escrito por Italo Castrillon Wolff

Haikais dos ecos
do passo noturno
1.
Teatro vazio
Uma goteira pingando
ecoa um aplauso
2.
Sigo os passos à rua
da minha sombra sozinha
no clarão da lua
3.
Coração deserto
bate o latido do cão
num bairro quieto
4.
Sono lento vem
buscando rastros do sonho
eu fujo também
5.
Procurando abrigo
num teatro abandonado
me encontro comigo
A beleza do mundo
A beleza do mundo me irrompe
eu aprendi a me fechar
a vida toda me treinando
a deixar a beleza entrar
a noite cai
a chuva entra
em papeis pequenos
Proibindo o pranto
Caro amigo
ouvi dizer
que você quer sacrificar
a perfeição deste silêncio
por um punhado de lágrimas
Eu que já estou adiantado
vou te dizer o que encontrei
nas esquinas escuras do mundo
andei
tocando minha dor
toquei
as esquinas escuras do mundo
E isso é tudo que há
o estalar das patas das baratas
nos escombros da memória
ou das esquinas
não precisa de você
O cataclismo da ruína
que quer retratar em suas páginas
vai arruinar esse retrato
e bem
silenciar as suas lágrimas
silêncio
vai arruinar você também
A última semana
Era segunda-feira
quando Isabella viu as marcas
de gillette nos meus pulsos
e soube que éramos iguais
suicidas dedicados
a sermos nada na vida
ela, a melhor metade,
se dedicou mais
Era terça-feira
eu tateava no escuro
que ela apagou para fazer
brilhar as estrelas
carregava perdido
o peso no peito
de ser imagem morta
negativo sem a meia
Era quarta-feira
eu conheci o seu duplo
Isabela com um só L
volteio e contra floreio
no seu quarto quente
onde tempestade de céu
espanta até nuvens
promessas sem freio
Era quinta-feira
eu buscava seu uno
seu nome primeiro
você jogava xadrez
eu procurava sinais
li seu tarot
interpretei a cicatriz
de separação do siamês
Era sexta-feira
quando você me disse
que seus gêmeos se foram
e soube que éramos iguais
pela perda, pelo ofício de dar,
pela adultecência precoce
pelos nada na vida
que, contra nós, faz brilhar
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