Centro de Goiânia: presente, passado e futuro
13 agosto 2023 às 00h01
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Pauta do dia: Centro de Goiânia. O objetivo é levantar qual o projeto que a Prefeitura tem para a região e ouvir o que a sociedade quer e precisa para o Setor Central. O relógio marcava 15h40 quando o repórter que vos escreve sai da redação do jornal, no Setor Nova Suíça. Como de costume, a luta contra o relógio é para chegar à tempo em uma entrevista agendada para às 16h em um sebo tradicional na Avenida Goiás. Se o trânsito colaborasse, chegaria a tempo.
Na Avenida 85, o primeiro obstáculo: um acidente. Um carro estava atravessado na pista, mas o guincho já tinha chegado para removê-lo. O imbróglio custou cinco minutos, justamente o tempo que cheguei atrasado. Isso porque, sem maiores intercorrências, consegui estacionar na mesma quadra do local onde tinha o encontro marcado.
Em uma poltrona, cercado de livros, estava o professor do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutor pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Tadeu Arrais. Ao avistar o repórter, o convida para sentar em uma mesa no canto da livraria. Antes de começar a entrevista, ele diz: “Isso é o Centro pra mim. O paraíso”, afirmou.
Caminhando pelo Centro, depois da conversar com o professor Tadeu por cerca de uma hora, ao avistar a fachada da lanchonete Esfiha Quente – umas das mais tradicionais da região -, na rua 4, resolvi entrar. Atrás do balcão estava Heloísa Estrela, que fundou a lanchonete em 1989 junto com o marido Paulo. Ao lado de dona Helô, estava o filho do casal Gustavo Estrela, que atendia os clientes no caixa. O comércio, passado de pai pra filho, é o sustento da família e alimenta quem frequenta o Setor Central há 34 anos.
Heloísa perguntou ao repórter sobre o que ele escreveria e já se antecipou, prevendo a resposta: “É sobre o projeto de revitalização do Centro?” Acenei com a cabeça que sim. Ela retrucou, incrédula: “Essa história é muito antiga. Já cansei de ver projetos que não deram em nada”, reclamou. Segundo ela, em campanhas políticas, chovem candidatos prometendo mudanças para a região, que nunca se concretizam.
A empresária lembra que o Centro já teve dias melhores, com mais movimento, mais vida. Ela lembra que a pandemia foi cruel. Viu muitos colegas comerciantes fecharem as portas. No entanto, ela lembra também que as obras do BRT, na Avenida Goiás, também afastaram a clientela. Apesar dos problemas, seu negócio resiste, mantendo a tradição que é herança para o filho.
E eu também não resisti a comer a famosa esfirra do Centro de Goiânia, com sabor de infância. Se existe lanche mais tradicional para o goianiense do que um salgado com refrigerante ou suco no balcão de uma lanchonete, eu desconheço. Provada a iguaria, agora sim, de barriga cheia e muitas ideias na cabeça, a reportagem pode começar a ser escrita, depois desse breve relato da vida de um dia comum no trabalho de um repórter.
Comércio prejudicado
O presidente da Associação Comercial e Industrial do Centro de Goiânia (Acic), Antônio Alves Ferreira Filho, lista que os principais problemas enfrentados por quem mora, trabalha ou transita pelo Centro são diversos e todos eles, somados, acabam por prejudicar, principalmente, o comércio local. “Tínhamos aqui grandes lojas que hoje não temos mais”, disse.
Ele reconhece que a pandemia contribuiu para a crise do comércio, mas destaca que as obras do BRT tiveram maior papel no fechamento de lojas da região. “As obras infindáveis e os fechamentos de ruas sem comunicação prévia prejudicaram absurdamente o Centro. A construção do BRT foi muito mais prejudicial do que a pandemia, que foi pra todos em todos os lugres. Sofremos com essas obras desde antes da Covid”, lembrou.
O empresário Paulo Márcio de Camargo está no Centro há 37 anos. Só na Avenida Goiás, há 24. Ele é sócio do Armazém do Livro, que já se chamou Bazar Cultural. Paulo e irmão têm outras lojas na cidade, mas o carinho pela loja do Setor Central é especial. Ao andar pela região hoje, ele se espanta com a quantidade de lojas fechadas. “Quando eu vim pra cá, não achava um ponto para alugar. Estava tudo aberto, muita gente circulando”, lembrou.
