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"Esse homem foi melhor do que ganhar na Mega-Sena”, diz faxineira apaixonada

Luiz Bacci se dirigiu a apresentadora da Record com imagem do Instagram que foi entendida por seus seguidores como provocação e reacendeu debate sobre a identidade goianiense

[caption id="attachment_10386" align="alignleft" width="318"] Luiz Bacci, a subcelebridade desconhecida por jornalistas locais | Foto: Reprodução[/caption]
O fato envolvendo Luiz Bacci causou uma reação “déjà vu”, previsível, até óbvia, característica do sentimento das redes sociais: sua frase, com a imagem da “cidade-mato” anexada, foi compartilhada às centenas pelos espaços de discussão. Claro, sobraram adjetivos nada agradáveis ao jornalista. Chegaram a criar uma hashtag (#VoltapraSPLuizBacci) como forma de promover a revolta.
Bacci apagou sua postagem no Instagram, mas até sexta-feira, 18, ainda havia no Twitter o texto e o link para a foto. Em postagens seguintes, a nova estrela da Band elogiou a cidade e seu jeito de “hospitaleira”. Mas passou longe da polêmica, sobre a qual mais nada falou durante sua curta estadia.
Há uma possível explicação para o ocorrido. A Record de Silvye Alves — aliás, jornalista cotada para voos mais altos, por sua presença de vídeo e a facilidade com idiomas — era a emissora na qual ele trabalhava até maio deste ano. E Luiz Bacci, chamado de “menino de ouro” por Marcelo Rezende, apresentador do “Cidade Alerta”, tinha ligação profissional com a jornalista de Goiás por conta exatamente do programa policial, de grande audiência. Possivelmente, sua intimidade com Silvye por causa do trabalho o levou a postar algo mais descontraído direcionado a ela, como “piada interna” sobre a cidade. A gafe foi isso ocorrer em modo aberto e não por mensagem privativa.
Como quase tudo neste mundo em que a informação transita em velocidade alta e cada vez mais alta, há, também cada vem mais, “revoltas” repentinas e esquecimentos precoces. O caso de Bacci talvez nem merecesse maior repercussão, mas serve para ilustrar como a quantidade substitui a qualidade também em relação aos dados que nos chegam. Há pouca apuração e muita divulgação. Criam-se, divulgam-se, popularizam-se factoides. Pessoas, elas mesmas, personificam factoides.
Por ironia, o próprio Bacci se torna prova disso. A coluna “Imprensa” perguntou a seis jornalistas goianos bem informados se tinham conhecimento do colega que causou a polêmica. Nenhum disse saber quem pudesse ser Luiz Bacci. Ao mesmo tempo em que há esse desconhecimento da própria classe — o que o faz correr o risco de chegar a uma redação e ser ignorado —, ele é, ao menos, uma subcelebridade (considerando que “celebridade” seja uma pessoa de reconhecimento notório por todos): tem 144 mil seguidores no Twitter, 207 mil no Instagram e 2,2 milhões no Facebook. Mais do que isso: tem até fã-clube — há uma fan page intitulada “Príncipelbacci” (Príncipe Luiz Bacci), em que a criadora (ou criador) anuncia: “página criada para homenagear o príncipe, eu te amo ♥ Luiz Bacci” (sic).
Alguém mais purista vai dizer: duvide de um jornalista que tenha um fã-clube. Mas os tempos são outros. Talvez Luiz Bacci tenha competência para se firmar como um grande nome da imprensa — já cobriu eventos como a tragédia do avião da TAM em Congonhas e a morte de Michael Jackson. Talvez. Mas a tendência é de que siga o caminho do entretenimento, como fizeram Fausto Silva e Pedro Bial, entre tantos outros.

[caption id="attachment_10379" align="alignleft" width="620"] Simpatia dos brasileiros ajudou o País a obter avaliação positiva | Foto: Reprodução/TV Globo[/caption]
“Imagina na Copa.” A frase virou um mantra na sociedade brasileira depois dos acontecimentos de junho e julho do ano passado, que, por coincidência ou não, se deram simultaneamente à Copa das Confederações, evento preparatório ao Mundial de futebol que o País sediaria um ano depois. Se com um torneio bem menor houve toda aquela confusão, “imagine” o que seria o aporte de todas as seleções, todos os turistas e tudo o mais no ano seguinte.
