Senador do PSD e candidato a prefeito de Goiânia diz que entrou na disputa para ter a oportunidade de transformar a saúde e a economia da capital

Senador Vanderlan Cardoso (PSD), candidato a prefeito de Goiânia, diz que aposta na criação dos polos de desenvolvimento e das regionais para melhorar o atendimento da prefeitura e gerar emprego e renda | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

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“Nestes quase dois anos de Senado, o que já consegui para o Estado de Goiás vale por muitos anos, talvez por um mandato inteiro.” Ao demonstrar que entende ter cumprido seu dever no Congresso até o momento, o senador Vanderlan Cardoso (PSD) se apresenta para disputar a Prefeitura de Goiânia nas eleições de novembro.

O candidato a prefeito pelo PSD, que conquistou o apoio do governador Ronaldo Caiado (DEM), diz que trabalha para ter a oportunidade de transformar a saúde e melhorar a economia da capital com a criação dos polos de desenvolvimento, proposta que apresentou aos goianienses na eleição de 2016. “As regionais precisam existir para abaixar o custo da administração. Ter uma regional da prefeitura para atender o cidadão na hora que precisar, com ação social e outras áreas juntas, como na saúde.”

Sobre deixar o Senado caso seja eleito prefeito de Goiânia, Vanderlan afirma que o cargo no Congresso estará em boas mãos. “Pedro Chaves (MDB) me dá a tranquilidade de que, caso seja eleito prefeito de Goiânia, Goiás não irá perder um senador, mas ganhará um senador muito competente, que sabe o que faz”, avalia.

Euler de França Belém – As montadoras Caoa e Mitsubishi podem sair de Goiás? Por qual motivo?
Em 2018, o incentivo que as montadoras têm no IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] foi retirado. É um incentivo que foi mantido no Nordeste, em Estados como a Bahia e Pernambuco. Mas para Goiás tiraram. A isenção no IPI vence no final de 2020. E é um incentivo que significa muito para essas montadoras. Sem o incentivo, Caoa e Mitsubishi perdem a competitividade instaladas no Estado de Goiás. Precisamos prorrogar o incentivo por, pelo menos, mais cinco anos.

Trabalhamos em cima da Medida Provisória 987/2020. O governador Ronaldo Caiado (DEM) também fez reuniões com outros governadores, com a construção de um mecanismo para compensar a perda que o governo federal terá do IPI. Tudo foi feito e costurado para que Goiás não fique de fora. Por que deixar Goiás de fora? Por que outros Estados, como os do Nordeste, manterão o benefício? Com certeza o relator, deputado federal André de Paula, que é do PSD de Pernambuco, vai contemplar o Estado de Goiás em seu parecer.

Euler de França Belém – O fim da isenção do IPI para as montadoras instaladas em Goiás será revertido?
Acredito que com o trabalho feito pelo governador e a bancada goiana de senadores vamos conseguir, sim, que o benefício seja prorrogado pelo menos por mais cinco anos.

Euler de França Belém – Qual é o posicionamento do sr. em relação à reforma administrativa?
Fui um dos defensores da reforma administrativa.

Euler de França Belém – Quais são os aspectos que o sr. considera mais positivos?
É preciso corrigir as distorções existentes no País. Temos servidores públicos que ganham muito pouco e desempenham o mesmo papel de outros que ganham salários muitas vezes maiores. São distorções que têm de ser corrigidas por uma reforma administrativa. É preciso corrigir as injustiças. Ao mesmo tempo, temos alguns supersalários que precisam ser adequados à nossa realidade. Não podemos ter um servidor que desempenha a mesma função que outro, mas com 20% do salário do outro.

Temos órgãos no País que têm poucos servidores, funcionários públicos que trabalham demais. Já outros órgãos têm muitos servidores. É preciso haver um equilíbrio. Só uma reforma administrativa, cmo a que foi proposta, com as adequações que com certeza virão no Congresso Nacional, para corrigirmos essas distorções. Sempre defendi que seja feita primeiro a reforma administrativa para depois discutir a reforma tributária. Para se fazer uma reforma tributária, é preciso verificar qual é a reforma necessária de acordo com o que tiver sido ajustado na reforma administrativa.

Augusto Diniz – Isso levou o governo federal a retirar o caráter de urgência da reforma tributária e passasse a priorizar a administrativa? Mesmo assim, a tendência é a de que o Congresso só discuta os dois assuntos em 2021. Há cenário para aprovar ao menos uma das duas reformas?
Temos agora as eleições municipais, que já ocorrem na maior parte do Brasil. A maioria dos parlamentares estão nas suas bases focados no período eleitoral. Fica um pouco mais difícil. Mas não vejo dificuldade em iniciar o debate agora. Se você analisar o que foi apresentado pelo governo de reforma tributária em cima do PIS e Confins, houve muita rejeição, inclusive da minha parte, porque propõe aumento de imposto.

Sair de 9,25% para 12% é aumento de imposto. Ir de 3,6% na área de serviços para 12% é aumento de imposto. Nesse ponto, o governo federal falhou. Tanto é que voltou atrás. Não fala mais em uma proposta que foi muito mal recebida pela sociedade. Se não for para diminuir impostos ou propor uma cobrança justa de impostos, não tem necessidade de a reforma tributária ocorrer. Se for para ficar da forma como está ou aumentar imposto, basta aumentar a tributação por decreto, em uma canetada só.

Se for para resolver o problema, precisa ser melhor discutido. Que estenda a algumas áreas que ainda contam com muitos privilégios e que se combata mais a sonegação. Com isso, pode ter certeza de que quanto tivermos todos a contribuir neste País, teremos impostos justos e a arrecadação aumentará.

Augusto Diniz – As críticas verificadas até aqui ao texto apresentado da reforma administrativa focaram na falta de detalhes sobre quais servidores e áreas do governo seriam incluídos na proposta, o fato de Legislativo e Judiciário terem ficado de fora e não ter sido apresentado um projeto para os militares. Como o sr. vê a ausência desses pontos na reforma administrativa?
A reforma administrativa não pode deixar área alguma de fora. Não pode ter privilégio para ninguém. Tem de se fazer reforma no Legislativo, no Judiciário, no Executivo e na carreira dos militares. Tem de ser para todos. Se todos têm de dar a sua contribuição, por que vai ficar área de fora? Todos estão dando a sua contribuição. O povo brasileiro está dando a sua contribuição, é o que mais tem sido penalizado. Não vejo por que ficar área nenhuma de fora.

Patrícia Moraes Machado – O sr. ocupa o cargo de senador, que muitos na classe política almejam um dia alcançar. Cargo que o sr. deixou para disputar a Prefeitura de Goiânia. Por que a decisão de ser candidato a prefeito durante o mandato de senador?
Estou na vida pública não para ter cargos pomposos e honrados. Hoje me alegra muito ser senador da República. Nestes quase dois anos de Senado, o que já consegui para o Estado de Goiás vale por muitos anos, talvez por um mandato inteiro. Se formos avaliar somente a questão da Codevasf [Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba] para Goiás, que foi um trabalho nosso junto à bancada para efetivar a companhia no Estado, muitos ainda não têm noção.

