Distrito industrial em Goiânia é pauta nas eleições

11 outubro 2020 às 00h00

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Cidade é pouco industrializada e se localiza em meio a diversos pólos já desenvolvidos, mas pode se beneficiar do desenvolvimento de um distrito tecnológico e limpo
Com as eleições municipais em curso, surgem propostas para desenvolvimento da industrialização da cidade de Goiânia. Os candidatos Maguito Vilela, Vanderlan Cardoso entre outros apresentaram propostas para desenvolver pólos industriais na cidade, caso sejam eleitos. Outros candidatos, como Major Araújo, entretanto, se mostram céticos quanto a possibilidade da criação de tais distritos em uma cidade cercada por grandes produtores como Anápolis e Aparecida de Goiânia.
Segundo o Portal Transparência do Governo de Goiás, o Estado destina R$ 17,5 milhões para o Fundo de Participação e Fomento à Industrialização do Estado de Goiás (Fomentar) e, em 2020, executou R$ 14,9 milhões deste orçamento. A receita recolhida em impostos sobre os produtos industrializados no ano foi de R$ 44,5 milhões. Isso significa que o investimento na indústria retornou quase três vezes maior em relação ao que foi aplicado.
Na cidade de Goiânia, segundo a Secretaria de Finanças, o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) foi de R$ 2 milhões. Ou seja, apesar de concentrar 20% da população do estado, apenas 4,5% da atividade industrial acontece na capital. A cidade perdeu 31,3% deste tributo em relação a 2019, quando o valor coletado foi de R$ 2,8. A maior parte da renda relativa a taxação no município vem do ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias e prestação de serviços). Isso aponta para uma forte vocação comercial e de serviços em Goiânia.
Propostas
Vanderlan Cardoso (PSD) coloca a indústria no alto de sua lista de preocupações. Enquanto senador, defende a prorrogação no incentivo que montadoras de veículos têm no IPI e defende o uso do Fundo Constitucional do Centro-Oeste como linha de crédito para fomentar a indústria de transformação. Como candidato a prefeito, cita a instalação do Distrito Agroindustrial de Senador Canedo como motor da melhoria de renda no município.

Maguito Vilela (MDB) afirma em entrevista ao Jornal Opção: “ Mostrarei a Goiânia que fiz um governo voltado para a industrialização e geração de emprego. Trouxe para Goiás a Perdigão, a Mitsubishi, a Manz, a Hering e muitas outas indústrias. Em Aparecida não foi diferente. Ajudei a cidade a se industrializar. A cidade tinha 6 mil CNPJs quando assumi a prefeitura. Hoje são 36 mil CNPJs ativos”.
A proposta de Maguito Vilela é a instalação de um polo industrial, por exemplo, na Região Noroeste: “São mais de 300 mil habitantes na Região Noroeste. Levar para aquela região indústrias limpas que geram empregos, que diminua o deslocamento do funcionário nos ônibus superlotados. As indústrias tinham chaminés, poluíam muito, emitiam muito barulho.Hoje isso acabou. São indústrias limpas, que nem barulho fazem mais. Temos um comércio e um setor de serviços fortes. Mas é preciso ter indústria. Porque são as indústrias que geram empregos e promovem o desenvolvimento.”
Major Araújo afirma que, caso seja eleito, fará o possível para facilitar a instalação de indústrias em Goiânia e diz estar ciente de que indústrias limpas trazem empregos estáveis e de qualidade. Entretanto, se diz cético quanto a possibilidade de instalação de um polo industrial a menos de 50 quilômetros de dois grandes distritos (Anápolis e Aparecida de Goiânia) e avalia tais promessas como inexequíveis.
Indústria Moderna
Em parte, o receio do desenvolvimento fabril na capital se deve à aversão contra a poluição gerada por indústrias. Porém, especialistas entrevistados afirmam que este conceito antigo não se sustenta quando se fala de pólos modernos e limpos, como o de tecnologia e partes do de confecção. Outra justificativa dada pela baixa industrialização goianiense é a proximidade com os distritos de Aparecida de Goiânia, Anápolis, Jaraguá, Rio Verde, Taquaral e outras. Especialistas apontam, entretanto, que uma das principais características da indústria moderna é a integração – isto é, a capacidade de distribuir partes das atividades ao longo de diversas cidades.
“A produção hoje é integrada por encadeamento produtivo”, explica o economista com doutorado pela Universidade de Brasília, Jefferson de Castro Vieira. “Isso quer dizer que, na indústria têxtil, por exemplo, a parte poluente – que é a lavagem da roupa – pode ser feita em outra cidade. Nem tudo é feito no mesmo local. Nós temos vocação para esse tipo de produto, já que o comércio de confecções é um segmento muito forte na região de Campinas e na 44”.

Rubens José Fileti, presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg) afirma que a associação vê com bons olhos as propostas de desenvolvimento industrial da capital: “Por muitos anos, Goiânia foi citada somente como cidade de serviço. Das cidades próximas, muitas conseguiram atrair grandes indústrias e eu não vejo por que não conseguiríamos fazer o mesmo. A proximidade não é um limitante, é uma grande oportunidade, já que a produção é complementar. Hoje, ao contrário do que já foi no passado, Goiânia é uma cidade dormitório para pessoas que trabalham nas indústrias das cidades ao redor.”
Um grande atrativo para a industrialização da capital é seu posicionamento geográfico. “Hoje, o crescente e-commerce já passa por nossa região via aérea ou rodoviária sem deixar riquezas no estado ou no município”, afirma Rubens José Fileti. “Se tivéssemos um pólo de distribuição e logística no coração do Brasil que fomentasse o e-commerce, atrairíamos muitos investimentos”, conclui.
Paulo Afonso Ferreira, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), afirma que é possível definir claramente locais na expansão da cidade para a instalação industrial: “A geração de empregos estáveis e de qualidade proporcionada por essa atividade limpa não tem que caracterizar concorrência entre as cidades. Seria positivo até mesmo para diminuir o deslocamento forte de pessoas de uma cidade para outra”.

Cidade do futuro
Jefferson de Castro Vieira afirma que a tendência das cidades modernas é que as cidades incorporem indústrias dentro de locais adequados para reduzir o volume de tempo desperdiçado no trânsito com deslocamento. “O que vemos em todo o mundo todo são cidades inteligentes integradas com informação e tecnologia. E nós temos um potencial enorme para aproveitar o que temos de bom na indústria – principalmente o conhecimento produzidos pelas Instituições de Ensino Superior e cursos profissionalizantes do Sistema S”, afirma.
A indústria poluirá cada vez menos, explica Jefferson de Castro Vieira. A tecnologia da informação e comunicação será progressivamente mais importante. “Já estamos perdendo na produção de softwares em relação a cidades como Brasília, Florianópolis e Recife, que têm pólos desta natureza. Temos a Pontifícia Universidade Católica, a Universidade Federal de Goiás; ou seja, temos a quantidade de profissionais habilitados para trabalhar com tecnologia e Goiânia merecia um distrito dessa natureza”, conclui.