Foi o terreno perfeito para a imprensa brasileira se encher de profetas do apocalipse. Temia-se — e até se torcia por — um fiasco total da organização. As obras inacabadas eram só o mais claro indício de que tudo daria errado. Mas não deu.
O megaevento encerrado no domingo, 13, com o título merecido da seleção alemã sobre a da Argentina, fechou aquela que foi considerada a maior e melhor de todas as Copas do Mundo já realizadas. Ou “a Copa das Copas”, como agora comemora, vingado, o Palácio do Planalto.
Talvez nem tivesse ocorrido essa surpresa positiva toda se, ao longo dos meses, os veículos de comunicação tivessem monitorado com mais parcimônia e técnica a evolução da estrutura específica para atender aos turistas. Não houve essa avaliação mais acurada de que a Copa poderia, ao contrário que todos diziam até então, ser bem-sucedida.
O resultado é que o relatório do Grupo de Estudos Técnicos da Fifa deve apontar, conforme teve de adiantar “O Estado de S. Paulo”, para a melhor edição do Mundial entre todas, em termos de entretenimento e qualidade.
Tudo melhorou de um dia para o outro? Não, mas ficou parecendo isso, porque a imprensa não fez o devido acompanhamento. Sobrou discurso pronto — baseado nos puxões de orelha da senhora Fifa, que apenas cumpria seu papel de forçar a execução do que tinha sido acordado — e faltou investigação.
Algo que deixou explícita certa torcida da imprensa para tudo dar errado ficou bem claro com a tragédia da queda do viaduto em construção em Belo Horizonte. Os três maiores jornais do País deram destaque colocando a conta nas costas e nos custos da Copa.
Senão, vejamos: “Folha de S. Paulo” — Obra inacabada da Copa desaba e mata 1 em BH; “O Globo” — Viaduto de obra da Copa desaba e mata 2 em BH; e “Estado de S. Paulo” — Viaduto planejado para Copa cai e mata 2. Em todas as manchetes, um quê de Copa do Mundo, como se fosse um pedaço ruído de algum estádio. A forma de fazer a responsabilização editorial apostava ainda em algo que mostrasse que o evento era um fracasso, mas esqueceu-se de que a obra não serviria ao futebol. Pelo contrário, o viaduto está no plano de restruturação viária de Belo Horizonte, com sua construção impulsionada pelo fator Copa. O acidente merece ser apurado, assim como a empreiteira precisa dar conta de todas as explicações. O que não pode haver é uma apropriação indevida da obra para efeito de um discurso sensacionalista, como era o movimento que, no começo, parecia estar se insinuando
Antonio Alves
A matéria “Índice de analfabetismo escancara descaso da população e dos governantes com a educação” (Jornal Opção Online) chama a atenção para um fato. O crescente aumento da criminalidade, nos últimos cinco anos, é uma ironia que cobra dos governos o investimento dos 18% de arrecadação de impostos da união e os 25% dos estados e municípios. O Brasil condicionou a sociedade de maneira a necessitar desses investimentos. Há passos dados que não permitem voltar atrás. E, muito provavelmente, o que não se gasta com educação terá que se gastar com segurança e combate às drogas, pois essa já é uma realidade incontestável. Uma coisa é certa: um país sem Educação é um país sem futuro. E as mudanças não passam apenas por investimento. Hoje se faz necessário fazer o caminho de volta. E para isso é preciso repensar temas polêmicos como direitos humanos e maioridade penal, bem como a questão do trabalho do jovem adolescente.
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“Maria do Rosário e toda essa gente querem acabar com nossa família”
Adalberto de Queiroz
“Pessoas demonstram ser a favor da justiça pelas próprias mãos”
José Carlos
“Todo político deveria ter a coragem que Romário tem”
Rinaldo Lopes
Sobre a matéria “Jovair Arantes chama Romário de ‘ridículo’ após receber críticas pelo Facebook” (Jornal Opção Online): O Romário fala o que pensa. Se está certo ou errado é outra história. Todo político deveria ter a coragem que ele tem. Nesse caso em particular ele está certíssimo!
