“Este ano, pela primeira vez, a gente pensou em não fazer o Bananada”
07 maio 2018 às 10h24
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No dia em que a edição número 20 do festival começa no teatro do Centro Cultural da UFG, na Praça Universitária, o sócio fundador revela que cogitou não realizar o evento
Quando Fabrício Nobre, ainda com 20 anos, marcou um show da banda dele, o MQN, e de grupos de amigos em um bar, no ano de 1999, e resolveu dar uma banana para a Pecuária, que acontecia em maio, jamais imaginou que aquele tal Festival Bananada chegaria à sua 20ª edição duas décadas depois. Hoje, aos 39 anos, o sócio fundador, que divide a sociedade do Bananada com Daianne Dias e Lucas Manga, vê o festival como um marco da cidade. Mas é realista, caso um dia o evento deixe de existir: “Acho que em seis meses as pessoas iam lembrar com saudade e é isso. As coisas começam e acabam”.
Cravado na agenda cultural de Goiânia como um dos principais festivais de música do Brasil, o Bananada cresceu, deixou de ser um show de amigos roqueiros e se tornou um ponto de encontro da cultura em ascensão no País. Mesmo depois de se tornar tradição no roteiro dos eventos de música independente brasileiros, o festival correu o risco de viver um hiato em 2018. “Este ano, pela primeira vez, a gente pensou em não fazer o Bananada”, revela Fabrício.
Mas a vontade persistiu. Nesta segunda-feira (7/5) começa a primeira de sete noites seguidas da edição de 20 anos do festival. Lee Ranaldo, ex-Sonic Youth (Estados Unidos), fará o show de abertura do Bananada às 20 horas no teatro do Centro Cultural da Universidade Federal de Goiás (UFG), na Praça Universitária.
Neste ano, de 7 a 13 de maio, o festival que você criou em 1999 vai chegar à edição de número 20. Quando você criou o Bananada para tocar com a sua banda imaginou que isso seria possível?
Nunca. Era uma festa para poder fazer conexão com os amigos e trocar ideia. Mas eu quero que aconteça o 21 também depois desse. Uma coisa de cada vez, um passo de cada vez, um ano após o outro. Esse ano, pela primeira vez, a gente pensou em não fazer.
Por que a ideia de talvez não fazer o Bananada em 2018?
Porque a gente teve um revés financeiro horrível o ano passado. Foi lindo para todo mundo, mas num momento de crise foi ruim para a gente. A gente exagerou, passou da conta e estamos fazendo esse Bananada para poder pagar o anterior.
A estrutura que se manteve e foi aumentada de 2016 para 2017 fez com que vocês fizessem este ano uma edição mais enxuta, mas que ao mesmo tempo tem a ver com o Bananada por causa disso?
Acho que sim. Algumas coisas a gente não vai recuar nunca. Não dá pra não tentar fazer uma programação de música melhor a cada ano. Mas tem que fazer melhor a conta, entendeu? Buscar os parceiros certos que paguem aqueles artistas que nós queremos ter, que deem suporte para isso. Atender melhor o patrocinador e o público para que as pessoas possam entender melhor que para continuar e para dar certo é preciso pagar um ingresso um pouquinho maior. E o patrocinador entender que para fazer uma ativação maior eu tenho que por um pouquinho mais de grana. Isso é uma coisa que a gente está tentando ter cuidado em fazer. Mas é perigoso .
Essa história de manter a qualidade do festival nas atrações, tentar sempre inovar e trazer o que está em evidência no meio independente e o que está em ascensão no mercado da música, como trazer o Gilberto Gil com o show Refavela 40, mesmo com uma conta mais enxuta dá pra fazer?
Dá. Primeiro porque um artista como o Gil se paga vendendo ingresso, é um artista que todo mundo quer ver e com os preços que o Bananada coloca, que pode ser caro para um público, para um público que é fã de Gilberto Gil é um preço muito popular.
Não são R$ 200 da turnê solo dele.
