“O cenário positivo para o Brasil já começou antes mesmo de o Bolsonaro assumir”

11 novembro 2018 às 00h01

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Senador eleito defende a aprovação das reformas e diz que lutará pela quebra de monopólios, que, segundo ele, dificultam o crescimento do País

Vanderlan Cardoso (PP) já foi prefeito de Senador Canedo e disputou a Prefeitura de Goiânia e o governo de Goiás. Nas eleições de 2018, o empresário concorreu a uma das duas vagas para o Senado e foi o preferido do eleitorado goiano, com 1.729.637 votos.
Nesta entrevista ao Jornal Opção, o senador eleito fala sobre suas propostas para ajudar o Brasil a crescer e afirma que manterá uma postura de independência tanto em relação ao próximo governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), quanto ao futuro presidente, Jair Bolsonaro (PSL).
Marcelo Mariano — Quais são as principais pautas que o sr. pretende defender no Senado?
Primeiro, as reformas previdenciária, política e tributária, que já estão virando unanimidade no Brasil. Poucas pessoas discordam. Além disso, a quebra de monopólios, da qual falei muito durante a campanha. Embora alguns desses monopólios sejam disfarçados, eles existem no Brasil e estão atrapalhando o crescimento do País, como é o caso da energia, cujos aumentos se dão por meio de agências, que, aliás, são indicações políticas, e os combustíveis. A Petrobras não tem concorrência e a roubalheira que houve fez com que governos estrangeiros, como o dos Estados Unidos, aplicassem multas, já que esta é uma empresa listada em bolsa. Hoje, aumenta-se muito o preço dos combustíveis para recuperar o valor de mercado da Petrobras, para as ações aumentarem e, com isso, haver uma distribuição de melhores dividendos aos acionistas. O problema é que o contribuinte não tem nada a ver com isso. A partir do momento em que a Petrobras tiver concorrência, ela será mais eficiente, passará a dar mais lucro e terá um preço mais competitivo, ou seja, um preço melhor que chegará ao consumidor. Quando há concorrência, o maior beneficiário é o consumidor. Tudo tem que ter concorrência. Não podemos ter um fornecedor só, como ocorre com a energia em Goiás. Cerca de 95% da energia é fornecida por uma única empresa.
No Senado, vou defender também uma melhor distribuição dos recursos oriundos da arrecadação dos impostos. Já defendia que acontecesse o pacto federativo ainda quando era prefeito de Senador Canedo. O município tem que ficar com a maior participação, seguido dos Estados e depois da União. Hoje, acontece o contrário e os nossos municípios estão falidos.
Por fim, a geração de emprego e renda. É só assim que um país consegue crescer. Para isso, temos algumas políticas que precisam ser estabelecidas urgentemente. Quando falo da reforma tributária, estou falando de abaixar impostos para gerar competitividade. Assim, a população tem mais acesso ao consumo. É necessário, ainda, desonerar a folha de pagamento. Com isso, a folha será mais enxuta e, com os impostos diminuindo, haverá mais recursos para o trabalhador, já que os salários hoje são muito achatados porque a maior parte vai para o governo. A desoneração, que já foi anunciada em campanha pelo próximo presidente e pelo seu futuro ministro da Economia, agradou desde os trabalhadores aos investidores, que geram emprego e renda. São essas as pautas que mais estarei defendendo no Senado.
Marcelo Mariano — O sr. acredita que Jair Bolsonaro terá apoio suficiente para aprovar as reformas?
Acredito que sim, porque isso passa pela sobrevivência do Brasil. Já é praticamente uma unanimidade e as pessoas sabem que, se não essas reformas não forem aprovadas, todo mundo morrerá abraçado. O Brasil não suporta mais trabalhar com tanto déficit. O Custo Brasil é tão alto que o País não está sendo mais competitivo em quase nada. O agronegócio ainda é competitivo porque o mundo está comprador de commodities. Mas temos que diminuir o Custo Brasil e as reformas precisam sair. Não há mais como ficar discutindo se conseguirá ou não. Elas têm que acontecer.
Marcelo Mariano — Em seis meses?
Acredito que até em menos de seis meses. Algumas delas terão que ser aprovadas em regime de urgência.
Felipe Cardoso — O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse que a reforma da Previdência precisa ser aprovada em caráter de urgência, mas que é preciso saber se existe um clima para que seja votada ainda este ano. O sr. acha que isso seria possível?
