Atacante Walter, ex-Goiás: “Foi o futebol que salvou minha vida”

02 outubro 2022 às 00h00

COMPARTILHAR
Cilas Gontijo* e Elder Dias
Antes de fazer história e também marcar seu nome na história do Goiás Esporte Clube, Walter Henrique da Silva teve uma trajetória que mereceria um filme. O caçula de dona Edith, que deu à luz dez filhos – “morreram quatro, ficaram seis” – e criou todos sozinha, cresceu em uma área favelizada do Recife, o Coque, onde se acostumou a ver a criminalidade, inclusive pessoas sendo mortas, jovens na grande maioria. Um dia, com 7 anos, entrou dentro de um ônibus com a curiosidade de ver a mais recente vítima: era seu irmão mais velho, Waldemir, assassinado a tiros por uma gangue rival.
O futebol salvou a vida de Walter e Walter mudou a vida da mãe – seu objetivo que o motivou a seguir na carreira de garoto-prodígio da bola. Aos 17 anos, já revelação do Internacional de Porto Alegre, deu na mão dela o dinheiro para comprar uma casa onde ela quisesse e Edith se mudou para Boa Viagem, bairro nobre da capital pernambucana, para um condomínio perto da praia.
Walter teve outros dramas, mas também sucessos na vida. Lutando sempre contra o peso, veio obeso para o Goiás em 2012 e transformou a história do time naquele ano, liderando a conquista do título nacional da Série B. No ano seguinte, ajudou o Verdão a chegar às semifinais da Copa do Brasil. O “gordinho” entrou na seleção do Campeonato Brasileiro da temporada e foi cotado para outra seleção, a brasileira.
Depois de idas e vindas, contusões, um caso de doping, polêmicas diversas e passagem por 13 equipes, o atacante, hoje aos 33 anos, ajuda o Goiânia Esporte Clube a voltar à 1ª Divisão do futebol goiano. Nesta entrevista ao Jornal Opção, o artilheiro talentoso conta tudo, sem censura alguma nem autopiedade, sobre sua rica trajetória de vida e de bola.
Elder Dias – De garoto nascido na favela a sensação do esporte nacional. Como surgiu esse fenômeno chamado Walter?
Na verdade, não era nem para eu vir ao mundo, porque minha mãe já tinha feito uma ligadura [de trompas], mas fui muito guerreiro, firme (risos). Ela teve dez filhos, morreram quatro e ficaram seis. Fomos criados por ela, sem o pai. Ela saiu muito cedo de casa, com 16 anos já tinha a casa e as coisas dela. Imagina, se hoje ainda é difícil sair de casa assim, só pensar como era antigamente. Minha mãe foi muito guerreira e fez tudo por meu irmão mais velho. Penso que eu vim para mudar a vida dela e da minha família, enfim, nossa realidade. Não é à toa que ela diz que eu fui escolhido por Deus. Sou muito grato a Deus e a ela, que me deu tudo.
Perdi vários amigos assim, na minha frente. Eu vi mortes, vi roubos, tudo na minha cara ali
Elder Dias – Como você foi descoberto para o futebol?
Eu jogava bola na minha favela – poderia falar “comunidade”, mas é favela mesmo –, o Coque. Um lugar muito perigoso do Recife, com muita violência. Perdi vários amigos assim, na minha frente. Eu vi mortes, vi roubos, tudo na minha cara ali. Eu jogava no terrão, na “pista”, apostado. Com 7 ou 8 anos, eu já gostava muito de bola, passava o dia todo na rua jogando. Com 10 anos, já me achavam diferente dos meninos. Aí, não era à toa que eu jogava com meninos de 17, 18 anos. Foi quando o pessoal do Santa Cruz foi fazer uma “peneira” [seleção de garotos para jogar nas categorias de base] lá no Coque, eles precisavam de jogadores com 17 anos e o treinador me perguntou minha idade. Quando eu respondi que tinha 12 anos, ele levou um susto.
Elder Dias – Você já tinha mais corpo do que um menino de 12 anos?
Isso também, mas meu nível [técnico] era muito acima. Nunca gostei de jogar com menino da minha idade. Fui para a categoria infantil, de 13 e 14 anos, e fiz mais de 40 gols. Foi quando apareceram vários empresários interessados em me negociar.
Cilas Gontijo – Como você fazia para ir treinar? Tinha ajuda de alguém?