Inicialmente, a Codevasf incluía apenas 36 municípios. Conseguimos aprovar e já foi sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para levar aos 246 municípios do Estado de Goiás. São ações concretas, com recurso colocado no orçamento de 2019, para piscicultura, fruticultura, apicultura, máquinas e equipamentos que são entregues a vários municípios goianos e à bacia leiteira das regiões Norte, Nordeste e Oeste do Estado. É uma conquista que tivemos em quase dois anos no Senado que já vale pelo mandato.

Mas também tivemos muitas outras conquistas. Tive o prazer de participar e estar junto na discussão e aprovação no Congresso de matérias importantes, fruto de um trabalho efetivo e exaustivo do qual fizemos parte. Um dos casos é o do Marco Legal do Saneamento, que ficou mais de 20 anos em discussão. Se nós não pegássemos firme com aqueles que entendem que geração de emprego e renda vem através de investimento, isso não seria aprovado. São mais de R$ 1 trilhão previstos para os próximos três anos.

Trabalhamos para aprovar o Marco Legal do Gás. É interessante que o Brasil tem uma das maiores reservas de gás natural do mundo. Mas trazemos gás natural da Bolívia. O nosso gás é queimado na atmosfera. Temos na região do Amazonas uma das maiores reservas naturais de gás, que ficou muitos anos parada sem autorização para explorar, mas que agora está em fase de conclusão das instalações. Um investimento de quase R$ 2 bilhões da iniciativa privada.

A população pode ter certeza: a partir do momento em que o gás natural chegar a todas as indústrias, o GLP [gás liquefeito de petróleo], que é o gás de cozinha, irá baixar de 30% a 40%, talvez até mais. Vai gerar mais emprego, mais renda, a indústria terá mais condição competitiva no mercado interno e externo. Porque o gás natural é um terço do preço. Sei do que falo porque hoje uso muito GLP onde não tem gás natural. É uma fortuna.

São projetos que ajudam a começar a destravar o País. E tenho o maior prazer em dizer que fiz e faço parte desta Legislatura. Me dá muita tranquilidade ter um suplente como Pedro Chaves (MDB). Tive ação direta na escolha do Pedro Chaves como meu primeiro suplente. Em primeiro lugar, a experiência do Pedro Chaves no Congresso Nacional em cinco legislaturas de deputado federal. Pedro tem um carinho especial, entende tudo que é conversado e ajuda.

Nestes quase dois anos de mandato no Senado, Pedro Chaves me acompanhou em todas as regiões do Estado para levar benefícios e destravar recursos nos ministérios. Recursos até mesmo de legislaturas passadas. Pedro me dá a tranquilidade de, caso seja eleito prefeito de Goiânia, Goiás não irá perder um senador, mas ganhará um senador muito competente, que sabe o que faz. E que continuará o trabalho que iniciamos via Codevasf, por meio dos arranjos produtivos locais, com emendas que beneficiam todo o Estado de Goiás, as prefeituras, o governo e as entidades filantrópicas.

“A reforma administrativa não pode deixar área alguma de fora. Não pode ter privilégio para ninguém”

“Tenho o maior prazer em dizer que fiz e faço parte desta Legislatura” | Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção

Patrícia Moraes Machado – Por que entrar na disputa pela Prefeitura de Goiânia?
Porque eu gosto do Executivo. Nunca escondi isso. Eu quero ter a oportunidade de dizer que vamos transformar Goiânia na cidade com uma das melhores saúdes do Brasil. Teremos a oportunidade de criar nas regiões os polos de desenvolvimento, como fiz na cidade de Senador Canedo. Não estou inventando a roda. Os polos de desenvolvimento foram os responsáveis por dar a Senador Canedo a oportunidade de ser o que é hoje a cidade. Não quero criar as regionais como forma de inventar cabide de emprego.

Augusto Diniz – A discussão feita na campanha de 2016 de criação dos polos de desenvolvimento em Goiânia e das subprefeituras será retomada na eleição de 2020?
Vou retomar a discussão dos polos. Prefiro chamar de regionais, porque a subprefeitura dá a impressão de cabide de emprego. Mas não é. As regionais precisam existir para abaixar o custo da administração. Ter uma regional da prefeitura para atender o cidadão na hora que precisar, com ação social e outras áreas juntas, como na saúde.Vai se chamar Protege, é um projeto interessante.

Precisamos ter a base da estrutura nas regionais. Um exemplo é a Região Noroeste. A pessoa sai de casa para trabalhar em outra região distante. A regional é para oferecer a estrutura necessária da prefeitura mais perto, com máquinas, equipamentos. Não precisar sair de uma região distante e andar 20 quilômetros neste trânsito. Quando a pessoa chega à prefeitura, muitas vezes já é hora de voltar. É preciso simplificar a administração. Não é uma invenção.

Está comprovado que a melhor solução é instalar regionais. As regiões Noroeste e Leste são populosas. É preciso resolver o problema na região. Tudo que é da prefeitura e puder instalar naquela regional, vamos instalar. Vamos atender o cidadão mais perto de sua casa.

Patrícia Moraes Machado – O projeto apresentado para Goiânia há quatro anos precisa ser modificado. O que mudou no plano elaborado para 2016?
Vamos fazer ajustes. Em 2016, propus a criação de oito regionais. No plano de governo apresentado pelo ex-senador Wilder Morais (PSC), estavam incluídas sete regionais. Precisamos avaliar melhor quantas regionais para chegar a um modelo mais adequado, que pode ser reduzido para cinco ou seis, talvez ampliado para nove. Porque Goiânia cresceu nos últimos quatro anos. O estudo será feito.

Mas os polos de desenvolvimento seguem a ideia da mesma vocação da apresentada em 2016. São as fábricas de confecção, de calçados, de artesanato, o setor de oficinas, que buscamos o modelo do que funciona muito bem em Brasília, e de outras atividades de acordo com a vocação da região. Não vamos mudar a proposta de polo tecnológico. O projeto que buscamos como referência foi o de Campinas (SP). Irá funcionar próximo ao campus da Universidade Federal de Goiás (UFG). É preciso pegar toda aquela região e abrir a passagem para a Região Noroeste.

É preciso trazer as empresas de tecnologia para aquela área e aproveitar a Universidade Federal de Goiás, que é exemplo. O parque tecnológico da UFG, que temos ajudado, já idealizou muitos projetos interessantes. Temos de aproveitar esse potencial. Toda campanha ouvimos falar da Região Noroeste. Mas precisamos levar o desenvolvimento para toda cidade. Não podemos nos esquecer da Região Leste.

Euler de França Belém – A tecnologia pode ser usada para substituir as regionais?
Não tem como. A tecnologia substituirá muita coisa. Mas não tem como substituir as máquinas para fazer as intervenções necessárias e os caminhões de coleta de lixo.

