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A história de “Widmung”, do compositor Robert Schumann

“Widmung” é uma declaração de amor invulgar, cuja letra foi extraída dos versos do poeta Friedrich Rückert. Tornou-se especialmente famosa entre os cultores da música erudita, sobretudo, por sua popularização crescente como peça fundamental do canto lírico mundial

Martiniano

J.C. Guimarães Especial para o Jornal Opção cul2Martiniano Almeida Rossi, 61 anos: não inventarei um personagem. É este aí mesmo. Militante político, publicitário e engenheiro (gostaria nessa ordem, provavelmente), foi um dos fundadores do nosso partido. Foi também um líder de caráter, idealista e coerente. Faleceu num sábado, 29 de agosto. Um dia antes me ligara: era o último de sua vida — como poderia saber? —, mas estava interessado numa coisa de somenos importância, diante da enormidade do passo seguinte. Queria saber se eu topava pleitear uma vaga na direção municipal. Com a voz estrangulada pela rouquidão, quase não entendi o que falava. Propora indicar o meu nome para a chapa vencedora; se dispôs a defendê-lo como postulante do grupo. Aceitei sua ilusão e respondi-lhe com firmeza, como se travássemos um despreocupado diálogo entre Esculápio e Ganime­des. Foi a última vez que nos falamos. Antes que morresse nos encontramos algumas vezes, em sequência. A quarta vez foi há duas semanas, em sua casa, nas proximidades da Praça Cívica. O motivo, ordinário, era o partido: o partido era o elo que nos unia e nos separava. Marcus Messner, o egoísta, não tinha mais o gosto religioso das confrarias, como seu amigo de outros tempos, que se tornava, gradativamente, uma relíquia histórica. Messner achava insuportável a ideia de viver e morrer em função do grupo, como se o mundo permanecesse dividido entre comunistas e capitalistas: talvez o quiséssemos; talvez fosse insuportável perder o chão, mas a vida não liga. A história é a maior potência da história. Desenraiza-nos, atropela nossas paixões. É invencível. Entre debiques e fumaradas, Mar­tiniano se divertia com reuniões muito mais do que eu — como aliás se divertiu, naquele dia, no início da tarde. Na roda en­contrávamos eu, ele, uma professora do primário, um casal de funcionários públicos, uma em­pre­gada doméstica e um jornaleiro gordo e bonachão, que descia de Nerópolis: Daniel, a erva daninha. Quase nunca dava certo de nos encontrar: éramos poucos e pouca a motivação. Suspeitei, por isso, que a urgência do seu caso foi mais interessante do que o pretexto original: pela primeira vez havia um acordo mútuo, entre nós. Com muito custo nos encontrávamos durante o ano e, agora, num único mês conseguimos articular duas reuniões em sequência: foram o terceiro e o segundo encontros. Se morresse um de nós a cada mês, em breve passaríamos de uma centena. Tentamos trazer outros elementos e a conversa estendeu-se até a uma importante entidade de trabalhadores rurais. Vislumbramos uma terceira reunião com um número dobrado de participantes. Só que não houve a terceira reunião, nem houve mais planos. As adesões não se confirmaram. Fracas­samos pela enésima vez, admiravelmente quixotescos. Na noite seguinte retornei so­zi­nho à casa de Martiniano, a seu pedido, pois ele queria avaliar o quadro. Recolhemo-nos na área dos fundos, de parelha com a cozinha. A empregada trou­xe à mesa pães de queijo assados na hora e um saquinho de soja torrada. Martiniano a­briu uma Bohemia e tomamos juntos. Bem baixinho, ouvi uma valsa de Strauss vindo de seu escritório (por alguma motivo eu me lembrei das músicas incidentais, nos filmes). Não era na verdade uma valsa de Strauss, mas eu não sabia que música era aquela e acreditei que ele poderia gostar de Strauss. Tinha seus refinamentos burgueses, apesar da filiação comunista. Sua casa era enorme e ele possuía um Fritz Dobbert, jazendo solenemente num dos cômodos espaçosos. Uma litografia de Siron, quadros de Antônio Poteiro e de outros artistas de renome enfeitavam as paredes da sala de visitas. Martiniano vivia bem, da forma que se merece, e eu não poderia censurar aquele amigo dos pobres por ter conquistado alguma dignidade. Na estante destacavam-se, ao primeiro golpe de vista, as grossas lombadas vermelhas das biografias de Che, Stálin e Mao, vidas pelas quais nunca me interessei. Enquanto degustávamos os aperitivos, olhei para ele e sugeri: “Vamos esquecer a formação do grupo. Já há muitos partidos no partido, não acha?” Preparei-me para ser duramente altercado, pois ele envolvera-se na causa a ponto de ainda mandar tomar no cu, como