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[caption id="attachment_10364" align="alignleft" width="620"] A jornalista Gabriela Valente entrevistou Bill O’Dwyer e o tomou por um nativo alemão: erro induzido | Fotos: Twitter e Divulgação[/caption]
A repórter Gabriela Valente, correspondente de “O Globo” em Brasília, cometeu uma gafe redacional ao cobrir a megafesta na embaixada da Alemanha, por ocasião da final da Copa do Mundo.
No evento, ela abordou o cônsul honorário da Alemanha em Goiás, William Leyser O’Dwyer, que, sempre muito simpático, a atendeu. No texto publicado no jornal, ao transcrever a declaração de seu entrevistado, Gabriela fez o fechamento das aspas acrescentando a observação: “declarou em português impecável”.
Ocorre que o cônsul é também o secretário de Indústria e Comércio de Goiás, mais conhecido como Bill O’Dwyer. Provavelmente seu nome, seu cargo, seu biotipo caucasiano e a circunstância tenham induzido a repórter ao erro, mas o fato é que o entrevistado, apesar dessas observações, é goiano nascido em Ipameri e empresário tradicional em Anápolis.
Seu pai, o Waldyr O’Dwyer é neto de irlandeses, mas nasceu no Rio e lutou pelo Brasil na 2ª Guerra Mundial. A descendência alemã de Bill vem da parte de sua mãe, Herta Leyser. Em sua formação quando jovem, Bill viveu por anos na Europa, inclusive na Alemanha, onde conheceu sua mulher, Anne-Lott.
De certa forma, Gabriela não errou: o português do “goiano de pé rachado” Bill O’Dwyer é realmente impecável.

Cédric Klapisch foca na natureza apaixonada do homem como objeto de estudo para uma série de desencontros dos quais, muitas vezes, somos os próprios culpados

[caption id="attachment_10371" align="alignright" width="620"] Foto: Kumar Gauraw[/caption]
Graça Taguti Especial para o Jornal Opção
A premência de atos de coragem se manifesta em nossas vidas desde o instante do nascimento. Ambos, o bebe e sua mãe, precisam de imensa determinação e desejo, para trocar, abandonar um ambiente aquoso, seguro e acalentador pela vinda à luz na terra dos homens.
Mudar de hábitos, largar ambientes mornos por outros desconhecidos — ainda que anunciem o bônus de certa prosperidade, demanda entrega e decisão.
Mergulhar na névoa, nas ondas escuras e geladas de viagens solitárias são ações que acarretam desvendamentos, nem sempre doces de fatias do nosso psiquismo.
Coragem para se enxergar em carne-viva, sem escamoteações quaisquer. Detectar o medo lá dentro de suas caixas fechadas, as defesas algemadas na garganta e crispadas nas mãos trêmulas de dúvidas.
Ter a ousadia de convocar os diabos e demais anjos da maldade a se reunirem conosco, intimando-os a revelar seus fétidos estratagemas de demolição da alegria e paz, nossa e alheias.
Arrancar o amor, entranhado à língua, levando-o às palavras. Uma confissão de bem, um ramalhete de flores para quem nos cerca a toda hora de atenções e delicadezas.
Ter coragem, como insígnia da bravura eleita, é trocar as infinitas mortes cotidianas por sobressaltos verdes, vermelhos, lilases. Gargalhadas soltas e úmidas, prontas a invadir cenários de vento e a se refestelarem, displicentes, ao ar livre.
Coragem para ser feliz. Como sonegamos de nós essa tal felicidade, como se ela não nos fosse devida, um bem legítimo, herdado dos céus. Também poderemos estendê-la à solidariedade macia, móvel e atenta ao entorno, evoluindo em um balé glorioso, pelos arcos planetários.
Coragem carimbada nas mínimas escolhas. Levantar os olhos do celular, guardar o tablet em uma gaveta, o notebook na mesa do quarto e, então, partir para trocar dois dedos de prosa com a revoada de andorinhas que se exibem diante de nossas janelas.