Euler de França Belém – Isso já é feito.
Mas estão em uma central. O deslocamento é grande. Precisam estar na região. O pessoal que trabalha na limpeza urbana, nos parques e jardins, têm de ser da região.

Patrícia Moraes Machado – Isso agilizaria o serviço?
Com certeza. Um exemplo é Senador Canedo. A região do Jardim das Oliveiras e a região da Vila Galvão ficam a dez quilômetros de distância da Região Central da cidade. Saía uma pá carregadeira da oficina da Região Central para o Jardim das Oliveiras. Não fazia nada. Só ficava na rodovia, o que atrapalhava o trânsito e causava acidentes.

Quando implantamos a regional do Jardim das Oliveiras, os servidores que faziam a limpeza urbana e os caminhões coletores passaram a ficar na região. Montamos uma regional, com contratação de funcionários da região. O coletor de lixo estava na porta do cidadão bem cedo. O custo da coleta de lixo caiu para um terço.

Temos gargalos em Goiânia como um caminhão que recolhe a poda de árvore, que sai de uma região distante e vem para a GO-020 fazer o despejo do material. Podemos estudar uma forma de ter um local destinado à queima da poda em cada região.

Patrícia Moraes Machado – Quais ações o sr. pensa em adotar como gestor focadas na pandemia da Covid-19?
O que tenho de apresentar são ações pós-pandemia. Tudo indica que até janeiro ou fevereiro ainda estaremos na pandemia. O crescimento da doença começa a perder força. O trabalho de pós-pandemia será viabilizar a geração de emprego e renda. Arrumar mecanismos para que os polos de desenvolvimento saiam o mais rápido possível. Tenho conversado com o governador para termos incentivos fiscais diferenciados para os polos em Goiânia.

Não vou apresentar os polos e falar em incentivos sem ter o apoio do governo. O Estado concorda com os incentivos para a criação dos polos de desenvolvimento? Se disser que concorda, vamos fazer. Como vai funcionar? O polo de confecção, que será dividido por produção, podemos instalar em um setor um polo de lingerie, outro de moda íntima. A ideia é espalhar os polos, como o ex-prefeito Abelardo Vaz fez em Inhumas, que hoje é referência nacional. Um dos maiores geradores de emprego e renda em Inhumas é o polo de têxtil.

Eu tive o prazer à época de ajudar a idealizar o que se tornou realidade. Se vocês não conhecem, vão a Inhumas conhecer. Vem gente de outros Estados conhecer o que o Abelardo fez em Inhumas. Começou com um pedaço pequeno, de menos de dois alqueires de área. Com os polos regionais, podemos firmar o pequeno empresário na região.

Muitas pessoas que têm uma confecção ou fazem calçado no fundo de casa e precisam da oportunidade de ter em um polo assim um pedaço de terra para construir e gerar mais emprego e melhorar a sua renda. Muitos dos que estão na informalidade, se contarem com um incentivo municipal, passarão à formalidade. Começarão a contribuir com seus impostos.

Patrícia Moraes Machado – O ex-governador Maguito Vilela (MDB) diz que uma das marcas da gestão à frente do Estado são os programas sociais. Maguito inclusive cita que seria uma urgência implantar a distribuição de cestas básicas em Goiânia. O sr. acredita que esse seja um dos caminhos na pós-pandemia?
Antes, durante ou depois da pandemia, a ação social é necessária. Tem de ter. Ação social é onde a administração atende o cidadão na primeira emergência que a pessoa tem, que é o alimento. Muitos projetos que minha esposa, dona Izaura Cardoso, tem desenvolvido são propostas que deram certo em Senador Canedo. Estava na reunião com o DEM e uma senhora nos disse que implantou o Sacolão da Família, um projeto criado em Senador Canedo pela então primeira-dama Isaura Cardoso. É um trabalho maravilhoso realizado por uma ONG [Organização Não Governamental] em parceria com a Ceasa [Centrais de Abastecimento de Goiás S/A].

Veja a quantidade de frutas, legumes e verduras que é jogada fora por dia, a verdura ou a fruta que não tem aparência para venda na banca, mas está em excelente condição de consumo. É um programa para atender a população de baixa renda. As ações sociais são primordiais. Muitas serão apresentadas para o cidadão: a criança, o adolescente, o idoso e a mulher vítima de maus-tratos. Discute-se muito a situação da mulher, mas fala-se em instalar uma delegacia da mulher? Nós colocamos em nosso primeiro ano de mandato a Delegacia da Mulher de Senador Canedo. A Delegacia de Proteção ao Idoso.

Implantamos um projeto da dona Izaura que se chama Protege, Centro de Atenção e Proteção à Criança, ao Adolescente, ao Idoso e à Mulher [hoje Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social)], junto com uma área dedicada à qualificação profissional. Tudo isso irá funcionar onde tiver a regional, que não funcionará apenas para oferecer os serviços essenciais, mas trabalhará no centro de apoio com todas essas ações. O trabalho do Protege será uma área separada na qual funcionará o centro de apoio à criança, ao adolescente, a assistência judiciária e todos os outros serviços de ação social na regional.

Euler de França Belém – O ex-prefeito Paulo Garcia (PT) dizia que Goiânia precisa construir um hospital municipal. O sr. avalia que é necessário ter um hospital municipal em Goiânia? O que é preciso fazer para melhorar a saúde na cidade? O fato de o Estado atuar na capital com os hospitais de referência camufla um pouco a deficiência municipal no atendimento em saúde.
O que qualquer gestor precisa entender na saúde é que o cidadão tem de ser atendido no bairro onde mora. Temos um projeto nacional que é referência mundial, o Programa Saúde da Família (PSF). Quando todos entendem a essência do Programa Saúde da Família, ao montar as unidades – a depender do tamanho, até quatro equipes no mesmo local –, é preciso dar condições para que se tenha médico, enfermeira, dentista. No primeiro problema que a pessoa tiver de saúde, seja uma dor de cabeça, no estômago ou pressão alta, o cidadão tem de ir ao postinho de saúde.

Se naquela região não tem o Programa Saúde da Família, a pessoa vai ao Pronto-Socorro ou ao Cais [Centro de Atenção Integrada à Saúde], superlota a unidade. E o custo é altíssimo. Temos de chegar a 100% de cobertura do Programa Saúde da Família. É uma cobertura que avançou muito em Goiânia. Vamos chegar a 100%. Porque é um custo que o governo federal banca. O governo Bolsonaro, em alguns casos, triplicou o recurso do Programa Saúde da Família para os municípios.

