Em meio a alta da Covid com nova variante, baixa procura por reforço vacinal preocupa
27 novembro 2022 às 01h47
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O novo Boletim epidemiológico da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado no dia 23 de novembro, apontou crescimento nos casos de Covid-19 em todas as regiões do país. Atualmente, o coronavírus Sars-CoV-2 é o causador de mais de 61% de todos os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no Brasil. 17 das capitais e 15 dos 27 estados tiveram tendência de crescimento do vírus nas últimas seis semanas – Goiânia e Goiás apresentaram o espalhamento da doença.
Segundo Marco Aurélio Safadi, membro do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), é esperado que o número de casos de doenças causadas por vírus respiratórios aumentem em ciclos. Diferentemente das doenças causadas pelos vírus da caxumba, rubéola, sarampo – que se mantém estáveis por anos –, os vírus respiratórios de rápida mutação acumulam transformações que os fazem escapar da imunidade adquirida pelo contágio prévio ou pela vacinação.
Quando as mutações produzem novas variações (como as atuais sub linhagens BA1, BA4/BA5) os vírus encontram populações vulneráveis para infectar e crescem rapidamente. Entretanto, Marco Aurélio Safadi explica que a vacinação conduzida no Brasil, com imunizantes feitos com o vírus ancestral, continua protegendo a população contra casos graves e hospitalizações. O número médio de óbitos nesta semana epidemiológica é de 77, enquanto chegou a mais de 3 mil antes da vacinação.
“Hoje, implementar lockdown não é mais exequível e o cenário é muito menos grave”, comenta Marco Aurélio Safadi. “A chance de casos graves e hospitalizações e mortes reduziu pela vacinação. As preocupações acontecem principalmente entre idosos e imunossuprimidos. Mas é importante exigir o uso de máscaras, que permitem que a vida continue de forma relativamente normal, com risco de exposição menor sem necessidade de paralisar transportes e serviços.
A solução para o atual aumento de casos pode vir com a atualização das doses de reforço. Ainda nesta semana, a Diretoria Colegiada da Anvisa aprovou o uso emergencial de duas vacinas bivalentes contra Covid-19 da empresa Pfizer (Comirnaty) na população a partir de 12 anos. Os imunizantes oferecem proteção contra sub linhagens recentes da variante ômicron, além de proteger contra a cepa original.
Segundo a diretora relatora, Meiruze Freitas, o objetivo do reforço com a vacina bivalente é expandir a resposta imune específica à variante Ômicron e melhorar a proteção da população. “Entretanto, as pessoas, principalmente os grupos de maior risco, não devem atrasar sua vacinação de dose de reforço já planejada para esperar o acesso à vacina bivalente, pois todas as vacinas de reforço aprovadas ajudam a melhorar a proteção contra casos graves e morte por Covid-19”, afirmou a diretora da Anvisa.
Estudo conduzido durante um ano comparou a vulnerabilidade à Covid-19 de um grupo de vacinados com a esperada em não-vacinados e concluiu que a proteção gerada pela imunização tende a diminuir com o passar do tempo, entre seis e oito meses após a aplicação das duas doses iniciais. Para resgatar a prevenção contra o agravamento e a morte pela infecção causada pelo coronavírus, a comunidade científica chegou ao consenso sobre a importância da aplicação de doses de reforço. Estudos mostram que essa estratégia amplia a resposta imunológica e aumenta em mais de cinco vezes a proteção contra casos graves e óbitos pelo coronavírus.
Marco Aurélio Safadi afirma que estudos revelam que, para induzir maior proteção, o ideal é misturar as doses de vacinas produzidas com a cepa ancestral do Sars-Cov-2 com aquelas produzidas com as novas variantes. “Isso permite que se tenha maior abrangência de proteção. Ainda são poucos estudos de efetividade no mundo real, mas exames de efetividade no laboratório e a experiência de mais de 30 países que já utilizam as vacinas bivalentes indicam que a imunidade é muito maior.”
Em resposta a questionamentos da CNN, o Ministério da Saúde afirmou que “vai solicitar ao laboratório o cronograma de envio dos lotes com os novos novos imunizantes bivalentes, tendo em vista que o atual contrato da pasta com os fornecedores contempla a entrega de vacinas com cepas atualizadas”. Entretanto, ainda não há prazos para a chegada das vacinas bivalentes ao país e disponibilização nos postos de saúde. O Ministério da Saúde enfatiza que as vacinas disponíveis nos postos de vacinação continuam efetivas contra as formas graves da doença.
No momento, o principal problema parece ser a hesitação vacinal. Mais de 77 milhões de brasileiros ainda não se vacinaram com a primeira dose de reforço das vacinas contra covid-19, segundo dados do Programa Nacional de Imunizações, e mais de 24 milhões de pessoas que já poderiam ter tomado a segunda dose de reforço ainda não tomaram. O Ministério da Saúde enfatizou que as vacinas continuam disponíveis em mais de 38 mil postos de vacinação em todo o Brasil.
Segundo Marco Aurélio Safadi, a indecisão sobre receber a vacina ou não é compreensível, após intensa propagação de fake news com propósito de questionar a efetividade e a segurança dos imunizantes. “As pessoas leigas imaginaram que receber a vacina iria deixá-las definitivamente imunes, como acontece com a prevenção do vírus da poliomielite. Enquanto, na realidade, a Covid-19 é mais próxima do causador da gripe, pois os vírus respiratórios são diferentes.”
“Desde 2020, alertamos que o principal propósito desses imunizantes seria diminuir mortes e hospitalizações, o que não os torna menos importantes”, diz Marco Aurélio Safadi. O médico considera que a interpretação equivocada do papel da vacinação tem relação com a desinformação e com a insuficiência de campanhas de vacinação e esclarecimento. “Quando as pessoas contraem o vírus mesmo estando vacinadas, elas pensam que não adiantou nada. Não é verdade; a vacina tem sim muita efetividade em reduzir formas mais graves da doença. Estamos vivendo um cenário de relativo baixo número de internações mesmo com alto número de novas infecções, graças à vacina.”