Colégio militar faz ampliar acesso à educação superior pelo ensino público
19 março 2023 às 00h38
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As vagas para matrículas em um colégio militar de Goiás são tão concorridas como para um vestibular. Em 2022 foram 62.019 alunos inscritos para 8.367 novas vagas. Uma média de 7,4 concorrentes para cada cadeira. Os números fogem à regra no universo de ensino público. Para além do ensino regido por valores como o patriotismo, o civismo e a disciplina, a preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e outros processos seletivos para cursos superiores indica ser a razão para o desejo de tantos pais de alunos e dos próprios jovens em estudar em uma das escolas administradas pela Polícia Militar.
Nicolle Thuanny, hoje com 18 anos, foi aluna do Colégio Estadual da Polícia Militar Madre Germana, em Goiânia. Ela é o exemplo de quão concorrido é uma vaga na instituição. A jovem fez várias tentativas, desde o começo da segunda fase do ensino fundamental, mas somente conseguiu a vaga quando estava cursando o 8º ano. Ficou na escola até se formar. A estudante agora vai cursar agronomia na Universidade Federal de Goiás (UFG). “Fiz o Sisu [Sistema de Seleção Unificada] e passei com minha nota do Enem. Esse resultado é em razão da preparação que recebi no colégio militar. A equipe é muito capacitada e lá tive professores incríveis. Eles nos preparam para a prova do Enem com simulados parecidos com o do exame, praticamente todo mês. O aluno sai totalmente capacitado para o Enem”, aponta.
A preparação que os colégios militares oferta, dando oportunidade de jovens adentrarem o curso superior, é testemunhada também por Andreia Campelo. Ela, que tem 18 anos, estudou do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio, também na unidade do Setor Madre Germana. A jovem foi aprovada na primeira chamada da UFG e no Instituto Federal de Goiás (IFG), para o curso de Matemática. “Os professores são os maiores incentivadores dos alunos, eles estão sempre motivando os alunos a querer ser melhores sempre”. Andreia usou a nota do Enem para ingressar na universidade tão desejada.
O colégio militar do Setor Madre Germana também abriu o caminho da universidade para Leyenne Gomes, de 17 anos. A jovem fez todo o ensino fundamental e médio na escola. Quando passou pelo Enem, conseguiu nota para cursar Jornalismo na UFG, e Nutrição e Engenharia de Transporte no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG). “Quando comecei a frequentar o colégio militar, percebi que eles não ensinam somente a formação intelectual, mas também a formação do caráter e da personalidade, tendo a educação e a disciplina como aliados nessa missão”, opina.
O modelo de ensino dos colégios militares de Goiás já é reconhecido para além das fronteiras goianas. Exemplo é o aluno Miguel Nascimento de Sá, de 18 anos, que morava no interior do Estado de Mato Grosso e veio para Goiânia estudar. Ele concorreu e conseguiu uma vaga no 2º ano do ensino médio na unidade do Colégio Militar Hugo de Carvalho Ramos, no Jardim Goiás.
Miguel passou no vestibular para Medicina na Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp), em Campo Grande. “Para mim, o grande diferencial da escola militar é o respeito que o aluno tem pelo professor e por todo o corpo docente da escola. As três formas de avaliação são outro ponto forte do ensino: a redação geral, o simulado geral e cada matéria tendo sua prova específica. Para quem quer estudar, o colégio militar é tudo de bom”, realça.
Maria Eduarda, 20 anos, também estudou no Colégio Militar Hugo de Carvalho Ramos. Matriculou-se no 8º ano e ficou na unidade até encerrar o ensino médio. Ela agora é aluna do curso de Enfermagem na Faculdade da Polícia Militar de Goiás. Ela relata que sempre foi um sonho estudar em um colégio militar. “Minha prima estudou na unidade e sempre falou bem do ensino. Eu via as meninas de uniforme e achava muito bonito e sentia vontade de também fazer parte. Eu entendi o porquê de minha prima elogiar tanto. Lá o aluno sente prazer em estudar”.
Estrutura dos colégios militares
A reportagem visitou os colégios estaduais militares Madre Germana e Hugo de Carvalho Ramos. A percepção quanto à estrutura das unidades é de escolas particulares de primeiro nível.
Os prédios são bem cuidados e conservados. É evidente a higiene e limpeza. Também é notável a preocupação com a segurança de todos – há a presença permanente de militares. As salas de aula são climatizadas, tornando o ambiente agradável. As bibliotecas são espaçosas e equipadas com computadores. Há quadras de esporte, teatros, piscinas semiolímpicas aquecidas, sala de dojô – onde são ministradas aulas de judô, jiu-jitsu e caratê –, estúdios de música e de dança. Os estudantes contam com micro-ondas para preparar o lanche nos períodos entre turnos. Todos os professores recebem um notebook para preparar e executar suas aulas em formato multimídia, e os alunos contam com chromebook.
