Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, duas vítimas da falsa médica Karina Jessica Gomes Souza explicam como sofreram com os procedimentos estéticos. A fisioterapeuta, Elisângela Moreira Moura, e a servidora pública, Simone Peres Mesquita, contam que conheceram a investigada por meio das redes sociais e ambas tiveram os rostos deformados.

Karina Souza, de 34 anos, será ouvida nesta quarta-feira, 23, pela Polícia Civil (PC) e é investigada por deformar a face de sete mulheres em Goiânia. Mesmo sem qualquer tipo de formação, Karina atendeu pelo menos 180 clientes durante os três anos que trabalhou como esteticista, explica o delegado Wellington Lemos. A investigada também sofreu com complicações após fazer preenchimento de queixo em si mesma.

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Elisângela afirmou que fez preenchimento labial e aplicação no “bigode de gato” em julho de 2022. Na época, ela pagou R$ 996 pelo serviço, mas começou a ter efeitos colaterais logo depois do procedimento. A mulher desenvolveu infecção na boca, e por isso precisou ficar três dias internada. Ao todo, a fisioterapeuta levou dois meses para se recuperar. 

“Quase morri, precisei ficar internada no hospital neurológico tomando antibióticos. Começou com um pouco de inchaço, mas depois agravou. Ela sumiu depois que tive os problemas”, contou.

Elisângela precisou ficar internada por três dias para tratar infecção. (Foto: Arquivo pesssoal)

Simone, por outro lado, desenvolveu edemas em todo o rosto, além de sofrer com inchaço e dores por um mês. Assim como Elisângela, o procedimento foi realizado em 2022. Ela explica que mesmo depois de um ano, ainda sofre marcas roxas na boca que aparecem “do nada”.

“Procurei uma dermatologista que disse que é uma provável sequela. Ela [Karina] se apresentou como biomédica, me deu toda a segurança que iria dar certo. Quando surgiram as complicações, no mesmo dia, ela nunca mais me recebeu. “Só ficava passando mensagem pelo WhatsApp, ora falava que era ela, ora se dizia secretária da doutora. Dizia sempre que era normal e que iria passar’”, afirmou. 

Simone ficou com a boca inchada e com dores, além de edemas por todo o rosto. (Foto: Arquivo pessoal)

Receitava medicamentos controlados 

Além de provocar lesões, Karina também receitou, de forma ilegal, medicamentos as vítimas após elas a procurarem para se queixar de dores. Alguns, inclusive, eram controlados. Simone, por exemplo, foi aconselhada a tomar 4mg de dexametasona de oito em oito horas.

O remédio é usado para o tratamento de reumatismo, doenças de pele, alergias graves, asma, doença pulmonar obstrutiva crónica, crupe, edema cerebral, dor ocular pós-cirúrgica e, em combinação com antibióticos, tuberculose.

“Você vai tomar 4mg de dexametasona de oito em oito horas. Está inchado, vai melhorar sim”, diz uma das mensagens enviadas por Karina à Simone, ao qual o Jornal Opção teve acesso. “Simone, a dra falou para você tomar nimesulida”, diz outra mensagem. 

Mensagem enviada por Karina à Simone. (Foto: Arquivo pessoal)

Valor pago pelas vítimas 

Os procedimentos realizados pela mulher variavam de R$ 800 a R$ 1 mil, conforme o delegado Wellington. Karina atendeu pacientes em pelo menos cinco locais distintos, sendo que foram colhidas provas que incriminam a falsa médica.

Karina é investigada por exercício ilegal da medicina, lesão corporal, exercício ilegal de profissão e uso de documento falso, visto que usava diplomas falsificados para enganar as vítimas.  

““Ela não possui habilitação para prescrever remédios nem para atuar como esteticista, ela não tem nenhum curso. Ela também falsificou documentos. As investigações começaram após as vítimas procurarem a delegacia, alegando terem tido lesões corporais decorrentes dos procedimentos realizados pela investigada. Ela dizia que aplicava ácido hialurônico, mas algumas vítimas suspeitam que não seja”, disse. 

O Jornal Opção tentou entrar em contato com Karina por mensagem e ligação para que se posicionasse, mas não obteve retorno.

Elisângela teve uma infecção na boca. (Vídeo: Arquivo pessoal)