Opção cultural

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Com Thelonious Monk puxando o bonde, vai aí mais uma lista

Mais um Playlist Opção para a sua noite de sexta-feira! Aperte o play e se divirta. https://www.youtube.com/watch?v=_40V2lcxM7k https://www.youtube.com/watch?v=KDz5wVc-4QI https://www.youtube.com/watch?v=s1Kkl6jd9-Y&feature=youtu.be https://www.youtube.com/watch?v=S_7jacG2KsY https://www.youtube.com/watch?v=D7krrRoJpT0 https://www.youtube.com/watch?v=StYsZqLkuPI https://www.youtube.com/watch?v=AI6nIJ-anYQ  

Com base em texto de Padre Antônio Vieira, espetáculo “Antinomia” entra em cartaz nesta sexta-feira em Goiânia

Renato Mendonça Lucas dá tratamento dramático a texto de Pe. Vieira em que é relatado seu debate com outro padre jesuíta, Jerônimo Cattaneo, ocorrido em 1674,  a respeito do pensamento dos filósofos gentios Demócrito e Heráclito [caption id="attachment_93453" align="alignleft" width="620"] Cartaz de divulgação do espetáculo "Antinomia"[/caption] Nos próximos dias 5, 6, às 21h, e no dia 7, às 20h, ocorrem, no Teatro Goiânia, apresentações do espetáculo “Antinomia”, produzido pelo Gradiva Centro Cultural,  pela Associação dos Amigos do Art Film Festival, de Asolo-Itália (AFA) e pelo Núcleo Freudiano de Psicanálise em Goiânia. A direção está a cargo do psicanalista Renato Mendonça Lucas, que também atuará, junto com Celso Rabelo. O espetáculo tem como base o texto O Pranto e o Riso, ou as lágrimas de Heráclito defendidas em Roma pelo padre Antônio Vieira contra o riso de Demócrito, de autoria do próprio Pe. Vieira, escrito em decorrência do debate travado no palácio da rainha Cristina da Suécia, em Roma, com o padre Jerônimo Cattaneo, em 1674. [caption id="attachment_93450" align="alignleft" width="300"] Padre Antônio Vieira[/caption] Este debate entre dois padres pertencentes à Societas Jesu, Companhia de Jesus, na corte da rainha Cristina Alexandra, foi incitado pela própria rainha. O mote lançado por Cristina aos dois jesuítas na seguinte pergunta: “Qual dos dois gentios andara mais prudente? Demócrito, que ria sempre, ou Heráclito, que sempre chorava?” A questão lançada versava, evidentemente, sobre o modo como cada um dos filósofos gregos pré-socráticos compreendiam a condição humana, sempre temperada pelo finito e o eterno, o contingente e o imutável. Curiosamente, a rainha Cristina solicitou este debate num momento em que havia abdicado do trono de sua nação e abandonado a religião luterana, tendo-se convertido ao catolicismo. A proposta de Renato Mendonça Lucas e do Gradiva Centro Cultural com  “Antinomia” é semelhante àquelas que já foram levadas a cabo com rara maestria em espetáculos como “Laio”, “Entre 4 paredes” e “Entre 5 poetas”, qual seja: apresentar o texto clássico com dramaticidade peneirada pela psicanálise freudiana. A própria escolha da   palavra antinomia, de certa forma, revela esta preocupação, já que significa contradição entre visões doutrinárias ou prescritivas sobre determinado assunto – fenômeno que sempre esteve presente no seio da humanidade, desde os tempos mais remotos. É de se esperar, portanto, um clima inquietante, no qual serão apresentadas reflexões profundas sobre nossa condição. Reflexões estas que serão debatidas com o público, após o espetáculo. Abaixo, disponho um trecho do texto do Pe. Vieira. Em seguida, segue a parte do filme Palavra e Utopia (2000), do cineasta português Manoel de Oliveira, que retrata o referido debate, com o ator Luís Miguel Cintra interpretando  Vieira. Trecho do texto de Pe. Vieira

Há chorar com lágrimas, chorar sem lágrimas e chorar com riso: chorar com lágrimas é sinal de dor moderada, chorar sem lágrimas é sinal de maior dor; e chorar com riso é sinal de dor suma e excessiva... a dor moderada solta as lágrimas, a grande as enxuga, as congela, e as seca... A mesma causa, quando é moderada, e quando é excessiva, produz efeitos contrários: a luz moderada faz ver, a excessiva faz cegar; a dor, que não é excessiva, rompe em vozes, a excessiva, emudece. De sorte a tristeza, se é moderada, faz chorar, se é excessiva, pode fazer rir; no seu contrário temos o exemplo: a alegria excessiva faz chorar e não só destila as lágrimas dos corações dedicados e brandos, mas ainda dos fortes e duros. (...) Pois se a excessiva alegria é causa do pranto, a excessiva tristeza por que não será causa do riso e a ironia tem contrária significação do que soa; o riso de Demócrito, era ironia do pranto; ria, mas ironicamente, porque o seu riso era nascido de tristeza, e também a significava; eram lágrimas transformadas em risos metamorfoseados da dor; era riso, mas com lágrimas;(...).”
Trecho do filme “Palavra e Utopia”, de Manoel de Oliveira https://www.youtube.com/watch?v=Ipi-OwksfTU Serviço Antinomia Dias: 5, 6 e 7 de maio Horários: 21h (dias 5 e 6) e 20h (dia 7) Direção: Renato Mendonça Lucas Local: Teatro Goiânia Obs: Vendas antecipadas na LIVRARIA NOBEL/shopping Bougainville (somente em dinheiro) e no ESPAÇO VIP, rua 18 nº 127, setor oeste - em frente a antiga sede da TV Record - ( em dinheiro e débito automático).          

Em que pele tu habitas?