Exato. O ingresso de saída era R$ 45, com todos os descontos não custava nem R$ 40, para ver o Gilberto Gil é ridículo. Quando eu falei para o empresário o preço ele achou beleza por ser um preço ultrapopular. É quase como se fosse de graça para esse tipo de show. E é um artista que é referência para gente, já trabalhamos com ele, já produzimos show dele com o Macaco Bong (MT). Trabalhei com o Gil e o Juca Ferreira no Ministério da Cultura, fiz consultoria para eles. A Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin), que eu dirigi, foi parceira do Ministério da Cultura nessa época. E é um artista que entende e gosta de música nova, quer tocar e facilita ao máximo. O cara quer vir. A equipe dele arrasta junto.
Esse ano não tem mais a parceria da Skol. Houve algum problema com a empresa?
Não tem nenhum problema com a Skol. O problema é que a Skol descontinuou o projeto de música. A parceria com a Skol foi excelente igual a gente quer que a parceria com a Colombina seja. A vantagem da Colombina é que é uma cerveja de local próximo, que as pessoas nos conhecem, nos adoram. O Alberto Nascimento, a Patrícia Mercês e o Joãozinho Mercês são amigos. O Joãozinho, que é o pai da Patrícia, patrocinou o Bananada 1, em 1999. Isso é uma coisa legal.
A gente não teve nenhum problema com a Skol. Na verdade tem tempo que a gente não tem problema com nenhum patrocinador. Os patrocinadores adoram trabalhar com a gente. O problema é que a Skol descontinuou o projeto de música e não deu tempo de a gente poder pensar um novo projeto. A Colombina estava namorando a gente, gostei da ideia e a gente quis fazer com eles.
Assim com o Joãozinho Mercês, que ajudou a fazer o primeiro Bananada, quem ainda acompanha de alguma forma, de perto ou longe o festival?
O pessoal da Tribo sempre ajudou a gente. Eu tinha que olhar para lembrar. Mas a Universidade Federal de Goiás (UFG), com o DCE e outras atividade. A UFG sempre. Todos os anos, de uma maneira ou de outra, a UFG é parceira. Esse ano eles estão cedendo teatro para a gente fazer duas noites com o Lee Ranaldo no Teatro da UFG, com outra duas noites lá. Mas quem sempre deu suporte são as bandas, os selos, os artistas. Quem banca o Bananada são os artistas, cara. Os artistas locais que facilitam, que vão atrás, que divulgam e aproveitam o negócio. Sem a parceria com os artistas locais seria impossível fazer o Bananada.
O domingo (13) tem uma cara mais roqueira. Lembra um pouco a identidade daquele Bananada que o chato do textão do Facebook adora reclamar que o Bananada mudou e não é mais aquilo que ele gosta. Tem a ver mesmo com uma tentativa de resgate dessa identidade o fato de o domingo ter mais artistas de rock?
Não é o dia. É o tipo de música que a gente gosta, acha massa, tem público, quer experimentar, quer trazer coisas legais. Vai ter coisas até mais extremas, como o Frieza e Deaf Kids (RJ), e coisas que a gente tem diálogo, que a gente programa show, é parceiro, vê e gosta. Não tem muito divisão do dia, está tudo muito misturado. Tem show de rock todos os dias, eu acho. Tem show de música eletrônica em todos os dias, tem show de música brasileira em todos os dias. Está cada vez mais equilibrado na minha opinião. O domingo é um pouco mais roqueiro mesmo em um dos palcos. É verdade. Mas não é proposital ou porque é essa data. Não sei. A gente quer fazer a coisa mais diversa possível.
No ano passado houve a aposta na volta da Liniker e os Caramelows (SP). Nesse ano tem a volta do BaianaSystem (BA). Estava na hora de trazer de novo e dar chance ao público que não conheceu no Bananada de 2017 poder ver?