fazia todas as vezes em que se sentia contrariado. Era bom sinal que me mandasse tomar no cu, coisa que eu não tinha coragem de mandá-lo fazer. Era bem mais velho do que eu e, apesar de ser liberal e curtidor, uma espécie de respeito se me impunha e eu não conseguia tratá-lo com tanta intimidade. Apesar da doença Martiniano teimava em viver com certa normalidade seus últimos dias, e por isso portava-se como um imaculado. Tentando enganar-se, acho, ele agia como se tudo estivesse sob controle, embora porcaria nenhuma estivesse mais sobre controle. Ainda me ligava com a frequência habitual, passava e-mails, jogava paciência em seu computador, bebia cerveja e interessava-se pelos destinos do grêmio. E continuava fumando um cigarro atrás do outro, mais ansioso do que nunca. Eram expressões de seu interesse pela vida. Como repreendê-lo pela anestésica carteira diária de Carlton? Se tinha medo, não é o que desejava transparecer, irônico ainda, risonho ainda. Um lapso e a certeza: vai se recuperar, por que não? Com tal interesse pela vida, eu poderia jurar que daria a volta por cima e faríamos muitas outras reuniões — quem sabe ainda viraríamos o mundo de pernas pro ar, como ele sonhava! Erámos sete personagens típicos, que lembravam o germe das revoluções inacabadas. Que me lembravam “A Jangada”, de Gericault... De qualquer modo achei sinceramente que seria possível: a vida não é um amontoado de absurdos? Tudo pode mesmo acontecer, se você acredita, se você se empenha. Para minha surpresa, ante a ideia de abortar nossos movimentos, Martiniano apenas olhou para mim e deu um sorriso de aceitação. Isso não fazia parte do script. Tive a impressão de que o sorriso dele flutuara fora do tem­po. Pensamentos terríveis minavam a atenção de Martinia­no, enquanto ele sorvia a cerveja e tragava um cigarro, que o tragava. A intervalos tossia e pigarreava, massageando a garganta enfermiça. O pijama de seda deixava seu aspecto ainda mais lívido e convalescente: quase morto. Não respondeu nada durante alguns minutos, sentado, quieto. Limitou-se a contemplar o que já não cabia em pensamentos. Dado instante, fe­cha­ra os olhos e roçara a testa, a­fo­gando-se para dentro de si. Eu es­tava vendo derreter uma estátuas de cera, como aquelas dos mu­seus. Novo trago. Olhei de novo; novo e discreto sorriso, eloquente de doer (um amigo por perto pode servir de boia no pânico, eu recordaria nas próximas horas). Deixar tudo de lado já não soava uma perda tão importante assim. Dali a pouco eu me despedi com a trivialidade de sempre, sem saber, ignorante, que nunca mais apertaria a sua mão. O último contato e a última palavra entre amigos podem ser de uma banalidade impressionante. Assim aconteceu entre eu e ele. Na segunda-feira, 31, ao chegar ao trabalho, meu diretor me surpreende ao dizer que Martiniano “morreu”. Incrédulo, fui ao jornal do dia, olhei e lá estava ele, Martiniano, estampado sob a nota ruim e inequívoca, despertando-me para a realidade, mais irreal do que o sonho. Era mesmo ele: o homem de chapéu de feltro e barba destruída pela quimioterapia — um líder perdido para a doença. Mas, alegre, continuava sorrindo para nós, como se fosse imune. A alegria que é a maior recusa, o maior protesto. Vá lá o corpo — mas o que são feitos dos sentimentos de uma pessoa, quando ela morre? Caberá mesmo numa cova o coração de um homem? Leio o conteúdo inacreditável, conheço sua agonia e descubro que tinha sido sepultado no dia anterior. Enquanto morria eu traçava planos de futuro, sem nunca imaginar como foi duro o seu final de semana. Hemorragia, parada cardíaca e óbito. Conhecia Martiniano há três anos. Apesar da diferença de idade que nos separava, quis de mim um amigo, desses de sair para o boteco. Fiquei devendo a ele uma rodada, que para sempre teceu um vínculo de afeto entre nós. Nunca lhe perguntei se acreditava na vida após a morte (não sofria a doença da gravidade, como eu). Se ela existe, saberá agora que não resisti de fazer esse conto, com feitio de crônica, em sua homenagem. As palavras me atormentaram e tive de me livrar delas, para sobreviver sem omissão. Na­quela mesma segunda-feira, à noite, eu conferi no celular as chamadas recebidas e lá estava, pela última vez, o seu nome: “Martiniano 28/08/09 15:22”. Fiquei olhando seu nome, o dia e a hora cravada. Deti-me por um momento, perplexo com esses dados, aparentemente insignificantes. Eu estava agora diante do último criptograma, diante já do mistério insondável e surpreendente que nos assusta feito crianças. J.C. Guimarães é escritor e crítico literário.