Concordo com o que o Rodrigo Maia falou. Acho que não está tendo clima para isso e que será muito difícil aprovarem agora. Nesta legislatura, devido ao tempo, é preciso ser melhor discutido. Não sou favorável que se aprove uma reforma tão importante como essa de maneira rápida, sem que haja um levantamento dentro da Previdência, uma espécie de auditoria independente, para que se tenha conhecimento da real situação e detectar onde estão os problemas que resultam no aumento do déficit. Este levantamento precisa ser feito urgente. Com isso, será possível fazer reforma que prejudique menos o trabalhador que ganha dois ou três salários mínimos e que aqueles que têm superaposentadorias deem uma parcela maior de contribuição.
Augusto Diniz — O texto da reforma apresentado pelo governo do presidente Michel Temer excluiu a categoria dos militares. Sabe-se que, nesta categoria, cujo trabalho exige um esforço físico muito grande, acaba sendo natural uma aposentadoria mais cedo. Já há declarações de parte da equipe de Jair Bolsonaro de que teria que se tratar os militares como uma categoria exclusiva ou um tipo de mudança previdenciária diferente do que pode ser a proposta do próximo governo. O que o sr. pensa sobre essa questão dos militares na reforma da Previdência?
Se começarmos a discutir reforma da Previdência abrindo exceções, ela não será justa. Tem que ser para todos. O esforço tem que ser para todos, independentemente de ser militar, juiz ou um trabalhador rural. Tem que ser justo. É o que eu defendo e, lá no Senado, vou defender isso. Todos nós trabalhamos e trabalhamos muito. Eu mesmo comecei a trabalhar com 7 anos de idade.
Augusto Diniz — Há um outro assunto que Jair Bolsonaro e Paulo Guedes discutiram durante a campanha e que voltaram a dar declarações após as eleições, mas que ainda não está muito claro tudo que entrará neste pacote, que é o de privatizações. Como senador eleito, qual é o seu entendimento sobre as empresas estatais que podem ser privatizadas e as que devem permanecer na estrutura do governo federal?
Acho que tem de ser privatizado tudo. O governo federal não tem competência para entrar em nenhuma dessas áreas, já que a pressão por indicações políticas é grande. É isso que atrasou o Brasil e gerou índices alarmantes de corrupção. São as indicações políticas e o governo se metendo em área que não tem condições, como fazer ferrovias, aeroportos e portos. A ideia que eu entendi, pelo que o Paulo Guedes falou, é de diminuir o governo central. Para isso, com certeza é preciso acabar com essas empresas, como a Valec. O governo tem que ser o órgão regulador, mas com técnicos. Se o governo for regular, que sejam técnicos, pessoas que podem ser punidas se cometerem deslizes.
Marcelo Mariano — Recentemente, Paulo Guedes disse que iria salvar as indústrias, mesmo sem os industriais. Como analisa esta frase?
Acho que o que o futuro ministro se referiu a alguns setores que o governo protegeu. Não sou favorável que haja setores privilegiados, como foi, por exemplo, a indústria automobilística com a desoneração de alguns impostos, sendo que temos muitos setores do País que estão padecendo pela concorrência chinesa, como confecção e calçados, que não tiveram esse mesmo benefício. Paulo Guedes está, portanto, se referindo a alguns setores protegidos por apadrinhamento político. A indústria brasileira cresceu muito nos últimos anos, principalmente depois que se abriu o País, durante governo Fernando Collor, para novas tecnologias para que os parques industriais melhorassem. Concordo quando o futuro ministro diz que a indústria brasileira, hoje, está acabando. Está todo mundo quebrando e entrando em recuperação judicial, porque as regras não são claras e os impostos e os juros são altos, especialmente para quem investe e gera emprego e renda. Os juros para quem compra uma geladeira e uma máquina para produzir não podem ser os mesmos. Há uma política no Brasil de que o investidor é tido pelo governo como inimigo. Isso tem que acabar. Temos que, primeiro, criar um ambiente para o investidor brasileiro e, segundo, para conquistar o investidor estrangeiro. Isso se cria com custo mais baixo e regras claras, que não podem ser alteradas no meio do caminho, como vem acontecendo ultimamente.
Marcelo Mariano — Como o sr. analisa a fusão de ministérios que tem sido anunciada por Jair Bolsonaro, não só na área da economia, mas também em outras áreas, como o próprio Ministério das Cidades, que, hoje, é comandado por seu partido, o PP, e deve se juntar ao Ministério da Integração Nacional?