São tantas e multifacetadas coragens de que carecemos nos pequenos e grandes movimentos que compõem a partitura nossa de cada dia, com suas melodias assíncronas, que nos faltam indumentárias apropriadas. Abraçar o doente, o bêbado, o paciente terminal e lhe oferecer água e mel, a ternura mais fresca da alma, introduzindo-a neste quadro de dores e discretas bênçãos.
Coragem para se dizer o que sente. Sem eufemismos, perfumes de toucador ou maquiagens pesadas por acúmulos de autoenganos. Perdoar, ou pelo menos buscar esquecer, quem nos odeia ou inveja- nossos traiçoeiros inimigos, vigilantes do alto das coxias, desde o palco em que nos apresentamos à sociedade — essa gestora de ferro. Implacável julgadora de direitos e deveres dos homens.
Um misto de coragem, humildade e tolerância consiste em receber sem discórdias a presença de noites sem lua. Aristóteles sentenciava: “A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras”.
Sem coragem, deslizamos sobre o mundo como vermes na pele de pessoas apáticas e sem rumo. Repetimos rituais de convivência sem questioná-los. Repudiamos as sementes da boa nova, em várias nuances de nossa esgarçada existência.
Anaïs Nin, libertária escritora, apregoava “a vida contrai-se e expande-se proporcionalmente à coragem do indivíduo”.
Na maior parte do nosso espremido tempo, pulsamos encolhidos em conchas, torres prisioneiras de castelos em cujas masmorras apodrecemos desejos, energias, prenúncios de gestos fecundos. Shakespeare sublinhava “os covardes morrem muitas vezes antes de sua verdadeira morte; os valentes provam a morte só uma vez”.
Por fim, há algo inevitável nos pequenos movimentos das coragens nossas de cada dia. Olhar nos olhos da morte. Encará-la de perto, aceitando seu convite para enfrentá-la em mais um combate. Aqui, viver ou morrer não está em questão. Lutar é o que importa.
Graça Taguti é escritora.
via Revista Bula
[caption id="attachment_10323" align="alignnone" width="620"] Jorge Luis Borges[/caption]
J.C. Guimarães
Sou o autor desta coletânea ordinária, e quem pretendesse encontrar vestígios de ficção na história que segue daria com os burros n`água. A realidade tem suas intromissões fantásticas, e uma dessas janelas me surpreendeu para provar que não existe fronteira entre o fato mais prosaico e o mais absurdo. Antes de reproduzi-lo é necessário algumas observações, de que a crítica poderá se valer para referendar-me ou me condenar ao esquecimento.
Considerei este fato tão inverossímil que, ao transcrevê-lo, não me dei conta de que imitava Jorge Luis Borges. Consola saber que inúmeras linhas de Borges são linhas de Kafka e que alguns de seus versos pertencem indiscutivelmente a Whitman, sem que ele tenha sido o primeiro e o último de uma série. O português Álvaro de Campos foi de uma fidelidade admirável: “Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!”
Imitação, em alguma medida, é inevitável: cada um de nós é menos si mesmo que outros, ao longo da vida. E estou convencido de que é melhor se parecer com Borges do que com ninguém. É verdade que reescrevi esse conto mais de uma vez, mas não consegui me livrar de suas impregnações. O preço pode ser este: meu próprio obscurecimento como escritor, à procura dum estilo (o de não tê-lo, por exemplo, amorfo ao contrário do imitado). É o diabo, mas fica a história, boa ou má. Contento-me em saber que fiz o melhor que pude.
Digo logo: acredito que eu sou eu mesmo, J.C. Guimarães. Entre outras coisas, não pretendo morrer completamente como pretendeu Borges — Jorge Luis Borges. Apesar das ressalvas, é provável que o leitor familiarizado perceba nessa história o estilo pessoal do mestre, o uso de certos chistes e principalmente a dicção. Reconheço a dívida e permito que ela me apague, se convir ao resultado que almejo. Confesso o esforço inútil de evitar certos rudimentos do idioleto deste apreciador de milongas, que terá sido eu (ele não foi todos os homens do mundo?) e quem não fui. Não fui, apesar das aparências (quando eu era jovem, perseguiu-me também o terror imaterial de Hume). Acho até que tais reminiscências darão a estas poucas palavras certa graça que possivelmente não teriam por si mesmas, por isso deixo que fiquem.
