Vereadora de Gouvelândia denuncia desvio de função, favorecimento em licitações e ameaças contra oposição

05 julho 2025 às 14h00

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A vereadora de primeiro mandato, Floripes Bezerra de Medeiros Neta (PSD), fez duras críticas à administração de Gouvelândia, no sudoeste goiano, e acusou o procurador do município, Marcos André, de assumir, na prática, o comando da Prefeitura no lugar do prefeito Fausto Caiado Barbosa (PDT). Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, a parlamentar relatou supostos desvios de função, favorecimento em licitações, criação de cargos para fins políticos e ameaças contra membros da oposição.
“A gestão está horrível, principalmente porque o prefeito não se faz presente. Quem comanda mesmo é o procurador do município”, disse Floripes. “O prefeito foi reeleito, mas nunca morou na cidade. Ele vive em Quirinópolis e governa à distância.” Segundo a vereadora, Marcos André atua de forma centralizadora e ultrapassa os limites legais de sua função como procurador jurídico.
“Ele quer tomar conta de todas as pastas. Em uma licitação realizada em abril, referente à contratação da empresa responsável pelos médicos da cidade, ele retirou dois servidores experientes do processo, assumiu o controle da comissão e, no fim, a empresa da própria esposa foi a vencedora. Ele mesmo levou os envelopes, fez a abertura e declarou a esposa como ganhadora”, relatou a vereadora.
A parlamentar também questiona a prioridade da atual gestão em criar secretarias enquanto a cidade enfrenta problemas básicos na saúde pública e na folha de pagamento. “Falta médico, falta exame, falta remédio, e os médicos que ainda estão trabalhando estão sem receber. Mesmo assim, o prefeito enviou um projeto para criar a Secretaria de Governo, com cargos de superintendência e altos salários. É um absurdo”, criticou.
A parlamentar, que integra as comissões de Justiça e Redação e de Fiscalização e Orçamento da Câmara, afirmou que o projeto foi barrado por ora, mas pode voltar à pauta em agosto. “Já sabemos que estão articulando para aprovar esse projeto no mês que vem. Eu não vou me calar. Não entrei aqui para bater palma para absurdo e ficar calada. Entrei para defender o povo de Gouvelândia”, afirmou.
Outro ponto levantado pela vereadora diz respeito ao uso indevido de servidores concursados. “Tem agente de saúde desviado de função recebendo mais que o dobro do salário original. Um agente ganha cerca de R$ 3 mil, mas tem gente desviada recebendo R$ 7 mil”, afirmou.
Floripes também denuncia o uso político da estrutura da saúde e do orçamento municipal. “Existe vereador da base que atua nas compras da Secretaria de Saúde, usou isso até em campanha, e hoje ainda entrega remédio na casa do eleitor. Isso é desvio de função e favorecimento político claro”, apontou.
Sobre o procurador, a vereadora afirmou que, além de interferir em todos os setores da Prefeitura, ele ainda atua politicamente contra a oposição na Câmara. “Ele vai até o plenário para atacar a mim e a outro vereador de oposição. Um dia depois de eu enfrentá-lo na tribuna, ele levou pessoas ligadas à gestão e até servidores para me vaiar. Ligaram som na porta da Câmara para atrapalhar minha fala. Tivemos que chamar a polícia”, contou Floripes.
Floripes concluiu sua denúncia com um apelo à população de Gouvelândia: “Estão querendo empurrar mais cargos políticos enquanto o povo espera por saúde e dignidade. Eu, vereadora Floripes Neta, estou de pé e prometo não recuar. Gouvelândia tem dono, sim, e esse dono é o povo. Quem não respeita o povo não merece governar.”
Procurador de Gouvelândia rebate denúncias de vereadora e diz que irá à Justiça
Procurado pela reportagem, o procurador do município de Gouvelândia, Marcos André, afirmou ser servidor efetivo da Prefeitura e negou todas as acusações feitas pela vereadora Floripes Bezerra de Medeiros Neta (PSD). Em entrevista ao Jornal Opção, ele se defendeu das declarações da parlamentar e disse que medidas judiciais já estão sendo tomadas contra ela.
“Sou, sim, um participante ativo da administração, tanto desta quanto das anteriores, pelo cargo que ocupo. Mas é importante deixar claro que minha atuação é técnica. Quem deve responder pela gestão é o prefeito”, declarou. “Essas denúncias feitas pela vereadora são graves, e já estamos tomando as medidas judiciais cabíveis em desfavor dela.”

Sobre a acusação de perseguição política, incluindo uma suposta ameaça à parlamentar, Marcos André negou com veemência. “Jamais ameacei alguém. Isso não faz parte do meu caráter. Se ela afirma que terceiros chegaram até ela com essa fala, vai ter que provar quem disse, de onde tirou isso. Essa fala nunca saiu da minha boca”, garantiu. Segundo o procurador, ele já formalizou uma representação contra a vereadora na delegacia.
“Acho que todos nós estamos sujeitos a erros. E, se eu tiver falado algo, se ela comprovar isso, eu devo pagar por meu erro. Mas essa alegação não tem fundamento”, reforçou. “Para mim, o trabalho dela como vereadora é tão insignificante que nunca a vi como adversária política.”
Sobre a denúncia de favorecimento em licitação envolvendo sua esposa, Marcos André alegou que não há ilegalidade e que ela já prestava serviços ao município há mais de três anos. “Minha esposa participou de um credenciamento, como qualquer outro profissional. Ela tem CNPJ próprio, atendeu aos requisitos e foi habilitada. Ela já atuava em Gouvelândia há mais de três anos por meio de outra empresa, como diretora clínica, e conhece bem a realidade local.”
O procurador também explicou que só passou a atuar em processos licitatórios da Prefeitura a partir de 1º de junho deste ano. “Nunca participei de licitações antes disso. Essa em que minha esposa foi credenciada ocorreu em março. Até então, quem conduzia os processos era uma assessoria externa, o doutor Marcos César.”
Sobre a acusação de nepotismo, ele afirmou que a interpretação da vereadora está incorreta. “Nepotismo se caracteriza em relação a agentes políticos — prefeitos, vice, secretários, vereadores. Eu sou servidor efetivo. A eventual relação de parentesco comigo não configura ilegalidade”, argumentou.
Marcos André também rebateu acusações de falta de transparência na gestão. “Nunca fomos notificados por nenhum órgão de controle sobre irregularidades em licitações. Todos os dados estão disponíveis no Portal da Transparência: portarias, salários, contratos. Se houver qualquer dúvida, estou à disposição para encaminhar os documentos.”
Por fim, o procurador criticou a conduta da vereadora. “Ela vai ter que provar em juízo tudo o que está dizendo. Alegar é fácil. Quero ver sustentar com provas. A Justiça vai mostrar quem está com a razão.”
A reportagem tentou contato com o prefeito Fausto Caiado, por mensagens e ligações, mas até o fechamento desta matéria não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestação.
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