“O Pr. Davi renunciou, mas ele não é descartável. Nesses quase sete anos ele abençoou muitas pessoas com as palavras e canções, entrega e muita fé. Para sempre seremos gratos a toda sua dedicação”, pronunciou-se a Igreja Casa após afastamento de seu líder, Davi Passamani. O pastor Davi pediu sua renúncia no último domingo, 24, após ser novamente acusado de importunação sexual. Em 2020, ele já havia sido investigado, mas a Justiça goiana resolveu arquivar o inquérito por “ausência de justa causa”.

À época, a decisão foi assinada pelo juiz Luiz Henrique Lins Galvão de Lima, da 7ª Vara dos Crimes Punidos com Reclusão de Goiânia. Davi veio a público por meio de um vídeo, chorou sobre um fundo musical e negou as acusações de assédio. Sobre a nova acusação, o pastor está viajando e optou por não se pronunciar. No lugar dele, assume a esposa, Giovanna de Almeida Lovaglio, candidata à deputada federal nas eleições de 2022 pelo partido Republicanos.

Pastor Davi e Pastora Giovanna, da direita para à esquerda | Foto: Redes Sociais

“Reiteramos que a obra é de Cristo Jesus e nossa igreja sempre estará de pé salvando almas e liderada doravante pela pastora Giovanna Lovaglio, com a benção dos Apóstolos Valdir Reis e Alexandre Marinho, e de vários amigos líderes religiosos de todo o Brasil a quem de público agradecemos o apoio e equilíbrio nesse difícil momento”, afirmou a Igreja Casa em nota (confira abaixo na íntegra).

Íntegra do comunicado oficial da Igreja Casa

O Pastor Davi Vieira Passamani apresentou sua renúncia nessa data deixando o corpo pastoral e a liderança da igreja CASA MINISTÉRIO CRISTÃO.

Sua trajetória e contribuição com o reino e com nossa igreja sempre serão lembrados e estamos em oração por sua nova caminhada.

Reiteramos que a obra é de Cristo Jesus e nossa igreja sempre estará de pé salvando almas e liderada doravante pela pastora Giovanna Lovaglio, com a benção dos Apóstolos Valdir Reis e Alexandre Marinho, e de vários amigos líderes religiosos de todo o Brasil a quem de público agradecemos o apoio e equilíbrio nesse difícil momento. A presidente e os pastores se pronunciarão em breve pelo INSTAGRAM oficial da igreja.

Desejamos a todos um feliz natal e nos encontramos na quinta-feira próxima as 20 hrs em nosso culto. A banda Casa Worship liderará o louvor que contará  com a presença do Apóstolo Alexandre Marinho e todo nosso valorozo e amado corpo pastoral que segue unido no mesmo e único propósito, e inalteráveis na visão que Deus os confiou.

Pronunciamento pelo Instagram. | Foto: Redes Sociais

Crime de importunação sexual

O pastor Davi Vieira Passamani, líder da Igreja Casa em Goiânia, foi acusado de importunação sexual por uma fiel. A jovem registrou um boletim de ocorrência contra o líder religioso na última terça-feira, 19. De acordo com a vítima, Davi ligou para ela em vídeo, mostrou o pênis e pediu para que ela gemesse.

“O investigado ligou de vídeo, momento em que a declarante atendeu e viu o rosto dele, e em seguida ele mostrou o órgão sexual dele. Após alguns minutos, ele desligou e ligou de novo via ligação de áudio e continuou falando sobre a fantasia dele para a declarante; ele terminou de se autossatisfazer e, no final, ele fez a respiração que estava gozando, depois disso ele desligou a ligação e continuou mandando mensagens, porém a declarante não respondeu mais”, diz trecho do boletim de ocorrência.

O artigo descreve como crime o ato de praticar ato libidinoso (de caráter sexual), na presença de alguém, sem sua autorização e com a intenção de satisfazer lascívia (prazer sexual) próprio ou de outra pessoa.

Podem ser considerados atos libidinosos, práticas e comportamentos que tenham finalidade de satisfazer desejo sexual, tais como: apalpar, lamber, tocar, desnudar,  masturbar-se ou ejacular em público, dentre outros. 

A pena prevista é de 1 a 5 anos de reclusão, isso se o ato não constituir crime mais grave. “As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime”, diz a legislação.

Quando inaugurada, igreja era confundida com boate

O ano era 2018. Quem passou pela Avenida 85, em Goiânia, pode ter pensado que a construção ao lado de uma lanchonete fast food era mais uma boate, bar ou casa de eventos no Setor Bueno, próximo ao Marista. A surpresa foi grande ao descobrir que o galpão abrigava, na verdade, a igreja Casa, uma proposta singular em uma das localizações mais movimentadas da cidade. A igreja, que já causava burburinho nas redes sociais antes mesmo de ganhar seu espaço oficial em 2018, destaca-se pela proposta descolada e jovial na apresentação do Evangelho.

Usuária se questiona sobre construção. | Foto: Redes Sociais

“Tudo começou quando eu e meu marido, o pastor Davi Passamani, recebemos um chamado para nos mudarmos de Ipatinga [a 200 quilômetros de Belo Horizonte] para Goiânia. Achávamos inicialmente que esse chamado aconteceu porque aqui havia um povo que precisava ser cuidado, e com o tempo fomos entendendo melhor nosso propósito por aqui”, disse a pastora Giovanna ao portal Curta Mais na época.

Em apenas dois meses após chegarem à terra do pequi, o casal começou a receber amigos em casa. O grupo cresceu e mudou de cenário, passando do terraço para o auditório do prédio e, por fim, para uma casa de eventos, antes de estabelecer sua própria sede. Tudo isso aconteceu em cerca de um ano e meio. No início, a maioria dos membros da Casa era formada por jovens entre 20 e 27 anos, contou Giovanna.

Jovem e moderna também é a comunicação da igreja, que marca presença nas redes sociais. Todos os cultos são compartilhados em tempos real através dos stories do Instagram, cujo feed também é recheado de fotografias e vídeos do espaço. Neste ano, o disco “Novo Tempo” recebeu a indicação do Grammy Latino ao prêmio Melhor Álbum de Música Cristã. A igreja também conta com lojinha virtual para divulgar camisetas da marca.

Opinião

Igrejas, evangélicas ou católicas, têm um histórico de proteção aos abusadores e silenciamento das vítimas. Independente do formato no qual se apresentam, todas elas fazem algo em comum: se esquecem que o Estado é laico e que a Bíblia não é maior que a Constituição. Historicamente, denúncias de assédio sexual dentro das igrejas sempre foram abafadas pelos líderes religiosos.

Quando a história toma uma proporção exarcebada, com a divulgação da imprensa e comoção pública, as tais igrejas vêm a público se pronunciar. O que acontece depois? O que acontece com as outras vítimas? Eu me questiono como fica uma jovem fiel após denunciar o pastor por importunação sexual e ver os irmãos o apoiando porque ele “caiu em pecado” e não se deve “julgar ninguém”. Porque, é claro, a igreja sempre se abstém de julgamentos, não é mesmo?