Você programa um festival de música. Aí o BaianaSystem liga pra você em 2018 e fala assim “eu queria pra caralho fazer um show no Bananada”. E você queria pra caralho fazer o show deles no Bananada. E daí a Red Bull, que é a marca que dá suporte para eles, diz “eu queria pra caralho dar suporte para que esse show aconteça”. Você não vai fazer? É um dos shows mais legais do Brasil hoje e você não vai fazer? Você não vai repetir o Boogarins? Como assim você não vai repetir o Boogarins? Os caras só melhoram. Um show é melhor do que o outro. Tem quatro anos e tem quatro discos. É um melhor do que o outro. Não dá para ficar repetindo as pessoas que não estão trabalhando.
Mas quem está trabalhando para acontecer você tem que repetir num lugar melhor. Estou torcendo para colocar o ÀTTØØXXÁ (BA) esse ano e em 2019 ele estar o dobro do tamanho e repetir. Ou o Carne Doce lançar o disco novo e virar a maior banda do Brasil, porque isso pode acontecer, e eles encerrarem a noite de sábado ano que vem. A gente torce é para isso. É normal isso acontecer no mundo inteiro. A curadoria do Bananada não é um edital público, não é uma seleção pública. É um apanhado daquilo que a gente acha que é importante ter agora. Se a banda continua relevante nesse ano beleza.
Algumas banda a gente convidou e não quiseram participar. OK. Mas tem umas que quiseram, acharam do caralho e vão fazer um show especial. O show do BaianaSystem não vai ser igual ao do ano passado, vai ser melhor do que o do ano passado. Pode ter certeza disso. Quem viu o BaianaSystem ano passado e achou foda, vá de novo. A banda está muito melhor agora.
Reparei que na programação tem muita banda da Bahia e de Pernambuco.
Porque o momento que a cena pernambucana e baiana vivem… e muita banda goiana. Acho que são as cenas que estão mais quentes. As bandas são incríveis. Nação Zumbi (PE) acabou de lançar um disco incrível. Jorge Cabeleira e o Dia Em Que Seremos Todos Inúteis (PE) está voltando a fazer a turnê do primeiro disco. O Vamoz é um apanhado das coisas que a gente fez ao longo dos tempos. E aí tem duas bandas novas, Kalouv (PE) e RØKR (PE), que são novas pra caralho e fazendo música boa. Você não vai trazer as bandas porque elas são pernambucanas? Não. Tem que trazer. E ainda ficou um monte de banda pernambucana do caralho, que ofereceu show pra nós, de fora. E a cena da Bahia ficou um monte de gente de fora. Você acha que eu não queria trazer o Baco Exu do Blues, que eu não queria trazer OQuadro?
O Manga disse que foi um quase a tentativa de trazer o Baco Exu do Blues. O que aconteceu nessa negociação que não deu certo para a edição do Bananada de 20 anos?
A gente ia ter um palco a mais no Bananada. E a gente desistiu de fazer ele porque o lugar é novo, a gente está com medo de experimentar a parte acústica. A gente não quer ter nenhum problema com emissão sonora. Então a gente decidiu ter menos um palco. E aí tivemos que tirar algumas coisas que estávamos negociando. E uma delas foi a vinda do Baco. Mas o ano que vem está aí. Ele vai estar maior, o show dele é legal, o disco é ótimo. Tem um monte de coisa que a gente tentou trazer e dá para trazer ano que vem: Baco, Letrux, Tim Bernardes. Tem um monte de coisa que a gente queria, negociou. Não cabe todo mundo que quer e nem de longe cabe todo mundo que a gente quer. Mas vai ter um monte de showcase com algumas coisas bem legais.
Nos últimos anos, o Bananada tinha criado uma imagem identitária com o Centro Cultural Oscar Niemeyer. Veio a reforma, veio o decreto com a proibição de instalação de estrutura na Esplanada JK e desde o ano passa começou uma parceria com o Shopping Passeio das Águas. Era algo natural o anúncio de que o festival migraria para lá.