Unidade Hugo de Carvalho Ramos
O tenente-coronel Daniel Moreira Galvão é o diretor no Colégio Hugo de Carvalho há três anos e meio. Ele compartilha que é um grande desafio assumir a maior unidade da rede pública estadual, com quase 3 mil alunos. Para ele, a grande tarefa é manter a qualidade e a disciplina entre os alunos. “Como o colégio é muito grande, aqui nós temos alguns diferenciais. A maior quadra de esporte é nossa, a maior estrutura de banda de música do Centro-Oeste, também. Cuidamos também da segurança. Veja que temos aulas nos três turnos e em cada um deles entram uma média de 1,1 mil alunos em cerca de seis minutos. Isso é possível graças a uma tecnologia desenvolvida por uma empresa de Brasília, que é o reconhecimento facial. De outra forma não haveria como controlar”, afirma.
Outro quesito na segurança é que todas as portas são abertas somente através de um cartão com chip eletrônico. O modelo mantem a ordem de segurança dentro da unidade. Tudo isso sem perder a qualidade do ensino. “Assim como na maioria de nossas unidades, antes de se tornarem alunos militares eles não tinham respeito aos professores. Fizemos o trabalho de resgate dessa cultura de respeito e valorização dos professores. Aqui eles são tratados como capitães e mestres. Com isso, o professor consegue ter tranquilidade para ministrar sua aula”, enfatiza.
Mirian Villela é coordenadora-geral do Hugo de Carvalho Ramos e faz parte do quadro pedagógico da escola desde 1999. Ela descreve que antes de se tornar escola militar, a unidade escolar era ponto de encontros de torcidas organizadas, que faziam muita bagunça. “Tinha muito vandalismo, indisciplina, a sala dos professores precisava ficar sempre trancada, à noite era o ponto crítico. Quem só conheceu aqui há 20 anos, hoje não reconheceria tamanha a mudança – tanto na parte física, quanto na parte do ensino mesmo.”
Unidade Madre Germana
A primeira escola visitada pela reportagem foi a do Setor Madre Germana II, onde até a quadra de esporte é climatizada. O comandante e diretor, Major Wiston Antônio da Silva, é quem dirige a unidade há quatro anos. Ele lembra que foi transformada em militar em 2015, e um dos principais motivos que fez com que a Secretaria Estadual de Educação tomasse essa decisão, foi o fato de a escola possuir o pior Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do País.
Em 2012 a nota do Ideb foi de 1.12, o pior para aquele ano. Outro fator era o alto grau de violência da região e, consequentemente, dentro da escola. “Encontramos uma escola feita de placas, com uma estrutura totalmente inapropriada para que proporcionasse aos alunos qualquer tipo de aprendizado. Tudo aqui era decadente”, relata o Major. “Após quatro anos passamos a ter 23 salas de aula, todas de alvenaria, porcelanato, revestimento e conjunto multimídia. Em todas as salas têm um computador, então o professor tem recurso para ministrar uma boa aula”, completa.
O diretor detalha ainda outros itens dentro da unidade como, laboratório de ciência da natureza, acessibilidade, mais de 230 câmeras que garante um controle disciplinar e a segurança em volta do colégio, uma piscina aquecida semiolímpica nova, estúdio de dança e música. Wiston esclarece que não é somente com o orçamento da secretaria que tudo isso é feito. “É um trabalho a quatro mãos, entre a verba do estado, a associação de pais, mestre e funcionários e muito trabalho”. Lembrando que os pais contribuem para a associação de pais, mestres e funcionários voluntariamente – uma quantia em torno de R$ 90 que é bem utilizado dentro das unidades.
Na unidade são 1.430 alunos matriculados, sendo que 935 fazem também o contra-turno, acessando cursos extras oferecidos pela escola. Para participar das atividades o aluno precisa ter boas notas pedagógicas e ter o comportamento bem avaliado. “Nossa quadra de esporte é totalmente climatizada e adotamos o sistema de catraca com reconhecimento facial para entrada dos alunos. Inauguramos uma sala para atendimento aos alunos especiais. A nossa cozinha – sem querer puxar a sardinha para nosso lado –, é a melhor (risos) e fabricamos toda a nossa panificação”, enfatiza.