Troca de acusações entre caciques afugenta o interesse do eleitor pelo novo presidente

[caption id="attachment_7677" align="aligncenter" width="610"]Adolescentes se mostram menos propensos a votar, reflexo direto do baixo nível da política na campanha pré-eleitoral Adolescentes se mostram menos propensos a votar, reflexo direto do baixo nível da política na campanha pré-eleitoral[/caption] Quanto mais os caciques políticos trocam acusações entre si, maior o desencanto dos eleitores. A constatação é autorizada pela mais recente pesquisa do Ibope sobre a sucessão, que manteve estáveis as cotações dos dois principais concorrentes, presidente Dilma Rousseff e senador Aécio Neves (PSDB), mas inchou a rejeição a ambos e ao socialista Eduardo Campos. A pesquisa foi às ruas no dia seguinte às hostilidades contra Dilma, há dez dias, na abertura da Copa do Mundo, em São Paulo. Assim o Ibope entrou em campo no dia 13, sábado, e ficou ali até a segunda-feira, 15. Nesse espaço de três dias, flagrou a reação inicial da massa de eleitores no momento mais explosivo do choque entre o PT e a oposição. A rejeição dos eleitores atingiu Dilma, proporcionalmente, me­nos do que a Aécio e Campos. Era de 38% na última pesquisa, divulgada em 10 de junho, dois dias antes do início da Copa. Agora chegou a 43% — subiu menos, mas é a taxa mais alta entre todos. A rejeição a Aécio era de 18% e quase dobrou, com 32. Com Campos, mais do que dobrou ao passar de 13% para 33. A discrepância de Campos em relação aos outros dois confirma a tendência à polarização da disputa entre o PT de Dilma e o PSDB de Aécio, seguindo o costume que Lula se impôs de procurar, nas campanhas, chocar-se preferencialmente com tucanos, para os quais perdeu duas eleições presidenciais, mas depois venceu outras três, incluindo-se a de Dilma. Outra diferença interessante em relação a Campos está no seguinte. Sendo o mais desconhecido entre os três candidatos, ele era o menos rejeitado na pesquisa do Ibope de 10 de junho, com aqueles 13%. Mas, por ser o mais desconhecido, pagou com a maior elevação proporcional de rejeição num espaço de nove dias, ao conquistar os novos 33%. [caption id="attachment_7681" align="alignright" width="300"]Entre os três candidatos, Eduardo Campos e Aécio Neves têm menos rejeição Entre os três candidatos, Eduardo Campos e Aécio Neves têm menos rejeição[/caption] Há uma coerência num movimento tão brusco em pouco mais de uma semana. Campos paga o pato pela indução do eleitor, conscientemente ou não, à polarização entre os adversários Dilma e Aécio. Trata-se de um fenômeno que se reflete na mudança na cotação de votos a favor de Campos, que tinha 13% das preferências e agora foi a 10. Dilma se manteve estável ao subir um ponto na preferência do eleitor: passou de 38% a 39. A mesma coisa com Aécio ao descer um degrau, de 22% para 21. A oscilação deles está dentro da margem de erro da pesquisa, 2%. Também estão os outros tipos de voto. Os indecisos eram 7% e foram a 8. Os brancos continuam com 13%. Portanto o reflexo negativo da discussão está mesmo no incremento da rejeição aos candidatos nos quais o eleitor, no calor da batalha, afirmou que não votaria de jeito nenhum. Ao mesmo tempo, a estabilidade relativa do voto a favor de Dilma e Aécio indica posições que não se perturbaram entre uma semana e outra, apesar de toda a agitação entre eleitores e políticos. A propósito do desencanto com a política, a semana revelou outra tendência a se projetar no futuro. É o desinteresse de adolescentes em se alistarem como eleitores. Um ano depois dos protestos de junho, somente um quarto dos jovens com 16 e 17 anos se inscreveu para votar, exatos 25%. As estatísticas expostas pelas repórteres Paula Ferreira e Thalita Pessoa demonstram que o número dos adolescentes que renunciam ao voto facultativo está em alta desde as eleições de 2006, ano marcado pela evolução da apuração do mensalão, revelado em 2005. A partir daí a mídia apresentou questionamentos sucessivos sobre corrupção no governo. Em 2006, quando Lula se reelegeu, os eleitores entre e 16 e 17 anos equivalia a 39% da população com essa idade. Nas eleições de 2010, a proporção caiu para 32%. Agora, chegam aos 25%. Numa manifestação paralela, os números de­monstram a falta de lideranças políticas ou partidos capazes de tocar a adolescência no sentido de levá-la à participação nas urnas.