E pra nós também foi. A gente estava procurando um outro lugar onde a gente não corresse o risco das intempéries políticas. Eu não posso não fazer o Bananada em maio. E o Passeio das Águas já é patrocinador do Bananada há dois anos. Recebeu a gente muito bem em algumas atividades lá, tem loja parceira igual a Ambiente e fez uma oferta muito legal. O pessoal tem que entender que o Bananada tem 20 anos. Desses 20 anos, o Bananada só aconteceu no Niemeyer quatro vezes. Em 16 anos ele aconteceu em outro lugar. Tomara que ele aconteça mais 4, 5, 10, 12 vezes no Passeio das Águas se funcionar bem. Pode ter certeza que a estrutura no Passeio das Águas vai ser tão bonita quanto e tão confortável quanto, tão preparada quanto para receber os artistas e o público.
Comparado ao que o Bananada tinha de estrutura na primeira edição até o 19º, o que o Passeio das Águas oferece de melhor?
O primeiro Bananada foi em um bar com um palco em cima de madeirite. Não tinha uma estrutura.
É como se o Bananada todo fosse o palco da Casa do Mancha no cantinho da edição de 2016.
Muito pior do que a Casa do Mancha. Você não foi ao Território Brasileiro (onde hoje funciona a boate The Pub) ou no Garage? O Bananada era num lugar pior do que o… o Cafofo Estúdio é muito mais legal do que era o Território Brasileiro, que era um lugar do caralho. A estrutura do Complexo é melhor do que a que recebeu o Bananada na primeira edição. O lance é que a estrutura do Passeio das Águas tem quatro linhas de ônibus que chegam lá, estacionamento grátis para 4 mil carros, 8 mil metros quadrados de área coberta, 8 mil metros quadrados de área aberta, R$ 10 de Uber do aeroporto, dez minutos de táxi da rodoviária e 20 minutos do Centro da cidade.
Tem todo o serviço do shopping para você usar supermercado, estamos com uma loja montada lá para atender as pessoas. Tem um sem fim de vantagens. As vantagens do Niemeyer: maravilhoso, é dentro de uma obra de arte do Oscar Niemeyer, é em um espaço público que foi criado para receber eventos que nem o Bananada. Infelizmente esse ano não teve jeito. O Bananada é independente. Independente das condições a gente faz. Se a reforma do Oscar Niemeyer for legal, a parceria com o Passeio das Águas não andar e a próxima gestão quiser que a gente volte para o Niemeyer, beleza. O meu plano agora é ficar de três a quatro anos no Passeio das Águas.
Você chegou a tratar como ideia possível levar o Bananada para São Paulo ou Rio. Como está isso?
A gente teve oferta muitas vezes para ir para São Paulo, Rio ou Brasília. A gente já fez algumas coisas, pequenas, do Bananada em São Paulo, no Rio, em Brasília, em Lisboa, em Barcelona. Não sei, cara.
Mas dá para pensar o Bananada fora de Goiânia, até pela identidade que ele criou nesses 20 anos com a cidade?
Eu acho que dá para pensar o Bananada também em outras cidades. Não acontecendo em Goiânia eu não acredito. Mas também não estou perdendo muito o meu tempo pensando ou trabalhando nessa possibilidade. Quem sabe! É uma questão de oportunidade. Eu nunca imaginei que no Bananada a gente ia ter atividades de artes visuais, gastronomia e skate ao mesmo tempo, que eu teria a chance de ter o Gilberto Gil tocando nos 20 anos do Bananada, que o negócio pudesse ser tão diverso ter no mesmo final de semana Menores Atos (RJ) e Pabllo Vittar (MA).
A gente vai ter o Meridian Brothers (Colômbia), que é a minha banda favorita na América do Sul hoje. Se a gente conseguiu chegar até aí por que que nós não podemos chegar em outro lugar? Depende da minha paciência. Aliás, nem depende mais da minha paciência, hoje tem uma galera tão na pilha, tão fazendo, que tem mais gente envolvida querendo fazer o negócio dar certo além de mim, Daianne Dias e Lucas Manga (os três sócios do Bananada). Tem o Centopeia, uma galera que quer legar o negócio pra outro lado. E as pessoas tem pertencimento com o Bananada, e elas querem apontar e dar as características delas. Eu não faço sozinho.