Eu era ainda criança quando comecei a treinar lá no Santa Cruz, não tinha nenhuma ajuda. Não tinha dinheiro nem para pegar ônibus nem para lanchar. Tinha de acordar cedo e “ralar” para conseguir as passagens e ter algo para comer depois do treino, porque a gente não tinha condição de comprar nada para o café, nem mesmo um pão. Eu ia para o clube no “seco”. Às vezes, eu tinha 2 reais, o que dava só para comprar a passagem de ida e um lanche. Para voltar, eu dava um jeito.
Elder Dias – E o que aconteceu, a partir daí?
Como eu disse, me destaquei no Campeonato Pernambucano da minha categoria e eles [empresários] me falaram que tinham quatro times de fora interessados em me levar: eram o Vitória da Bahia, o Internacional, o Atlético Mineiro e o Cruzeiro. Pensei bastante e como eu era muito apegado a minha mãe, escolhi ir para o Vitória e ficar em Salvador, que era mais perto, caso eu sentisse falta. E não deu outra: fui, senti muita saudade e voltei.
Se você está morando fora e pergunta à mãe “tá tudo bem?”, ela vai dizer “está ótimo”. Igual o filho, mesmo se estiver passando perrengue não vai falar nada, para não preocupar a mãe. Pois quando eu voltei não tinha nada em casa. Nada mesmo. Eu tinha 13 anos e comecei a chorar. Prometi a mim mesmo que iria embora e só voltaria quando comprasse uma casa para minha mãe. Viajei de novo para Salvador. Lá, me destaquei e acabei indo para o São José, de Porto Alegre. O pessoal do Inter me viu lá e me pegaram por empréstimo, com 16 anos. Então, joguei mais ou menos o Campeonato Sub-20, mas na Copa São Paulo [de Juniores] de 2008 eu arrebentei. Fiz um contrato profissional e tive como comprar a casinha para ela.
Peguei o dinheiro da renovação do contrato e dei para ela, eram R$ 130 mil. Entreguei e disse: “Toma e a senhora vai comprar casa, apartamento, o que a senhora quiser!
Cilas Gontijo – E como você escolheu essa casa para sua mãe?
Eu peguei o dinheiro na mão na hora da renovação do contrato e dei o dinheiro para ela. Na época, eram R$ 130 mil. Entreguei para ela e disse: “Toma e a senhora vai comprar casa, apartamento, o que a senhora quiser!”. E minha mãe escolheu um apartamento em Boa Viagem, um bairro nobre no Recife, perto da praia, que é uma coisa que ela gosta. Graças a Deus, deu tudo certo. Isso foi a coisa mais importante que eu consegui na minha vida.
Cilas Gontijo – Mas, até então, sua história teve muita tristeza, inclusive na família. Muitos episódios tristes, não?
Tenho um irmão que passou praticamente toda a vida preso, na cadeia. É sofrido, é muito ruim ver uma pessoa que você gosta assim. E outro irmão [Waldemir], com 18 anos, morreu praticamente na minha frente.
Cilas Gontijo – Você pode contar para a gente como foi isso?
Na favela, quando morre uma pessoa, o povo curioso já vai em cima para saber o que foi, como foi. Eu, moleque, também era assim e fui lá ver. Quando olhei, era meu irmão. Não imaginava que fosse ele, para mim era mais um em um lugar tão perigoso.
Elder Dias – Como foi o caso dele?
Ele participava de uma gangue e o pessoal de uma gangue rival encontrou meu irmão dentro do ônibus. Acho que alguém o entregou, porque não é possível que alguém iria saber que ele estava viajando de coletivo. Entraram dentro do ônibus e deram sete ou oito tiros nele, lá dentro mesmo. Foi essa cena que eu vi. É uma imagem f…, complicado, não esperava. Era o mais velho entre nós (comovido).

Cilas Gontijo – Nesse ambiente, seu destino, não fosse o futebol, qual seria?