TV Anhanguera perde qualidade ao requentar notícias velhas

A TV Anhanguera conta com bons profissionais, seu jornalismo está mais agressivo, com o objetivo de superar a concorrência — que tem mais pegada, e com equipes menores, porém mais azeitadas —, mas continua pouco motivado. No afã de se “aproximar” da TV Serra Dou­rada — que supera o jornalismo da rival com frequência, segundo dados do Ibope — e da TV Record, a Anhanguera perdeu identidade com a Globo. Às vezes, em termos de seriedade jornalística, segue-se a Globo. Porém, em seguida, faz-se opção por um jornalismo modorrento, nada criativo, antigão — distanciando-se da rede. A Anhanguera, que permanece séria e tem uma equipe competente, precisa, com certa urgência, de um choque de criatividade e motivação (nada de otimismo em gotas, e sim no sentido de se fazer jornalismo com prazer e, portanto, com alegria). Jornalismo burocrático espanta telespectadores, que hoje têm dezenas, até centenas de opções, tanto em termos de televisão quanto de internet. A “fuga” para a internet — nem se fala dos canais por assinatura (cresce o número de pessoas que falam de séries e diminui o número de pessoas que falam de novelas) — parece que ainda não foi devidamente dimensionada pelos dirigentes do Grupo Jaime Câmara. Outro problema ao qual a Anhanguera precisa prestar mais atenção é a respeito da qualidade e da atualidade das informações de seu noticiário. Dada a rapidez do jornalismo que se faz na internet, e até nas emissoras de rádio e nos canais de jornalismo por assinatura, quando a Anhanguera noticia os fatos, por ser engessada pela grade de programação da Globo, eles estão “velhos”, pois foram comentados à exaustão em vá­rios sites e portais o dia todo. A Anhanguera pode dar as mesmas informações, é claro, mas precisa nuançá-las. Porque, no momento, está chegando às casas dos telespectadores com um ar, digamos, déjà vu.

Eu tento mas a desesperança não morre

A nova legislação dizia bem assim: que cada família se virasse e tomasse tento dos seus doentes mentais, ao invés de atirá-los à clausura, ao abandono, ao esquecimento de um hospício cujos corredores tinham um cheiro de fezes mesclado ao eucalipto dos desinfetantes”