Quais show do Bananada você ainda não viu? E quais você não quer perder de jeito nenhum?
Tem alguns shows que eu não vi. Não perca sob nenhuma hipótese o show dos Meridian Brothers. Não perca. É uma coisa muito legal. É um tipo de música que está acontecendo na Colômbia que está transformando a realidade da música de lá. A galera do Romperayo (Colômbia), que veio ano passado, é da mesma turma, mas essa é a melhor banda deles. Se você gosta de música barulhenta vá ver o Deaf Kids. Eu vi no festival DoSol e foi foda. Eu estou curioso para ver o show grande do ÀTTØØXXÁ. Eu não vi o Lee Ranaldo com as guitarras dependuradas, eu só vi o acústico dele. Já vi o Sonic Youth várias vezes, mas esse é um show incrível. Vai ser para 200 pessoas. Na segunda e na terça.
Os dois show do Lee Ranaldo são iguais?
Um show é um set acústico e o outro se chama “guitarra suspensa (noise recitation/suspended guitar)”. O set acústico é o mesmo que rolou em Brasília, mas esse da guitarra suspensa ele ainda não fez no Brasil.
Ele tocou na SIM São Paulo em 2015 antes de trazer a turnê solo no ano passado.
Mas aquele era diferente, ele fez com uma banda. Esse de terça é um que ele amarra umas guitarras no teto, é só barulho e poesia. É do caralho. Os vídeos são incríveis. Ele é um cara muito legal. A gente trouxe ele em Brasília, não conseguiu fazer em Goiânia. O Móveis Convida com ele foi a Construtora que produziu. Fiquei frustrado de não fazer em Goiânia. Encontrei com o Lee Ranaldo em um evento no Chile e ele me perguntou “e aí, quando eu vou pra sua cidade?” e eu respondi “vai agora”. E vai ser o segundo Sonic Youth aqui, vai ficar faltando a Kim Gordon e o Thurston Moore. Fica a dica.
Enquanto você organiza os últimos detalhes da edição de 2018, dos 20 anos do Bananada, te faz lembrar e dá saudade de algum momento, shows ou qualquer outra coisa com saudosismo?
Sinto saudade de quando o Bananada era no Martim Cererê o Martim Cererê era o lugar. Quando o Martim Cererê era administrado pelo Carlos Brandão e o Bananada e o Goiânia Noise aconteciam lá, e a galera não conseguia nem perceber a diferença entre o Goiânia Noise e o Bananada, além de um ser em maio e o outro em novembro, foram momentos que transformaram a vida de muitas pessoas que estão aqui agora. Inclusive a sua. A minha transformou de verdade. Quando o Martim era dirigido pelo Brandão e a gente podia fazer o que quisesse é algo que me faz falta. Agora, não sei se eu acho melhor do que é hoje. Eu queria ter 20 anos hoje, poder ir ao Complexo quarta, na festa Felamacumbia quinta, no sábado no Bananada ficar dançando uma sequência ÀTTØØXXÁ, Carne Doce, Rincon Sapiência (SP), Pabllo Vittar, Heavy Baile (RJ), depois ainda fazer um after na Roxy até 6 horas e não ter que fazer nada no outro dia.
Mas hoje você pode fazer isso no Bananada, porque vai ter o Heavy Baile e coisas de estilos diferentes que vão estar ali.
A pessoa pode fazer isso hoje. Eu queria fazer isso com 20 anos. Hoje eu não posso fazer isso, eu tenho que deixar o negócio funcionando. Eu tenho que ficar falando meia hora com você.
Você disse que não deu para trazer o Baco, porque não deu para trazer.
Não deu não, não coube esse ano. A gente tinha o Baco, Tim, Letrux. Não encaixou esse ano, mas vai ter em breve. Teve banda de Goiânia que a gente quis esse ano e não deu para colocar.