Pouco me importa, pois não alcancei um estilo pessoal e cheguei a duvidar que tivesse talento para fazer qualquer coisa de original.
Borges foi o primeiro grande escritor que eu li. Houve um tempo em que o argentino foi na minha opinião o maior escritor de todos os tempos. Eu ainda não conhecia as vertiginosas galerias de William Shakespeare. De qualquer modo, deixei-me influenciar por sua poesia porque minha ideia de mundo guardava prováveis semelhanças com aquela dos seus livros mágicos. Hoje duvido é que um homem possa ter um estilo e espelhar a multiformidade do mundo. Mudei muito, desde então; passei a ver as coisas de uma maneira mais realista e menos fantástica, explicação, no fundo, destituída de sentido. Um lógico pode perfeitamente pulverizá-la. Quem é que não se influenciou um dia por alguém? Com a metamorfose eu deixei de ser quem fui. Li outros fabulistas e até senti certo enfado pela metafísica, por essa falta de calor humano e especialmente de mulheres, que é a prosa de Borges. Para se parecer mais comigo mesmo, reitero que amo as divas.
A verdade, única e verdadeira, é que somos tantos ao longo da vida, e também nossa maneira de ser e de fazer as coisas. A identidade que a burocracia inventou para mim é a do cidadão cotidiano e maçante das contas e obrigações civis. Invejo sinceramente quem se enquadra nesse esquema mesquinho e não perde o juízo. Fosse comerciante e talvez fosse mais feliz.
A natureza não gosta de pessoas complicadas, aquelas que tentam desvendar os seus mistérios, como Borges e outros homens de gênio. Ela os amaldiçoa com maus pensamentos, com conflitos íntimos, com angústias insanáveis que nenhum entretenimento mundano pode atenuar por muito tempo. Tira toda sua fé, para que morram secas. É o preço que se paga, por se querer comer os frutos da árvore da sabedoria, do bem e do mal. Faz todo o sentido que a descrença seja generalizada entre os rebeldes: a curiosidade invasiva nos domínios de Pandora nunca fica impune.
Não é difícil compreender a felicidade mais palpável das pessoas comuns. A natureza não tem por que hostilizar os que não a incomodam com perguntas indesejadas.
Talvez, ao invés de um conto, eu devesse fazer uma crônica do material que disponho, de sorte que o episódio ligeiramente descrito a seguir de fato aconteceu: é tão autêntico quando a vertigem de Borges, às margens do rio Charles, em fevereiro de 1969. Não inventarei outro, nem um dia nem uma data, a fim de fraudar os dados que esqueci. O que narrarei poderia ser escrito para o jornal da manhã seguinte, ao invés de aspirar a forma literária.
O objetivo desta peça simples, cuja principal virtude é o panteísmo, é falar de espelhos: a imagem preferida de Borges. Concluí, após uma tarde de revelações, que os espelhos têm verdadeira correspondência no universo de Aristóteles. Para tanto, bastou uma ocasião trivial e a feliz intuição deste plagiário. Felizmente, as metáforas têm o dom da diversidade (realmente esta frase não me pertence). Minha conclusão não encerra todas as possibilidades e ângulos do problema, mas certamente encontrei um de seus termos (outra fraude). É talvez o produto de uma alucinação e poderia integrar o rol das teorias conspiratórias.
Percebam que realmente não pretendo ser igual a Borges. Como, se inclusive sou militante de um partido político? Não sei ainda se por sorte ou infelicidade, a história é que vai dizer.
O desprezo do mestre pela matéria nunca me escandalizou, sobretudo depois que, por aqui, fomos cúmplices da infâmia, como todos os outros que estiveram no poder. Infalivelmente o poder tresmalha, infalivelmente desagrada. Pouco saberíamos pelas páginas do renomado portenho qual a sua opinião sobre os generais que pisaram sua pátria argêntea. Talvez soubéssemos sobre Péron, a quem a literatura política consagrou um ismo. No mais, preferiu ignorar nossos desencantados Sólons. Foi a forma sutil que encontrou de, outra vez, repetir os gregos e metê-los no ostracismo. Neste caso, permanente:
“Contam que Ulisses, farto de prodígios, Chorou de amor ao avistar sua Ítaca Humilde e verde. A arte é essa Ítaca De um eterno verdor, não de prodígios”.
