Médicos doentes põem em risco a vida dos pacientes
12 setembro 2023 às 19h03
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Médicos que têm o coração doente de insensibilidade humana são perigosos. E há muitos assim vicejando por aí. Eles põem em risco a vida dos pacientes, pois não são cumpridores da prática do Juramento de Hipócrates, principalmente no que diz respeito a “exercer a profissão com consciência e dignidade e de acordo as boas práticas médicas”. Muitos, espremidos pela influência e a grana da família, procuram tal profissão por sua rentabilidade em relação à maioria das profissões do mercado; mas sem dar a mínima ao que profissão exige deles enquanto seres humanos.
Procurei um especialista em ortopedia outro dia. Mal me ouviu. Nem pude concluir meu relato. Eu poderia confrontá-lo em sua falta de atenção ao que eu tentava lhe contar, perguntar-lhe se realmente sabe a importância do emprego da anamnese. Sobre tal procedimento, o professor e médico cardiologista Celmo Porto, o qual sigo no Facebook, dá uma dica interessante, numa das suas postagens, em como “reconhecer um médico competente”. Segundo ele, que já foi professor do curso de Medicina da Universidade Federal de Goiás, a competência não é constatada na quantidade de diplomas que o médico tem na parede do seu consultório nem “pela sua fama nas mídias sociais”. O cardiologista aponta que a identificação do bom médico está no tempo que ele gasta numa consulta: “Quanto maior o tempo, mais competente ele é”.
Refleti que não adiantaria nada advertir o médico que me atendera. Confrontá-lo não iria resolver o problema que eu buscava solucionar (ou pelos atenuar). Baseado nas palavras do cardiologista Celmo Porto, saí do consultório com um diagnóstico profissional do ortopedista. Concluí que era incompetente, enfermo de insensibilidade humana”, que acha “que está contribuindo com sua parte para o nosso belo quadro social”, como disse o nosso bruxo Raul Seixas em sua música “Ouro de Tolo”, apedreja com acidez o comportamento patético daqueles que, no cumprimento improdutivo de suas profissões, nada fazem de criativo.
Outro dia saí de casa pela manhã em direção ao trabalho chilreando todo feliz como um sabiá em época da chegada de chuva. Agora, por exemplo, em que estamos em setembro e já caíram as primeiras chuvas, tais aves estão cantarolando. Antes da minha ida ao trabalho, vou a uma lanchonete perto da minha casa para tomar o meu rotineiro leite com café e pão de queijo. Por chegar cedo, pego a primeira fornada da quitanda. A TV da lanchonete estava ligada, e uma matéria falava dos pormenores da cirurgia de quadril que o presidente irá fazer.
A matéria mostrou que ele fará uma artroplastia e assim colocar uma prótese em Lula devido ao desgaste da cartilagem da cabeça do fêmur. A matéria sobre a cirurgia do presidente Lula me trouxe a lembrança outra matéria veiculada num jornal diário de Goiás. Matéria esta, publicada em fevereiro deste ano, que relatava o calvário vivido pela dona de casa Marlúcia de Freitas. Demorou a ser diagnosticada com câncer na mama, e o exame definitivo de constatação da sua doença só ocorreu dois meses depois. A Lei 12.732, de 2012, que define o prazo de dois meses para início de tratamento, não foi cumprida. Assim Marlúcia teve de aguardar quase um ano, mas aí, segundo ela, seu estado de saúde já havia piorado: “Quando consegui fazer o tratamento, o câncer já havia espalhado para o fígado, tórax e crânio”.
Já nesta terça-feira, dia 12, a notícia na TV da lanchonete era outra enquanto eu tomava o meu café da manhã: “70 mil pessoas em Goiás à espera de especialista”. Na chamada constava também: “Fila de pacientes que dependem do SUS caminha a passos lentos”. A lembrança da dona de casa Marlúcia tornou amargo o meu café, ao pensar no que pode ter acontecido com ela de fevereiro para cá, haja vista que relatou a dispersão do câncer em outros órgãos do seu corpo.
Com essa ausência de médicos especialistas, muitas pessoas têm ido estudar a geologia dos campos santos antes da hora. Uma coisa é pessoa morrer de velhice, de acidentes letais, outra coisa abjeta é morrer por falta de tratamento. Isso não é morrer, é uma espécie de assassinato. Fernando Bacal e Fabio Gaiotto, os médicos que fizeram a cirurgia de transplante de coração no apresentador de TV Faustão, disseram algo bonito. Segundo eles, “doar um órgão é um ato de amor, de cidadania e compaixão”. E é mesmo. Mas a cidadania tem de chegar às milhares de pessoas nas filas dos hospitais à espera de um médico especialista, precisando de socorro médico urgente e isso sem haja necessidade de ninguém morrer para extrair algum órgão do morto para a sobrevivência delas.
*Sinésio Dioliveira é jornalista