Hoje ter médico 24 horas por dia depende de o prefeito querer o programa. Se quiser PSF no final de semana, tem o recurso. É uma área que eu gosto, entendo e sou apaixonado. Se todos os gestores levassem saúde como investimento, não tínhamos problema na saúde. A maioria leva como despesa. Mas não é. É investimento.
Cada centavo investido, por exemplo, na saúde bucal, com um centro de referência de odontologia ou o centro de especialidades odontológicas, quando o cidadão é atendido pelo dentista do Programa Saúde da Família, cada dente é um procedimento. E cada procedimento é um recurso que vem para a prefeitura. Só que isso precisa ser informado por profissionais que interligam a ação ao Ministério da Saúde e o dinheiro vem.

Graças a Deus tive uma equipe muito boa e passei a entender de saúde. Comecei a pegar todo programa que tinha no Ministério da Saúde para cada programa implantado ter primeiro o investimento. Quando era implantado o programa, o dinheiro vinha todo mês. Não precisamos mais do que os 15% do orçamento, que é o necessário para fazer uma saúde boa quando se tem gestão, planejamento e bons profissionais. Temos em Goiás uma bancada atuante, que não foge aos pedidos dos municípios goianos, da Prefeitura de Goiânia nem do governo do Estado.

É preciso ir atrás da bancada. Todo ano, na hora de colocar as emendas no orçamento, Goiânia precisa estar junto aos parlamentares para pressionar porque o Estado inteiro manda paciente para Goiânia. Temos bons hospitais, com o quais podemos fazer parcerias e convênios por um peço justo para oferecermos atendimento rápido à população. Da mesma forma, temos bons laboratórios, que podem oferecer serviço por um preço justo e dar rapidez no atendimento laboratorial.

Vale a pena fazer o investimento no setor público em muitas questões. Mas tem outras que não adianta, é melhor comprar o serviço por um preço justo do que construir um hospital muito grande, com a pressão por indicações políticas, se você pode privilegiar uma cadeia de saúde que já existe. Vocês vão me ouvir falar muito de Senador Canedo, é a referência administrativa que tenho. Não é Nova York.

Euler de França Belém – Mas tem menos funcionários públicos do que Goiânia.
Mas é outro recurso. O recurso de cada cidade é proporcional, mas a forma de administrar é a mesma. O recurso na saúde vem de acordo com serviço que é prestado. Quanto mais serviço o município presta, mais dinheiro vem.

“Quero ter a oportunidade de dizer que vamos transformar Goiânia na cidade com uma das melhores saúdes do Brasil”

“Os polos de desenvolvimento foram os responsáveis por dar a Senador Canedo a oportunidade de ser o que é hoje a cidade” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Euler de França Belém – Qual é a arrecadação de Goiânia e quanto está comprometido com pagamento de funcionários e da dívida?
Os dados que tive acesso apontam para um orçamento em 2020 de R$ 6,3 bilhões a R$ 6,5 bilhões. Em 2021, o orçamento deve crescer para R$ 6,8 bilhões a R$ 6,9 bilhões.

Euler de França Belém – É suficiente para administrar a capital?
Recurso quanto mais melhor. É preciso usar a criatividade. Parcerias com o governo federal nos projetos são fundamentais. Também é preciso fazer parcerias com o governo estadual. A bancada goiana no Congresso pode contribuir bastante com a capital. A criatividade tem de ser usada para captar recurso.

Euler de França Belém – Qual é a capacidade de endividamento da prefeitura?
A capacidade de endividamento da prefeitura é muito baixa. O empréstimo de R$ 780 milhões veio rápido porque Goiânia tinha capacidade de endividamento. Em 2019, o gasto com a folha de pagamento ficou em 52,26% da despesa total da prefeitura. Houve um aumento de 12,95% na comparação com 2018. Os números que estão em análise precisam ser dados validados pelo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) e pela própria prefeitura.

Augusto Diniz – O PIB brasileiro do segundo trimestre fechou em -9,7%, com queda em setores da indústria maior do que 10%. É um cenário que se soma a mais de 13 milhões de desempregados no Brasil, um número superior a 600 mil empresas fechadas e a redução do auxílio emergencial pela metade, para R$ 300. O Ministério da Saúde não tem repassado o total dos recursos esperados a Estados e municípios para combater a pandemia. Qual cenário o sr. imagina que irá encontrar na economia para administrar Goiânia se for eleito prefeito?
O Ministério da Saúde já repassou muito recurso, bilhões e bilhões, para o combate à pandemia. O auxílio emergencial ajudou e tem salvado muitas famílias. A ajuda que foi dada às empresas foi muito importante para segurar mais de 13 milhões de empregos. Se compararmos com o total de desempregados antes da pandemia e com a Covid-19, o aumento foi muito pequeno. Tínhamos 11 milhões de desempregados e hoje temos 13 milhões. É pequeno em relação a outros países, como Estados Unidos e nações europeias.

Mas a situação do País é completamente diferente do que outros países. Não podemos comparar o Brasil, que está tudo por fazer – portos, aeroportos, ferrovias, hidrovias, rodovias e saneamento –, com Europa e Estados Unidos, onde tudo está pronto. Qual é o nosso diferencial? A aprovação do Marco Legal do Saneamento, que tive a satisfação de participar. São mais de R$ 1 trilhão a serem investidos nos próximos dez anos. São tantas ações sendo feitas pelo governo federal para destravar a economia e recebermos investimentos no País.

Um setor como o turismo, que representa muito no PIB – no Brasil 9% e no Nordeste 13% -, foi para a lona. Hoje estamos vendo o turismo voltar com toda força. O comércio voltar com toda força. Em muitos segmentos, começam a faltar funcionários. Neste período de pandemia, contratamos mais de 300 trabalhadores nas nossas empresas. Em algumas localidades do País em que atuamos, começamos a ter dificuldade de contratar vendedor, por exemplo. O País está recuperando muito rápido.

O PIB, que fechará o ano negativo, não será aquele que era previsto. Talvez tenhamos um PIB de -5%. Estava previsto -9% a -10%. Pode ser que a queda do PIB não feche 2020 em -5%, talvez a queda seja menor. O País tem quase R$ 12 trilhões de reservas internacionais, que não foi usado durante a pandemia. Parte pode ser injetada na economia para investimentos, não para rolagem de dívida, como tem ocorrido.

Defendi junto à equipe econômica que parte das reservas seja usada para investimento na economia, na construção civil e nas empresas para comprar máquinas e equipamentos. Que seja um recurso com juro mais baixo do que o do mercado para que as empresas se animem a investir mais, o que gera emprego, renda e imposto.

Augusto Diniz – Em entrevista recente ao Jornal Opção, a coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lúcia Fattorelli, defendeu que o valor pago do auxílio emergencial deveria ser maior e que as reservas poderiam ser usadas para aumentar a quantia paga aos beneficiários. O sr. concorda com essa ideia?
Maria Lúcia Fattorelli é minha amiga, discuti muito com a coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida a questão da dívida pública brasileira. Fattorelli é bastante entendida da dívida pública, mas em alguns pontos nós discordamos. O dinheiro dos fundos que existe hoje, pouco mais de R$ 200 bilhões, só consta no papel. Na verdade, é um dinheiro que não existe. O Fistel [Fundo Unido de Fiscalização das Telecomunicações] tem R$ 30 bilhões, mas na verdade só tem R$ 700 milhões. Estamos discutindo para que esse dinheiro seja usado em um dos programas emergenciais.