Irapuan Costa Junior lança livro de contos da vida real ou de não-ficção

[caption id="attachment_7680" align="alignright" width="269"]imprensa0001 “Teimosas Lembranças” contém histórias incríveis, como a do tenente brasileiro que desafiou o exército americano, na Itália, para liberar um pracinha rebelde[/caption] Um belo livro acaba de ser publicado, mas não terá lançamento e possivelmente não será vendido nas livrarias — por desinteresse do autor, que não se considera escritor, quando, na verdade, o é e, mais, é um estilista da Língua Portuguesa. “Teimosas Lembranças”, do ex-governador de Goiás Irapuan Costa Junior, contém aquilo que se pode chamar de contos (ou crônicas) da vida real, ou, à maneira de Truman Capote, é possível indicar que são contos de não-ficção. Usando a imaginação de maneira poderosa, Irapuan recria histórias reais, sem distorcê-las, mas tornando-as muito mais interessantes do que, possivelmente, foram na vida real. Para não ferir suscetibilidades, às vezes muda o nome das pessoas. Há uma delicadeza ímpar ao se contar histórias espinhosas. Pode-se dizer que há algo de insípido na vida cotidiana, isto para um observador desatento, o que não é o caso. [caption id="attachment_7673" align="alignleft" width="150"]Irapuan Costa Junior: o ex-governador de Goiás é um escritor nato, com imaginação poderosa Irapuan Costa Junior: o ex-governador de Goiás é um escritor nato, com imaginação poderosa[/caption] Leitor frequente de livros em língua estrangeira (seu forte é o francês) — como um recente sobre Fidel Castro, o ditador cubano que adora mordomias —, Irapuan comprou num sebo o romance “The Fowler”, da inglesa Beatrice Harraden. Ao chegar em casa, percebeu que havia um dedicatória breve, de um homem para uma mulher. A partir daí, Irapuan, mostrando-se escritor consumado — senhor da forma e dono de uma imaginação fumegante —, recria a história de Neda e de M. Aranha. “Reflexões sobre uma pequena dedicatória” é o conto mais imaginativo e bem escrito do livro. É literatura pura. Puríssima. “Chico Paraíba” merece figurar nos livros de história da Segunda Guerra Mundial. O pracinha Chico Paraíba foi preso pelos americanos, na Itália. O tenente Ithamar, oficial corajoso, enfrentou a arrogância dos militares de Roosevelt e Eisenhower, e libertou-o. A história é contada com graça e sutileza. A história da cachorrinha Fumaça lembra, na maneira de contá-la, um conto do russo Anton Tchekhov. A odisseia lancinante de Emília e André parece saída de um conto (ou romance; “Dom Casmurro”, por exemplo) de Machado de Assis, tal a perspicácia do narrador, que vai nos enredando, conduzindo-nos para um rumo e, no fim, a história toma outro caminho — doloroso, trágico. “O Vulto da Outra” é um conto da vida real que, nas mãos de Hitchcock, daria um filme de suspense (ou, talvez, dramático), como “Um Corpo Que Cai”. Ou, quem sabe, “Rebeca — A Mulher Ines­quecível”. O engenheiro Alexandre apaixona-se por Marta, mas ela morre. Deprimido, passa a beber. Tempos depois, casa-se de novo, com uma nova Marta, ao menos na aparência. Entretanto, se era semelhante, dado ao estilo sugerido (ou imposto) por Alexandre, Irene não era Marta — e tudo acabou mal. Poderia dizer ao leitor: “Nasce um escritor”. Mas seria impreciso. Irapuan é escritor há muito tempo — o que provam seus textos publicados no Jornal Opção. Só não havia publicado um livro, por falta de vaidade. Fica-se na torcida para que nos dê outros livros. Há algum tempo que tento convencê-lo a escrever um livro sobre Jack London. O escritor norte-americano não é nenhum James Joyce ou William Faulkner. Mas é daqueles autores que quando se pega um de seus livros e se lê as duas primeiras páginas não se para mais. Trata-se de um notável contador de histórias, que puxa o leitor para uma espécie de imersão profunda, sugerindo que também está participando delas. Irapuan é um jacklondófilo. Sabe tudo sobre a obra e sobre a vida do autor de “Caninos Brancos”, “O Chamado Selvagem” e “O Lobo do Mar” (um belo romance filosófico). A obra é apresentada pelos escritores Hélio Moreira (autor de um ótimo romance sobre Couto Ma­galhães) e Aidenor Aires. As ilustrações são de Amaury Menezes.

Novo relator no STF promete solução para mensaleiros ainda nesta semana

Com saída do ministro Joaquim Barbosa do Supremo, a expectativa é de que o ministro Roberto Barroso vá dar vida mais fácil aos mensaleiros condenados

O Popular põe palavras de Silvio Sousa na boca de Armando Vergílio

Depois de distorcer as palavras de Ana Paula, filha de Iris Rezende — a jovem teria atacado Júnior Friboi quando as gravações indicam que estava criticando o governo tucano —, o “Pop” comete mais um erro. No seu lançamento como vice de Iris, o deputado federal Armando Vergílio não disse que o governador Marconi Perillo promete e não entrega. Basta checar as gravações para verificar que não há nenhuma fala do presidente do Solidariedade a respeito. O “Pop” tem como apresentar gravações para se defender? Não tem, garante Armando Vergílio. Na verdade, a fala é de Silvio Souza, aliado de Armando Vergílio. A suposta fala do deputado foi a deixa para o vice do governador Marconi Perillo, José Eliton, ser acionado rapidamente por Jarbas Rodrigues Jr., da coluna “Giro”, e fazer a defesa do governo. Como a editora-chefe Cileide Alves sabe, tudo está muito ensaiadinho para ser jornalismo. Mas não sabe o que está realmente acontecendo debaixo de seus olhos de Capitu. As competentes editoras Cileide Alves e Silvana Bittencourt precisam ficar mais atentas àquilo que as empresas às vezes chamam de controle de qualidade. A editoria política tem falhado com frequência e o jornal raramente publica correções.