Algumas fusões são boas. Por exemplo, concordo que o Ministério da Educação absorva a Cultura e o Esporte. Aliás, como prefeito de Senador Canedo, guardadas as devidas proporções, eu fiz isso. É dada uma melhor condição para a Cultura e o Esporte quando estão em uma pasta maior, absorvendo mão de obra qualificada para que haja mais investimentos. Já no caso da Agricultura com o Meio Ambiente, achei um erro, que deve ser corrigido. Foi dado pelo Onix Lorenzoni como certo em uma entrevista, mas viram o erro que fizeram. O meio ambiente está em discussão em todo o mundo e vivemos um país que depende da venda de commodities. Um boicote da Europa, Estados Unidos ou até mesmo da China devido à questão ambiental, prejudicaria muito a agricultura. Isso foi tão absurdo que até as pessoas do agronegócio não concordaram.
Em relação ao Ministério das Cidades, uma pasta superimportante que o ministro Alexandre Baldy deu uma nova cara levando benefício para o Brasil inteiro, é muito grande. Não sei se o Ministério das Cidades, junto com mais dois ou três pastas que também são importantes, terá a mesma eficiência. Isso tem que ser analisado melhor. Muitas vezes se fala que é para ter economia, mas, dependendo do tamanho e da importância que tem, não vale a pena, porque as estruturas permanecerão. Ao invés de ser um ministro, será um diretor ou um secretário. O discurso de reduzir ministérios, de 29 para 17 ou 18, é bonito, mas não é bem assim que as coisas funcionam. Há algumas junções que podem, inclusive, aumentar despesas.

Felipe Cardoso — Uma das propostas de Jair Bolsonaro é extinguir o Ministério das Cidades e fazer com que o dinheiro repassado aos Estados e municípios saia diretamente da União para que não houvesse todo um trâmite, que, segundo ele, acarreta em desvios. Seria mesmo possível tomar esta medida?
Há muitos municípios que não têm um corpo técnico como o Ministério das Cidades e eu não enxergo solução por esse caminho. Se não houver irregularidades no governo federal ou em um Estado, haverá no município. Trata-se apenas de uma transferência do problema. A diminuição da corrupção passa pelo melhor preparo dos gestores e de uma melhor escolha dos cidadãos. É uma questão de cultura e caráter. O presidente eleito talvez queira dizer com isso que quer fortalecer os municípios, o que está de acordo com a proposta do pacto federativo.
Augusto Diniz — Como é possível aplicar propostas da equipe de Jair Bolsonaro com o slogan “Mais Brasil, Menos Brasília”, fazendo com que os recursos cheguem direto para os municípios e Estados sem uma necessidade de apresentação de projetos técnicos para que essa verba seja capitalizada junto aos ministérios?
Quando o presidente eleito fala em “Mais Brasil, Menos Brasília”, ele quer dizer uma melhor distribuição dos recursos, o que é muito desigual no Brasil. Os municípios ficam com cerca de 16,5%, os Estados com 22% e o restante vai para a União. Fui ao Rio de Janeiro e gravei com Bolsonaro sobre o tema do pacto federativo. Ele quer que a maior parte fique com os municípios, como ocorre na Europa e nos Estados Unidos. Em segundo lugar, com os Estados e, por último, com o governo central. Se o município tiver recursos, ele poderá fazer investimento em segurança pública por meio de suas guardas municipais, em educação, saúde, lazer, qualificação profissional, cultura, esporte e transporte. Quem tem de mandar é o município porque é onde estão todos os problemas. E quem está falando isso é alguém que já foi prefeito. O sistema político que existe hoje no Brasil dificulta os prefeitos. Os recursos dos municípios foram diminuindo e os prefeitos ficam na dependência dos parlamentares, que, por sua vez, dependem do presidente da República, que pode não liberar emendas para amarrá-los.
Augusto Diniz — Essa realidade de os prefeitos terem de ficar fazendo peregrinação a Brasília para pedir emenda tende a diminuir?
