O filósofo, poeta, compositor e escritor brasileiro Antonio Cícero morreu aos 79 anos nesta quarta-feira, 23, na Suíça. Integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 2017, Cícero enfrentava problemas neurológicos decorrentes do Alzheimer, diagnosticado há alguns anos. Ele faleceu por meio do procedimento de morte assistida, em Zurique, onde estava com seu marido, Marcelo Pies. Na Suíça, pacientes que comprovam o diagnóstico de uma doença que possa causar invalidez física ou psicológica podem optar pela eutanásia, procedimento que é ilegal no Brasil.

O poeta foi cremado, e suas cinzas serão trazidas ao Brasil por Marcelo Pies na quinta-feira, 24, segundo o colunista Lauro Jardim. Cícero era irmão da cantora e compositora Marina Lima, de 69 anos, e reconhecido como um dos maiores letristas da música popular brasileira. Entre seus sucessos estão Fullgás, À francesa, O último romântico e Maresia.

Nas redes sociais, famosos lamentaram a perda. Marina Lima publicou uma imagem com a data de nascimento e de falecimento do irmão. A atriz Drica Moraes comentou: “Marina amada. Um gênio, um homem incrível! Meu abraço apertado”. O cantor Orlando de Morais também escreveu: “Meu Deus. Parceiro, irmão. O maior poeta do Brasil.”

De acordo com informações disponíveis no site da Academia Brasileira de Letras, Antonio Cicero Correio Lima nasceu no Rio de Janeiro em 6 de outubro de 1945. Em 10 de agosto de 2017, ele foi eleito para a cadeira de número 27 da Academia Brasileira de Letras, substituindo Eduardo Portella. Ele tomou posse em 16 de março de 2018.

Ao longo de sua carreira, Cicero publicou quatro livros de poesia: “Guardar” (Editora Record, 1996), “A cidade e os livros” (Editora Record, 2002), “Livros de sombras: pintura, cinema e poesia” (2010) e “Porventura” (Editora Record, 2012).

Antes de morrer, Antonio Cicero escreveu uma carta. Leia abaixo.

Carta de Antonio Cicero

Queridos amigos, encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.

Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi. Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo. Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.

A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los. Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo. Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade. Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços.