Como vivem profissionais com mais de oitenta anos que ainda trabalham; confira
21 julho 2024 às 00h00
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O mundo mudou. As pessoas mudaram. Os indivíduos estão vivendo mais e com qualidade de vida. Em Goiás, Goiânia e Brasília, há diversos profissionais com 80 anos ou mais que trabalham de forma eficiente e competente. Eles permanecem lúcidos e proativos, incluindo médicos, professores, escritores e advogados. Destaca-se especialmente o renomado arquiteto e artista plástico Elder Rocha Lima, que, aos 96 anos, ainda atua diariamente.
Portanto, a idade dos seres humanos não tem, muitas vezes, a ver com a qualidade daquilo que fazem. O Jornal Opção saiu a campo e, durante uma semana, ouviu profissionais que permanecem no mercado, mesmo estando com a idade do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, do partido Democrata. Experiência e competência são imprescindíveis — o que os entrevistados têm de sobra.
Nascido na Cidade de Goiás em 1928, Elder Rocha Lima, de 96 anos, continua residindo na cidade, que é patrimônio da humanidade. Atuando como artista plástico e arquiteto desde 1955, Elder destaca: “O tempo não me parou. Nunca passou pela minha cabeça parar de trabalhar”.
Elder Rocha explica que o mercado de trabalho no início de sua carreira era rarefeito, mas atualmente houve uma grande expansão. “Era um pouco rarefeito. Cheguei em Goiânia vindo do Rio de Janeiro, onde me formei, e lá havia poucos arquitetos e um certo desconhecimento sobre a profissão. Hoje, o panorama é outro. As artes plásticas eram praticamente ignoradas. Mas sempre perseverei.”
O artista conta que, como atividade extra, costuma escrever. Ele diz que fazer o que gosta significa saúde. “Trabalho no que gosto. Não tenho nenhum programa de exercícios físicos, mas não bebo nem fumo. Gosto de caminhar.”
Elder Rocha ressalta que, aos 93 anos, descobriu que estava com diabetes tipo 2. Por esse motivo, foi forçado a adotar uma dieta com restrição de açúcar e carboidratos, que cumpre sem grandes sacrifícios ou rigor intenso. Criar e desenvolver projetos interessantes, seja na arquitetura ou nas artes, é o que mais gosta de fazer, enfatiza Elder Rocha.
Elder Rocha destaca que, no seu campo de atuação, as mudanças tecnológicas não causaram transformações drásticas. No entanto, ele vê pontos positivos e negativos e as aceitou de bom grado. “Para mim, não houve mudanças significativas, mas acredito que os programas de AutoCAD trazem benefícios, embora prejudiquem o arquiteto em sua capacidade de criar e, principalmente, de desenhar com perspectiva. Contudo, as aceitei de bom grado”, avalia.
O artista argumenta que uma das principais diferenças entre o seu tempo e o atual é a falta de criatividade do artista, imposta pelo mercado. “A arquitetura virou algo muito comercializado. Perdeu-se um pouco o encanto da criatividade. O mesmo ocorre nas artes plásticas. O comércio de arte pretende induzir ou adotar certas regras e princípios que colidem com a natureza criativa. Pretende supervalorizar um artista e colocá-lo em um pedestal, mesmo sem grande talento”, diz.
Elder Rocha afirma que a arte, em todas as suas linguagens, é o cerne de sua vida. Ele sublinha que viu a chegada da tecnologia e seu impacto no trabalho como algo espantoso. “Espantoso. Veremos onde isso nos levará. Ou, como diz Ailton Krenak: ‘O futuro está na ancestralidade’. Quanto a isso, sempre digo que perdemos a capacidade de projetar edifícios e casas adaptados ao nosso clima.”
Elder destaca que a família e os amigos são parte essencial de uma vida saudável. “São trocas de experiências e vivências necessárias ao bem viver.” Ele finaliza enfatizando que tudo que faz é como se fosse para si próprio e, por isso, sempre dá o seu melhor. “Tudo que faço, coloco todo o meu empenho, sempre querendo acertar e fazer o melhor, embora nem sempre alcance o resultado desejado. Não faço para os outros, faço para o meu próprio deleite.”