Sim. Se o município tiver mais dinheiro, a dependência será menor. Só assim os parlamentares poderão exercer a sua função, que é a de discutir e aprovar leis importantes, como as reformas. Hoje, o Congresso custa R$ 5 milhões ou mais aos cofres públicos e muitos parlamentares fazem um papel humilhante e ficam como meros despachantes esperando a liberação de emendas e já amarram os prefeitos para as próximas eleições. Conheço ótimos parlamentares, mas, simplificando, este é o nosso sistema: o governo federal precisa aprovar projetos de seu interesse e os parlamentares têm direito a emendas. Para segurá-los, o governo pode decidir não aprovar as emendas e o parlamentar acaba tendo que aceitar as imposições. Isso tem que mudar, mas só a partir do momento em que o município tiver vida própria. Se forem destinados 35% ao invés de 16,5%, boa parte dos problemas já é resolvida. E isso é só a metade do que se pratica nos países desenvolvidos.
Augusto Diniz — O sr. mostrou posições favoráveis a algumas propostas que o governo Bolsonaro pretende implementar a partir do ano que vem e contrárias à parte de outras. A sua intenção, como senador, é atuar totalmente a favor do governo, já que já se reuniu com Bolsonaro, ou avaliar cada projeto separadamente para definir as suas posições?
Quem me conhece como político, sabe que eu sempre tive a minha independência e nunca quis nomear ninguém para governo nenhum. Gosto de colocar o meu posicionamento e preciso ter liberdade para isso. Em Goiás, estarei apoiando Ronaldo Caiado no que for de interesse da população e serei contra aquilo que entender que possa prejudicar. Me posicionarei da mesma maneira em relação ao governo federal. Esse é o meu jeito de fazer política.
Marcelo Mariano — O sr. já se encontrou com Ronaldo Caiado após as eleições?
Nos encontramos em um evento, mas ainda não nos reunimos parar tratar de assuntos sobre o governo. Estamos aguardando a agenda dele e do ministro Baldy. Independentemente encontrá-lo ou não, reafirmo que apoiarei todas as medidas que forem para ajudar a população e tirar o Estado de crises pelas quais está passando em algumas áreas.
Augusto Diniz — Há uma possibilidade de o Baldy, que está à frente de um dos ministérios mais importantes, continuar no governo após a posse de Bolsonaro?
Pelo trabalho que o Baldy fez à frente do Ministério das Cidades, em um curto espaço de tempo e pelos resultados obtidos, quem ganharia com sua permanência não é só Goiás, mas todo o Brasil. Ele levou benefícios ao País, deu agilidade e implementou um novo modo de trabalhar no Ministério. Se assim ele e o partido entenderem, terá todo o meu apoio.
Augusto Diniz — Este assunto chegou a ser tratado durante o encontro que tiveram com Bolsonaro no Rio?
Não. Não conversamos sobre isso até mesmo porque fomos ainda durante a campanha e essa discussão seria inoportuna. Agora, essa é uma questão que com certeza será debatida em Brasília entre o partido, os parlamentares, o próximo presidente e sua equipe.
Marcelo Mariano — Gostaria de abordar alguns temas que não tem muito a ver com a questão econômica, que é o que mais preocupa o Brasil hoje, mas que podem ser tratados durante o próximo governo e seu bastante polêmicos. Qual é a sua opinião sobre o porte de arma, que, inclusive, é uma pauta frequentemente levantada por Bolsonaro?
Esta discussão ficou tão acalorada, mas o porte de arma já é aprovado no Brasil. Se você quiser ter porte de arma, tem que apresentar seus documentos e seus antecedentes criminais serão verificados. É algo até muito rígido.
Marcelo Mariano — Fala-se em uma flexibilização para facilitar o acesso às armas.
Governo nenhum autorizará a venda de arma de qualquer jeito sem ter um rastreamento de toda a vida do cidadão. Se chegar algo neste sentido para ser aprovado, com certeza serei contra, porque precisamos saber quem é que está pleiteando comprar uma arma.
Marcelo Mariano — Pode-se dizer que o sr. concorda com a maneira que está hoje?
Às vezes pode ter algum ponto ou outro que possa mudar, mas precisa ser discutido. Se eu falar que estou 100% inteirado de todos os pontos que foram discutidos à época, estarei mentido. Mas, com certeza, analisarei o que será proposto.
Marcelo Mariano — E em relação à maioridade penal de 18 para 16 anos?
Sou favorável que se diminua. Um jovem de 16 anos já sabe muito bem o que faz. Aliás, eu, com 17 anos, já abri a minha própria empresa. Um jovem de 16 anos já pode votar. Não há nada mais importante que escolher um governante. Portanto, ele é responsável, sim, pelo que está fazendo, ainda mais na época em que vivemos, com tanta informação que temos.