Vi muitos amigos irem para a vida errada. Mas eu nunca gostei de droga, de bebida, de nada disso. Eu tinha um dom que Deus me deu que era jogar futebol, só queria saber disso. Não posso falar o que eu poderia ter sido, mas eu não tenho bom estudo. Então, posso dizer que foi o futebol que salvou minha vida. Não ter estudo, num lugar perigoso como o que eu vivia, eu acabaria sendo “convidado” [para participar de algum grupo criminoso]. Mas não era minha vida, esse tipo de caminho ou você morre, ou é preso ou fica aleijado. Nada de bom acontece. Fui buscar sempre o futebol na minha vida, para dar uma vida melhor a minha mãe. Só depois que fui para Portugal, jogar pelo Porto, é que passei a focar um pouco mais em mim, depois de comprar as coisas para minha mãe. Minha mãe era minha mãe e meu pai. Ela me deu tudo (enfático)! Por isso que digo, primeiro é Deus e depois é minha mãe.
Cilas Gontijo – Você é religioso?
Sou, sim. Sou porque sou muito grato e sempre falo que… olha, minha mãe contando essa história, você pensa, “o Walter não era para estar aqui”. Minha mãe tinha feito operação para não ter mais filho, o médico falou a ela isso, e de repente eu estava ali, na barriga dela. Ela nem acreditou, não caía a ficha. Por isso que eu sou muito grato a Deus.
Cilas Gontijo – Outro drama em sua vida foi com a filha, que nasceu em Portugal. Você pode contar para a gente?
Foi uma fase muito difícil. Em 2010, eu já tinha perdido um filho [a mulher, Vanessa, teve um aborto espontâneo]. Eu estava em Portugal e ela ficou no Brasil, para resolver as coisas. Em 2011, veio a Catarina. A mãe dela ficou dois meses em cima de uma cama com a gravidez de risco, sem poder fazer nada, nada, tem noção do que é isso? Com cinco meses de gestação, o médico disse que não teria como, precisava fazer o parto. Minha filha nasceu com 700 gramas, muito, mas muito pequena. Ela ficou três meses no hospital. Foi outro milagre de Deus na minha vida. Eu estava num momento muito bom no futebol, mas, em campo, isso acabou me jogando para baixo, porque de manhã ia para o treino e passava o resto do dia com minha ex-esposa e minha filha no hospital, as duas internadas, a mãe também estava mal – o médico me dizia que eu poderia perder tanto a mulher quanto a filha. Mas, graças a Deus, que é bom, todo mundo está bem, minha filha está grande.
Elder Dias – Sua filhinha teve alguma sequela?
Só teve um pequeno problema no pé, ela tem de andar com a pontinha do pé. Já passou por três cirurgias, mas ainda não ficou totalmente normal. Hoje, ela usa uma bota, para corrigir a posição. Mas isso é o de menos, quando ela nasceu o médico disse que a menina poderia ter ficado com paralisia total, sem andar, sem nada. Hoje ela está com 11 anos e acaba que fica tudo mais difícil um pouco, para suportar o peso sobre o pé, para ir para a escola [por causa do constrangimento], mas as crianças coleguinhas entendem, nunca teve problema. Hoje ela está em Porto Alegre e Deus queira que vá continuar tudo bem.
Elder Dias – O cantor Zé Ramalho – que muita gente acha que é também de Pernambuco, como você, mas na verdade nasceu na Paraíba – tem uma música chamada Avohai, cujo título significa “avô” e “pai”. Pode-se dizer então que sua mãe foi, ao mesmo tempo, “pai” e “mãe” para você?
É algo assim, mas é interessante eu falar de meu pai, também. Eu nunca tive uma ligação muito forte com ele. Eu tinha 6 anos quando ele se separou e nunca mais voltou com minha mãe. Sempre morou fora e nunca me ajudou. Foi muito difícil para mim, porque eu queria ter um pai presente, que me levasse para os treinos, mas ele nunca foi esse pai. Quando eu cresci, a gente ficou mais próximo.
Meu pai usa drogas e bebe. Em 2018, ele saiu de casa e sumiu. Nunca mais o vi. A gente não sabe nem se ele está vivo
Elder Dias – Vocês se viam de vez em quando?
Sim, sim, eu o levei para Portugal, depois para Minas, quando fui jogar pelo Cruzeiro, para o Rio de Janeiro também. Por onde eu passava, eu o trazia para ficar comigo. E a história triste disso é que vai fazer quatro anos que ele está sumido, sem dar notícias.
Cilas Gontijo – Você pode contar essa história com mais detalhes?