Vem uma outra escalação do rap com Rincon Sapiência, Rimas e Melodias (SP), Coruja BC1 (SP). Há uma aposta de inclusão maior do rap no Bananada?
Larissa Luz (BA), KL Jay (SP). Cara, a gente faz isso já tem tempo.
O espaço está maior. Tem mais artistas de rap dessa vez.
Tem. A gente tem uma parceria incrível com o Lab Fantasma. Fióti e Emicida são amigos da gente.
O Emicida veio em 2014 para o Bananada.
Exato. São amigos nossos. Eles queriam apresentar artistas novos. E o Emicida disse “vamos fazer eu com mais outra galera”. Eu falei “pô, vai ser incrível”. E aí a gente ouviu a Drik Barbosa (SP) e o Coruja, eles são foda. E é isso. O Fióti veio ano passado, veio a Akua Naru (Estados Unidos). A gente pesquisa umas coisas novas. O Rincon Sapiência é um nome do momento. A gente queria ter mais espaço, inclusive. Vai ter showcase de rap no meio da semana.
E vocês vão fazer uma mistura de público louca, porque tem a Pabllo Vittar, que vai fazer uma apresentação com uma artista goiana, que é a Aretuza Lovi.
A Pabllo Vittar é quase tão goiana quanto a Aretuza Lovi. A Pabllo Vittar discotecou e cantou na Roxy e no El Club muitas vezes. Os empresários da Pabllo Vittar – Yan Hayashi e Leocadio Rezende – são amigos nossos de antes. São amigos da casa do Manga. O Yan a gente fazia show de hardcore em Uberlândia e ele estava no Fora do Eixo produzindo lá. O Rodrigo Gorky, que é o produtor musical da Pabllo Vittar, era o DJ do Bonde do Rolê. Eu e Daianne (A Construtora Música e Cultura) fizemos booking do Bonde do Rolê durante três anos. Bonde do Rolê tocou no Bananada (2015). O Gorky fez a produção da Banda Uó.
A gente fez a gestão da carreira da Banda Uó durante anos. Não é um alien que está descendo no Bananada. A Pabllo vem curtir o Bananada. Não dá pra gente não fazer um artista que tem todo um relacionamento com a gente que veio da mesma cena que participa do Bananada. Vai dizer que Roxy e El Club não são parte fundamental do Bananada? Está bombando no Brasil e no mundo inteiro, quer tocar aqui, topa a condição que a gente oferece e a gente não vai fazer? Aí é chamar a gente de burro.
Ficou na lembrança do público os problemas da falta de estrutura do show da Pabllo no ano passado no Vaca Amarela com um público muito maior do que o esperado.
Foi de última hora. Exato. O Bananada está preparado para receber o público da Pabllo igual recebeu o público do Planet Hemp (2016), como foi com o do Criolo (2015), da Céu (2017), Karol Conka (2017), Caetano Veloso (2015), Gilberto Gil, igual Nação Zumbi e BaianaSystem um na sequência do outro no final do último dia. A gente vai fazer para o tamanho do público que conseguimos receber. A gente não vai exagerar no público. A gente não é maluco. Vendeu o tanto de ingresso que cabe acabou. Normal. No mundo inteiro é assim.
O público não é uma horda de gente maluca. São fãs de música, fãs do artista. Não tem problema nenhum em receber nem o público da Pabllo e nem o público do Frieza. Não faz diferença. Todos vão ser bem recebidos. Essa é a diversidade do Bananada. O povo não entendeu isso até hoje. Nós já conversamos sobre isso cem vezes. Teve uma orquestra ano passado. Artistas no perfil da Pabllo Vittar já tivemos Banda Uó, Bonde do Rolê, Jaloo, Valentina, Johnny Suxxx and the Fucking Boys.
O próprio Teto Preto ano passado com a vocalista pelada no palco.
Teto Preto. Felizmente para a Pabllo e pra nós, ela é uma artista que rompeu o underground, rompeu a noite de música eletrônica, rompeu a cena drag e está em todas as casas. Minha filha de 8 anos adora Pabllo Vittar.
