Bolsonaro segue sem se filiar, ameaçando alianças regionais

21 novembro 2021 às 00h00

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O Jornal Opção falou especialistas e cientistas políticos do Estado de Goiás para explicar o fenômeno do bolsonarismo em meio a construção para as eleições de 2022
Há dois anos o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), tenta viabilizar a sua filiação e de todo o grupo bolsonarista a alguma sigla. Já se discutiu a hipótese de criação do Aliança Pelo Brasil – que não prosseguiu. Falou-se na filiação ao PTB, PP, Patriota, Republicanos e, mais recentemente, a da inserção do presidente no PL, de Valdemar da Costa Neto, que foi adiada após o presidente exigir que o partido refluísse de um eventual apoio ao candidato de João Dória (PSDB) ao governo de São Paulo, que deve ser Rodrigo Garcia (PSDB).
Esta foi apenas uma das exigências de Bolsonaro, porém é possível citar outras, como a do próprio Estado de Goiás, onde o deputado Vitor Hugo (PSL) tenta viabilizar a sua candidatura ao governo e o PL quer apoiar o nome do prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (sem partido).
Isso tudo está acontecendo porque o presidente pede “carta branca” para levar o seu grupo para um novo partido, porém desta vez o presidente terá que ceder para conseguir uma sigla com maior capilaridade e maiores recursos.
O jornal Opção conversou com cientistas políticos do Estado para explicar o fenômeno bolsonarista. A professora e mestre em Ciência Política Denise Paiva, a cientista política Ludmila Rosa e o professor e mestre em Ciência Política Wilson Ferreira da Cunha, divergem sobre a importância da filiação de Bolsonaro.
De acordo com a cientista política Ludmila Rosa e a professora Denise Paiva o presidente da República pede muito para levar o seu grupo para uma nova sigla, porém, desta vez o presidente terá que ceder e conversar com as lideranças, porque, diferente das eleições de 2018, quando foi candidato a presidência sem recursos, tempo de TV e apoio de lideranças regionais.
Estas exigências e condicionantes, de acordo com a cientista política Ludmila Rosa, não devem se consolidar, independentemente da “carta branca” que o presidente Nacional do PL, Valdemar da Costa, pretende dar para Bolsonaro.
Ela acredita que uma das motivações é porque o presidente está procurando um partido para chamar de seu, porque Bolsonaro teria percebido a importância do partido, principalmente nas eleições de 2022, onde ele vai precisar de um palanque para se candidatar.
“Na minha concepção, isso é evidenciado na busca de Bolsonaro por partidos médios e grandes. A busca por PP, PL e Republicanos demonstram que o presidenciável está procurando partidos com tempo de tv e um pouco de dinheiro, diferente do que aconteceu em 2018, que foi uma eleição suigeneres”, comentou a especialista.
A professora Denise Paiva também exemplifica que deve ser um partido de centro e centro-direita, como é o caso destes partidos mencionados e que estão em evidência entre os bolsonaristas. E é justamente nesta busca por um partido mais consolidado que Bolsonaro estaria enfrentando alguns entraves.
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Isso acontece porque, de acordo com a especialista, o presidente da República está procurando espaço em entidades que já têm uma estrutura própria, com membros renomados e lideranças já consolidadas, que muitas vezes não atendem as demandas de Bolsonaro, porque ele quer um partido de porteira fechada, “e isso não vai acontecer”.
“Quando ele impõe condições, como a retirada do apoio à candidatura tucana em São Paulo, fica muito difícil para que os partidos aceitem esta filiação. É muito difícil que isso aconteça, porque os partidos constroem coligações e organizam as suas siglas de acordo com a realidade regional e essa liberdade cria um conflito”, explica a professora.
O cerco está se fechando
Com prazo de seis meses antes do pleito para estar filiado a uma agremiação, o presidente da República tem até março para anunciar para onde está indo, para que os seus apoiadores o sigam, ou procurem outra sigla para tentar montar uma estrutura regional, que dê apoio à candidatura de Bolsonaro.