Para o dono da livraria, enfrentar a pandemia foi difícil, mas definiu as obras do BRT como “terríveis” para o comércio. “Foram anos, isso afastou a clientela. Não vinha ninguém, só vendia por telefone”. Mas ele resiste, apesar das dificuldades: “a única coisa que sei fazer é trabalhar com livro”, destacou.
Antônio, da Acic, aponta ainda como problemas do Centro os moradores em situação de rua e os ambulantes. “Os primeiros atrapalham a locomoção de quem é morador e de quem frequenta a região. Já os ambulantes são concorrência desleal para os comerciantes. Na Avenida Anhanguera, temos bancas que vendem sapatos de origem duvidosa na porta de loja de calçados. Mas não é que somos contra o ambulantes. A gente entende o problema social que isso gera.”, comentou.
A vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU/GO), Janaína de Holanda, cita o esvaziamento da região como um dos motivos pelos quais o Centro vive o que chama de situação de abandono. “Me parece até estratégico a falta de manutenção dos espaços”, pontuou.
Para Janaína, outro problema muito sério, que foi agravado com a pandemia, é o aumento da população em situação de rua na região. “Tem usuário de drogas, mas também tem uma população empobrecida e migrante, que não consegue pagar aluguel e ocupa o Centro”, explicou.
Trânsito intenso
O presidente da Acic reclama ainda que o trânsito intenso e a falta de vagas de estacionamento afasta a clientela. “Falo porque trabalho no Centro e estaciono no bairro. O cliente fala que não volta mais no Centro, só se for de Uber”, relatou. Mas o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO), Lamartine Moreira, discorda. Para ele, o trânsito tem solução. “Temos vias largas que, combinadas, podem fazer com que o trânsito flua”, declarou.
Já a vice-presidente do CAU/GO acredita que falta uma política pública séria. “Nenhuma cidade é sustentável e nenhum espaço é agradável quando é desenhado prioritariamente para o carro”, argumenta. E como exemplo, ela cita a cidade de Copenhague, na Dinamarca, que até a década de 70 era pensada para os carros e hoje é “desenhada” para as pessoas. “Estreitamento de calçada e alargamento de vias não é a solução. Temos que valorizar quem está à pé”, disse.
O diretor de Trânsito da Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM), Horácio Ferreira, explica que Goiânia foi planejada de forma que saem do Centro as principais vias que vão para os bairros. No entanto, ele acredita que o trânsito intenso e vagas insuficientes para o atendimento durante o período de procura maior é um problemas que não é exclusivo do Setor Central, mas inerente da região central de qualquer capital.
“As pessoas reclamam porque têm a cultura de querer estacionar o mais próximo possível do local onde vão. Mas falta de vaga não é desculpa para deixar de ir ao Centro”, comentou Horário. O diretor lembra ainda que na região Central a Área Azul existe para que, com um estacionamento rotativo, se democratize o espaço urbano. Assim, o próprio comércio local pode ser atendido e alcançado, atendendo o maior número de pessoas que passam pelo local.
O diretor de Trânsito garante que não faltam locais de vendas dos cartões da Área Azul. “São dezenas de pontos que podem atender. Todas as terças e quintas, as equipes da SMM distribuem os cartões nesses locais”, afirmou. No entanto, ele recomenda que os motoristas comprem antecipadamente os cartões. Quem é um frequentador assíduo tem a opção de comprar o talão com dez bilhetes que custa R$ 15. Para cada hora, é cobrado R$ 1,50. Por duas horas, o valor é R$ 2,50.
Sujeira e escuridão
Antônio denuncia ainda da falta de limpeza adequada na região. “Não tem lixeira suficiente nem tem recolhimento de lixo adequado. Antigamente, a gente tinha vários bancos na Avenida Goiás pra sentar. Hoje não tem mais. Falta mobiliário urbano. E a iluminação é precária. Vários postes estão com as luzes queimadas”, reclamou.
Sobre as reclamações de falta de limpeza urbana, a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) informou, em nota, que a varrição das ruas no Setor Central acontece durante o dia todo e é intensificada no período noturno. Ela é feita tanto no leito das ruas como também nas calçadas, garantindo a limpeza completa do local, afirmou a Comurg na nota. Além disso, a companhia garantiu que “realiza a coleta de lixo orgânico e a coleta seletiva, sempre durante a noite”.