São recursos que estão só no papel. São fundos que foram criados para tirar recursos com mais impostos para ficar guardados com uma finalidade, mas nunca foram usados. Isso é contingenciado pelo governo. Os pouco mais de R$ 200 bilhões dos fundos se fossem usados realmente seria muito bom. Poderíamos, por exemplo, aplicar nos setores para gerar emprego e renda, que o governo use os recursos contingenciados no caixa único para desonerar a folha das empresas, como defendo, para diminuir o custo por um período de quatro a cinco anos.

Agora, não é simplesmente pegar os recursos da dívida externa depositados em dólar, os fundos, pegar o auxílio emergencial e passar para R$ 1 mil ou R$ 1,2 mil. Tudo tem um limite! O País não pode ficar só na transferência de recurso para a população sem ter um plano de investimento. O auxílio atende durante um período de dificuldade, como foi o caso, que vai até dezembro. Mas não pode ficar ad eternum a passar recurso. E o caixa? De onde vem o recurso? Já temos um déficit de quase R$ 1 trilhão que foi usado como recurso emergencial na pandemia.

Augusto Diniz – A discussão da desoneração da folha de pagamento das empresas avançou no Congresso?
Há um pré-acordo de não serem somente 17 setores, mas de incluir todos os setores. Fiz uma defesa muito grande com a equipe economica e com o presidente para que seja incluído urgentemente o setor do turismo, que é o que mais gera emprego e renda no País, mas ficou de fora dos 17 setores. Se não ampliarem para todos os setores da economia, que ao menos mais alguns setores sejam incluídos.

Se forem todos os setores, falamos de R$ 40 bilhões. Os 17 setores representam R$ 10 bilhões. Para levar a desoneração da folha a todos os setores, podemos ter uma proposta, como o Ministério da Economia quer, de criar uma contribuição para cobrir a desoneração. É uma ação que ajuda a segurar mais empregos e o governo terá uma fonte de arrecadação para cobrir os R$ 40 bilhões da desoneração de todos os setores.

Euler de França Belém – O sr. é favorável à privatização dos Correios?
Qual é a receita e quais são as despesas dos Correios? Os trabalhadores concordam com a privatização ou defendem que o governo federal complemente anualmente os recursos dos Correios? Qual seria o modelo de privatização? Como os funcionários dos Correios serão contemplados? Defendo que o governo federal não tem de se meter em construção de rodovia, porto, aeroporto, ferrovia e hidrovia. Tudo que o governo federal se mete a fazer vira uma bagunça, foge do controle, a parte política entra no projeto com as nomeações e a situação fica deficitária.

Peguemos por base a Ferrovia Norte-Sul. Fui a duas ou três inaugurações da Norte-Sul. O que foi transportado pela ferrovia? Agora, com a iniciativa privada, que fez a negociação mais recente, teremos a inauguração da Ferrovia Norte-Sul. Agora a ferrovia terá transporte de cargas vindas de São Paulo, do Porto de Santos, e levar mercadoria para vários lugares.

De que adianta o governo federal dizer que vai fazer ferrovia? 20 e tantos anos com a Norte-Sul sem transportar coisa alguma. Em um ano e pouco teremos a Ferrovia Norte-Sul inaugurada com transporte de grãos. Defendo que o Estado tem de ser o órgão regulador.

Euler de França Belém – O sr. é contra a privatização do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal?
Tenho minhas divergências sobre a Caixa Econômica, que deixou de ser um banco social. A Caixa hoje é um banco que pratica juros de agiota. Com a minha defesa e a minha briga que, com muita dificuldade, conseguimos renegociar o contrato das Santas Casas de Goiânia e de Anápolis.

A Caixa empresta dinheiro às prefeituras e às entidades filantrópicas com juros altíssimos. Aquele objetivo de ser um banco social acabou. Hoje temos juros muito mais baratos nos bancos privados. Minha discussão com a Caixa em um ano e sete oito meses de mandato foi sobre os juros praticados com as entidades filantrópicas, prefeituras e governos estaduais.

Euler de França Belém – O empresário Salim Mattar [ex-secretário especial de Desestatização] defende que privatizar Banco do Brasil e Caixa seria muito bom para o governo federal. O sr. concorda?
Não defendo a privatização. Defendo que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica voltem a ser bancos sociais. O que é um banco social? É um banco que chega não com o recurso de mercado, mais alto, mas um crédito mais baixo, que atenda às entidades filantrópicas, como hospitais, com juros mais em conta do que os cobrados pelos bancos particulares.

A Caixa cobra hoje de juros da Santa Casa de Goiânia e da Santa Casa de Anápolis quase 20% ao ano, o que o banco privado faz por 7%. Para renegociarmos o contrato de Anápolis e Goiânia, conseguimos sair dos 20%, mas ainda está em um patamar alto, de 11,66% ao ano. São juros muito altos para uma taxa Selic de 2% e a inflação do jeito que está. É juro de agiota.

“Conheço muito bem o governador e Caiado me conhece. O governador sabe que quando eu dou a palavra, essa palavra é cumprida”

Vanderlan Cardoso, senador e candidato a prefeito de Goiânia, em entrevista aos jornalistas Euler de França Belém, Patrícia Moraes Machado e Augusto Diniz: “Sendo eleito ou não prefeito de Goiânia, pelo gesto dado pelo governador agora, trabalhei para Caiado se o governador for candidato a reeleição” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Euler de França Belém – O governador Ronaldo Caiado (DEM) disse que o FCO [Fundo de Financiamento do Centro-Oeste] não beneficia os Estados do Centro-Oeste do jeito que está. Caiado propõe que, ao invés de ficar com o Banco do Brasil, o FCO fique com os Estados. Como o sr. se posiciona?
O Distrito Federal tem banco estatal. Goiás perdeu seus bancos estaduais. No Mato Grosso, o Bemat [Banco do Estado do Mato Grosso] foi vendido. Ainda não conversei com o governador para saber como seria gerido o recurso do FCO pelo Estado. Mas é o Estado quem sabe qual setor precisa receber mais investimento. Muitas vezes são discutidos investimentos em milhões ou bilhões para um setor do Estado, mas o dinheiro fica parado enquanto outro setor precisa de recurso.

Somos um Estado do agronegócio. Mas também da indústria de transformação. Muitos frigoríficos transformam carne em produtos embutidos. Também temos várias indústrias em Goiás que vender para outros Estados e exportam para outros países. Os recursos do FCO precisam ser melhor distribuídos, com a chegada do dinheiro o mais rápido possível.

No Banco do Brasil há, sim, uma burocracia muito grande. A empresa precisa provar para o Banco do Brasil que necessita do dinheiro. Só quando consegue provar que o banco empresta. Isso precisa ser mais ágil. Conheço muitos empresários que apresentam projeto via FCO que constroem a empresa, compram as máquinas, dão um jeito para apertar as contar e pagar. Quando sai o recurso do FCO anos depois, tudo já foi pago.