José Machado Resende, natural de Minas Gerais, tem 84 anos, é advogado há mais de 30 anos e corretor de imóveis há 32 anos. O que o motiva a continuar trabalhando mesmo após os oitenta anos é estar em boas condições físicas e mentais, além de gostar das atividades que exerce.
O advogado conta que se levanta todos os dias às 6h da manhã e prepara o café junto com sua esposa, com quem é casado há 52 anos. Em seguida, trabalha rigorosamente das 8h às 18h, com duas horas de intervalo para almoço, de segunda a sexta-feira. José Machado diz que à noite reserva um tempo para leitura, assistir TV e usar a internet, mas à meia-noite já está deitado. Nos sábados e domingos, ele passa tempo de lazer com a família.
Ele lembra das dificuldades enfrentadas no início da carreira. “No começo, tanto na advocacia quanto na corretagem de imóveis, os recursos mais modernos eram a máquina de escrever elétrica, usando papel carbono para ter cópias de documentos, e os telefones fixos, cuja aquisição implicava em longas esperas para se obter uma linha.”
José Machado conta que, além das profissões, é vice-presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis e árbitro da 8ª Corte Arbitral de Goiânia. Ele diz que ao longo dos anos tem cuidado bem da saúde física, mental e emocional. “Quanto à saúde física: uma alimentação equilibrada, comendo de tudo, porém sem exageros. A saúde mental e emocional é resultado de sempre ver a vida com otimismo, mesmo em meio às turbulências do mundo moderno.”
O advogado salienta que, para manter a saúde em dia, segue algumas regras. “Pratico poucos exercícios físicos, não faço dieta, apenas não exagero na alimentação e raramente consumo bebidas alcoólicas.” José Machado Resende afirma que até o momento não enfrentou problemas de saúde que o impedissem de trabalhar.
Para ele, buscar sempre as melhores soluções para os clientes que confiam em seu trabalho é a maior realização pessoal. O advogado e corretor diz que tem se adaptado bem às mudanças. “Diariamente, busco me inteirar dos acontecimentos e recursos que podem ser úteis em minhas atividades profissionais.”
José Machado expressa que a experiência o ajudou a não tomar decisões precipitadas. “Com o passar dos anos, vamos adquirindo mais vivência e experiências, evitando precipitações nas decisões a serem tomadas, analisando todas as consequências das atitudes escolhidas.”
Ele destaca como filosofia de vida a capacidade de deitar-se e dormir tranquilamente. “Colocar a cabeça no travesseiro e adormecer com a consciência tranquila de ter dado o melhor de mim sem prejudicar a ninguém.” Em relação às novas tecnologias, o advogado admite que, devido à rapidez com que surgem, costuma levar tempo para se adaptar e aprender a usá-las.
Quanto ao impacto das tecnologias no trabalho, o profissional assegura que elas vieram para somar. “Simplificaram bastante as tarefas cotidianas da atividade exercida.” Para ele, tanto a família quanto os amigos foram fundamentais para seu sucesso. “Tanto a família quanto os amigos sempre foram fundamentais no compartilhamento dos bons momentos e nas adversidades.” De acordo com ele, ser reconhecido pelo trabalho em ambas as atividades é a sua maior realização profissional.
Joveny Sebastião Candido de Oliveira, 88 anos, nasceu em Goiandira, Goiás. Ele é bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e possui mais cinco especializações pela Universidade Federal de Goiás (UFG), onde também fez mestrado em Direito, além de outras formações ao longo da vida.
Joveny lecionou na Faculdade de Direito da UFG por 37 anos e na Faculdade Anhanguera por 50 anos, da qual foi o fundador em 1971. Atualmente, ele é proprietário do Cartório 5º Tabelionato de Notas de Goiânia, onde trabalha como tabelião de segunda a sexta-feira, com expediente diário de cinco horas. Nos finais de semana, Joveny costuma passar na fazenda, cuidando do gado e da plantação de soja.
O tabelião destaca que seu hobby é a leitura, e ele lê entre 10 e 12 livros por ano. Joveny ressalta que nunca considerou parar de trabalhar. “Nunca parei de trabalhar e nem vou parar. Não tenho razões para parar. Alguns amigos me falam para aproveitar a vida em viagens e pescarias, mas eu não vou ficar viajando a vida inteira nem pescando todos os dias. Prefiro estar fazendo o que realmente gosto, que é servir as pessoas com aquilo que posso. Lembrando que eu não sou um gagá, ainda posso contribuir muito com a sociedade. Hei de trabalhar até o último dia da minha vida”, afirma.
