Itaney Francisco Campos e José Carlos Camapum Barroso

Uma das personalidades mais notáveis que tiveram por berço o Estado de Goiás e, mais especificamente, a cidade de Uruaçu foi o geógrafo Antônio Teixeira Neto. Falecido recentemente, em 12 de julho de 2021, aos 80 anos, vitimado, ao que tudo indica, pelas sequelas da Covid-19, pandemia de escala mundial, a qual, no Brasil alcançou proporções de verdadeira tragédia, dizimando milhares de brasileiros (quase 700 mil), Teixeira Neto foi, ao longo de sua vida, um professor em tempo integral. Ou, melhor dito, um intelectual, um homem de espírito, atento sempre à realidade circundante, observando o homem em seu espaço geográfico e seu contexto histórico e condições socioeconômicas.

De Antônio Teixeira Neto se poderia dizer o que se disse sobre o professor Milton Santos (1926-2001), o baiano que expandiu as fronteiras do estudo da geografia, um geógrafo que buscou a reconstrução intelectual do mundo a partir da geografia cidadã.

Antônio Teixeira Neto foi, repita-se, exclusivamente professor. A rigor, um catedrático, cuja produção acadêmica revela um intelectual humanista, orgânico, antenado com o seu tempo e seus semelhantes. E preocupado com o bioma, com o meio ambiente, com a preservação das espécies e valores culturais do povo goiano. Teve uma trajetória ascendente, de técnico em agrimensura alcançou os louros do pós-doutorado realizado em instituição parisiense, na França — em época em que Paris reunia uma plêiade de intelectuais e acadêmicos que influenciaram decisivamente no pensamento da sociedade ocidental.

Sua carreira na docência iniciou-se no ano de 1962, já formado como técnico em agrimensura, na Escola Técnica Federal de Goiás. Três anos depois, vamos encontrá-lo como professor de Cartografia, da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica de Goiás, hoje Pontifícia Universidade Católica de Goiás. No mesmo período, ministra a disciplina Fundamentos de Sociologia, no Colégio Assumpção, da capital goiana. Assume, em 1966, o cargo de professor titular de Cartografia e Aerofotogrametria, do Instituto de Química e Geociências da Universidade Federal de Goiás.

A carreira do mestre desenvolve-se então de forma meteórica e brilhante, mercê de seus esforços e extrema dedicação. Licencia-se em História pela Faculdade de Filosofia da UFG. Torna-se engenheiro-agrimensor pela Escola Superior de Agrimensura de Minas Gerais, já tendo se especializado, então, em Cartografia. Inscreve-se no Curso de doutorado em Geografia, especialidade: Cartografia, na Université Paris VII, apresentando em 1975 sua tese “O Estado de Goiás na Cartografia Luso-brasileira dos séculos XVIII e XIX”.

A essa altura, já exercera a chefia do Departamento de Geografia do Instituto de Química e Geociências da UFG, função que desempenharia por mais de dez anos. Durante cinco anos (1984-1989), foi professor do curso de mestrado “História das Sociedades Agrárias” do ICHL, da UFG.

Revelando sua incansável operosidade, Teixeira Neto fez nos anos 1990-1991 curso de pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris-França.

O estudioso, com vínculos com comunidade universitária francesa, atuou, em 2001, contratado pelo ONG Arca, como professor no programa de Capacitação de Docentes da Comunidade Kalunga, na cidade de Teresina de Goiás.

Antônio Teixeira Neto exerceu o magistério, entre 2004 e 2006, no Instituto de Geografia, Ciências Humanas e Relações Internacionais da UCG. Nesse lustro, escreveu vários artigos sobre aspectos da geografia goiana para publicações especializadas. Sua bibliografia registra uma dezena de ensaios não publicados, inclusive traduções de artigos em francês, sobre a cartografia (traduziu artigos dos professores Jacques Bettina e Serge Bonin).

Tornou-se associado do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG) e dedicou-se a escrever, em coautoria com o renomado geógrafo e professor Horieste Gomes, variados ensaios de natureza geográfica e histórica, com grande repercussão acadêmica. Quando de seu passamento, as entidades culturais goianas externaram manifestos de luto e pesar, em torno do triste evento, transcrevendo-se aqui a nota da Academia Feminina de Letras e Artes de Goias (Aflag), nos seguintes termos, em síntese:

“A Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás (Aflag) lamenta profundamente o falecimento do professor-dr. Antônio Teixeira Neto, ocorrido nesta segunda-feira (dia 12 de julho). 

“O historiador, cartógrafo, geógrafo e professor Antônio Neto era atuante sócio-titular do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG). Foi uma das principais referências nos estudos da formação territorial do Estado de Goiás, além de ferrenho defensor do Cerrado. Foi professor na Universidade Federal de Goiás (UFG) e um dos fundadores do Instituto Altair Sales.

Sua memória jamais será esquecida pelo grande legado que nos deixou.”

A nota foi assinada pela poetisa Elizabeth Abreu, presidente em exercício. No Grupo de Amigos do Zé Sobrinho, do qual Antônio Neto também participava, houve iterativas postagens de lamento, reconhecimento e pesar.

Itaney Francisco Campos é escritor e poeta. José Carlos Camapum Barroso é poeta e jornalista.