Meu pai usa drogas e bebe também. Quando eu o trazia para ficar comigo, ele antes ficava na casa de minha mãe. Mesmo separado dela, ela cuidava dele. Ficava uma semana sem beber, sem usar droga e, então, eu o levava para a cidade onde eu estivesse. Mas em 2018, ele saiu da casa de minha mãe, em Boa Viagem, e sumiu. Nunca mais o vi.
Elder Dias – E você não tem nem notícia dele?
Nada. A gente não sabe nem se ele está vivo. Já coloquei repórter para me ajudar, já fui três vezes ao IML para exame, reconhecimento [de corpos], mas graças a Deus não deu nada. É muito estranho, não havia nada de errado, estávamos todos convivendo bem e, de repente, ele sumiu. Ligo para o delegado que está cuidando do caso todos os dias. É um caso que também mexe muito com minha cabeça.
Elder Dias – As situações particulares afetam muito o desempenho do jogador e isso não é levado em conta por torcida e imprensa. Em 2012, o Egídio [lateral, hoje no Coritiba], seu colega de Goiás naquele ano, estava em uma fase muito boa e, subitamente, o rendimento caiu. Várias partidas atuando muito mal. Tempos depois, ficamos sabendo que a mãe dele estava em estado terminal e acabou não resistindo. Seu desempenho em campo, por tudo que você relata, também foi muito afetado por essas questões fora de campo…
Sem dúvida. Por isso, os jogadores que ganham mais um pouco têm uma estrutura ao redor dele, com pessoas que fazem as rotinas dele e, assim, ficar focado só no futebol. A maioria dos atletas, até pela origem, é formada de pessoas que ajudam toda a família. Em muitos casos, parece que isso vira uma obrigação. Eu sempre falei para meus familiares, “olha, não tenho dever de cuidar de todo mundo”, porque só tem uma pessoa que correu atrás e fez tudo na minha vida, que é minha mãe. Se meus irmãos querem alguma coisa, eu compro e falo para ir trabalhar. Mas dar dinheiro para irmão, primo etc., isso nunca fiz. Dou para minha mãe, tudo (enfático), porque ela ralou pra caramba.
Voltando ao assunto: se você estiver bem, vai fazer seu trabalho muito bem. Se estiver mal, se briga com a esposa, vai treinar mal, vai para o jogo mal. Se você vê um jogador com um carrão, às vezes não sabe que ele tem um monte de conta para pagar. Jogador às vezes recebe um salário alto, mas a coisa não é fácil assim, não. Às vezes, aquele carrão está lá, mas é parcelado em não sei quantas vezes. E a maioria “paga de gatão”, como a gente fala.

Tem jogador que não pensa nem em comprar um apartamento, a primeira coisa que ele quer já é um carro. Eu pergunto: ‘você vai morar no carro, é?’
Elder Dias – No meio, tem pressão para que o jogador comece a ter essa ostentação?
Tem, claro que tem. Tem jogador que não pensa nem em comprar um apartamento, a primeira coisa que ele quer já é um carro. Eu pergunto: você vai morar no carro, é? Eu fui ter um carro em 2010, porque o Porto me deu. Meu, mesmo, foi em 2012, quando eu fui para o Cruzeiro. Até hoje eu não me interesso. Comprei o apartamento da minha mãe, depois comprei um para mim em Porto Alegre. Não me ligo em carro, você compra um por 200 [mil reais] e vai vender depois por 140. Apartamento? Você compra por 100 e vai vender por 400. A diferença está aí.
Elder Dias – Você conheceu jogadores que ficaram sem nada depois de ganhar muito dinheiro?
Sim, muitos. No primeiro momento, há aquela festa com um carro, com outros gastos. A maioria dos jogadores pensa que é dono das coisas, porque chega a algum lugar e as portas se abrem, muitas vezes nem precisa pagar nada, fica por conta da casa. Por isso, muitas pessoas têm raiva da “raça” jogador. Mas têm outros que sabem o que fazer.
Elder Dias – E você tem algum exemplo positivo de jogador que soube fazer a coisa certa, nesse sentido?
Um jogador com que eu conversava muito sobre isso era o Fred [atacante que se aposentou recentemente, no Fluminense], quando joguei com ele. Outro é o Hulk [atacante do Atlético Mineiro], muito concentrado no que ele quer e que me deu muitos conselhos lá em Portugal. Metade da Paraíba hoje são terrenos do Hulk (risos). Outra coisa: se o Walter foi ali comprar um apartamento de 500 mil [reais], eles vão pedir 800 mil. Se meu sobrinho for lá, sem que se saiba que é meu parente, consegue um desconto e cai para 400 mil, 450 mil.