Joveny pontua que sua saúde está boa e que não sente nada que possa impedi-lo de trabalhar. O tabelião destaca que o que o motiva é poder servir às pessoas. “Gosto de servir o próximo com minhas habilidades e conhecimentos. Tenho quatro pilares que estabeleci para minha vida: honra, coragem, lealdade e disciplina, e tenho usado todos eles no serviço ao próximo. Graças a Deus, tenho ajudado muita gente a sair de crises que para elas seriam impossíveis de superar, mas com a sabedoria que Deus me deu, tenho conseguido ajudá-las”, diz com alegria.
Joveny salienta que nunca cobrou por consultas na área da advocacia, pois sempre ajudou as pessoas pelo prazer de fazer o bem. Ele cita a famosa frase de Mahatma Gandhi: “Quem não vive para servir, não serve para viver”, e fez dessa máxima seu estilo de vida.
Ele destaca a importância da família em toda sua trajetória como essencial para seu sucesso profissional e pessoal. “A minha família é tudo para mim. O núcleo familiar é a coisa mais importante que existe no mundo e eu me dedico 100% a ela; ela é minha escora, meu porto seguro”, conclui.
Antônio Rodrigues de Macedo, 80 anos, é natural de Porangatu, Goiás, onde vive e trabalha até hoje. Antônio Macedo é médico pediatra. Dr. Antônio Macedo conta que começou a trabalhar aos 15 anos e nunca mais parou. Ele ressalta que já são aproximadamente 50 anos exercendo a profissão de médico em sua cidade natal.
Dr. Antônio é sócio da Policlínica Modelo, onde trabalha todos os dias, além de fazer plantão em um hospital público. “Sou pediatra e atendo tanto na sala de parto quanto na pediatria clínica”, diz ele. Ele destaca que trabalha de sete a oito horas por dia. “Venho para o meu consultório às 8h e fico até às 12h, depois tiro duas horas de almoço e retorno às 14h, ficando até às 18h. Tenho uma rotina normal de trabalho.”
O médico sublinha que, em geral, é bem avaliado pelos pacientes e não percebe discriminação por conta da sua idade, pelo contrário. “No caso da medicina, as pessoas optam mais pela experiência do médico, e isso eu tenho de sobra”, argumenta. No entanto, o pediatra pontua que, quando aparece alguém o discriminando por conta da idade, ele simplesmente ignora.
Dr. Antônio lamenta que, no Brasil, exista uma política errada de não valorização dos profissionais após os 65 anos. “O Brasil se dá ao luxo de colocar intelectuais na prateleira e achar que eles estão fora do jogo, e isso é um erro. O Brasil precisa de nós”, ressalta.
O médico diz que trabalha porque gosta de exercer a profissão e poder ajudar as pessoas com aquilo que Deus lhe deu a capacidade de fazer, e que fará isso até o último dia de vida. “As pessoas que me procuram é porque me acham um bom médico”, observa.
Dr. Antônio pondera que a idade nunca foi um obstáculo para o exercício da profissão. “O que precisa ser levado em consideração é a capacidade cognitiva do profissional, seja em qualquer área de atuação, e no meu caso, a experiência de quase cinco décadas de serviço conta muito para o cliente”, lembra. Neste contexto, ele informa que sua saúde está ótima.
Maria Helena Chein, de 82 anos, nascida em Goiânia em 29 de janeiro de 1942, é uma escritora, poetisa e contista goiana. Ela relata que viveu sua infância na cidade de Anicuns – GO, e na época não tinha muita paixão pelos estudos. No entanto, sempre sentiu uma forte atração pela leitura. “Eu gostava de pegar os livros da escola e ficar lendo. Com o tempo, percebi que a leitura estava intrinsecamente ligada a mim”, observa.
Maria Helena conta que seus primeiros escritos foram as cartas de amor que redigia para suas amigas entregarem aos seus namorados. “Minhas colegas de escola percebiam que eu tinha um talento para escrever e me pediam para criar cartas para seus pretendentes ou namorados. Eu fazia isso com prazer”, lembra.