Para facilitar o descarte correto, a Comurg instalou lixeiras nas calçadas, que disse ser “suficientes para atender a demanda da região”. De acordo com a companhia, a capital tem hoje cerca de 12 mil cestos de lixo instalados em via pública. Isso dá uma média de 12 lixeiras para cada 120 habitantes. Mas o órgão não soube precisar qual a quantidade exata que o Centro possui, mas disse que a maioria desse mobiliário urbano estaria alocado na região Central.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra), pedindo retorno sobre a reclamação da falta de iluminação no Setor Central, mas até o fechamento desta edição, não teve retorno.
Sensação de insegurança
Para o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO), Lamartine Moreira, os principais problemas do Centro de Goiânia são: o abandono, a falta de segurança e a falta de atrativos. “As lojas fecham, o trânsito morre. Sem pessoas, as ruas ficam perigosas”, disse. Segundo ele, para que a comunidade volte a frequentar a região, é preciso um projeto arrojado, que envolva a revitalização de fachadas.
Sobre a falta de segurança, a Polícia Militar de Goiás (PMGO) informou, em nota, que o policiamento é realizado diariamente na região do Centro de Goiânia. Mesmo assim, prometeu que “as atividades preventivas e ostensivas serão intensificadas”. Além disso, a PM orienta que, em caso de qualquer suspeita, a população deve acionar a viatura da polícia por meio do 190 oi pelo telefone funcional (62) 99611-3622.
Os dados divulgados pela polícia mostram queda da criminalidade no Setor Central no mês passado, comparado com juulho de 2022. Por exemplo: o roubo a comércio apresentou queda de 71,43%. Outros crimes também tiveram redução: estupro: (-33,33%), homicídio tentado (-66,67%), roubo a transeunte (-32,35%), furto de veículos (-43,75%), furto a transeunte (-46,23%), furto em comércio (-29%) e furto em residência (-37,04%).
Patrimônio histórico
A solução para o Centro, na visão de Lamartine, passaria pela preservação do patrimônio art decó da cidade – o maior do Brasil. Goiânia em 22 prédios tombados pelo Instituto Nacional do Patrimônio Artístico Nacional (Iphan). E é na Praça Cívica que ficam a metade deles: são 11 só ali, incluindo o Palácio das Esmeraldas, a sede do governo do Estado. A algumas quadras, ainda ficam o Lyceu de Goiânia e a antiga Estação Ferroviária.
E essa preservação ajudaria, para o presidente do Crea-Go, a tornar o Setor Central mais atrativo. “Se tivéssemos todos os prédios preservados, como é na Cidade de Goiás, estaria lotado de turistas. Poderia ter visitas guiadas, como é feito em cidades na Europa”, sugeriu. Além disso, é preciso atrair opções de lazer que funcionem no período noturno. “Se os bares do Marista fossem no Centro, a região seria movimentada à noite”, comentou.
A vice-presidente do CAU/GO também reforça a importância de se preservar o patrimônio art decó de Goiânia que está no Centro. Mas, além disso, para ela, é preciso trazer as pessoas de volta para a região Central. “Pode-se criar programas de requalificação para habitação de interesse social ou para primeira moradia para uma população jovem que está disposta a ir para o Setor Central”, sugere Janaína.
O presidente da Acic acredita que um projeto de recuperação de fachadas pode trazer mais turistas para o Centro, mas lembra que é algo que vai sair caro. Por isso, deve ser atrativo para o empresário. “A Prefeitura querer que o empresário gaste R$ 100 mil para revitalizar uma fachada e oferecer um desconto de isenção de imposto por 2 ou 3 anos é pouco”, alegou. Justamente por isso, Antônio acredita que o que se vê no Setor Central é uma cidade “extremamente poluída visualmente”.
O empresário dono de livraria na Avenida Goiás também concorda com o projeto de limpeza das fachadas para recuperar a arquitetura original. No entanto, ele explica que os incentivos aos empresários, para isso, devem ser a longo prazo. “O governo deveria olhar para Centro com carinho, como se olha para uma namorada”, arrematou o empresário.