Elder Dias – É como se dinheiro de jogador valesse menos?
É bem isso mesmo o que acontece. Mas, no fim, o importante é estar em paz com a família, com sua mãe, com sua esposa e com seu coração. Assim, com a cabeça boa, as coisas vão para frente.
Elder Dias – Como está hoje sua situação financeira? Está tranquila?
Estava bem mais, mas com duas separações, aí é batata (risos). Tive três quedas na minha vida, mas Deus é bom: fiquei dois anos sem trabalhar, por conta do caso do doping, e gastei quase R$ 2 milhões, desde advogado até as contas de casa. Tenho duas pensões para pagar e as mães não entenderam [a queda na renda] e, se não pagar, a Justiça é complicada, vai preso, mesmo. Fora isso, teve o fim do primeiro casamento, em 2015, que tive de deixar a metade para a mulher. E, agora, me separei novamente, há um ano e meio, e tem de passar a metade do que tenho para a ex-esposa. Essas coisas são as que quebram jogador: casamentos. A gente casa muito e se separa muito. Com 15 ou 16 anos, jogador já está namorando, porque viaja muito, e acaba ficando carente, quer estar com uma pessoa.
Elder Dias – Mas hoje em dia, em relação a jogadores que têm sua idade, você se sente tranquilo?
Sim, eu estou “de boa”. Lógico, a gente não pode ficar parado, o dinheiro, se estiver na sua mão, vai sumindo.
Elder Dias – Explique para a gente como foi a história de sua punição por doping.
Primeiramente, eu achei uma covardia o que fizeram comigo. O Guerrero [Paolo Guerreiro, atacante colombiano] foi pego com droga e ficou três ou quatro meses suspenso e então voltou a jogar. Já eu fui flagrado com medicamento [substâncias furosemida e sibutramina], coisa que eu nunca havia tomando durante a carreira, mesmo sempre tendo problema de peso. O médico me enganou, falou que eu poderia usar. Então, eu cumpri um ano de suspensão, no Rio, e depois, em Brasília [segundo julgamento], peguei mais um ano.
Sou muito grato ao ‘seu’ Hailé, por todas as chances que ele me deu. E digo: o Goiás vai sofrer muito sem ele
Elder Dias – E nesse segundo julgamento, você já estava a ponto de voltar a jogar, pelo Goiás, inclusive com forma física recupera, não?
Sim, eu estava em um ótimo momento, treinando bem. Quando eu peguei mais um ano, eu fiquei muito triste. Falei “não quero saber mais de futebol”. Foi muita covardia o que fizeram comigo, pegar dois anos na primeira vez e com um remédio. Eu estava no CSA, em 2018, quando isso aconteceu. Então, fiquei acertado de voltar pelo Goiás. Quando a suspensão tinha dez meses, fui liberado para treinar. Estava perto de poder jogar quando teve o julgamento em Brasília. De lá, depois de saber o resultado, liguei para o “seu” Hailé [Pinheiro, então presidente do conselho deliberativo do Goiás e que morreu recentemente, no dia 7 de setembro] e falei: “Perdemos de 4 a 3 aqui [no julgamento]”. Eu e ele choramos. Foi a viagem mais triste da minha vida, aquele retorno de Brasília para Goiânia. Sou muito grato ao “seu” Hailé, por essa e todas as chances que ele me deu. E eu digo: o Goiás vai sofrer muito sem ele.
Elder Dias – Sua relação com o Goiás Esporte Clube é ao mesmo tempo conturbada e recheada de bons momentos. Você e Michael [atacante do Goiás entre 2017 e 2019, vendido ao Flamengo e hoje no futebol árabe] são os últimos jogadores que passaram pelo clube e conquistaram a torcida. Mas sua primeira vinda foi cheia de desconfiança por conta de seu sobrepeso. Como foram aqueles primeiros dias em 2012?