Assim é Borges. Seja como for, como Dante, que não envergonhou-se de servir à sua cidade, a política me interessa como caminho sem volta. É por isso que cultivo a leitura daquele Carlos Daneri que, com uma só pergunta, afrontou os extremismos que assolam esse mundo: “Quantas igrejas tem o céu?” Minha resposta é nenhuma.
Mas, então, aconteceu o fato, e inevitável foi associá-lo ao gênero fantástico. De repente, certas provocações metafísicas de Borges me pareceram cobertas de sentido. Um plano repete outro, e isto é São Paulo e outras metáforas a que Borges recorreu. Tudo só depende de você estar no lugar certo e na hora certa para perceber as correspondências. Em meu caso, foi quando recebi a visita de dois missionários em casa.
O endereço foi a rua 7, e achei que eram corajosos. À maneira de Pedro e os outros discípulos, vivem de bater nas portas, infinitas, e operar o convencimento, reclusos por anos a fio em sua própria versão de Nicósia, Patmos e Éfeso. Essa loteria vulgar (uma locução típica do mestre) os pôs diante de mim e os atendi, e talvez tenham me visto como um pagão. Pedi que entrassem e se sentassem, embora soubesse que o convite alargasse a sua insistência. Sabia que não seria convencido por nada desse mundo, mas dei-lhes guarida por tolerância. Sorriram, eu os retribuí com sinceridade e tudo ficou bem entre nós.
Não fosse pela delonga, nossa conversa teria sido apenas curiosa. Um dos dois rapazes, o louro de cabelos lisos, falou-me enquanto seu companheiro limitou-se a ouvir com atenção (este talvez iniciasse o colega no complexo idioma de Manuel Bandeira). Trazia no peito o nome fictício de Elder Benquerer, um missionário vermelho de uma tal Castle Deale, Utah. O outro, mais baixo, mais franzino e pardo era natural do Maranhão, e atendia pelo mesmo nome, Elder. Este último Elder contou que morou em Pires do Rio, e eu informei que foi lá que nasci. É verdade que essa cidade do interior goiano não foi para mim, aos trinta e tantos anos, mais do que um berço puramente imaginário, tão improvável quanto... o Indostão, é claro.
Foi ao escutar o forasteiro que Borges se intrometeu entre nós, com sua mania de replicar a realidade. Julguei disparatosa a história que Benquerer se pôs a me contar, absolutamente certo de sua veracidade. Quanto ao livro que me vendeu — eu o comprei como um objeto curioso, mas, verdade seja dita, nunca tive paciência de lê-lo (já nem sei mais onde o guardei) — seria trabalho de uma civilização do oriente médio. Povos dessa região atravessaram não sei que oceano e vieram parar em nosso continente. Curioso é que tenham alcançado o território norte-americano, onde também despencou a ogiva do Super-Homem. Não quis, entretanto, parecer deselegante com minhas ironias e deixei que concluíssem sua exposição.
Tive a impressão de que falávamos sobre fábulas e não sobre fatos, sobre Atlântida e não sobre o Oriente. Os arqueólogos e historiadores legaram informações precisas sobre as populações originárias desta região: medos, partos, cassitas, hititas, cananeus, jebuseus. Que eu me lembre, nada sobre os nefitas. Faço um desconto, porém, e suplicaria desculpas aos meus visitantes: é que minha opinião teve o dom de juntar um cético a um leigo.
Aliás, que eu seja apenas um ignorante é a mais pura verdade. Nunca ostentei ferrenhamente um credo. Qualquer instituição me é suspeita, pelo simples fato de agregar pessoas: a conjugação dos homens trás consigo a força e o poder, mas também o teatro, inevitavelmente. Até a juventude eu quis acreditar nas associações, mas as próprias pessoas levaram-me a desconfiar delas e de seus objetivos.
O tal livro que os missionários trouxeram é uma imitação da Bíblia, com profetas, mandamentos e povo eleito. A despeito do meu ceticismo insignificante, um estado inteiro da América acredita na realidade dessa história e no profeta Joseph Smith, recebedor de algumas placas e sucedâneo de Moisés. Seus seguidores repetiram mitos antigos e atravessaram milhares de quilômetros até se internarem, também, num deserto, que (eu me ative) é feito de areia: a matéria-prima dos espelhos. O tom é fantástico, mas mais fantástico ainda é que eu não estou inventando nada.