O representante dos comerciantes do Centro reclama ainda do valor do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). “A revisão do tributo foi injusta. “Os imóveis do Setor Central há 40 anos eram bem valorizados. Hoje em dia, essa regra se inverteu. Ninguém vai vir pra cá pra pagar IPTU alto. Esse é um motivo de preocupação que pesa no bolso”, destacou.
O presidente da Acic reconhece que já foi recebido pelo prefeito Rogério Cruz (Republicanos) em três ocasiões. “Nos encontros, a gente conversa, faz pedido, mas não é atendido. Infelizmente, falta ação. A gente não está pedindo invenção de moda. Pedimos que se cumpra o código de posturas”, arrematou. “O que a Prefeitura está disposta a fazer já vai chegar tarde”, completou o presidente da Acic.
Entidades cobram diálogo
Já foi amplamente divulgado pela imprensa que a Prefeitura de Goiânia está desenvolvendo um projeto de requalificação do Centro de Goiânia. No entanto, até o momento, ninguém sabe dos detalhes desse novo programa, o que gera curiosidade não só de quem vive ou trabalha no local, mas também das instituições que poderiam estar envolvidas nesse processo.
A vice-presidente do CAU/GO afirmou à reportagem que não foi em nenhum momento convidada pela Prefeitura para discutir o Centro. O mesmo disse o presidente do Crea-GO, que reclamou ainda que o conselho que preside não foi consultado nem teve acesso ao projeto. “O Crea está sendo esquecido. A gente questiona, mas é para o bem. Não colocamos empecilho para o progresso. Somos amigos da sociedade e, fiscalizando, a gente a ajuda a comunidade”, afirmou.
Justamente por isso, o presidente da Acic cobra mais diálogo da Prefeitura com relação ao projeto que deve impactar a vida de tantos. “Queremos mais do que qualquer pessoa conhecer o conteúdo disso”, declarou ele, que trabalha na região desde 2005.
Para Janaína, seja qual for o projeto pensado para o Centro, deve ser focado nas pessoas e na qualificação do espaço urbano para elas. “E isso passa por uma mudança de postura. Que Goiânia nós queremos? Qual o desenho de espaço público eu quero”, questionou. E ela reforça que não pode ser um projeto de “um mandato só”. “Tem que passar de gestão para gestão. Tem que ser política pública”, reforçou.
A vice-presidente do CAU/GO pensa ainda que qualquer mudança proposta para o Setor Central deve ser um pacto entre o poder público e os diversos atores sociais envolvidos com o local, desde moradores até comerciantes. “Mas todos com um pensamento que ultrapasse a simples ideia do ‘eu quero uma vaga de estacionamento na porta do meu comércio’”, criticou.
Com a palavra, a Prefeitura
Em nota, a Secretaria Municipal de Finanças (Sefin) informou que as propostas que compõem o programa de requalificação do Centro de Goiânia ainda não foram apresentadas oficialmente para a sociedade, “por estarem em fase de desenvolvimento e estudo de impacto”. A expectativa é que o lançamento ocorra até o fim do ano.
Segundo a Sefin, o projeto vai levar em conta diversos fatores, divididos em oito tópicos: infraestrutura e serviços; regime urbanístico e legislação; fomento econômico; mobilidade urbana; desenvolvimento, cultura e esporte; valorização do patrimônio histórico-cultural; e segurança e fiscalização.
Na última quarta-feira, 8, as equipes da Sefin se reuniram com membros do Fórum do Setor Produtivo para viabilizar encontros com todos os segmentos, associações e representantes empresariais com atuação na região e/ou que possam ser beneficiados, para ouvir demandas, discutir se as soluções são suficientes para o propósito de tornar o Centro atrativo para as atividades e fazer as adequações necessárias.
Nesta semana, reuniões com segmentos da sociedade para discutir o Centro de Goiânia devem ser iniciadas. A nota enviada pela Sefin garante ainda que “todas as propostas, que ainda estão em análise, passarão obrigatoriamente pela validação do Conselho Municipal de Preservação de Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de Goiânia, que conta membros da sociedade civil organizada”.
O Centro não precisa ser requalificado, diz especialista
Para o professor Tadeu Arrais, um apaixonado pelo Centro, o bairro tem vida. “É um lugar de passagem extremamente conhecido, mas também um lugar de moradia. Concentra serviços e é ocupado por parcelas distintas da sociedade. Não é estéril”, explicou.