Novo filme de Olivier Assayas foi vaiado em Cannes, mas aplaudido na première e isso só mostra uma coisa: que quem pretende ver o filme, precisa manter a mente aberta [caption id="attachment_93277" align="alignleft" width="620"] Kristen Stewart dá vida à personagem Maureen Cartwright, uma pessoa que gostaria de ser outra, mas sem a certeza exata de quem[/caption] Numa primeira vista, "Personal Shopper" (2016), o filme mais recente de Olivier Assayas, parece um exercício burocrático de uma aula de roteiro da faculdade. "Faça um roteiro envolvendo o mundo da moda, com fantasmas e colocando uma pitada de drama e thriller psicológico". Mas o roteirista e diretor francês, famoso por nos apresentar "Acima das Nuvens" com Juliette Binoche, em 2014, consegue sair do convencional, entregando uma estória envolvente até o ponto em que consegue ligar esses elementos aparentemente desconexos. Como o próprio título entrega, o filme é inteiramente escorado em Maureen Cartwright (vivida por Kristen Stewart), contratada por uma celebridade francesa local para cuidar de seu guarda-roupas. A única missão de Maureen é percorrer as lojas mais famosas de Paris (aliás, chega a dar um pulo em Londres também) comprando roupas, sapatos e jóias para compor o visual de sua patroa. Sem limites no cartão de crédito. O que pode parecer divertido para muitos, entretanto, é uma tarefa extremamente enfadonha para a garota. Aliás, nesse ponto convém ressaltar a boa atuação de Kristen. Na sua carreira, em geral criticada pela inexpressividade e falta de adensamento psicológico na interpretação de seus personagens, a atriz agora convence no papel de uma jovem inexpressiva e corroída por uma vida vazia (há quem diga que Stewart continua a interpretar a si mesma, algo que demandaria uma análise mais detalhista. O fato é que, aqui, ela funciona até bem). Maureen, entretanto, busca algo mais em sua vida. Gostaria de ser outra pessoa, mas não tem certeza de quem. Coloca um olho comprido para cima dos glamourosos vestidos que compra para sua patroa, mas não se sente bem usando-os. Aliás, os veste escondida, puramente pelo prazer da adrenalina. Comprar um colar Cartier lhe é tão vazio quanto bater o cartão de ponto no final do expediente. Esse algo que falta na vida de Maureen provavelmente tem ligação com a morte de seu irmão Lewis, poucos meses antes, em decorrência de um mal súbito no coração. E aí surge uma dimensão diferente dada por Assayas ao longa – algo que incomodou os mais altos críticos de Cannes, onde o filme foi exibido pela primeira vez, no ano passado. Maureen e seu irmão Lewis possuem o dom sobrenatural de manter contato com espíritos. São médiuns. E combinaram, enquanto vivos, que o primeiro que se fosse enviaria um sinal ao que ficasse. O irmão se foi, e 95 dias depois do passamento, a irmã ainda não havia obtido nenhum sinal do além. Assayas, o roteirista, escolhe flertar com David Lynch e Stephen King, mas Assayas, o diretor, talvez tenha preferido tirar suas influências de Kubrick e Shyamalan. O resultado é um filme que, sem dúvidas, dá uma série de calafrios ao espectador, mas que acrescenta certa reflexão ao suspense. A constante utilização de uma fotografia mais densa, aliada à câmera na mão, traz a sensação de susto eminente. Mas isso não afasta o aprofundamento à crítica social do materialismo e da ostentação como formas de preenchimento existencial. "No fundo, todo mundo acredita em fantasmas, mas damos a eles nomes muito diferentes", declarou Assayas em Cannes, no ano passado. E o que ele quer dizer, basicamente, é que o meio imaterial – o que quer que isso seja – sempre prevalece ao material – qualquer que ele seja. O segundo é mero instrumento do primeiro. A busca de Maureen ao tentar se livrar do que ela é talvez se resolveria com a confirmação de que o irmão está bem, num mundo além. Confirmando essa busca pelo imaterial, aliás, a cena em que Kristen veste-se com as roupas da patroa e deita em sua cama traz um significado especial: a tentativa de despir-se de sua realidade e experimentar outra pele. O que culmina no prazer orgásmico. Aliás, algo interessante que Assayas incorpora em seu filme é a presença da tecnologia. Num contexto em que sua protagonista está se afogando num mar de itens de luxo, com um pé numa vida de ostentação, mas com o resto do corpo perdido num apartamento escuro de subúrbio, a desmaterialização é mostrada também em videoconferências pela internet, pequenos filmes explicativos de YouTube e numa troca de mensagens de celular. A certo ponto, chegamos a acompanhar minutos a fio de um diálogo tenso, sem piscar, vidrados na tela do smartphone de Maureen. O intertexto de mídias acena para a evolução do próprio cinema (é engraçado pensar que, na cena dos vídeos de YouTube, todos os espectadores do filme – inclusive os críticos de Cannes – assistiram a uma micro-projeção diretamente do iPhone 6 de Maureen). De certa forma, todo mundo busca salvação no invisível. Damos um jeito de atribuir ao oculto a origem e a solução de tudo o que não entendemos e, nesse processo, surge a impressão nítida de que a matéria nos prende, limita nossas impressões sobre a realidade. Sendo algo limitador, até quando exerce também interferência? "Quando os monstros da sua cabeça estão muito perto, sua sanidade pode entrar em colapso", declarou a própria Kristen sobre o filme, em Cannes. Apesar de vaiado pelos críticos na competitiva pela Palma de Ouro, foi ovacionado por mais de 4 minutos pelo público, após a première. E se o público e a crítica de Cannes não conseguiram chegar a um consenso sobre a obra, talvez seja esse o melhor conselho sobre o que esperar do filme: não espere nada. Mantenha a mente aberta e deixe-se surpreender. O filme está em exibição no Cine Cultura, na Praça Cívica, e terá uma sessão nesta quarta-feira, 3, às 16h30, e quatro sessões adicionais, de 7 a 10 de maio, também às 16h30.

Três traduções de Spanische Tänzerin, de Rainer Maria Rilke

[caption id="attachment_93257" align="alignleft" width="159"] Rainer Maria Rilke[/caption] A Terça Poética de hoje traz ao público três traduções, feitas por tradutores já consagrados pela crítica, no Brasil, do célebre poema Spanische Tänzerin, de Rainer Maria Rilke (1875-1926), um dos maiores poetas de língua alemã. Os tradutores em questão são: José Paulo Paes, Augusto de Campos e Geir Campos. Quem se arrisca (aqueles que entendem do riscado) a dizer qual delas é a mais fiel ao original, qual a mais fluida? Enfim, apreciem!   Spanische Tänzerin  Wie in der Hand ein Schwefelzündholz, weiß, eh es zur Flamme kommt, nach allen Seiten zuckende Zungen streckt -: beginnt im Kreis naher Beschauer hastig, hell und heiß ihr runder Tanz sich zuckend auszubreiten. Und plötzlich ist er Flamme, ganz und gar. Mit einem Blick entzündet sie ihr Haar und dreht auf einmal mit gewagter Kunst ihr ganzes Kleid in diese Feuersbrunst, aus welcher sich, wie Schlangen die erschrecken, die nackten Arme wach und klappernd strecken. Und dann: als würde ihr das Feuer knapp, nimmt sie es ganz zusamm und wirft es ab sehr herrisch, mit hochmütiger Gebärde und schaut: da liegt es rasend auf der Erde und flammt noch immer und ergiebt sich nicht -. Doch sieghaft, sicher und mit einem süßen grüßenden Lächeln hebt sie ihr Gesicht und stampft es aus mit kleinen Füßen. Rainer Maria Rilke, Jun. 1906, Paris TRADUÇÕES Bailarina Espanhola Como um palito de fósforo na mão, alvar antes de, aceso, estender suas línguas ardentes para todos os lados – a dança circular de junto do espectador começa a alargar seus círculos, clara, célere e cálida sempre. E eis que de súbito se faz chama a dança inteira. Com o olhar, a bailarina inflama a cabeleira e, com a arte ousada, de um só golpe distende o seu vestido todo num rodopiar de incêndio do qual, serpentes, em desnudez e susto vão surgir os braços despertos, num bater de mãos. Depois, como se fosse pouco, ela junta o fogo e o atira para longe, num gesto de arrogo, repentino, imperioso, e contempla, enlevada, ele estorcer-se no chão, sempre, sem perder nada da sua fúria, numa recusa de apagar-se. Triunfante e segura, com um sorriso amável, ela saúda então, ergue o rosto e sem disfarce o esmaga com seus pezinhos implacáveis. (Tradução: José Paulo Paes) Dançarina Espanhola Como um fósforo a arder antes que cresça a flama, distendendo em raios brancos suas línguas de luz, assim começa e se alastra ao redor, ágil e ardente, a dança em arco aos trêmulos arrancos. E logo ela é só flama, inteiramente. Com um olhar põe fogo nos cabelos e com a arte sutil dos tornozelos incendeia também os seus vestidos de onde, serpentes doidas, a rompê-los, saltam os braços nus com estalidos. Então, como se fosse um feixe aceso, colhe o fogo num gesto de desprezo, atira-o bruscamente no tablado e o contempla. Ei-lo ao rés do chão, irado, a sustentar ainda a chama viva. Mas ela, do alto, num leve sorriso de saudação, erguendo a fronte altiva, pisa-o com seu pequeno pé preciso. (Tradução: Augusto de Campos) Dançarina Espanhola Tal como um fósforo na mão descansa antes de bruscamente arrebentar na chama que em redor mil línguas lança – dentro do anel de olhos começa a dança ardente, num crescendo circular. E de repente é tudo apenas chama. No olhar aceso ela o cabelo inflama, e faz girar com arte a roupa inteira ao calor dessa esplêndida fogueira de onde seus braços, chacoalhando anéis, saltam nus como doidas cascavéis. Quando escasseia o fogo em torno, então ela o agarra inteiro e o joga ao chão num violento gesto de desdém, e altiva o fita: furioso e sem render-se embora, sempre flamejando. E ela, com doce riso triunfal, ergue a fronte num cumprimento: e é quando o esmaga entre os pés ágeis, afinal. (Tradução: Geir Campos)