Formada em Pedagogia pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e em Letras Vernáculas pela Universidade Católica de Goiás, Chein se destacou como uma das fundadoras do Grupo de Escritores Novos (GEN) e é membro da União Brasileira de Escritores (UBE-GO).
O GEN era um grupo seleto de jovens que apreciavam ler e escrever, criado na década de 60. Esse envolvimento levou a um maior foco na escrita. Ela recorda com orgulho que seu primeiro livro publicado, intitulado “Do Olhar e do Querer”, em prosa, ganhou o primeiro prêmio da Prefeitura em parceria com a União Brasileira de Escritores – Seção Goiás.
Sua primeira profissão foi a de professora, embora sempre tenha dividido seu tempo com a escrita. Ainda que no início não tivesse muita afinidade com o estudo, sua perspectiva mudou durante o ginásio e a faculdade, ocasião em que passou a se apaixonar pelos estudos, tornando-se, segundo ela mesma, uma amante da aprendizagem.
A escritora compartilha com alegria que, aos 82 anos, continua com boa saúde, escrevendo e compondo. Ela afirma que sua jornada é longa e não pretende parar de escrever. “Ainda estou ativa como escritora. Faço parte da literatura de Goiás e componho a Academia Goiana de Letras com muito prazer”, diz.
Maria Helena destaca que nunca parou de produzir e atualmente tem um livro de contos na editora, aguardando um patrocínio para sua publicação. Ela pondera que, embora a literatura e a arte em geral não sejam muito lucrativas, é grata a Deus pela saúde e pelo privilégio de atuar no que ama. “Só pararei quando realmente não tiver condições. Enquanto eu tiver saúde e meios, continuarei a escrever, dedicando minha vida ao magistério, à literatura e às artes”, conclui.
Arthur Edmundo de Souza Rios, 85 anos, é um advogado com vasta experiência na área desde 1962, ano em que se formou. No entanto, ele destaca que iniciou sua carreira em 1957 como repórter do Jornal O Diário em Belo Horizonte. “Trabalhei no jornal O POPULAR de 1962 a 1965. Saí em decorrência da Revolução de 1964. O delegado do DOPS de Belo Horizonte, que veio a Goiás, exigiu dos Câmaras a minha demissão.”
Arthur Rios, como é conhecido, afirma que está com a saúde em dia e segue rigorosamente todas as orientações médicas. Além da advocacia, ele também se dedica ao jornalismo e ao espiritualismo. Sua rotina de trabalho é de 4 horas por dia, de segunda a sexta-feira, em regime de home office. Ele foi professor titular da UFG por 30 anos.
Ele observa que pode haver uma certa reserva por parte dos clientes ao escolher um profissional com mais de 80 anos, embora também haja muito respeito. “Nunca passei por essa situação, mas é razoável que haja alguma desconfiança das pessoas”, admite.
No entanto, Arthur acredita que a experiência de vida e a bagagem profissional de um advogado com muitos anos de atuação pesam mais na hora da escolha. “Percebo que a experiência é fundamental e deve ser levada em consideração”, afirma. Ele ressalta que o importante é avaliar a capacidade cognitiva do profissional e não apenas a idade. “É preciso observar a conexão entre as palavras, a relação lógica e coerente na análise dos casos e a coerência no todo do que é descrito.”
Edir Meirelles, 85 anos, natural de Pires do Rio, Goiás, é escritor e diretor das Academias Luso-Brasileira de Letras e Carioca de Letras. Ele também dedica seu tempo à União Brasileira de Escritores – UBE-RJ, onde foi presidente por dois mandatos e atualmente ocupa o cargo de Presidente de Honra. Além de suas atividades como escritor, Edir Meirelles ainda atua na literatura.
O escritor conta que nasceu e cresceu na roça, onde desde pequeno se dedicou à lavoura, ao cuidado com gado leiteiro e ao treinamento de cavalos. “Somente aos 15 anos fui para Pires do Rio para completar o curso primário. Portanto, o trabalho é uma necessidade imperiosa para mim. Se deixarmos de ter atividades, o corpo enferruja e a mente empobrece,” enfatiza.