Na área pedagógica, a escola conta com 67 professores, 46 turmas – 23 no turno matutino e 23 no vespertino. ”Saímos do incômodo último lugar do país, para a terceira melhor escola de ensino fundamental, entre 82 escolas da regional de Aparecida de Goiânia. E no ensino médio, que a nota era zero, hoje somos a sexta melhor da regional. No último IDEB, recebemos a nota 4.9 que antes era zero e, no ensino fundamental II, 5.98”, sublinha.
Para o diretor, este é um dos motivos que faz com que haja uma procura muito grande por pais e alunos para estudarem na escola. “Abrimos quatro turmas do 6º ano, com mais de 13, mil inscritos. O Colégio Madre Germana hoje é uma referência não somente na questão estrutural, mas também na área pedagógica. Aqui nós temos um trabalho em equipe que faz com que tenhamos excelentes resultados. Vale ressaltar que com a transformação da unidade em colégio militar, o Índice de criminalidade aqui na região caiu mais de 80%. As casas e lotes aqui eram praticamente doados, não tinha valor nenhum, hoje houve uma valorização imobiliária na região e principalmente trouxe dignidade para a população”, destaca.
Professores do Madre Germana
A professora Maria Regina dá aulas na unidade há sete anos. Ela foi professora por um ano antes da escola se tornar militar. Ela é a prova viva da mudança que foi promovida pelo ensino. “Eu morava aqui na região, mas lecionava no Setor Universitário. Foi uma decisão muito difícil ter que optar por dar aulas nessa escola, porque eu sabia da má fama, que, aliás, constatei quando aqui cheguei. Tudo aqui era péssimo. Contudo, quando ouvi falar que a escola ia se transformar em militar, eu fiquei preocupada, porque sou uma professora inclusiva e infelizmente, assim como grande parte das pessoas, tinha preconceito com os militares. Pensava que iriam chegar e mandar em todo mundo e que não íamos ter liberdade. Todavia, é exatamente o oposto. Nós, professores, temos a maior tranquilidade em trabalhar, não precisamos nos preocupar com nada. Nos é dado todo o suporte que precisamos”, finaliza.
O professor de Física, Joabe Silas, está na unidade desde 2019, faz parte da coordenação. Ele conta que já ministrou aulas em escolas privadas e garante que a unidade Madre Germana está entre as melhores que já viu. “Aá estrutura é semelhante. Mas também já trabalhei em outras particulares que a estrutura não chega nem perto, mesmo cobrando mensalidades altíssimas. A gestão que é feita nas escolas militares são corretas e transparentes. Outra coisa que admiro, é que os militares não interferem na parte pedagógica, somos todos efetivos da Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc). Existe, é claro, um alinhamento entre a parte de segurança e disciplina”, esclarece.
O que pensam os moradores e pais de alunos
O morador do bairro Madre Germana II há mais de 20 anos, Eurípedes dos Santos, de 60 anos, diz que seus filhos estudaram na escola antes de ser militar e fala, sem medo de errar, que a transformação foi evidente. “Aqui não tinha paz. Meus filhos iam para a escola com medo. Todos nós ficávamos com medo, pois era droga, brigas entre os alunos, maltratavam os professores e era uma perturbação total. Hoje temos paz e tranquilidade”, relata.
Marcos Sobrinho trabalha em um comércio ao lado da escola. Também morador do bairro há mais de 20 anos e conta que no passado foi aluno da escola. “Era tudo precário. O prédio, o ensino, ninguém aprendia nada, ninguém tinha motivação para estudar, muita violência, os professores eram ameaçados e desrespeitados diariamente. Hoje tudo aqui evoluiu. Inclusive minha filha estuda no colégio e participa dos projetos oferecidos. Ela tem prazer em ir para a escola”.
Raquel de Paula é mãe de um aluno que já concluiu os estudos na unidade e de outra aluna que está no 8º ano. Ela também é funcionária da associação de pais e mestres, mora no setor desde o começo e enfatiza que a escola tinha um histórico ruim. “Ver hoje no que ela se transformou é emocionante. Ninguém queria estudar aqui. Quem estudava era só porque não tinha outra opção. Nossa vontade era que todas as escolas se transformassem em escola militar. Eu trabalho aqui e sei como é bem conduzido as coisas, sei da seriedade e como é investido os recursos da associação”.
Alunos efetivos
Vinicius Augustos Gonçalves, de 17 anos, está na escola desde o 6º ano do ensino fundamental, e neste ano termina o 3º do ensino médio. Ele diz que tinha outro pensamento antes de ingressar na escola. “Eu achava que era só uns policiais mandando nos alunos, mas me surpreendi para melhor. Isto me fez gostar muito da escola, me apaixonei pelo jeito que é ensinado aqui. Me adaptei muito bem. Nós temos tudo e somos muito bem tratados e preparados para a vida. Eu recomendo esse sistema de ensino”, conclui.