Marcelo Mariano — No Brasil, o aborto é permitido em três circunstâncias: feto anencéfalo, risco de vida para a mãe e em caso de estupro. Há uma discussão sobre a eventual legalização até a 12ª semana de gestação. O sr. é favorável ou contrário?
Totalmente contra. Sou a favor da vida.
Marcelo Mariano — E qual é a sua posição sobre a legalização da maconha?
Sou contrário à legalização de qualquer tipo de droga.
Felipe Cardoso — Em relação à revisão do estatuto de desarmamento e à redução da maioridade penal, apesar de terem sido abordadas por Bolsonaro, não são pautas que foram introduzidas por ele. São pautas batidas que já foram discutidos no Congresso. Queria saber como o sr. avalia o cenário daqui para frente e o que o presidente eleito pode fazer para ter um resultado favorável nessas pautas?
Como dito, essas pautas já vêm sendo debatidas há muito tempo. A esquerda se importou demais com isso e acho que foi um erro. Não que esses temas não sejam importantes, mas, ao invés de ficarmos discutindo assuntos como ideologia de gênero nas escolas e casamento homossexual, por exemplo, deveríamos estar tentando buscar soluções para os 14 milhões de desempregados. A propósito, esses dados, para mim, estão errados, porque não incluem quem está na informalidade. Vi poucas discussões deste tipo, como também sobre a quebra de monopólios, que mexem com a vida de todo mundo. Quase ninguém falou disso. Passou batido.

Augusto Diniz — Esse novo modelo de campanha, em que o Bolsonaro foi muito eficiente em ter um contato direto com o eleitor por meio das redes sociais, dificultou o debate de propostas? Faltou essa discussão porque o modelo da campanha mudou e as pessoas demoraram a perceber?
Percebi que o eleitor quis discutir as polêmicas, mas isso não é de agora. Já participei de duas eleições para governador e apresentei planos de governo bem-elaborados, onde dizia o que iria fazer, de onde viria o recurso e quando seria executado. O problema é que ninguém lia. Ser a favor ou contra a família, ideologia de gênero nas escolas, kit gay e outros assuntos como esses geram mais atenção e, consequentemente, mais polêmica. O povo é doido para ver isso. São pautas conservadoras e o País é muito conservador. Das últimas entrevistas que participei, esta foi uma das únicas que comecei falando de economia. Na maioria das vezes, a primeira pergunta era sobre essas questões polêmicas. A classe política e a imprensa precisam discutir mais as soluções para os problemas do Brasil, como o número de desempregados e a quebra de monopólios.
Augusto Diniz — O sr. falou bastante durante a campanha sobre a questão do crédito outorgado. O que te preocupa tanto nesta discussão?
Esta é uma discussão muito técnica que precisa ser aprofundada. Não sou contra o crédito outorgado. Há situações em que existe benefício para a população, mas houve casos em que foram dados créditos outorgados a empresas que não estavam gerando imposto algum. Foram dados incentivos que não são normais, como devem ser estabelecidos por meio dos programas Fomentar e Produzir. Algumas empresas tiveram benefícios que considero fraudulentos para o Estado. Empresas foram autorizadas, por meio de projeto de lei aprovado na Assembleia Legislativa, a ter 98% de desconto no imposto a ser pago. Quando me refiro a alguns créditos outorgados, estou me referindo a isso, que, para mim, não é incentivo fiscal. Isso é transferência de dinheiro do Estado para algumas empresas, o que considero ilícito.
Augusto Diniz — O sr. pensa em discutir isso com Ronaldo Caiado?
O governador eleito já está ciente desta situação e creio que ele tomará providências. Isso tem sido muito danoso para o nosso Estado.
Marcelo Mariano — O sr. pensa em disputar a Prefeitura de Goiânia em 2020?
Não. Isso não está nas discussões. Para disputar, tenho que sair do Senado para fazer pré-campanha e preciso de tempo para trabalhar e pôr em prática as minhas propostas. Esta questão da prefeitura ainda está um pouco longe, mas não pretendo sair do Senado para disputar. Temos bons nomes e o partido com certeza os apresentará.
Augusto Diniz — Como o sr. vê o fato de o candidato a vice na sua chapa para prefeito de Goiânia, Thiago Albernaz, que, agora, está no Solidariedade, ter sido eleito deputado estadual?