Precisa ser um processo bancário ágil. O empresário apresentou o projeto, foi verificada a viabilidade e aprovado o recurso, a liberação do dinheiro tem de ser imediata. Não pode ser usado para fazer superávit no banco.

Augusto Diniz – Inicialmente, a negociação do PSD com o governador Ronaldo Caiado não incluía a discussão sobre 2022. Tanto o presidente estadual Vilmar Rocha quanto o sr. diziam que não negociariam candidatura em 2022 para fechar o acordo em 2020. Quando houve a concretização do acordo e o governador passou a apoiar sua candidatura a prefeito, quando Caiado escolheu o ex-senador Wilder Morais para a vice, ficou acertado que o sr. não seria candidato a governador daqui dois anos. Se o eleitor de Goiânia escolher o sr. como o novo prefeito, qual a garantia de que o sr. não irá deixar a prefeitura e será candidato a governador?
Não há condição para isso porque estamos falando do Executivo. Muitos projetos que serão implantados são humanamente impossíveis de se fazer em um ano e três meses. Para deixar o Senado Federal com o pensamento de ser eleito prefeito para ficar só um ano e pouco, não há condição de executar obras e aparecer a administração nesse período. É um período de planejamento, de licitações, de implantar alguns dos projetos apresentados. Alguns podem começar no dia seguinte à posse, mas muitos dependem de mais tempo.

Como tenho a vocação do Executivo, tenho de provar por meio de uma administração que seja referência para o Estado, que é o caso da capital. Se eu quiser ser governador de Goiás com o apoio do governador Caiado à minha candidatura de prefeito e, sendo eleito, faz parte do compromisso que fiz com o governador. E partiu de mim. Porque o partido não fez o compromisso de incluir 2022. Mas eu fiz.

Sendo eleito ou não prefeito de Goiânia, pelo gesto dado pelo governador agora, trabalharei para Caiado se o governador for candidato a reeleição. Quero contribuir, sendo eleito, com a candidatura do governador por meio da administração modelo que faremos em Goiânia. Funciona como uma parceria. Preciso do governo do Estado para implantar os programas que serão apresentados à população de Goiânia. Sem o governo do Estado, não adianta nem apresentar grande parte dos projetos.

Patrícia Moraes Machado – Como se deu a aproximação do governador, já que o sr. estava em um grupo adversário a Caiado na campanha de 2018?
Euler de França Belém – Inclusive o sr. estava crítico ao governo Caiado.
Eu pontuava ações. Se você observar meu modo de fazer política, estou na base do governo Bolsonaro. Quantas vezes votei projetos que não considerava relevantes e, mesmo assim, fiz muitas críticas. Inclusive gravei um vídeo direcionado ao presidente porque não concordava com a figura dos superministros que queriam aparecer mais do que Bolsonaro. Se você pegar o vídeo, verá que fui claro ao dizer que o então ministro da Saúde, o sr. [Luiz Henri­que] Mandetta, fazia tudo errado, realizava ações para aparecer e não dava resultado.

Patrícia Moraes Machado – Como foi a aproximação do sr. com o governador e o apoio de Caiado à sua candidatura?
Trabalhei em projetos com o governador Ronaldo Caiado. A campanha do Simeyzon Silveira (PSD) foi decidida no último dia. Atuamos juntos no projeto. Fizemos campanha entregando santinho onde fazíamos as caminhadas, em feiras livres e no comércio. A filha do governador, Anna Vitória Caiado, participou. Depois convenci Caiado a fazer uma campanha extemporânea em Nazário, quando o prefeito foi cassado. Fizemos da mesma forma, entregávamos santinho na rua.

Em 2018, eu não era candidato, já tinha feito um compromisso com o Daniel Vilela (MDB). Já tinha dado a palavra. Quando fui para o Progressistas, não era candidato, cheguei para contribuir com o projeto do partido. Pelas pesquisas, acabei me tornando candidato ao Senado. Queria conhecer o Congresso para me dar base de como funciona. Quando dou a palavra, não tem volta.

Com relação ao governo, todos os pontos que mereciam aplauso eu aplaudi. Fui o primeiro a colocar nas redes sociais uma mensagem para parabenizar o governador pela vinda dos brasileiros repatriados da China, assim como fiz quando foi publicado o primeiro e o segundo decretos. Depois falei ao governador que havia uma necessidade de ser mais maleável no fechamento das atividades econômicas.

Todas as vezes que o governador e seu secretariado me ligaram para pedir ajuda em vários sentidos no Congresso Nacional, eu compareci. Não só eu como toda a bancada goiana. Não sou igual papagaio que fica a repetir o que os outros falam. Não. Eu tenho ideia própria. Quando não concordo, eu exponho.

Euler de França Belém – Na questão da Enel, o sr. discordou frontalmente.
Discordei. Fui o primeiro crítico da Enel. Entrei com processo contra a Enel antes de tomar posse como senador.

Patrícia Moraes Machado – O sr. estava no grupo do Daniel e do Maguito e havia um projeto em comum. É um projeto que foi quebrado?
O MDB não tinha compromisso comigo nem eu com o MDB com relação a 2022. Tínhamos uma parceria que começou em 2018, que ia para diversos cantos do Estado, incluía muitos municípios. Apoiamos o MDB em alguns municípios e o MDB apoia o PSD em outras cidades. Vínhamos em um pré-acordo que era natural, já que deu certo em 2018, de estarmos juntos em 2022. Isso foi quebrado quando houve a aproximação do prefeito de Aparecida [Gustavo Mendanha], do Maguito e do próprio Daniel ao governador.

Abriu-se o diálogo entre o governador e o MDB, que é natural. O MDB estava certo no diagnóstico que faziam em relação a Goiânia, Aparecida de Goiânia e 2022. Uma aproximação com o governador seria vantajosa para o projeto do MDB. Isso me deu a condição de ser político, abrir as conversas e entrar no jogo. Eu estava ficando isolado. Era uma questão de sobrevivência abrir o diálogo com o governador. Chegou no acordo que fizemos e nessa aproximação.

Conheço muito bem o governador e Caiado me conhece. O governador sabe que quando eu dou a palavra, essa palavra é cumprida. Foi assim quando estivemos juntos em outros projetos. Não tenho inimizade com ninguém. Ouvi uma frase que, se não me engano, é do saudoso amigo Kid Neto. Um dia o Kid Neto me falou que a política era feita de encontros, desencontros e reencontros.

Um dia desses, estivemos juntos com o ex-deputado estadual Misael Oliveira (PDT), que me ajudou na gestão em Senador Canedo e depois se tornou prefeito. Rompemos politicamente. E hoje o Misael está no projeto conosco em Senador Canedo. E vai me ajudar em Goiânia. Não tenho inimizade. Quantas eleições eu disputei contra o prefeito Iris Rezende (MDB)?