Representante do UK82, banda inglesa GBH desembarca nesta segunda em Goiânia

Ao lado dos grupos Death From Above, Lobinho e os 3 Porcão, Ímpeto, Os Cabeloduro (DF) e Desastre, o quarteto de Birmingham se apresenta no Martim Cererê

Pilar del Río e o Juízo de Deus

Se Pilar reclama a certa altura a presença de Saramago como maldição incontornável, talvez interesse muito mais anotar como ela afirma a si mesma biográfica e politicamente [caption id="attachment_93206" align="aligncenter" width="620"] Jornalista e escritora espanhola Pilar del Río[/caption] Thiago Cazarim Especial para o Jornal Opção Na manchete da entrevista Pilar del Rio: “José foi uma maldição”, que pode ser acessada aqui, publicada no último dia 30, o portal português Expresso produz, apenas como fogo-de-artifício, um conflito José Saramago e Pilar del Río – conflito em verdade, que até mesmo uma leitura superficial seria capaz de desacreditar. Pilar, que se nega a ser uma função de Saramago (“Não gosto que me chamem ‘viúva de’ porque ninguém me chamou ‘mulher de’ enquanto Saramago foi vivo. [...] Nunca fui a mulher de Saramago nem serei a viúva dele, por respeito a Saramago e a mim própria.”), Pilar del Río, cuja forma sintática geral “ser-X-de-Saramago” não pode sequer alcançar, não deixa de mostrar como a estatura de Saramago eclipsa um drama personalíssimo e ao mesmo tempo universal: o da mulher sem lugar no mundo. Pilar se constrói, nesta brilhante entrevista, como emblema da falta, dessa marca oca que ainda constitui para tantas mulheres cruz e calvário. Ou seria o oposto? Se Pilar reclama a certa altura a presença de Saramago como maldição incontornável, talvez interesse muito mais anotar como ela afirma a si mesma biográfica e politicamente. Num período vasto, atravessando uma História que vai do franquismo ao presente, Pilar faz atravessar uma segunda História junto com a primeira, por meio da qual precisamente a tríade Deus-Pátria-Família, sustentáculo das ditaduras ocidentais, são roídas por dentro em cada um de seus elementos. Filha mais velha de quinze irmãos, carregou a maldição de dividir com a mãe o cuidado com uma prole que não a sua. Maldição que forjou para si o benefício de uma maturidade prematura. Maldição cujo benefício a jornalista não rejeita – mas que tampouco lhe serve de bode expiatório para explicar a si mesma como mãe: “Fui uma má mãe, porque sempre pensei que seria a vida a educar o meu filho e não eu. Nunca pensei no que queria ser como mãe, tinha outras coisas que fazer”. Nas inúmeras linhas-de-fuga de sua biografia, Pilar dá a entender enfim porque não se pode entender sua relação com Saramago no modelo de família tradicionalmente aceito. Família, esta maldição ainda maior que a de Saramago, esbarra sempre na compreensão equivocada de ser-um, rejeitada de cara quando Pilar diz que “tinham de enfrentar Saramago e tinham de me enfrentar a mim. Cada um de nós é o produto de si próprio. Não somos nem do pai nem do filho. Somos o que queremos ser”. A afirmação de sua independência em relação a Saramago e à Pátria (espanhola ou portuguesa) convergem para evidenciar uma estratégia de existência de rara sagacidade e eloquência. Pilar, que parece se debater contra a constatação de que é uma personalidade sem lugar na memória portuguesa, mulher que também não encontra no pai e na ditadura de Franco qualquer possibilidade de negociação e convivência, tampouco construiu sua vida escapando da História que não lhe concedeu morada. É dessa falta de lugar, é nesse não-lugar, que ela escolhe jogar com todos os lugares delimitados para fazê-los estremecer. Dois vértices dessa convergência são exemplares. O primeiro, político, questiona a ideia de Pátria pela constatação do falseamento histórico-teológico da Espanha sob o regime de Franco, do qual a família participou como cúmplice ativo: “Em criança sabia que vivíamos num país criado por obra e graça de Deus. Sabia que Deus tinha criado Franco para fazer o país preferido dele”; “já o tinha aprendido em casa: Deus criou Franco e Espanha!”. E se Pilar adotou Portugal como seu país ao requerer cidadania portuguesa, o fez não por um sentimento de pertencimento nacional ou simbólico, mas tão somente para escolher a quem deveria pagar seus impostos – o que lhe permitiu, de acordo com ela mesma, adquirir reconhecimento jurídico para opinar sobre os rumos do país. (“Para mim, não existem países. Tenho semelhantes. O que é que herdei do franquismo? A repulsão pela bandeira.”) O segundo pilar da existência de Pilar, biográfico, expressou-se na opção pragmática pelo casamento religioso “para não dar um desgosto à minha mãe, que vivia uma guerra civil e não tinha de suportar as iras do meu pai. Porém, a palavra ‘família’ provoca-me fastio, repugna-me. [...] Fi-lo para não aumentar o conflito entre a minha mãe e o meu pai. Para mim, era igual, queria lá saber da religião. Casei-me pela Igreja porque a religião não me dizia nada. Era como pôr um vestido comprido para ir a uma festa social ou usar uma joia, tanto me fazia. Deus não significa nada para mim”. Casou-se não por convicção religiosa, mas por uma aguda sabedoria prática que compreende seus limites provisórios sem ceder passivamente a eles. Pilar aceita duas vezes as regras de um jogo que ela buscou subverter. Duas vezes, uma pela denúncia da hipocrisia política do nacionalismo, outra por um sentido prático de vida que transborda os limites da família, Pilar põe na mira um mesmo réu: Deus. Ainda que afirme que redescobriu um sentido de religião que preenche sua vida (religião como amor, caridade, partilha, solidariedade), Deus é a figura à qual Pilar não cede, mas de quem tampouco escapa: “Se há um Deus, ele vai perceber que tudo o que inventaram à sua volta é uma merda. Quero que haja um Deus para lhe pedir contas sobre o que fez aos seres humanos, às mulheres”. Quando chama Deus para Seu julgamento, o que ela faz adquire o mesmo sentido de sua relação com Saramago: não aniquilá-Lo, não fundi-Lo com seus pares para aliviar o peso sua singularidade; antes, afirmá-Lo no nível de sua própria existência, fazer com que Ele dê um relato, explique a responsabilidade que Lhe compete por aquilo que outros o incitaram a assumir como Sua obra. Trata-se de se negar a fugir de Deus, desejar que Ele exista para destituí-Lo de sua toga e fazer com se tome assento no banco dos julgados (e isso no momento em que a Ele competiria emitir juízo). Talvez seja o momento também de Portugal prestar contas a Pilar pela parte que lhe cabe na maldição de Saramago. Não simplesmente por tornar Saramago ainda mais insuperável do que de fato pode ser e será um dia. Mas por ainda não conferir a Pilar a dignidade na vida cultural portuguesa que lhe é merecida. Que o Prêmio Luso-Espanhol de Cultura que lhe será entregue em maio em ocasião de seu trabalho na Fundação Saramago faça mais que lhe dar um lugar na memória de Portugal: que ele saiba acolher esse não-lugar e todos os terremotos que a vida pública de Pilar del Río têm dado à cultura da Europa e do mundo. Assim como Pilar não escapa de Deus, talvez também Portugal não deva escapar dessa memória falha: somente afirmando a fragilidade de quem não tem lugar é que se pode exigir que se preste contas pelas faltas cometidas. Thiago Cazarim é bacharel em música e mestre em filosofia.