O Popular continua perdendo seus melhores repórteres

Ricardo César e Pedro Palazzo, dois repórteres competentes e experientes, deixaram a redação do “Pop”. O primeiro escapou da “escravidão” das edições de fim de semana. Ricardo César estaria sendo “discriminado”. O segundo pretendia ficar no jornal, mas, ao assumir a assessoria do vereador Elias Vaz (PSB), candidato a deputado estadual, foi convidado a se retirar. Cileide Alves disse ao jornalista que era eticamente incompatível trabalhar como repórter e assessor. A editora-chefe tem razão. Mas por que é incompatível só para Pedro Palazzo? Em três ou quatro anos, o “Pop” perdeu alguns de seus me­lhores repórteres — todos eles empregados noutros lugares, e com salários bem maiores —, por falta de uma política salarial adequada e de um ambiente de trabalho menos conflituoso. Uma lista mínima inclui: Rodrigo Craveiro (saiu há mais tempo; está no “Correio Braziliense”), Almiro Marcos (Cor­reio), Vinicius Sassine (“O Globo”), Deire Assis (trocou o jornal por uma agência de publicidade), Marília Assunção, Pedro Palazzo, Ricardo César. Uma verdadeira redação, e de alta qualidade.

Repórter e editor de O Popular esqueceram de estudar tabuada

O “Pop” publica na edição de terça-feira, 17, manchete explosiva, sugerindo uma guerra na capital: “Goiânia já tem 30 homicídios em cinco dias”. O jornal acrescenta: “Goiânia vive dias sangrentos. Desde o dia 12, em média, uma pessoa é assassinada a cada três horas na capital. Foram 30 homicídios em cinco dias — onze de domingo para segunda. Entre as vítimas, Taynara Cruz, 13 anos, morta no domingo por um motoqueiro em praça no Bairro Goiá”. Roberto Civita, falecido dirigente da Editora Abril, dizia que jornalista não sabe contar. Pode ser o caso da reportagem do “Pop”. Deixando de lado a matemática à Fradique Mendes do “Pop”, examinemos os dados: se foram 30 mortes em cinco dias, então são seis casos por dia. Como um dia tem 24 horas, então é um assassinato a cada quatro horas e não três como atesta a tabuada do jornal (6x3: 18; 6x4: 24 ou, se o leitor preferir, 24 horas divididas por seis, que resultam em quatro).

Kafkiano, governador petista processa repórter da Folha de S. Paulo

A secretária de Justiça do governo de São Paulo, Eloisa Arruda, disse, numa nota a respeito de refugiados haitianos, que o governador do Acre, Tião Viana (PT), estava se comportando como “coiote” (estaria “en­viando” haitianos para São Paulo). O petista processou tanto a secretária quanto a jornalista que publicou a notícia, Vera Magalhães, da “Folha de S. Paulo”, alegando que cometeram crime de “injúria”. O advogado da “Folha”, Luiz Francisco de Carvalho Filho, sustenta que a repórter limitou-se a exercer “sua função de informar”. O Portal Imprensa conta que Tião Viana disse que incluiu a jornalista em cumprimento a uma exigência legal: “A desistência da ação em relação à jornalista representaria também a desistência da ação em relação à secretária”. Noutras palavras, mesmo não sendo sua intenção, o petista está praticamente “isentando” a repórter. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo divulgou nota na qual repudia a ação por considerar como “desproporcional e ilegítimo o uso do direito penal como restrição à liberdade de expressão”.

Imobiliárias de Goiânia estão se libertando dos Classificados do Pop

As imobiliárias de Goiânia estão aos poucos se libertando do “Pop”. Como o jornal está na internet apenas para assinantes, significando que pode ser acessado por poucas pessoas — fora do Estado, nem pensar, porque o jornal é distribuído apenas em Goiás —, as imobiliárias estão criando seus próprios sites e anunciando casas e apartamentos. Assim, gastam menos e expõem seus negócios de maneira mais ampla. Se o “Pop” não tomar uma providência, seus “Classificados” vão se tornar obsoletos brevemente. Acrescente-se que o setor imobiliário pretende se libertar dos jornais, não apenas do “Pop”, nos próximos meses ou anos — caminhando, a curto ou médio prazo, para uma presença mais forte na internet.