O aumento nas discussões e nas ventilações de “para onde o Bolsonaro vai?” têm aumentado porque está se aproximando do fechamento do período em que os pré-candidatos precisa ser sanada.
“Até abril ele tem que decidir, senão ele precisará conceder ainda mais para o centrão para ter um partido”, explica Rosa, que acredita que não deve fugir de uma partida de centro de centro-direita.
“É muito imprevisível, porém eu não me surpreenderia que o Bolsonaro buscaria um partido menor, com uma decisão mais pragmática”. “Ele, porém, ficaria sem tempo de tv, sem dinheiro ele não poderá conversar e ficará sem palanque e vai aumentar o grau de dificuldade para a sua reeleição”, acrescentou.
Alianças
Faltando poucos meses, o presidente precisa decidir a sigla, até mesmo para que os seus apoiadores decidam as alianças, criar pontes e é um conjunto de elementos que tornam difícil esta adesão de Bolsonaro, porque o presidente não está conseguindo unanimidade e os seus próprios seguidores podem enfrentar dificuldades na construção eleitoral para as eleições de 2022, porque há uma estrutura regional e os bolsonaristas podem procurar espaço em outras agremiações, para viabilizar as suas candidaturas.
“Não é possível criar uma situação de norte a sul, isso não vai acontecer. Alguns dos seguidores mais fieis devem segui-lo, mas os deputados federais e políticos farão análise em cada diretório, porque a definição é regional, e a construção não será feita pelo presidente”, explica a professora Denise Paiva.
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Ela, inclusive, faz uma analogia ao “casamento perfeito” que Bolsonaro está procurando, que precisa ser, “100%” ou “99%”. “O casamento perfeito não vai acontecer, mas ele terá que fazer concessões para aderir a uma sigla maior. Uma coisa é o PTB, outra coisa é o PL e o PP. Quem quer que seja o presidente, este partido que tiver Bolsonaro terá condições e negociações, são dois interesses de Bolsonaro, mas vai chegar um momento que o tempo vai apertar muito, por isso a definição precisa acontecer”, comentou.
“Não é Bolsonaro que precisa de um partido, é o partido que precisa dele”
Professor Wilson Ferreira da Cunha, cientista político
Com uma opinião divergente, o cientista político Wilson Ferreira da Cunha acredita que o presidente da República tem espaço para imposições, porque foi eleito por 59 milhões de eleitores, que o elegeu com o mesmo discurso, “de antipetismo” e isso independe de uma filiação partidária.
De acordo com o professor, o problema para o presidente achar um partido tem sido o resultado de uma descrença da população e de Bolsonaro com a instituição partidária e Bolsonaro só procura partido porque “é uma exigência constitucional eleitoral do Brasil” e o período, segundo ele, é de “conversação”.
“É o partido que precisa de Bolsonaro, não é o Bolsonaro que não precisa de partido. Qualquer partido onde ele estiver não será o mesmo, porque o presidente precisa de um partido, que é uma instituição desacreditada”, acredita o especialista.
Para ele, os partidos que estão procurando Bolsonaro, não o contrário. E isso inclusive estaria se refletindo na carta branca que o PL está dando para o presidente da República ter o seu passe. “Eu acho que são estes partidos que estão o procurando, mas isso não terá nenhum problema para o Bolsonaro, porque o eleitor não está preocupado com isso”, comenta.
Puxadores
A busca por Bolsonaro vai de encontro a busca por um maior fundo eleitoral, maior tempo de tv e mais respaldo na negociação que o partido terá, independente, de qual governo estiver em mandato em 2023.
“Os partidos têm pesquisas de opinião dos partidos, e tem compreensão de que Bolsonaro terá dificuldades, mas eles sabem que a condição de ter um meio político, de ter uma grande bancada para discutir e definir as questões eleitorais”, explicou a especialista.