“Waking Life”: o que é sonho e o que é real?

Filme de Richard Linklater desperta o interesse daquele espectador disposto e preparado a pensar   Ana Paula Carreiro Especial para o Jornal Opção Em “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (2001), dirigido por Jean-Pierre Jeunet, em determinado momento é dito a Amélie, uma jovem sonhadora, a seguinte frase: “São tempos difíceis para os sonhadores”. Esta frase, apenas um pouco diferente, se repete em “Waking Life” (2001), quando outro sonhador encontra a personagem principal e afirma: “As coisas andam difíceis para os sonhadores”. [relacionadas artigos="93155"] Com roteiro não linear e extremamente denso, o filme, que é dirigido pelo cineasta e escritor norte-americano Richard Linklater, retrata as experiências de alguém que não consegue acordar de um sonho e que passa a encontrar pessoas em seu mundo imaginário com quem têm diálogos e discussões existenciais. O longa-metragem, que foi filmado com atores e depois finalizado através do rotoscópio para simular a animação em flash, começa com a seguinte frase: “Sonho é destino”, mostrando a longa viagem feita pela consciência na tentativa de compreender a vida. Além de ser uma experiência cinematográfica, “Waking Life” é também uma experiência filosófica que trata, dentre outros assuntos, do existencialismo de Jean-Paul Sartre e dos pensamentos de Aristóteles, Platão e Nietzsche. Em um dos primeiros diálogos do filme, encontramos Ethan Hawke e Julie Delpy discutindo sobre a sensação de que estamos observando nossa vida da perspectiva de uma velha à beira da morte, como se a vida desperta fosse composta por lembranças e os seis a doze minutos de atividade cerebral depois que tudo se apaga fossem toda a nossa vida. Trechos do próprio filme explicam à personagem principal o motivo de sonhos serem confundidos com a realidade: “Dizem que os sonhos somente são reais enquanto duram. Não podemos dizer isso da vida? Muitos de nós estão mapeando a relação mente-corpo dos sonhos. Somos chamados onironautas, exploradores do mundo onírico. Há dois estados opostos de consciência, que de modo algum se opõem. Na vida desperta, o sistema nervoso inibe a vivacidade das recordações. É coerente com a evolução. Seria pouco eficiente se um predador pudesse ser confundido com a lembrança de um outro e vice-versa. Se a lembrança de um predador gerasse uma imagem perceptiva, fugiríamos quando tivéssemos um pensamento amedrontador. Nossos neurônios serotonínicos inibem as alucinações. Eles próprios são inibidos no sono REM. Isso permite que os sonhos pareçam reais, mas bloqueia a concorrência de outras percepções. Por isso os sonhos são confundidos com a realidade. Para o sistema funcional de atividade neurológica, que cria o nosso mundo, não há diferença entre uma percepção, ou uma ação sonhada e uma percepção, e uma ação na vida desperta”. Em vários trechos, pode-se observar também críticas à sociedade atual: “Se o mundo é falso e nada é real, então tudo é possível. A caminho de descobrir o que amamos, achamos o que bloqueia o nosso desejo. O conforto jamais será confortável. Um questionamento sistemático da felicidade. Corte as cordas vocais dos oradores carismáticos e desvalorize a moeda. Para confrontar o familiar. A sociedade é uma fraude tamanha e venal que exige ser destruída sem deixar rastros. Se há fogo, levaremos gasolina. Interrompa a experiência cotidiana e as expectativas que ela traz. Viva como se tudo dependesse de suas ações. Rompa o feitiço da sociedade de consumo para que nossos desejos reprimidos possam se manifestar. Demonstre o que a vida é e o que ela poderia ser. Para imergirmos no esquecimento dos atos. Haverá uma intensidade inédita. A troca de amor e ódio, vida e morte, terror e redenção. A afirmação tão inconsequente da liberdade, que nega o limite”. A estética chama a atenção, mas “Waking Life” não é um filme para todos os públicos. A temática é bastante densa e exige do telespectador atenção, sendo assim recomendado que se assista o filme mais de uma vez para absorver tudo o que é passado. Por ser um filme todo construído em diálogos quase socráticos, ele provavelmente será um pouco chato e entediante para pessoas que gostam de filmes com muita ação. No entanto, para os que se interessam em discursos fortes, o filme é uma boa fonte de informação sobre humanidades que vão da antropologia às artes e cultura. O filme desperta o interesse do espectador disposto e preparado a pensar. A questão existencial e a linha tênue que separa o sonho da realidade são os seus aspectos mais marcantes. Se você quer desfrutar de uma animação rica em todos os sentidos, assista “Waking Life” e tenha uma ótima experiência. Ana Paula Carreiro é estudante de Jornalismo