Leandra Diamantino da Silva, de 17 anos, que está cursando o 3º ano, diz que conseguiu a vaga por meio de sorteio. Ela conta que estudou em escola municipal até o 8º ano do Ensino Fundamental e então conseguiu a tão sonhada vaga no 9º ano. “Sempre tive muita vontade de estudar em uma escola militar. Já tinha participado de outros sorteios, mas sem sucesso. Fiquei muito feliz quando consegui. Apaixonei-me pela organização que tem aqui. Sou uma pessoa que gosta muito de disciplina, então não foi difícil me adaptar na escola.”
Pais de alunos do Hugo de carvalho
Newilton de Oliveira é pai da Izadora, uma jovem que já finalizou os estudos na unidade do Jardim Goiás e está cursando biomedicina na UNIP. Ele tem outra filha que estuda na escola, a Izabela, que está no 8º ano. Newilton se diz muito satisfeito com a escola. “Não me arrependo de ter trazido minhas filhas para a escola militar porque tem tudo que precisamos: um estudo de qualidade e segurança”.
Para Maria Vilma professora da rede municipal de ensino, mãe da ex-aluna Maria Eduarda, que terminou o 3º ano e alcançou a nota do Enem para ingressar na Faculdade da Polícia Militar, no curso de enfermagem. “Minha filha entrou aqui no 6º ano e só saiu quando terminou. Eu valorizo muito os princípios que são passados e ensinados aqui. Ela é muito disciplinada e isto me conquistou.”
Projeto de inclusão
Os colégios militares têm um projeto de assistência aos alunos especiais. “O nosso trabalho é de inclusão e não de vitimismo. O nosso aluno com necessidades quer ter amigos e quer se relacionar com os colegas. É um trabalho de motivação e de conscientização. Graças a Deus temos obtido sucesso. Esses alunos interagem, criam amizades e aprendem. Temos relatos de mães que estão surpresas porque o filho agora tem um amigo ou mais. Isto é muito gratificante”, conta a professora Valteci Maria Ribeiro, que trabalha na unidade Hugo de Carvalho Ramos e é uma das conhecedoras do projeto.
Colégio Militar de Goiás: modelo de ensino
Os colégios militares em Goiás são referências com um ensino de qualidade e alunos com notas excelentes no Enem e, também, aprovados em vestibulares superconcorridos. A reportagem do Jornal Opção conversou com o comandante de Ensino da Polícia Militar de Goiás, coronel Luciano Souza Magalhães, que falou da aplicação do modelo e como se alcançou a eficiência do sistema de ensino adotado.
O coronel lembra que as escolas militares completam 25 anos em 2023. A ideia inicial era somente atender os filhos de militares que trabalham em Goiânia. Contudo, o projeto obteve um sucesso e precisou ser ampliado, se tornando exemplo. “Países como, Japão, Colômbia e Equador já enviaram comitivas para conhecer nosso trabalho”, diz.
O comandante explica que de 1998 até 2013, eram apenas seis unidades e, a partir de 2013, houve uma expansão dos colégios em todo Estado. “Hoje nós temos 74 unidades escolares em funcionamento espalhadas em Goiás”, garante.
O coronel lembra que os professores das unidades não são militares – exceto os professores de civismo e cidadania. Para o funcionamento é adotado um termo de cooperação entre a Secretaria de Segurança Pública (SSP) e a Secretaria Estadual de Educação (Seduc), onde o diretor da escola passa a ser um oficial da Polícia Militar, podendo ter o posto de Capitão, Major ou tenente-Coronel. Porém, a parte pedagógica permanece com a Secretaria.
Coronel Luciano relata que o orçamento dos colégios militares é o mesmo das escolas normais. “A grande parte dos investimentos vem da Secretaria por meio do Governo do Estado. Entretanto, nós temos em nossas escolas a associação de pais, mestres e funcionários, com o objetivo de auxiliar na gestão das unidades de ensino. A associação tem a liberdade de contratar professores para realizarem outras atividades que não são custeadas pela secretaria, principalmente nas áreas esportivas que são ministradas no contra turno dos alunos. Algumas escolas já possuem piscinas que foram construídas com recursos da associação”.