Patrícia Moraes Machado – O sr. se sentiu traído pelo grupo dos Vilela ao ser deixado à margem na conversa com o governador?
Vejo de outro jeito. Quando tentaram fazer a composição, Daniel e Maguito negociavam a sobrevivência política dos Vilela. Viram o que era melhor para eles. Quando fizeram isso, me deram o direito de fazer o mesmo. Voltei para o jogo. Primeiro, conversei com o meu partido, com o pré-candidato Francisco Jr., a primeira pessoa com quem eu tinha de conversar.

O deputado federal sempre deixou claro que para mim Francisco Jr. abriria mão da sua pré-candidatura a prefeito de Goiânia. Aceitamos o desafio também por questão de sobrevivência. De que adiantaria eu trabalhar para 2022 se o nosso principal aliado ia compor com o governador? O que eu ia fazer em 2022? Ir sozinho para a campanha, como fiz em 2014?

Patrícia Moraes Machado – O sr. acredita que a aproximação entre Vilelas e o governador seria concretizada ou foi um jogo de cena?
Se dependesse do MDB, a aproximação seria concretizada. Não sei se por parte do governador havia tanta empolgação para fazer essa aproximação. Acredito que da parte do governador não houve tanto entusiasmo quanto da parte do MDB.

“O trabalho de pós-pandemia será viabilizar a geração de emprego e renda”

“As regionais precisam existir para abaixar o custo da administração” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Augusto Diniz – O sr. e o governador tomaram o cuidado de ir ao Paço Municipal apresentar a chapa com Wilder Morais de vice ao prefeito Iris Rezende antes do anúncio na convenção. Quais foram os termos da conversa com Iris? Porque o prefeito preocupa tanto a sua candidatura caso resolva entrar na campanha do Maguito e, do outro lado, o MDB não quer que Iris esteja ausente na eleição?
Já disputei três eleições contra o prefeito Iris Rezende. O apoiei em 2010 no segundo turno. Quase ganhamos aquela eleição. Foi por pouco. Se o pessoal que estava na campanha do Iris à época, grande parte, não estivesse no faz de conta, teríamos vencido aquela eleição. Tenho um respeito muito grande pelo Iris. É difícil para mim fazer campanha contra o Iris. É muito desconfortável para mim, pela amizade que tenho, não só com o prefeito, mas com grande parte de sua família.

A visita ao Iris não foi nada provocativa ao Maguito. Em hipótese alguma. Iris deixou bem claro que quer ser o conselheiro. Quando disse isso, o prefeito não disse “quero ser o conselheiro do Maguito”. Iris deixou aberto a todos que o procurarem. Não poderíamos de forma alguma, sendo o líder que o prefeito Iris é, tendo respeito por todos os goianos e goianienses, deixar de fazer uma visita ao Iris. Não foi para afrontar outra pessoa.

Estive com Iris recentemente para levar emendas e recurso à prefeitura. E não foi só uma vez. Foram mais de R$ 16 milhões em emendas para Goiânia. Passada a eleição de 2016, fui visitá-lo. Nunca tive embate com Iris. Fomos ao Paço Municipal conversar com o prefeito e o governador foi apresentar a chapa. Iris apresentou seu secretariado. Mas hora alguma o prefeito disse “vamos apoiar”. Não é essa política que queremos fazer.

Euler de França Belém – Se for eleito, o sr. acredita que receberá uma prefeitura organizada?
Todos os levantamentos até o momento apontam que a prefeitura será entregue sem déficit. Isso o próprio prefeito Iris falou na reunião para mim, para o governador e para o Wilder. Não tem déficit, os pagamentos estão todos em dia e tem dinheiro em caixa, disse Iris. Só de não ter déficit e o pagamento estar em dia, já é bem melhor do que o prefeito recebeu.

Euler de França Belém – O sr. dará sequência às obras iniciadas na gestão Iris?
Lógico. Até mesmo porque não dá para deixar esta quantidade de obras parada. É um crime. Não podem obras prioritárias para Goiânia ficar paradas.

Euler de França Belém – O sr. aprova as intervenções feitas pelo prefeito com construção de trincheiras e viadutos? Corredores de ônibus?
Aprovo. Em muitos lugares, trincheiras e viadutos são essenciais. Todos os corredores são necessários. Discutimos isso em 2016.

Euler de França Belém – O sr. acredita que Iris resolveu o problema do transporte coletivo?
Não. Ainda faltam ações que precisam da participação dos empresários, do governo do Estado e da prefeitura. Com os polos de desenvolvimento, vamos melhorar muito o transporte coletivo.

Euler de França Belém – Reduzir o excesso de pessoas transitando em longas distâncias?
Exato. Reduziremos a quantidade de pessoas atravessando a cidade de um lado para o outro. A previsão é de reduzir no mínimo 30%.

Augusto Diniz – O sr. citou a reaproximação com o ex-prefeito de Senador Canedo, Misael Oliveira. Em 2016, quando estavam rompidos, o sr. apoiou a candidatura de Zélio Cândido e chegou a defender que Zélio ocupasse o cargo de prefeito no lugar do Divino Lemes (Podemos) pelo fato de o eleito ter disputado por meio de liminar. Como foi a reaproximação com o Misael?
Depois da campanha de 2016, nós nem o Zélio entramos na Justiça para tirar o mandato do Divino Lemes.

Augusto Diniz – O sr. chegou a contestar em entrevistas o fato de o prefeito Divino Lemes poder assumir o cargo.
Divino disputou com base em liminar. Eu dizia que o Divino disputou com uso de liminar, mas ganhou no voto. E se ganhou no voto, temos de respeitar a vontade do povo. Nestes quase quatro anos de Divino Lemes em Senador Canedo, eu evitava até andar na cidade para não trazer certos atritos, constrangimentos ou palavras mal colocadas, respeitando a vontade do povo. Não entrei na Justiça, acredito que o Zélio também não, que eu saiba.

A reaproximação se deu neste novo momento em que tanto eu quanto Misael chegamos à conclusão de que política se faz com grupo. Não é esparramando. Misael estava no nosso grupo há muito tempo, mas houve um desentendimento e seguimos caminhos diferentes. Quando nos espalhamos, o adversário ganhou a eleição. Analisamos o momento, que possibilitou a reunião.

A união que houve agora do nosso pessoal com o Misael na campanha possibilitou que a mulher do ex-prefeito, Eliete Gonçalves (PDT), fosse lançada como vice do Dr. Fernando Pellozo (PSD). Só com a vinda da ex-primeira-dama para a chapa, praticamente todos os votos que Misael receberia foram transferidos para o nosso candidato. A pesquisa interna que avaliamos aponta que o adversário não foi beneficiado com a transferência de votos da saída do Misael da disputa. Porque a população de Senador Canedo vê o nosso candidato e o Misael como sendo do mesmo grupo.