Dessa forma, redução de IPTU para parcelas da sociedade e alguns tipos de comércio, na visão do professor, seria uma saída para tornar a região ainda melhor, atraindo mais gente para morar e viver no local. “Na mesma rua em que se tem uma igreja gigantesca que não paga IPTU, o comércio é sobrecarregado com o imposto e não tem nenhum incentivo”, lembrou.
Segundo Tadeu, o discurso de requalificação do Centro da cidade, geralmente, aparece no período pré-eleitoral. “Porque ele é o que é fácil de falar. Não dá mais pra falar que é o asfalto ou o meio ambiente. Mas porque o Centro precisa ser requalificado?”, questionou o intelectual já com a resposta na ponta da língua: “Só uma pessoa que não conhece o Centro acredita que ele precisa ser requalificado”, criticou.
Ao assumir o discurso de que o Setor Central precisa de uma mudança estrutural, na visão de Tadeu, embute-se a ideia de o Centro está “perdido”. “Esse é o espaço mais dinâmico que se tem nessa cidade e não precisa de requalificação. O que é preciso é que a Prefeitura agregue políticas e reconheça as energias que têm no bairro”, pontuou.
Para Tadeu, os problemas do Centro são os mesmo de toda a cidade. A questão do lixo, do trânsito, de iluminação ou da insegurança, por exemplo, para ele, não é exclusividade do Setor Central. “Requalificar o Centro seria algo que se tem que fazer em qualquer bairro”. Mesmo assim, para ele, a região ganharia com pequenas intervenções, como, por exemplo, ocupar os becos com feiras de flores, frutas ou artesanato.
Sobre os ambulantes, o professor é categórico: “eles são a natureza do Centro. Em que grande cidade do mundo não existe ambulante?”. Já a questão dos moradores em situação de rua é estrutural e só resolve com moradia gratuita e investimento em assistência social, segundo Tadeu. “Mesmo com todos os problemas, isso não tira a natureza do centro”, resumiu.
Para finalizar, Tadeu destacou ainda o preconceito que as elites têm com o Centro. E o motivo é a diversidade que o bairro tem. “Elas estranham o burburinho, estranham o camelô, estranham a pessoa que vem pedir um trocado. Elas têm medo”, resumiu.
Há 20 anos, Prefeitura tentava “revitalizar” o Centro
Em 1998, o ex-prefeito Nion Albernaz – já em seu terceiro mandato na Prefeitura – iniciou um projeto de revitalização do Centro da capital, o chamado Plano Goiânia 21. A ideia buscava incentivar atividades culturais na região. Era uma oportunidade para que a marca do tucano fosse além da “cidade das flores”. Mesmo assim, foi dado o primeiro passo ao propor ideias de urbanização que visavam facilitar o tráfego e melhorar a convívio dos moradores locais.
Foi nessa época em que começou a ser discutido a criação de um centro cultural no Teatro Goiânia, que hoje já é realidade com a Vila Cultural Cora Coralina; a reforma do Estádio Olímpico, já concluída; a restauração e reforma da Praça Cívica, com a proibição de uso como estacionamento e o veto a realização de eventos; e a restauração de vias com monumentos históricos, como a Avenida Goiás.
Nion, em seu terceiro mandato como prefeito, administrou Goiânia de 1997 a 2001. Em 2000, o Jornal Opção noticiou a vinda de dois arquitetos e um geógrafo da Universidade Politécnica da Catalunha: Antonio Moro Domingo, Jordi Franquesa i Sanchez e Antonio Lista Martin, respectivamente. O objetivo era que eles assessorassem o projeto de revitalização.
Na reportagem de José Maria e Silva, do final de março de 2000, os especialistas “importados” da Europa já avisavam que o Centro não precisava de revitalização, mas de ordenamento. O trânsito de Goiânia chamou a atenção dos espanhóis. E na época, eles apontaram que o que faltava à nossa capital era mais atenção com o pedestre. “Em Barcelona, apesar do maior número de veículos, o pedestre anda tranquilamente nas ruas”, comparou o arquiteto Jordi.
Na ocasião, Antonio Martin se mostrou espantado com a Avenida Anhanguera: “É um absurdo”, disse à época. Para ele, as defensas que até hoje existem para dividir a linha do ônibus do restante da via não faziam sentido algum. “Defender o pedestre de quem? Da cidade? Elas atacam o pedestre”, comentou.