Isto não poderia mesmo se chamar ficção, que é o que são as peças borgianas. Isto aqui, caro leitor, é a mais assombrosa realidade, motivo suficiente para que a confusão entre mestre e admirador seja apenas aparente.
Benquerer lembrou-me uma gasta fabulação: a de que os Estados Unidos souberam com mestria confundir o seu destino com o de Israel. Recapitulo para o leitor: os perseguidos de Tutmés I foram os mesmos que perseguiu a intolerante coroa dos Stuarts; o deserto dos 40 anos foi o mar do Myflower (e certamente a penosa travessia de Brigham Young e seus adeptos pelo Meio-Oeste); a Terra Prometida a Nova Inglaterra, aonde, decerto, também abundaram o mel e o leite; o povo eleito de Deus, os norte-americanos, entre os quais Kissinger e Leo Strauss, que escreveram uma parte da história, uma página torpe e decadente. Talvez o fim esteja mesmo próximo.
Quem sabe se Canaã não é extensa como o mundo e nela preservaram-se muitos filisteus, aos quais é necessário declarar a sua guerra? Não sem perplexidade ou assombro, pressenti pela primeira vez, sob o auspício de meus simpáticos visitantes do Norte, como os espelhos de Borges são fatos da realidade, bem próximos de nós. Assim como esta imitação, deliberada e naturalmente imperfeita.
J.C. Guimarães é ensaísta, contista e historiador.
via Revista Bula
Leitores e colaboradores apontam os poemas mais significativos do poeta mato-grossense
João Ribeiro Júnior, o JR, derrapa feio na largada da campanha para deputado federal. O todo-poderoso herdeiro do senador João Ribeiro sofreu intervenção no comando do PRTB regional por desobedecer a orientação quanto à aliança. O partido decidiu lançar candidato próprio a ter que coligar com o governo. O jovem líder não poderia iniciar pior uma carreira política promissora.
Novamente o deputado José Bonifácio (PR) acertou. O deputado alertou que o julgamento político na rejeição das contas do ex-governador Marcelo Miranda (PMDB) pela Assembleia Legislativa não teria efeito legal e que além de diminuir o Parlamento contribuiria para aumentar o prestígio político do peemedebista. Bonifácio já tinha denunciado a manobra da bancada do governo na “fabricação” de um decreto que tinha como objetivo criar subterfúgios para caracterizar inelegibilidade de Miranda. O decreto por si só já é uma aberração
A senadora Kátia Abreu (PMDB) prevê que a campanha vai começar mesmo de verdade a partir de agosto, mas observa que os candidatos que não querem perder tempo vão manter contato com o povo visitando as praias. Revela que esta vai ser a sua agenda e a do candidato a governador Marcelo Miranda durante o mês de julho. “Vamos fazer visitas às cida
Os candidatos Marcelo Miranda, da coligação A experiência é que faz a mudança (PMDB-PV-PT-PSD), Sandoval Cardoso, da coligação A mudança que a gente vê, (SD-PSDB- PTB-PDT-DEM-PPS-PSB-PRB-PP-PR-PTC-PEN-PHS-PSL-PRP-PSC), Ataídes Oliveira, da coligação Reage Tocantins (Pros-PTN-PCdoB- PMN-PPL-PSDC-PTdoB), Carlos Potengi (PCB) e Joaquim Rocha (PSol) cumprem agenda de campanha, cada um ao seu modo. Sandoval Cardoso nas ações do governo e os candidatos de oposição na ausência das ações do governo.
Desde o dia 6 que os candidatos estão liberados para fazer campanha. No Tocantins a impressão é que a campanha eleitoral ainda não começou. Na verdade a campanha já começou. É certo que meio truncada e restrita aos bastidores, onde acontece uma verdadeira guerra declarada. A campanha de rua só começa mesmo a partir do início de agosto. No Tocantins a campanha tradicional começa no dia 1º agosto, quando se encerra a Romaria do Senhor do Bonfim, em Natividade.