Chegou ao ponto de a Pabllo arrastar outras drags com ela no meio artístico.
Arrastar não. Trazer para participar, mostrar o trabalho. Quem produziu a festa da Pabllo em Uberlândia, o aniversário dela, foi o Bananada. A gente organizou a nossa equipe e foi produzir. Eles amaram. Foi aí que o Manga consolidou o trabalho com ela. E lá teve Aretuza Lovi, Gloria Groove, Mulher Pepita, um monte de artista do caralho que está aí. Qualquer uma delas poderia se apresentar no Bananada. Ano passado teve Sapabonde. Eu acho que a Pabllo veio de público ano passado. Eu sei que o Yan, empresário dela, veio. O Gorky tocou em 2015. Não é um segredo pra gente.
Além do Lee Ranaldo, tem muita coisa até quinta-feira fora do Passeio das Águas.
Vai ter um Felamacumbia com um artista que poderia estar no line-up do Bananada (quinta). Vai ter uma festa do Rocklab que vai ser MQN, Sheena Ye e Mellow Buzzards (terça). Um dos showcases vai ser Laura Lavieri, Marcelo Callado e a Sarinhah Abdala, que é daqui (quinta). Ano passado foram mais ou menos uns 30 showcases. Esse ano vai ser mais ou menos o mesmo tanto.
Vão manter o formato de ter vários showcases ao mesmo tempo?
Quando o El Club abre, a Roxy não abre? Quando o Complexo abre, o Cafofo não abre? Por que na semana do Bananada eles não podem abrir ao mesmo tempo? Na semana do Bananada eles têm que abrir ao mesmo tempo. Tem público pra isso. Beleza, você que é tarado em show igual eu, vamo perder um show ou outro. Mas a vida é dura. A gente vai ao Mineiro Beat em Uberlândia ver o show depois, espera voltar no Complexo. É assim, cara.
No ano passado você tinha a sua casa noturna, a Rock, que fez parte da programação do Bananada. Foi um tiro no escuro abrir a casa tão rápido?
O momento foi ruim. A gente fechou porque teve um problema entre os sócios. Do jeito que estava não era um bom negócio para os três sócios. A Rock valia a pena como ponto de cultura, mas principalmente como negócio. E como negócio não funcionou.
Em 2015, você disse que o Bananada te causava um problema financeiro que no fim das contas o cara que vendia sanduíche ganhava mais dinheiro do que a venda de ingressos na bilheteria. O que você espera no final da edição de 20 anos?
Eu espero pagar as contas que ficaram do ano passado. A gente deve uma grana para algumas empresas, com as quais estamos negociando com umas e estamos sendo processados por outras. Queremos muito pagar todas.
O que Goiânia perderia se o Bananada deixasse de acontecer na cidade, assim com se o Goiânia Noise ou o Villa Mix deixasse de existir?
Eu acho que em seis meses as pessoas iam lembrar com saudade e é isso. As coisas começam e acabam.
A primeira ação do Bananada foi o show do Red Fang (Estados Unidos) em março?
O Boogarins ano passado foi a primeira ação do Bananada de 20 anos. O Red Fang foi a segunda. A gente estava tentando trazer o Red Fang tinha um tempo, e agora a gente conseguiu.
O que você queria que tivesse de atração no Bananada que não deu certo de trazer?
Tem três anos que a Daianne está tentando a Marisa Monte e ela não responde. Tem outras pessoas fazendo show. Às vezes a gente se frustra em querer fazer shows que não deram certo de trazer. O importante é que artistas como Marisa Monte e Ney Matogrosso, que a gente tentou trazer em outros anos, possam tocar em Goiânia e você, eu e muita gente possa ver. A gente está fazendo a nossa parte.
Saiba mais
Festival Bananada – 20 anos
Quando? De 7 a 13 de maio (segunda a domingo)
Local: Diversas casas noturnas, teatros, bares e Shopping Passeio das Águas
Programação: Site oficial (clique aqui)
Ingressos: Sympla (clique aqui)