Ele destaca que foi militar de carreira, mas foi cassado pelo Golpe de 1964. Depois trabalhou na iniciativa privada, em escritórios, como treinador de equipes e, posteriormente, como funcionário público. “A literatura foi um sonho alimentado durante anos. Só nos anos 90 publiquei meu primeiro livro, ‘Poemas Contaminados’, que aborda o dramático episódio do Césio-137 em Goiânia, com capa do ilustre artista Siron Franco,” lembra.
Edir Meirelles sublinha que a saúde física, mental e emocional advém da dedicação às atividades culturais, exercícios físicos (há mais de 15 anos, prática hidroginástica duas vezes por semana), e à família. Quando o tempo e o ânimo permitem, ele faz caminhadas em Vila Isabel, terra de Noel Rosa, onde tem residência.
O escritor recorda que enfrentou problemas significativos de saúde, como um câncer de próstata, há 18 anos. “Fui submetido a uma cirurgia bem-sucedida no Hospital do Câncer. Não houve necessidade de tratamento complementar e, felizmente, fiquei curado. Isso não afetou em nada o meu trabalho,” reitera.
Ele destaca que o trabalho é uma fonte de prazer. “Trabalhar me proporciona encontros interessantes nas reuniões das diversas entidades culturais que frequento, assistir a palestras e debates de alta qualidade, além de formar novas amizades. Em casa, estou sempre dialogando com novas ideias para a elaboração de novos livros,” confessa.
Edir Meirelles faz um paralelo entre a juventude e a experiência adquirida com a idade. “A juventude é o auge da força e do entusiasmo, sonhando alto. Porém, o amadurecimento traz maior serenidade, conhecimento da alma humana e reflexão para um trabalho de qualidade. Como octogenário, sinto-me com menos energia, mas com a mente mais aberta e reflexiva nas análises do dia a dia.”
Ele afirma que seu estilo de vida é trabalhar, exercitar-se e se divertir. “Costumo dizer que não basta ter talento; é preciso ter ousadia e enfrentar as dificuldades. Por isso, ouso discordar de Guimarães Rosa, que dizia que ‘viver é muito perigoso’, pois gosto de viver perigosamente.”
Edir Meirelles salienta que o mundo está passando pela revolução tecnológica, que, para ele, é a mais profunda já experimentada pela humanidade. “Não mergulhei profundamente nas mudanças tecnológicas. Acompanho sua evolução à distância, o suficiente para perceber seu impacto na revolução do mundo atual.”
Ele destaca que o papel da família é fundamental na formação de um bom profissional. “A família é um suporte essencial da sociedade e a base da nacionalidade. São os pais que orientam os filhos e a juventude nos estudos, na formação profissional e moral. Enfim, a família é fundamental na construção da sonhada nação igualitária,” afirma.
O escritor reitera que a família e seus livros são suas maiores realizações pessoais. “Percebi que o escritor é fundamental na existência dos povos. Com muita leitura e esforço autodidata, escrevi e publiquei 16 livros: poemas, contos, romances, críticas, entre outros. Portanto, minha família e meus livros são minhas maiores realizações. Continuarei sonhando meus sonhos de sempre,” conclui.
Ele descreve sua rotina diária: “Levanto-me por volta das 6h30. Após o café da manhã, nos dias ímpares vou à academia para hidroginástica e, nos dias pares ensolarados, faço caminhadas pelo bairro. Leio o jornal impresso e resolvo palavras cruzadas, cuido das minhas plantinhas e não me esqueço das obras literárias em andamento. Em dias de eventos, retorno à noite. Como não sou de ferro, dedico um ou outro dia à ociosidade. Vou repousar por volta das 23 horas.”
Miguel Jorge, 82 anos, nasceu em Campo Grande – MT, mas reside em Goiânia desde 1960. Ele é escritor e professor aposentado da UFG, embora continue dedicando-se à escrita. “Apenas me aposentei como professor, mas estou totalmente comprometido com a produção de contos, romances e poemas”, afirma.
Miguel Jorge revela que ama o que faz e não se preocupa com a idade. “Estou focado no trabalho. Gosto de ler, pesquisar e, por isso, continuo escrevendo”, diz. Ele é membro da Academia Goiana de Letras e acredita que o que contribui para sua boa saúde são as caminhadas matinais, os exercícios, a leitura e a escrita.