“Guardiões da Galáxia Vol. 2” é o elo forte da Marvel no cinema

Sim, este é melhor que o primeiro e, talvez, o  melhor filme da Marvel até o momento Ana Amélia Ribeiro Especial para o Jornal Opção Preciso começar esse texto dizendo que, sim, “Guardiões da Galáxia Vol. 2” é melhor que o primeiro, quiçá melhor filme da Marvel. Além de ser um pouco repugnante e nojento (Calma, já explico). Em 2014, a Marvel iniciou sua segunda fase no Universo Cinematográfico (MCU) e “Guardiões da Galáxia” era um filme que não chamava muita atenção do grande público, porque mostrava, na época, uma espécie de “heróis B” dos quadrinhos. Depois de sua estreia, o longa chamou a atenção do público por ser diferente. Com a direção de James Gunn, o filme conta a história de um grupo de “super-heróis” formado por: Senhor das Estrelas, Peter Quill (Chris Pratt), Groot, uma árvore humanóide (Vin Diesel), o guaxinim Rocket Racoon (Bradley Cooper), Gamora (Zoe Saldana), e Drax, o Destruidor (Dave Bautista). Juntos, eles lutaram para proteger um orbe que continha uma das Joias do Infinito contra o vilão Ronan, da raça kree, que é um servo de Thanos. O filme seguiu à risca a fórmula de sucesso da Marvel no cinema, indo na contramão de tudo que foi produzido até então fora do MCU, e teve a quinta maior arrecadação dentre os filmes desse universo, ficando atrás apenas dos dois “Vingadores”, “Homem de Ferro 3” e “Guerra Civil”. Já em “Guardiões da Galáxia Vol. 2” não há Joias do Infinito, nem muitas referências ao MCU – é apenas um grupo de desajeitados aprendendo a trabalhar em equipe enquanto se solidificam e se constroem como família. “Guardiões” é basicamente um drama familiar, com altas doses de ironias e humor, mas sem ser piegas, embora um pouco clichê. O filme mostra a construção de relacionamentos, desde o amoroso com o “lance não verbalizado” entre Peter e Gamora, passando pela amizade com Rocket e Yondu (Michael Rooker), e chegando ao duelo e rivalidade entre as irmãs Gamora e Nebula (Karen Gillan). E ainda há o mais pesado de todos os laços: o paternal entre Peter e Ego (Kurt Russel). James Gunn é o diretor e roteirista que articula todas essas histórias de forma simultânea e de maneira surpreendente. O fato de usar o Planeta Vivo Ego como pai do Senhor das Estrelas, por exemplo, foi uma surpresa para todos que são leitores de quadrinhos. O motivo é simples: Ego é uma personagem recorrente do “Quarteto Fantástico” nas HQs, e o Quarteto não pertence ao MCU, visto que seus direitos são da FOX. Quando Gunn escreveu o roteiro de “Guardiões”, ele não sabia que o personagem que viria a ser interpretado por Kurt Russel não era do casting que ele tinha disponível das personagens, e isso já tinha acontecido no primeiro filme, quando ele quis usar a raça alienígena dos Badoons – que também tem origem no Quarteto Fantástico –, e acabou tendo de substituir a Irmandade pela raça Kree no filme. E como James Gunn conseguiu autorização para usar Ego? A resposta é: Deadpool. Paul Wernick, o roteirista do filme do mercenário tagarela, revelou em uma entrevista que, enquanto escrevia a trama do longa, acabou modificando os poderes da personagem Negasonic Teenage Warhead (Brianna Hildebrand). Nas HQs, a moça tem poderes psíquicos e isso não se encaixava ao que Tim Miller, o diretor do filme, queria para a história. Então, eles pediram autorização da Marvel, que concedeu a mudança, mas (porém, contudo, entretanto, todavia) colocaram uma condição para entrar em acordo: ganhar um personagem em troca. Que personagem foi esse? Ego, o Planeta Vivo. James Gunn poderia ter optado pelo caminho mais fácil, e ter utilizado o personagem J’son Spartax, que teve um conflito com Ronan nas HQs, e que atualmente nos quadrinhos é o pai de Peter, mas preferiu inovar. Quando se escreve um filme sobre HQs, o leque de histórias é extenso, pois os enredos vão se alterando com os novos arcos criados, e novas Terras que vão surgindo. E desde a origem de Peter muita coisa mudou: ele já foi filho de Ego, e atualmente é filho de J’son. [caption id="attachment_93172" align="alignright" width="300"] James Gunn, diretor do filme[/caption] Se James Gunn tivesse usado o Rei Spartax no filme, ele teria que trabalhar diretamente no MCU, e o diretor de “Guardiões” quis fazer um filme que fosse outsider do universo; mesmo citando Thanos algumas vezes, ele não queria trabalhar tantas personagens assim e, usando J’son no enredo da trama, ele teria que trabalhar com o Rei Titã. Não era essa a intenção. De forma geral na história de “Guardiões”, chega um ponto em que há muitos personagens. James Gunn disse, em entrevista ao site “/Film”, achar que os irmãos Anthony e Joseph Russo, em “Guerra Civil”, lidaram muito bem com esse tipo de situação de muitos personagens em cena, mas reconheceu que em “Guardiões” os personagens eram menores, e que durante o longa cada um teria seu próprio arco, sua própria “coisa”. Pensando assim, ele então tirou alguns personagens da história mais ou menos na metade da fase de tratamento. Foi esse o filme que chegou aos cinemas no dia 27 de abril, cheio de referências ao universo espacial da Marvel, com os galãs brucutus dos anos 80, Baby Groot sendo fofo, nostalgia de videogames e, claro, uma trilha sonora do caramba. Então, agora que você já sabe de tudo o que aconteceu para que esse filme chegasse até aos cinemas, vamos ao que realmente interessa.

