Marcelo Franco

Conheci Ricardo Cantaclaro há muitos, muitos anos, vizinhos que éramos. No início, encontros rápidos nos elevadores me mostraram que ele se diferenciava por qualidades logo percebidas: conversa inteligente (nada de “Trabalhando muito hoje?”), gentileza extrema e um ar de quem sempre estava no controle da própria vida, o que não o tornava arrogante, mas sim o fazia falar baixo e com um tipo de tranquilidade que se espraiava pelo ambiente. Depois, lutamos juntos contra uns projetos absurdos que iriam levantar na nossa vizinhança: hotéis, prédios gigantescos, essas coisas — lutamos e vencemos.

A partir dessas lutas, tenho a honra de dizer que passamos de vizinhos a amigos. Falávamos constantemente e seus traços de caráter se ressaltaram ainda mais: eu não errara nas minhas primeiras impressões. Estranhamente, ele nutria uma confiança em qualidades que via em mim e que, sem falsa modéstia, sei não possuir (boa memória e esforço não são inteligência, ai de mim). Pedia minha opinião sobre assuntos diversos e eu, vaidoso pela distinção, deitava falação sobre o que não conhecia, mal sabendo Ricardo que era eu o aluno e ele sempre fora o professor.

Ricardo Cantaclaro | Foto: Facebook

Estava doente há alguns anos. Lutou e nunca esmoreceu: suas mensagens continuavam chegando com informações sobre as maluquices que costumam fazer nos planos diretores deste Brasil que gosta de se destruir. Até o Parque Vaca Brava ganhou a sua atenção: ele organizou um movimento em sua defesa do qual eu pouco participei — e esta minha indiferença roubou-me um orgulho cívico, digamos assim, e algumas horas a mais de convívio com alguém que eu verdadeiramente admirava (estou me tornando um “velho” ranzinza: a convivência de poucas pessoas me move para fora de casa e faz me sentir alguém melhor, por isso lamento: Ricardo era um estimulo intelectual ambulante para quem passasse algum tempo com ele, mesmo que poucos minutos).

Pois o amigo Cantaclaro se foi ontem. Cedo demais — sempre será cedo demais para pessoas como ele.

Marcelo Franco é promotor de justiça.

O médico tinha câncer e morreu na sexta-feira

O médico-otorrinolaringologista e empresário Ricardo Cantaclaro Marques Rosa morreu na sexta-feira, 24, de câncer, aos 67 anos.

Ricardo Cantaclaro, que nasceu em Goiânia, deixa a mulher Elaine Gomes de Andrade Rosa e os filhos Danielle Andrade Rosa Martins (mulher de Rafael Lara, presidente da OAB-Goiás), Isabelle Gomes de Andrade e Gustavo Andrade Rosa