuba | Foto: Reprodução

No mês passado, em comparação com mesmo período de 2019, o complexo soja, que engloba o produto in natura, o óleo de soja e bagaços e farinhas, houve variação positiva de 13,68%, totalizando US$ 375,1 milhões. Ainda no agronegócio, a exportação do item carnes (bovina, suína, de aves e outras) apresentou crescimento de 13,46% em relação a abril de 2019, totalizando US$ 94,02 milhões.

O superintendente de negócios do Estado de Goiás, Edival Lourenço Júnior, afirma: “A China comprou 60% de tudo que Goiás exportou neste mês. O crescimento de nossa balança comercial foi expressivo com destaque para a soja. Existe interdependência das economias; complementariedade. Diferentemente dos EUA e China, que competem tecnologicamente, o Brasil não está neste mercado ainda. Isso trouxe para nós uma reserva de mercado importante”.

Enquanto a atividade industrial em diversas unidades da Federação vem sendo reduzida, o Governo estadual realizará assinatura de protocolos de intenção com empresas que pretendem se instalar em Goiás na próxima segunda-feira, 24. Empresas anunciarão na solenidade virtual o investimento de R$ 1 bilhão. Em fevereiro deste ano, a intenção de investir outros R$ 1,3 bilhão e gerar de mais de 12 mil empregos foi formalmente protocolada por empresas junto a SIC. 

A crise sanitária do coronavírus colocou os investimentos em pausa, mas empresas como a Companhia de Distribuição Araguaia (CDA, responsável pelo Arroz Tio Jorge, entre outras marcas) confirmou ao Jornal Opção que será uma das empresas a protocolar a intenção expandir suas atividades na próxima segunda-feira. 

Wilder Morais, secretário de Indústria, Comércio e Serviços | Foto: Lívia Barbosa/Jornal Opção

Ao todo, 18 municípios receberão indústrias. As companhias seguirão critérios adotados pelo  protocolo de intenção e adesão ao programa ProGoiás. O início das atividades produtivas  deve ocorrer em um prazo de 60 dias, a partir da materialização das negociações.

O principal polo do setor produtivo é o Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia). Do total de um bilhão, R$ 341 milhões em investimentos devem ser destinados ao Daia. A expectativa é de que haja a geração de 3 mil empregos diretos e indiretos. Como política de incentivo a industrialização, a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Goiás (Codego) promove contratos de cessão de áreas para implantação das empresas.

As companhias que serão implantadas no Daia são: Five Elements do Brasil, que atuará no segmento de nanotecnologia; Isomold Indústria e Comércio Ltda, no setor de pré-moldados e concreto; Lotus Transportes Logística, atuando na área de logística; MG Steckelberg Indústria Mecânica Industrial,  torneadora industrial; e Pérola Indústria e Comércio de Produtos Alimentícios, que produz o Açúcar Pérola.

Edwal Freitas Portilho, diretor executivo da Adial, lembra entretanto que Goiás não está livre de desafios: “Precisamos continuar avançando na infraestrutura com rodovias e ferrovias, no fornecimento de energia elétrica, na desburocratização do licenciamento ambiental sem perder atenção à sustentabilidade”.

Antes de ser paralisada pelas discussões acerca do coronavírus, o principal debate dentro deste tema era o da redução ou não dos incentivos fiscais na tentativa de enquadrar o estado nos critérios para a participação no Regime de Recuperação Fiscal (RRF). “De fato, no início deste ano, houve um momento em que a sinalização do governo era muito negativa. Entretanto, o goberno já se demonstrou a favor da competitividade do produto industrializado goiano com programas de créditos outorgados e diminuindo contribuições marginais ou acessórias”.