A corrente, a família e elo chamado Yondu

[caption id="attachment_93173" align="alignleft" width="300"] Yondu, personagem de Michael Rooker[/caption] Desta vez, Peter Quill e sua tripulação na espaçonave Milano estão fugindo de uma raça banhada a ouro de alienígenas geneticamente perfeitos chamada Sovereign. Eles recrutaram os Guardiões para uma missão, em que eles têm que impedir que um monstro destrua as baterias muito caras e muito importantes para gerar energia ao seu planeta. A recompensa para a realização do trabalho: Nebula. O filme começa quando o grupo liderado pelo Senhor das Estrelas está se preparando para enfrentar o monstro. Nesse momento, o pequeno Baby Groot rouba o coração de todos que estão assistindo ao filme com uma sequência de dança, misturada a um ataque de fúria fofa, que faz você rir, mas ao mesmo tempo ficar impressionado com a cena de luta cheia de efeitos especiais que acontece em volta da pequena árvore humanoide. Drax também aparece impecável durante a sequência e os dois personagens roubam a cena quando contracenam juntos. Garanto, leitor, que você nunca mais vai ouvir a música da banda Electric Light Orchestra, Mr. Blue Sky, da mesma forma depois dessa cena. Um fato curioso sobre Baby Groot é que foi James Gunn quem fez as capturas de tela para essa sequência. (Gostaria de fazer um parêntese aqui, e dizer que Meredith Quill, mãe de Peter, tem um excelente gosto musical) Após completarem a missão, eles vão à sala do trono dourado onde a fria Ayesha, a Alta Sacerdotisa dos Sovereign, interpretada pela atriz Elizabeth Debicki e que toma conta de todos os minutos em tela em que aparece, está os esperando para recuperar as baterias que eles deveriam ter resgatado, mas Rocket rouba alguns desses objetos sem que ninguém perceba. A cena segue e eles pegam o seu “pagamento” e levam Nebula para a nave Milano, algemada. Lá, Gamora diz que pretende entregar a irmã para a Tropa Nova, mas, antes mesmo de saírem do planeta onde acabaram de terminar a missão, eles começam a ser atacados pelos Sovereign, que perceberam o roubo das baterias. Enquanto está acontecendo a batalha, o pai de Peter aparece na história. Nessa cena, você repara junto com Rocket, numa rápida sequência, que a nave de Ego, o Planeta Vivo, é um fanservice de Flash Gordon – James Gunn é o maior fanboy dos anos 80 que você respeita. Depois de uma intensa batalha que mais parece uma disputa de um jogo de arcade no espaço dos Sovereign contra os Guardiões, o resultado é a Milano caindo toda despedaçada no planeta Berhert. Passada a turbulência depois do pouso forçado, eles ainda estão se recuperando quando Ego e Mantis (Pom Klementieff) chegam no local. Então, em mais uma cena fanservice, agora de “Star Wars: O Império Contra-Ataca”, o Planeta Vivo revela sua paternidade a Peter, o Senhor das Estrelas. Depois de salvar o dia, Ego convence Peter, Gamora e Drax a ir ao seu planeta enquanto Rocket faz os reparos na Milano e cuida de Groot e Nebula. [caption id="attachment_93174" align="alignright" width="300"] Ayesha, personagem de Elizabeth Debicki[/caption] A cena volta a Ayesha, que decide contratar pessoalmente o grupo dos Saqueadores, liderado por Yondu, para recuperar o objeto roubado e fazer os Guardiões pagarem pela insolência. Antes dela tratar de negócios com Yondu e sua trupe, acontece a cena onde finalmente descobrimos quem é o personagem de Sylvester Stallone na trama: ele interpreta Stakar Ogord, o Águia Estelar – na sequência também aparece Martinex (Michael Rosenbaum, o eterno Lex Luthor da série “Smallville”). Ambos são Guardiões da Galáxia originais dos quadrinhos da Terra-691, mas no filme eles também são membros dos Saqueadores. O momento que envolve Stakar e Yondu é mais um, dentre os vários, de discussão de relacionamento do filme. Na sequência em questão, o personagem de Stallone demonstra uma tristeza profunda por Yondu ter “se perdido em sua própria ganancia”, mas Stakar não demonstra arrependimento por ter o exilado e diz: “As cores de Ogord nunca irão brilhar sob o seu funeral”. Yondu fica visivelmente abalado depois dessa conversa e, logo em seguida, encontra Ayesha, e aceita a proposta da Alta Sacerdotisa. Ele e sua equipe de Saqueadores partem para capturar Peter e sua trupe. Chegando lá, eles pensam que estão armando uma emboscada para os Guardiões, porém Rocket já havia notado sua presença no planeta e montado várias armadilhas. Então, temos uma cena de luta muito bem arquitetada e de tirar o fôlego em que Rocket, sozinho, derruba vários Saqueadores com as armas criadas pelo próprio guaxinim geneticamente modificado. Em determinado momento, porém, Yondu consegue emboscar Rocket e, então, o líder dos mercenários diz para sua equipe que eles só irão levar as baterias, pois seria muito arriscado mexer com os Guardiões agora que eles são famosos. Nesse ponto, um dos subordinados mais fieis de Yondu, Kraglin (Sean Gunn, irmão do diretor James Gunn), diz que está cansado do “patrão” sempre proteger Peter, e que pelo menos dessa vez eles teriam que agir de acordo com o plano, pois a recompensa que eles receberiam por entregar os Guardiões seria muito alta. Então, um dos mercenários chamado Taserface inicia um motim, Yondu tenta se defender usando a flecha que comanda através do assovio, mas é derrubado por Nebula, que havia escapado. O filme volta, então, para o encontro de Peter com seu pai. Ele está encantado com a beleza do planeta em que Ego mora. Nessa sequência, temos a interação entre os personagens de Drax e Mantis, que têm uma química divertidíssima, além de repugnante e nojenta. Os dois são bem esquisitos e hilários, mas, bem no fundo, Drax está com o coração partido. Há uma inocência bem real no personagem e Mantis tem isso também – provavelmente, esse é o maior motivo da ligação entre eles, e da dinâmica fluir bem quando eles estão em cena. Mantis possui o poder da empatia, ela consegue interpretar os sentimentos das pessoas através do toque, e com isso acaba expondo que o Senhor das Estrelas tem sentimentos contidos por Gamora. Depois disso, Peter tenta “verbalizar” o “lance não verbalizado” entre ele e a filha de Thanos. O sentimento em questão, parafraseando Só Pra Contrariar, que se chama amor e tomou conta do ser de Peter, não vai para frente e o Senhor das Estrelas acaba indo desabafar com o pai. Nessa conversa, Ego explica para Peter que eles são homens “difíceis” de ficarem presos em relacionamentos e acaba fazendo uma analogia com a música Brandy (You’re A Fine Girl) da banda Looking Glass, dizendo que, assim como na canção, eles não conseguem ficar muito tempo no mesmo lugar, pois são “marinheiros e precisam do mar” – no caso do filme, eles são exploradores espaciais e precisam viajar cada vez mais distante para conhecer as galáxias. Então, a cena volta para Rocket e Yondu presos durante o motim dos Saqueadores. Os mercenários que são leais ao alienígena de pele azul estão sendo mortos pela tripulação liderada por Taserface. Nebula também está abordo da nave e pede uma recompensa para o líder dos amotinados por derrubar Yondu. É assim que ela consegue uma nave para ir atrás de Gamora e acaba revelando que vai atrás de todos que ela acredita que são culpados por ela ter se tornado uma ciborgue, começando pela irmã Gamora e depois indo atrás do pai, Thanos. A sequência permanece na nave dos Saqueadores, só que agora Rocket começa a provocar o líder do motim, ele faz várias piadas por conta do nome de Taserface.          Rocket, neste segundo filme, é aquela personagem que está em fase de transição para a “vida adulta”, naquele momento crucial em que deve sair da vida inconsequente e irresponsável e se tornar um elo forte dentro da família Guardiões. E quem o ajuda nessa fase de conflito é Yondu. Isso mesmo: o ser místico de pele azul com uma guelra vermelha no topo da cabeça, que tem uma flecha que se movimenta através do assovio, saqueador, sequestrador e exilado expulso da própria família, dá uma lição de moral em Rocket com o velho bordão clichê de todo filme de drama familiar, quando o adolescente problema tem que se “tornar o adulto responsável”: Eu também já fui assim! Yondu, em sua fala, mostra o grande arrependimento e sentimento de culpa por ter aprontado no passado e ter perdido seu lugar na antiga família que o acolheu. Yondu e Rocket arquitetam um plano de fuga, junto com Baby Groot. Aí começa a sequência Come a Little Bit Closer, música da banda Jay and the Americans – é importante pontuar que a trilha sonora e o enredo do filme estão conectados, nada é gratuito, tudo é fanservice. Durante a fuga, eles aniquilam os amotinados, Yondu mostra todo seu poder, e Baby Groot, na vibe “vocês podem até ser grandes, mas eu sou ruim”, quer vingança. Depois de mais uma cena de batalha divertidíssima, eles fogem em direção ao planeta Ego, mas, antes que a nave dos Saqueadores seja completamente destruída pela explosão, Taserface consegue entrar em contato com Ayesha e passar a localização de onde estão os Guardiões. Voltando ao planeta do pai de Peter, temos a cena de luta entre Gamora e Nebula, que termina com elas descobrindo um grande segredo sobre o que realmente mantém o lar de Ego “vivo”. Mantis e Drax estão tendo um momento de contemplação, mas depois de algum tempo de conversa a empática precisa revelar o grande segredo do planeta onde eles estão, pois ela está com muito medo. Então, Gamora e Nebula surgem para questionar Mantis sobre o que está acontecendo. Quase que simultaneamente, Ego está explicando a Peter o que eles realmente são. No filme, ele explica que é um Celestial – nos quadrinhos ele não é –, raça responsável pela criação da vida, da morte e do Multiverso, e que ele atravessou galáxias procurando um ser que o ajudasse a manter sua fonte de energia e que ele espalhou suas “sementes” por todo o universo para que isso fosse possível. Ele revela que Peter, até o momento, foi o único capaz de suprir suas expectativas e dá ao filho um vislumbre do sentido de tudo que ele busca. O olho do Senhor das Estrelas até muda de cor, parecem até dois universos, quando ele começa a ver essas revelações. Esse momento é mais um fanservice e easter egg, onde Peter está tendo um primeiro contato com a entidade chamada Eternidade, uma manifestação de consciência do cosmos e um dos seres mais poderosos que existem no Universo Marvel dos quadrinhos. Depois de toda essa epifania, o filme começa a caminhar para o final do terceiro ato e, a partir daí, começa a perigosa zona de spoilers, nas quais eu não me arrisco adentrar, pois acredito que quem ainda não assistiu ao filme merece se surpreender com as reviravoltas na sala do cinema. Yondu é fundamental para o desenvolvimento do filme. Em um contexto geral, acredito que isso se deve ao fato que ele é um personagem recorrente nos Guardiões dos quadrinhos, tanto na Terra-691 quanto na Terra-616. É claro que em ambos os enredos a história dele foi se adaptando. Yondu é o responsável pela conexão dos antigos Guardiões com os novos. Como disse anteriormente, a trilha sonora e o enredo do filme estão conectados e a música principal do longa é The Chain, da banda Fleetwood Mac, e a letra da canção diz muito sobre a personalidade e trajetória de Yondu durante a história desenvolvida na telona. Ele erra, acerta, cai, se levanta, se arrepende e encontra a redenção; ele foi o pai que Peter nunca teve.