Chico Abreu , ex-deputado do PR, será o 1º suplente de Vilmar Rocha. Representa Aparecida de Goiânia

O ex-deputado federal Chico Abreu (PR) será o primeiro suplente do candidato a senador pelo PSD, Vilmar Rocha. Trata-se de uma indicação do PR da deputada federal Magda Mofatto. A escolha também se deve ao fato de que Abreu tem forte presença política em Aparecida de Goiânia, município da Grande Goiânia que tem o segundo maior eleitorado de Goiás, perdendo apenas para a capital e superando Anápolis. Com o PR na chapa majoritária, a aliança do governador Marconi Perillo, que já tem o PSD de Vilmar Rocha e o PP do vice-governador José Eliton, fica mais robusta. O empresário Luciano Martins Ribeiro, diretor-presidente das lojas Novo Mundo, é cotado para a segunda suplência.

Mídia Ninja lança portal interativo pra competir com mídia dominante

Ao lançar um portal interativo (hospedado na plataforma Oximity.com), que terá a participação de colaboradores do Brasil (como Sílvia Moretzsohn, professora da Universidade Federal Fluminense) e do mundo, a Mídia Ninja, na opinião de um de seus coordenadores, Felipe Altenfelder, pretende “mudar a relação com os leitores. Eles podem logar e produzir conteúdo dentro da plataforma”. Numa entrevista ao Portal dos Jornalistas, Altenfelder diz que, “mais do que trabalhar com correspondentes, temos pessoas que são colaboradoras. Como dá visibilidade às pautas, vai permitir que cada vez mais gente possa se comunicar”. Não fica claro, mas fica a impressão de que a Mídia Ninja pretende trabalhar com uma espécie de trabalho quase escravo. “Na lógica colaborativista, é preciso saber fazer barato. Informação não é commodity, mas prestação de serviço público”, teoriza, mas sem explicar se vai ou não ter exploração do trabalho alheio. O Portal dos Jornalistas pergunta sobre quem vai financiar o portal, e Altenfelder garante que não será o governo federal. “Não tem dinheiro do governo. Somos um veículo que defende políticas públicas. Propomos uma nova forma de se relacionar”, informa. Porém, como fazer jornalismo custa dinheiro, mesmo que às vezes pouco dinheiro, Altenfelder não soube, ou não quis, explicar como a Mídia Ninja vai financiar o portal. Ele revela como vai ser o novo milagre da multiplicação dos pães. Até agora, a Mídia Ninja tem sido de um amadorismo atroz. Como, então, vai competir com a mídia dominante?

Futebol é Cultura

Tocantins_1885.qxd NO YOUTUBE Duelo de Campeões Título original: The Game of Their Lives EUA, 2005 Gênero: Drama Diretor: David Anspaugh Com: Gerard Butler, Wes Bentley, Costas Mandylor O sonho de um grupo de rapazes de Saint Louis (EUA), atletas amadores de futebol, é bem pretensioso: jogar a Copa do Mundo de 1950, no Brasil, pelos Estados Unidos. Os jovens começam a treinar e passam por um teste para a escolha do time que representará o país no Mundial. Baseado na história real que vai ter seu ápice do lendário jogo contra a Inglaterra em Belo Horizonte. Tocantins_1885.qxdNA PRATELEIRA Guia Politicamente Incorreto do Futebol Autor: Jones Rossi e Leonardo Mendes Júnior Editora: Leya Brasil Páginas: 416 Um livro para desconstruir grandes mitos do futebol. Esse é o objetivo do “Guia Politicamente Incorreto do Futebol”, dos jornalistas Jones Rossi e Leonardo Mendes Júnior. Eles contestam situações tidas como absolutas como o “talento acima da média da seleção brasileira de 82, derrotada pela Itália na Copa da Espanha, que eles consideram que era “ingênua” e “autoconfiante” e que não se preocupava em estudar os adversários. A chatice de Galvão Bueno, a falta de escrúpulos de Ricardo Teixeira, a liberalidade da Democracia Corintiana, tudo é posto em xeque no trabalho dos autores.