Nos últimos dias, circulam nas redes sociais fotos de uma aula de Sociologia no Colégio Estadual Polivalente de Palmeiras de Goiás. O que te chamou a atenção de alguns pais e responsáveis foi o conteúdo ministrado aos alunos do 2º ano do Ensino Médio: gênero e sexualidade. Alguns chegaram a se revoltar com os conceitos repassados aos alunos e seria a prova do que os mais conservadores chamam de “doutrinação”.

Na lousa, o professor transcreveu conceitos da sociologia como “lugar de fala”, da filósofa e pesquisadora, Djamila Ribeiro, que se dedica a estudos com ênfase nas relações raciais e de gênero. Aos alunos, explicou que “local de fala” é “quando alguém tem propriedade para falar e decidir sobre temas de sua própria vivência”. Uma forma de se reconhecer a existência de minorias, valorizando suas histórias de vidas e combatendo o silenciamento.

Em foto que circula nas redes sociais, conteúdo de gênero e sexualidade incomodou os mais conservadores | Foto: reprodução/ redes sociais

No entanto, o alvo da polêmica foi a conceituação de “ideologia de gênero”, que, segundo os dizeres do quadro, é uma “expressão pejorativa utilizada por grupos políticos conservadores para obstruir o debate de gênero nas escolas”. Conservadores criticam a chamada “doutrinação”, mas será que eles realmente sabem o que condenam? Acredito que grande parte não sabe nem metade dos conceitos que os alunos aprenderam em sala de aula.

O tema ministrado aos estudantes de Palmeiras de Goiás é previsto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que é um documento normativo que as escolas, públicas e privadas, utilizam como referência para elaboração dos currículos escolares e propostas pedagógicas. O texto do BNCC prevê que, a partir do 8º ano do Ensino Fundamental, o aluno deve conseguir “selecionar argumentos que evidenciem as múltiplas dimensões da sexualidade humana (biológica, sociocultural, afetiva e ética)”. Esse dado por si só já isenta o professor das acusações de ter abordado uma temática que seria, na visão conservadora, “inapropriada aos adolescentes”.

De fato, uma ala da direita brasileira têm travado uma espécie de “cruzada” contra uma educação plural, pautada pela diversidade. Caso ganhem esse “guerra”, quem perde é a sociedade. A pluralidade é necessária para uma sociedade mais justa e igualitária. Reconhecer os direitos das minorias é um pressuposto da democracia. E se voltar contra isso, é tão preconceituoso quanto antidemocrático.

O professor agiu certo ao expor aos alunos um tema tão atual. O conhecimento é importante para a quebra de estereótipos, principalmente em uma sociedade tão machista que marginaliza, condena e exclui a comunidade LGBTQIA+. Quando se aprende orientação sexual não é uma opção ainda na escola, pode-se vislumbrar futuro melhor para nossa sociedade.