Easter eggs e cenas pós créditos

"Guardiões da Galáxia" conta com cinco cenas pós créditos, além de pequenos momentos durante os créditos quando alguns personagens aparecem dançando. A música que toca nesse momento foi composta por James Gunn e é cantada por David Hasselhoff, ícone dos anos 80, sendo inclusive citado várias vezes durante o filme. Peter Quill até achava que o intérprete de Mickael Kinight de a "Super Máquina" era seu pai. Dois personagens importantes do universo cósmico da Marvel também fazem pequenas participações nesse momento: o cão telepata Cosmo, guardião de Lugar Nenhum, e o Grão Mestre, que é interpretado por Jeff Goldblum e será parte fundamental do filme "Thor: Ragnarok". O Grão Mestre é irmão do Colecionador (Benicio del Toro) e eles vivem em constante conflito, tentando matar um ao outro. Outro momento interessante é a cena de Stan Lee, que aparece em dois momentos: durante o filme, no momento em que Rocket, Yondu, Groot e Kraglin estão no salto do portão para chegar no planeta Ego; e na cena pós-créditos, que é a continuação desse momento. Stan Lee aparece sentado usando uma roupa de astronauta e conversando com os Vigias, seres que têm como missão registrar a história do universo sem interferir – porém, o responsável pela Terra, o Vigia Uatu, observa todos os acontecimentos com os heróis da Marvel e, mesmo não devendo interferir, o faz em alguns momentos. No momento em que aparece, Stan Lee cita a época em que era um agente da Federal Express e tenta falar das outras histórias nas quais ele participou. Seria Stan Lee o Uatu esse tempo todo? Provavelmente. Durante o filme, existem muitas referências aos anos 80: as participações de David Hasselhoff, Sylvester Stallone e Kurt Russel já são um fanservice dessa época, por si só. Além disso, temos referências à série "Cheers", ao jogo Pac-Man, ao filme "Exterminador do Futuro 2: Julgamento Final", a "Mary Poppins", ao Esqueleto, de "He-Man", entre outros easter eggs. Havia antes do filme uma grande expectativa para saber quem Sylvester Stallone interpretaria no filme – muitos achavam que ele viveria Adam Warlock, um dos nomes mais importantes do universo cósmico da Marvel. Porém, pouco antes de estrear, foi divulgado que ele seria Stakar Ogord, o Águia Estelar. Ele aparece durante o longa, mas também tem uma participação importante durante o final, e na cenas pós-créditos, com a aparição da primeira formação dos Guardiões da Galáxia dos quadrinhos da Terra–691. Os personagens são Charlie-27 (Ving Rhames), Aleta Ogord (Michelle Yeoh), Martinex, Krugarr e Mainframe (Miley Cyrus), e eles se reúnem a Stakar Ogord para roubar “coisas”.

A grande virtude de Guardiões da Galáxia Vol.2

James Gunn trouxe às telas do cinema uma Space Opera de 2h17min, e fez tamanho esforço para parecer uma brincadeira, que você fica empolgado do início ao fim.  As piadas, participações especiais, os fanservices sobre a cultura pop, easter eggs, cenas bastante coloridas de batalhas espaciais, trilha sonora sincronizada ao enredo do filme. O diretor e roteirista conseguiu trabalhar os dramas familiares durante a história do filme sem ficar chato, e isso é incrível. O longa consegue ser uma grande discussão de relacionamento e é divertido, apesar do que está sendo abordado ali ser considerado temas pesados por muitos. O pai ausente, competição entre irmãos, o filho rebelde e as incertezas de ser aceito como é em uma família recém-formada. E James Gunn consegue falar de tudo isso com bastante humor e sensibilidade, sem deixar a narrativa cansativa, e isso é um grande mérito dele. "Guardiões da Galáxia" é um filme repugnante e nojento, porém possui uma beleza interior bastante reflexiva - James Gunn dirigirá e escreverá o roteiro de "Guardiões da Galáxia Vol. 3", mas os nossos heróis espaciais ainda vão aparecer em "Vingadores – Guerra Infinita" no ano que vem e James Gunn é produtor-executivo do filme. Baby Groot é muito fofo, mas agora imagina como será o Teenage Groot, tendo Peter Quill como figura paterna. Que venha a Awesome Mix Vol. 3. Ana Amélia Ribeiro é jornalista, fã incondicional de quadrinhos, DCnauta, Marvete e muito apaixonada pela Turma da Mônica