Patrícia Moraes Machado – O sr. sempre cita Senador Canedo como exemplo de gestão na sua bagagem administrativa e o Maguito terá Aparecida de Goiânia como referência na campanha. Não seria um erros dos dois candidatos puxar duas cidades menores como vitrines para propor soluções para a capital? Sendo o sr. senador e o Maguito ex-governador, não estariam os dois reduzindo Goiânia a realidades incompatíveis?
Não. Os programas que existem na área da saúde tanto valem para uma cidade menor, como Jesúpolis, quanto para um município maior, como a capital. O que é implantado no Programa Saúde da Família no atendimento bucal é o mesmo que pode ser implantado em Senador Canedo, Aparecida de Goiânia e em Goiânia. O projeto de geração de emprego e renda ou os polos de desenvolvimento são o mesmo modelo para Jesúpolis, que tem 2.474 habitantes.

Tanto é que lá deu certo o polo implantado de acordo com a realidade em Senador Canedo, Aparecida e Goiânia. Citava muito Jesúpolis porque era o segundo menor PIB do Estado de Goiás, entrou um novo administrador que transformou a cidade e proporcionalmente virou um dos maiores construtores de casas populares do Brasil. A cidade tinha 800 casas. O prefeito Wygnerley Justino de Morais construiu quase 600 casas populares. Fez um distrito industrial de acordo com a cidade e colocou várias indústrias em Jesúpolis.

Quando se tem o conhecimento de administração em uma cidade, como tive em Senador Canedo, Maguito em Aparecida, temos de mostrar o que fizemos e que não precisamos inventar a roda. Qual é a fórmula que existe para fazer uma cidade, um Estado ou o País desenvolver? Pode ser um município menor ou maior. Não conheço outra forma a não ser a partir da qualificação profissional, geração de emprego e renda e o atendimento a nossa população. Para isso, é preciso estar perto do povo.

Fui prefeito de Senador Canedo. Quando cheguei à prefeitura, a cidade tinha 70 mil habitantes. Qual era a fama de Senador Canedo? Uma das mais violentas do País. Era desova de cadáveres, cidade com muitos assassinatos. Cidade-dormitório, com ônibus superlotados saindo dos pontos, porque não tinha terminal, em direção a Goiânia, Aparecida e outras cidades. Como foi feita a transformação? Só com cesta básica? Não.

Senador Canedo se transformou com programa maciço de qualificação profissional, polos de desenvolvimento, através da geração de emprego e renda, do comércio. Do contrário? Auxílio emergencial é bom. Por um período. Mas se não tiver continuidade, quem vai pagar essa conta? A iniciativa privada? O trabalhador, que já não aguenta mais pagar tanto imposto?

Por isso tive uma discussão agora e disse que não aceito aumento de imposto. Sou membro titular da Comissão Mista Temporária da Reforma Tributária. Na primeira reunião, eu disse que não aceito a proposta. Temos de rever essa proposta. Os senadores todos foram juntos. Não vamos aceitar esse texto. O governo recuou. Se a nossa comissão não aceitou, como a equipe econômica iria convencer os outros deputados e senadores? Não convence.

Patrícia Moraes Machado – Depois de dois anos, houve uma mudança no quadro político em Goiás. As alianças que foram firmadas em 2018 já não são as mesmas. O sr. já consegue imaginar como ficará o realinhamento político pós-2020?
O novo grupo que se forma no Estado de Goiás com o governador Ronaldo Caiado, com o PSD, o Progressistas e outros que estão na base do governo, mas ficaram com o adversário, após a eleição tudo irá se realinhar. Vejo isso como um novo momento no Estado de Goiás, em que houve uma mudança muito grande após a nossa composição com o governo e o PP. É um projeto praticamente definido para 2020 e 2022.

Como Goiânia é a caixa de ressonância para a classe política, o reflexo dessa aliança vai para o interior. Até tudo se realinhar novamente… Temos municípios em que o MDB caminha junto com o DEM. Em outros municípios o PSD é vice do MDB e vice-versa. Está uma salada.

Euler de França Belém – A vereadora Dra. Cristina Lopes (PL) vai apoiar a candidatura do sr.?
Conversamos. Estamos dialogando. É minha amiga, uma pessoa que gosto e admiro. Sempre tive um respeito muito grande pela Dra. Cristina. Recentemente fizemos uma live juntos. Dra. Cristina ainda era pré-candidata e eu também.

Patrícia Moraes Machado – O fato de o sr. ser senador e vivenciar hoje a política em Brasília, caso eleito prefeito, pode ajudar a trazer mais recursos e viabilizar a gestão nos próximos quatro anos?
A experiência que tive em Brasília em um ano e oito meses me dá um respaldo para saber onde buscar recurso, como buscar e como funciona Brasília. Precisava entender esse processo. Nesse período, não só entendi como consegui mais de R$ 16 milhões para o Estado de Goiás. Sabemos muito a fonte de onde estão os recursos.

Vamos trabalhar junto à bancada. Sendo eleito, Pedro Chaves assume o mandato, tem o senador Luiz do Carmo (MDB). Temos a divergência com o senador Jorge Kajuru (Cidadania), mas quando é para defender o Estado, como no caso da MP 987/2020, estamos juntos pelos interesses de Goiás. As divergências são deixadas de lado na defesa do que for melhor para o Estado.

Euler de França Belém – O sr. e o Kajuru voltaram a conversar?
Não. Conversamos muito pouco. Às vezes, nas nossas reuniões virtuais, nos dirigimos um ao outro com muito respeito. Mas falar sobre política não.

Euler de França Belém – A questão do ICMS [Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação] de Goiânia é uma polêmica antiga. Muitos dizem que deveria ser maior, mas é sempre menor. O que de fato ocorre na guerra do ICMS na capital?
A composição do índice que vai para os municípios é muito clara. É o que gera e agrega de valor no município. Nos últimos anos, muitas empresas saíram de Goiânia por falta de espaço, porque cresceram. Com isso, o valor agregado no município baixou. Goiânia teve até 30% de participação no índice, mas hoje caiu para 17% ou 18%. Já esteve em 16%, está melhorando.

Temos de trabalhar através dos polos de desenvolvimento para agregar mais valores e riqueza ao município e recuperarmos parte da arrecadação do ICMS, que já esteve em 30%. Quem sabe possamos chegar a 25%. Por isso defendo tanto os polos de desenvolvimento. Em Senador Canedo, a receita existente no município era oriunda da Petrobras. Qualquer coisa que ocorria na Petrobras o município quebrava.

Começamos a trabalhar os polos de desenvolvimento, o fortalecimento do comércio, gerar mais recurso para o município. Senador Canedo ainda é dependente da Petrobras, mas hoje representa de 25% a 30% da arrecadação. Se ocorrer algo com a Petrobras, o município já não quebra mais. Por isso Goiânia sofreu tanto na arrecadação, porque a capital depende praticamente do setor de serviços e do comércio, que foram os mais prejudicados pela pandemia.