O filósofo italiano Gianni Vattimo morreu, aos 87 anos, na unidade de nefrologia do Hospital de Rivoli, em Turim, onde estava internado em estado grave desde meados do mês passado. A notícia foi confirmada na última terça-feira, 19, por meio do Facebook de Simone Caminada, assistente do veterano pensador há quase 15 anos.

Autor de obras como “O Fim da Modernidade” e “Para Além do Sujeito”, Vattimo era conhecido “como o grande filósofo do pós-modernismo” e ganhou notoriedade com sua teoria do “pensamento fraco”. Como
crítica à metafísica tradicional, defendia o afastamento das verdades absolutas e universais, em detrimento de uma visão mais aberta e modesta da filosofia.

Filho de uma costureira e de um policial, Vattimo perdeu o pai antes dos dois anos de idade e cresceu em um ambiente de vulnerabilidade. Antes de iniciar a carreira acadêmica, chegou a trabalhar na RAI, a emissora estatal italiana. Em 1959, formou-se em filosofia na Universidade de Turim, onde trabalhou como professor de 1964 até se aposentar, em 2008.

A proposta pós-moderna, segundo o italiano, nasceu em parte da sua experiência enquanto homem simultaneamente homossexual e católico. “Se não fosse gay, nunca teria levado a cabo esta reflexão profunda sobre a não-normatividade das essências naturais, que constitui a alma do ‘pensamento fraco’. Portanto, embora não seja uma ‘filosofia gay’, acho que há conexões importantes”, disse uma vez, em declarações que a Italy 24 Press News.

Além da carreira acadêmica, Vattimo, que defendia um “comunismo hermenêutico”, também atuou na política, tendo sido eleito duas vezes para o Parlamento Europeu, onde foi eurodeputado de 1999/2004 e entre 2009/2014.

Ainda se debruçou amplamente sobre religião, tema do qual se reaproximou ao longo de sua trajetória. Como homossexual, foi pioneiro na promoção dos direitos LGBTQIA+ em seu país. O filósofo defendia a prática de um cristianismo secularizado, independente das instituições eclesiásticas tradicionais e, portanto, compatível com sua orientação sexual.


A sua relação com Simone Caminada, que com os anos foi passando de assistente a companheiro, gerou muita polémica no último capítulo da vida do filósofo. Em fevereiro de 2022, o brasileiro, hoje com 38 anos, foi condenado a dois anos de prisão pelo crime de manipulação de pessoa incapaz.

Na sua sentença, o juiz considerou que Caminada estaria a aproveitar-se da “fragilidade” do filósofo, receoso de ficar sozinho e ciente de que não já não era capaz de cuidar de si mesmo, para se apoderar da sua herança. Vattimo não se considerava vítima de qualquer crime e os especialistas que o examinaram ao longo do tempo deram opiniões contraditórias sobre o seu estado psicológico.

Leia também: Ítalo-brasileiro aplica golpe do casamento no filósofo Gianni Vattimo pra ficar com herança