Aos 70 anos, morre o cantor Belchior

Cantor e compositor cearense morreu em casa na madrugada deste domingo Morreu na madrugada deste domingo, 30 de abril, o cantor e compositor Belchior. A causa da morte ainda é desconhecida. O corpo deve ser levado de Santa Cruz do Sul (RS), onde o cantor morava, para Sobral, no Ceará, cidade natal de Belchior, onde ocorrerá o sepultamento. Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, nome verdadeiro do cantor, se firmou, na década de 1970, como um dos primeiros cantores de MPB do Brasil, tendo lançado mais de 20 discos durante a carreira. O governo do Ceará decretou luto oficial de três dias. O governador, Camilo Santana, divulgou nota em homenagem ao autor de "Apenas um Rapaz Latino-Americano": "Recebi com profundo pesar a notícia da morte do cantor e compositor cearense Belchior. Nascido em Sobral, foi um ícone da Música Popular Brasileira e um dos primeiros cantores nordestinos de MPB a se destacar no país. O povo cearense enaltece sua história, agradece imensamente por tudo que fez e pelo legado que deixa para a arte do nosso Ceará e do Brasil. Que Deus conforte a família, amigos e fãs de Belchior", lamentou.

“13 Reasons Why” é chocante, mas ver o sofrimento humano retratado pelo olhar de crianças choca muito mais

Diretor sueco entrega um filme humano, mas chocante tanto pela temática quanto pelas escolhas estéticas. Não é recomendado para pessoas que se abalam facilmente [caption id="attachment_93157" align="alignleft" width="620"] Volodya e Lilya: uma criança e uma adolescente são as responsáveis por mostrar no filme o sofrimento intenso de uma vida precária e de abandono[/caption] Ana Paula Carreiro Especial para o Jornal Opção Com a “explosão” de “13 Reasons Why”, muitas pessoas parecem ter se interessado pelo assunto tratado na série, gerando inclusive muitos debates sobre o tema. No entanto, o seriado da Netflix só mostra uma visão do que pode levar uma pessoa ao suicídio, deixando assim a impressão de que só aquilo pode motivar uma pessoa a tirar a própria vida. [relacionadas artigos="92359, 92368"] É preciso falar mais sobre o assunto e há outras produções que falam a respeito disso. Uma delas é “Para Sempre Lilya”. Baseado em fatos reais, o filme sueco de 2002 dirigido por Lukas Moodysson, um dos expoentes do cinema escandinavo, fala sobre a vida de uma adolescente de 16 anos que mora no subúrbio da antiga União Soviética. Lilya (Oksana Akinshina) é abandonada à própria sorte pela mãe, que se muda para os Estados Unidos com o novo namorado, e se vê em uma situação de desamparo, que se agrava com o fato de ser forçada a se mudar para um lugar com condições extremamente precárias. Sem dinheiro para se manter, a adolescente encontra na prostituição uma saída “fácil” para seus problemas e conta apenas com a amizade de Volodya (Ardydom Bogucharsky), um garoto de 11 anos com quem desenvolve uma relação fraternal – os dois nutrem juntos sonhos de um dia terem uma vida melhor. Em uma de suas idas às boates soviéticas, Lilya conhece Andrei, um homem que em meio a tantos outros interessados apenas em sexo, demonstra ser atencioso e lhe faz promessas de uma vida estável na Suécia, com moradia e trabalho. Mesmo alertada por Volodya de que Andrei não possui boas intenções, Lilya prefere acreditar em Andrei e acaba indo para a Suécia. Chegando lá, o que era para ser a realização de um sonho se transforma em um pesadelo e Lilya é feita escrava sexual e vive presa em um apartamento. Com a consciência de que Lilya jamais voltaria de sua “viagem” à Suécia, Volodya, que antes encontrava nela o único motivo para estar vivo, acaba tirando a própria vida com o uso abusivo de remédios. Já Lilya, em um dia de aparente descuido de seu vigia, consegue sair do apartamento em que estava presa. Desorientada, ela corre pelas ruas da cidade até que encontra um viaduto e, com todas as esperanças esgotadas, se joga entre os carros que passam e dá fim a uma vida de sofrimentos.

Foco no sofrimento

“Para sempre Lilya” é um filme que trata da desgraça humana, tanto social quanto interna, abordando temas como o desespero, a solidão, a exploração sexual, o tráfico humano e o descaso do governo perante o abandono de menores. Mesmo não tendo nenhuma cena em que a violência contra Lilya é explícita, o filme é extremamente denso, pela temática e pelo enquadramento da filmagem, que escolhe deixar a subjetividade em primeiro plano, mostrando as expressões de sofrimento no rosto da personagem, ao invés do ato em si. Não é um filme que eu indicaria para pessoas que se abalam facilmente, pois o foco da filmagem em primeira pessoa faz com que os telespectadores se sintam violentados juntamente com a personagem. O fato de o filme retratar o sofrimento pelo olhar de duas crianças é o que torna ainda mais chocante toda a narrativa, mostrando a inocência perdida e a falta de perspectiva de um futuro, o que leva as duas ao suicídio, o maior ato de desesperança de uma pessoa. O final do filme tem duas interpretações principais, uma que aborda o aspecto psicológico da questão, em que Lilya enxerga Volodya com asas de anjo em seus momentos de desespero e solidão, e outra que aborda o aspecto sobrenatural, tratando assim a aparição de Volodya como se ele de fato tivesse morrido e voltado como um anjo para ampará-la em meio ao sofrimento. De qualquer maneira, o final fica aberto à interpretação do telespectador, visto que não se pode afirmar se Lilya morreu ou não. Ana Carreiro é estudante de Jornalismo

Esteban encerra turnê do Saca la Muerte de Tu Vida em Goiânia

Ex-baixista da banda Fresno, na qual esteve entre 2006 e 2012, Rodrigo Tavares traz seu projeto solo à capital goiana neste domingo (30/4) em show no Cafofo Estúdio

O dia em que Roberto Campos temeu ser “linchado” na UnB

Então senador da República, o economista e ex-diplomata Roberto Campos teve medo de ser hostilizado por estudantes de esquerda da Universidade de Brasília, em 1990

Filmes de Jazz, Canções de Amor

Abordar o Jazz tem imposto a diretores, roteiristas e atores de cinema uma exigência a mais, que é captar pontos-chave da carreira desses músicos, respeitando suas idiossincrasias

Romance aborda a vida de um suposto artista plástico que teria vivido em Vila Boa

Com “A História de André da Conceição”, Heitor Rosa mostra todo o seu vigor imaginativo no campo da ficção histórica

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Na prosa de Luiz Roberto Guedes, o substantivo se impõe com toda sua plasticidade, cada frase, cada parágrafo, cada página é um retrato sem retoques do que o autor recolhe no dia a dia