Questionado do porquê, apesar do orçamento ser o mesmo das escolas regulares e o rendimento das escolas militares ser bem superior, o comandante avalia que existem três diferenciais que são muito claros. “O primeiro, é a própria gestão: o oficial da polícia que passa a ser o diretor de uma unidade, ele é um gestor por excelência. No curso para oficial já existe o curso de gestão e nas mais variadas áreas. Então esse oficial quando assume uma escola ele está muito preparado para esse tipo de trabalho. Por outro lado, na escola regular, o diretor nem sempre é um gestor, muitas vezes é um professor que assume esse cargo. O segundo, é a valorização. Nós resgatamos algo que ao longo dos anos foi esquecido, que é a valorização, principalmente do professor. Nas nossas escolas o ator principal é o professor. Ele é reverenciado ao entrar na sala – todos os alunos se levantam e só se sentam com a autorização do professor. E em terceiro, é o professor ter tranquilidade para lecionar sua matéria sem medo, com a presença sempre por perto do policial militar que garante isso a ele”, explica o coronel Luciano.
Perguntado qual é o segredo das escolas militares, o coronel ressalta que não existe segredo e, sim, muito trabalho. “Porém, se tivesse um segredo, ele estaia sendo revelado agora: é um modelo de gestão eficiente, valorização dos profissionais e a disciplina. Este é o nosso foco para alcançarmos resultados de excelência”. Ele ainda afirma, que os resultados são vistos nas provas do Enem e vestibulares, onde os frutos são extraordinários. “A nossa média é de 85% de aprovação”.
Coronel Luciano ainda explica que formar profissionais não é a principal tarefa da instituição. Isto é consequência de um ensino de qualidade. “A nossa primeira missão é formar cidadãos de caráter e honestos. Nosso slogan é: formando cidadãos de valores com base no civismo e cidadania. Além de todos os benefícios que a escola oferece aos alunos, toda a comunidade em volta também é beneficiada. A segurança é reforçada, dentro e fora das unidades, viaturas fazem rondas diariamente, trazendo paz para todos. Fazemos o chamado cinturão de segurança, onde equipes de policiais caracterizados da escola fazem o patrulhamento nas imediações nos horários de saída e entrada dos alunos”.
O Coronel tranquiliza a população com relação aos rumores do fim das escolas militares. “Aqui em Goiás esse risco não existe, é zero. Nosso projeto já é consolidado e, em vez de finalizar, nós estamos é ampliando esse número. Somente em 2023, serão instaladas mais 12 unidades. Serão oito escolas somente no entorno do Distrito Federal, uma na capital, uma em Silvânia, uma em Bela Vista e outra em Mineiros”, garante.
Para conseguir uma vaga nas escolas militares, coronel Luciano esclarece que não é preciso pagar nenhuma quantia em dinheiro. Ele explica que as vagas são preenchidas por sorteio. O aluno ou responsável interessado faz sua inscrição através do Portal CEPMG e as vagas ofertadas são do sexto ao 9º ano do ensino fundamental e do 1º ao 3º ano do ensino médio. O comandante de Ensino ressalta que as escolas militares não são melhores que as outras escolas, mas que também não são as piores. “Apenas somos diferentes”. Ele ainda assegura que a evasão de alunos é praticamente zero e, em relação aos professores, a evasão é nula. Ele sustenta que existe fila de professores querendo uma vaga nos colégios militares de Goiás.
Histórico
O Colégio Militar do Estado de Goiás foi criado pela lei 8. 125 de julho de 1976, no artigo 23, inciso I -, pelo então governador Irapuan Costa Júnior. A lei trata da organização básica da PM goiana. Porém, somente 23 anos depois foi estruturado pela Portaria de número 604 de 19 de novembro de 1998, dando início de fato às atividades com 440 alunos nas instalações da Academia da Polícia Militar no Setor Leste Universitário, com apenas seis salas de aula.
Após seis meses de funcionamento recebeu do então delegado Metropolitano de Educação, um prédio com 11 salas e torna-se a unidade Vasco dos Reis, na Rua 92A, Setor Sul. Com apenas dois anos de operação e uma demanda muito grande, no ano 2000 a unidade foi transferida para o Colégio Estadual Hugo de Carvalho Ramos, cedido pela Secretaria Estadual de Educação, que entregou a direção da escola para os militares, com mais de 1,7 mil alunos matriculados.
A escola militar possui um modelo de gestão compartilhada entre a Secretaria Estadual de Educação e a Polícia Militar. Atualmente, Goiás conta com 74 unidades sob o comando militar – estado com maior número de colégios militares.
Cilas Gontijo é estagiário do Jornal Opção em convênio com a UniAraguaia, sob a supervisão do editor PH Mota.