O escritor comenta que as mudanças tecnológicas ao longo dos anos são adaptáveis. “Para mim, não é difícil adaptar-me, pois gosto muito do computador. As técnicas e a rapidez que ele proporciona são muito importantes para o meu trabalho. Em relação à idade, Miguel Jorge destaca que a maior experiência traz um estilo de vida mais refinado, o que influencia positivamente no trabalho.
Miguel Jorge considera suas maiores realizações os livros e a ópera. “Já escrevi o segundo libreto para a ópera que estreará em outubro deste ano”, conta. Entre suas principais obras estão o romance Veias e Vinhos (1981), que narra a chacina da Rua 74, em Goiânia, em 1957, quando seis membros da família Matteucci foram assassinados; Nos Ombros do Cão, que aborda a ditadura militar em Goiás; e Pão Cozido Debaixo de Brasa, que retrata o acidente com o césio 137 na capital.
Ana Christina de Andrade Kratz, natural de Belo Horizonte (MG), tem 81 anos. É professora aposentada da Universidade Federal de Goiás e, desde 2010, ocupa um cargo diretivo no Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (ADUFG). Em sua trajetória na entidade, exerceu as funções de Diretora Financeira, de Convênios e Assuntos Jurídicos, e atualmente é Diretora de Assuntos de Aposentadoria e Pensão. Após a aposentadoria, atuou como Interventora Federal de Faculdade em Itumbiara, Coordenadora de Projeto do Banco Mundial na Secretaria Estadual de Educação (SEDUC), e Superintendente de Fomento à Pesquisa da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (SECTEC).
Ana Kratz afirma que a busca pela melhoria dos serviços públicos é o que a motiva a continuar trabalhando. “Sempre fui interessada em colaborar para a melhoria da oferta de serviços públicos. Entendo que, estando em condições de ajudar a construir uma sociedade mais justa, devo oferecer a minha contribuição”, destaca.
Ela recorda que, em 1961, ingressou no serviço público em Brasília por meio de concurso no Ministério de Minas e Energia, secretariando o CADE. Trabalhou na Presidência da República e, ao se mudar para Goiânia, participou da instalação do DNPM e da CPRM. Na ocasião, prestou concurso público para a UFG, onde permaneceu por 25 anos.
“Meu trabalho atual é organizar aposentados e pensionistas na luta política por manter seus direitos e promover diversas atividades de lazer e cultura”, ressalta. Ela observa que, com o advento da internet, todas as profissões e atividades precisam se reinventar, e garante estar atenta às mudanças. “Hoje, a internet é a principal ferramenta de comunicação e quem não se adaptar fica fora do circuito. Como fiz um curso de programação em 1971, acompanhei o desenvolvimento das novas formas de uso dos recursos tecnológicos. Estamos nos preparando para as inovações trazidas pela Inteligência Artificial.”
Ana Kratz adota um estilo de vida que valoriza viver intensamente as alegrias e tristezas, sempre se reinventando quando necessário. Para ela, a família é fundamental para manter a saúde. “A família é extremamente importante para a nossa saúde emocional. Sem os amigos, a vida seria terrivelmente solitária”, afirma.
Entre suas maiores realizações profissionais, a professora destaca duas que considera as mais significativas: “A primeira foi dedicar minha vida à formação de professores, e a segunda, formar uma família maravilhosa com meu companheiro com quem estou casada há 60 anos”, ressalta. Ela trabalha quatro dias por semana, com carga horária de 4 horas diárias, e tem o hábito de deitar-se às 23h e levantar-se às 7h.
Dulce Terezinha Oliveira da Cunha, de 85 anos e natural do Rio de Janeiro, é uma docente aposentada da Universidade Federal de Goiás – UFG. Ela se considera lúcida, independente e ativa. “Faço parte de um grupo de aposentados e pensionistas do Adufg, do qual sou vice-coordenadora. Também integro o Conselho Editorial da revista que criamos e participo das lutas e eventos políticos”, lembra.
Dulce foi eleita por dois mandatos consecutivos para o Conselho de Representantes dos Aposentados do Adufg e é uma das fundadoras do Curso de Nutrição da UFG. “Na época, a profissão de nutricionista era quase desconhecida. Nossas alunas conquistaram espaço no mercado e, com o avanço da ciência e a valorização da Segurança Alimentar e Nutricional, a importância desse profissional é agora reconhecida em todos os setores.”