Excelente. Quem tem a ganhar com isso é a Assembleia Legislativa e o Estado de Goiás. Conheci o Thiago mais de perto na disputa pela prefeitura e posso dizer que ele é um jovem competente, que sabe o que fala. Aliás, há uma safra nova de políticos muito interessante, como Thiago, Lucas Kitão, Vinicius Cirqueira e próprio Daniel Vilela, que foi uma surpresa agradável estar ao lado dele durante a campanha e ver a sua capacidade.
Marcelo Mariano — Como o sr. recebeu a decisão da Justiça que atendeu ao seu pedido de suspensão do reajuste da conta de luz?
Recebi isso de uma de forma muito positiva. Acredito que a sociedade está mais unida agora que as eleições passaram. Já há muita coisa acontecendo e estou vendo uma certa união entre o Judiciário, a classe empresarial e os trabalhadores. A Justiça pediu para que a Aneel, que é uma agência reguladora, e a Enel, que comprou a Celg, justifiquem o porquê do aumento na conta de luz. Vivemos em um momento no Brasil em que ninguém suporta mais isso. A classe trabalhadora e quem gera emprego e renda não aguentam. Este não é o momento dessas agências aumentarem o preço. Até parece que estão vivendo em outro planeta, nem mesmo em outro país. Estão for da realidade. E com uma energia de quinta categoria, a pior do Brasil. Ligo a televisão e vejo produtores jogando leite fora, além de frangos e pintos morrendo em granjas e galpões. Entramos com uma ação popular, que qualquer cidadão pode entrar. Acho que a sociedade está acordando e todos estão pensando como eu: ou damos as mãos ou morremos todos abraçados.
Augusto Diniz — Neste sentido de todos darem as mãos, o sr. estava ao lado do Daniel Vilela nas eleições, mas o eleito foi Ronaldo Caiado. O sr. disse que ainda não se reuniu com ele, mas como você pretende atuar como senador junto ao governador eleito? Pensa em tentar negociar com ele cargos ou a atuação será mais para tentar beneficiar o governo no que ele precisar do sr. como senador?
Não pretendo, em hipótese alguma, fazer indicações no governo de Ronaldo Caiado. Disse que sempre gostei de ter a minha independência política e, a partir do momento que indicar algum cargo em governo, passo a me comprometer com esse governo. Para dar minhas opiniões favoráveis ou contrárias, preciso ter independência. Não pretendo participar do governo dele ou de qualquer outro governo municipal por meio de indicações. Aliás, nunca fiz isso durante anos como político, ganhando ou perdendo eleição, exceto na Prefeitura de Senador Canedo porque eu era o prefeito e tinha que indicar secretários.
Augusto Diniz — Como o sr. vê a escolha do senador Wilder Morais para chefiar a equipe de transição de Ronaldo Caiado?
Positiva. Uma pessoa do bem. Um político que também é um técnico, já que é empresário e, por isso, entende de contas e planilhas. Começou a vida embaixo e cresceu porque sabe administrar e está conduzindo a transição muito bem.
Augusto Diniz — Como empresário e agora como senador eleito, o sr. sabe muito bem que o cenário está complicado para a economia do Brasil a partir do ano que vem e os governos que assumirem pegarão uma situação muito difícil. O que o sr. da situação econômica do Brasil a partir de 2019?
Estou vendo um otimismo muito grande depois das eleições. Para se ter uma ideia, em um único dia, entraram mais de US$ 4 bilhões na bolsa de valores de São Paulo. Dinheiro vindo de fora. Estamos vendo muitas empresas, tanto brasileiras quanto estrangeiras, anunciando investimentos vultosos. Todos esses investimentos gerarão emprego e renda. Com tudo isso que o governo está fazendo e falando em fazer, com certeza as pessoas passam a acreditar que as coisas tendem a melhorar, especialmente por meio de desoneração de folha, de um juro mais competitivo e mais barato para investimento, de o Estado diminuindo, privatizando tudo o que atrapalha o País e diminuindo a dívida. E não é só a partir do ano que vem. O cenário positivo para o Brasil já começou mesmo antes de o Bolsonaro assumir, com a bolsa aumentando e dólar diminuindo e o otimismo está tomando conta do Brasil. Só espero que não seja um otimismo tão exagerado, mas um certo otimismo é muito bom. Esse ambiente é favorável ao investidor e a população começa a acreditar mais que as coisas podem melhorar.