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Na mesma segunda-feira, 16, em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entra de férias, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos) se prepara para pautar o projeto que derruba o novo decreto sobre o Imposto de Operações Financeiras (IOF). Sobrou para Gleisi Hoffmann se reunir com o presidente da Câmara e tentar manter a última tentativa de arrecadar do governo federal. A ministra do SRI chegou a dizer que derrubada de pacote do IOF pode afetar emendas.

O repassar da batata quente expõe a falta de liderança do Executivo no tema da crônica crise fiscal brasileira. Sem a presença de Lula (PT) para unificar o discurso, sobram declarações atabalhoadas. Haddad, por exemplo, afirmou na última sexta-feira, 13, que havia leniência com a política fiscal de Bolsonaro. A declaração não faz sentido — Paulo Guedes foi diariamente criticado (de Pec dos Precatórios à Pec Kamikaze) e deixou o cargo completamente desmoralizado, em boa parte por conta das cobranças da imprensa. 

O fato é que o governo federal optou por um modelo de crescimento induzido por expansão fiscal — injeta crédito (os últimos três programas foram o “Crédito ao Trabalhador”, crédito para reformas, crédito para financiamento de motos), e aposta em vencer a inflação com ainda mais incentivos ao consumo. Para controlar a inflação, o BC aumenta os juros; para sustentar o modelo, o governo taxa. 

Historicamente, o método funcionou quando o contexto internacional e o boom das commodities permitiram cadeias produtivas e de exportação, e quando os juros baixos permitiam investimento na produção. Hoje, entretanto, o contexto é outro. O Jornal Opção noticiou na manhã desta segunda-feira o protesto dos produtores rurais de Iporá. Dados da Faeg revelam queda de 24% na aplicação de crédito rural em Goiás entre julho de 2024 e abril de 2025. Recursos operados por bancos públicos – que representam 75% das linhas de crédito – caíram 16% em relação ao ano anterior. Menos dinheiro para investir, menos produção; mais crédito estimulando o consumo, maiores preços.

Em reportagem de 24 de maio, o Jornal Opção entrevistou o gerente técnico do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás do sistema Faeg (IFAG/Faeg), Leonardo Machado, que afirmou que a diminuição da aplicação das linhas de crédito se deu por dois motivos: elevação da Selic e diminuição dos recursos destinados para o abatimento dos juros. “Temos levantado subsídios para apresentar ao governo federal uma saída, de forma que os recursos do Plano Safra voltem a ligar o setor. Mas o governo não entende que a aplicação desse recurso do crédito rural é um investimento, que desenvolve a atividade, gerando emprego e gerando renda.”