Ela enfatiza que é fundamental amar o que se faz, amar a si mesmo e aos outros, ter momentos de lazer e manter o bom humor para uma vida feliz. “Durante minha jornada profissional, trabalhei muito, mas nunca deixei de desfrutar momentos de lazer. Manter uma atitude positiva e bem-humorada é crucial para a saúde mental e emocional. Com o tempo, adquirimos mais equilíbrio e calma.”
Dulce compartilha que enfrenta um problema de saúde desde 2015: um câncer na bexiga. “Decidi não retirar a bexiga, optando por várias formas de tratamento. Levo uma vida ativa, viajo, saio e não me entrego”, destaca.
Ela afirma que sua filosofia de vida é sempre se colocar no lugar do outro antes de julgá-lo, ser otimista e positiva, sonhar, fazer planos, apreciar a vida e as pessoas, aceitar o envelhecimento sem traumas e não se sentir velha, apenas uma mulher com mais anos vividos. Dulce acredita que envelhecer não a torna incapaz.
Para ela, as mudanças tecnológicas não impactaram negativamente sua rotina; pelo contrário. “Hoje moro sozinha e não dependo de ninguém para usar o celular, trabalhar com aplicativos e realizar transações. Busco sempre me atualizar.” Ela considera que a família e os amigos são a base do equilíbrio emocional.
“O apoio do meu marido foi essencial, mas ele faleceu prematuramente. Como viúva, sem parentes de sangue, a única família que me resta é a que ele deixou, que está no Rio. Sempre acreditei que as amizades são nossas maiores riquezas. No meu caso, elas significam tudo…” afirma.
“Ser uma das fundadoras do curso de Nutrição, ver os trabalhos derivados das pesquisas sobre Alimentação do Trabalhador serem reconhecidos pela OIT e contribuírem para o fornecimento de água gelada nos canteiros de obra de Goiânia, o carinho e as homenagens recebidas de alunos e colegas, e ver que as sementes plantadas no Conesan e no Consea Municipal floresceram e seus membros estão seguindo seus próprios caminhos, são minhas maiores realizações. Ser lembrada com carinho por ex-alunos, colegas e funcionários também é uma grande conquista.”
Peter Bakuzis, 83 anos, nasceu na Letônia e reside no Brasil desde setembro de 1970. Atualmente, ele é professor voluntário sênior na Universidade de Brasília (UnB). “Gosto do que faço, dando aulas de química orgânica avançada na pós-graduação. Trabalho desde os meus dez anos e acredito que, enquanto posso contribuir, devo continuar. Faço caminhadas rápidas três ou quatro vezes por semana e musculação duas vezes”, destaca.
O professor afirma que nunca interrompeu seu trabalho devido a problemas de saúde e garante que está sempre atualizado, tornando suas aulas atraentes. “No trabalho, a coisa mais importante é estar a par das mais novas metodologias em química orgânica. Meu campo está em constante desenvolvimento, então as aulas que ministro têm pouca semelhança com o que eu apresentava há poucos anos”, explica.
Para ele, a internet facilitou o trabalho e aprimorou o aprendizado. “Quando era jovem, tinha muito menos recursos bibliográficos do que existem hoje. Por outro lado, com as metodologias de busca e avaliações disponíveis online, os conteúdos são filtrados, o que facilita a aprendizagem”, comenta.
Peter Bakuzis acredita que, na vida, cada um deve dar o melhor de si e deixar de lado as coisas negativas. O apoio da família tem sido essencial para ele. “Minha família me permite trabalhar tranquilo, sem cobrar excessivamente minha presença”, lembra.
O químico enfatiza que tem publicado diversos trabalhos internacionais e, há dois anos, foi um dos quatro autores de um livro publicado na Inglaterra, voltado para alunos de graduação avançada e início da pós-graduação. “Acordo cedo, ando no parque com nosso cachorro vira-lata. Duas vezes por semana faço musculação e, em seguida, vou para a UnB. Passo na universidade entre sete e nove horas por dia. Vou para a cama às 23h e acordo antes das 6h”, sublinha.
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