O Enderson [Moreira, treinador do Goiás em 2012] me ligou e falou: “Walter, preciso de um atacante como você.” Eu estava no Cruzeiro e eles não queriam me liberar. Eu insisti, bati o pé e vim. Cheguei no dia 26 de agosto, não me esqueço da data. Quando cheguei, poucos me conheciam, mas o Enderson, sim, e me deu muita força. Nos primeiros quatro jogos, eu não estava bem e não fiz nenhum gol. A torcida já estava começando a cobrar e pedindo minha substituição pelo Iarley [atacante] no time titular. Ele estava voltando ao clube e já tinha uma história aqui, além do que estava bem, também. Então, o treinador chegou até mim e propôs que eu jogasse como titular fora de casa, sem a pressão da torcida, enquanto o Iarley ficaria de titular em Goiânia. “Só depende de você”, ele disse. Eu falei “bora!” e, no primeiro jogo depois disso, contra o Ipatinga (MG), fiz três gols. Já me aliviei um pouco. Então, o Iarley jogou em casa, na partida seguinte, e não fez gol. Ali, a torcida já começou a gritar meu nome. Depois em seguida, de novo, contra o CRB fora de casa, fiz outro gol. O Iarley não fez gol, de novo. E aí a torcida começou a cobrar por que eu não estava jogando todos os jogos. O Enderson então falou “agora é o momento de você começar jogando em casa”. Foi contra o Athletico Paranaense. O Amaral [ex-volante do Goiás] cruzou e eu, de primeira: caixa [gíria para “fazer gol”! Aí a torcida se encantou de vez comigo. Foi naquele ano que eu joguei dez jogos seguidos fazendo gol, ou algo assim. Mas foi difícil ganhar a confiança do torcedor, ainda mais disputando posição com alguém como Iarley, um grande atacante e que já tinha nome consolidado. Eu agradeço muito ao Enderson por ele ter sido inteligente comigo e ter me dado confiança.
Elder Dias – E a torcida carregou você no colo, lhe deu apelidos, como “Tufão” [nome do jogador encarnado por Murilo Benício na novela Avenida Brasil, sucesso na época], você parece que não gostava muito…
Não, não, eu curtia, levava na boa, tinha o “Tufão”, o “Walterror”, o W18 [número da camisa que ele usava no Goiás], não tinha nenhum problema.
Cilas Gontijo – Qual é sua relação hoje com Enderson Moreira?
É meu pai no futebol. Falo com ele todos os dias e torço sempre por ele, onde ele estiver trabalhando. Foi alguém que me levou para o Fluminense e para o Athletico Paranaense. Sou muito grato e se tornou um grande amigo.
Elder Dias – Aquele time do Goiás em 2012 “encaixou” muito bem. Se tivesse mantido aquele time para 2013, a campanha esmeraldina teria sido ainda melhor?
Era difícil manter o tive, porque o Ricardo Goulart [meia-atacante, hoje no Bahia] e o Egídio [lateral-esquerdo, hoje no Coritiba] fizeram um campeonato muito bom e tiveram a proposta do Cruzeiro…
Elder Dias – Mas você também tinha feito…
Mas eu escolhi ficar. O pessoal do Porto [clube de quem o Goiás havia obtido Walter por empréstimo] me ligou e eu falei que queria continuar no clube, que eu tinha gostado de Goiânia. O presidente João Bosco [Luz, então presidente do Goiás] resolveu as coisas e eu falei que não queria nem aumento de salário, queria era jogar a Série A, para tirar todas as dúvidas de que eu tinha condições de jogar em alto nível. O time de 2013 também era muito bom, apesar de não ter encontrado um substituto à altura para o Ricardo Goulart, que era um meia que chegava muito bem na área, tinha “cheiro de gol”, mas a gente perdeu Egídio e trouxe William Matheus; chegou o zagueiro Rodrigo, para fazer dupla com o Ernando lá atrás; depois veio o Renan para o gol; tínhamos também Amaral, Thiago Mendes [volantes] e outros que formaram a base. Fomos bicampeões goianos, conseguindo o título no fim do jogo [sobre o Atlético Goianiense], chegamos à semifinal da Copa do Brasil e chegamos ao último jogo do Brasileiro contra o Santos, podendo ir para a Libertadores. Se a gente vencesse, conquistava a vaga.
Foi um jogo estranho [derrota de 3 a 0 para o Santos, em 2013]. Penso que, naquele momento, o Goiás não queria ir para a Libertadores. Ninguém falava que o jogo era importante, ninguém para motivar, para dizer para ir para cima, que tinha de ganhar
Elder Dias – E foi um dos jogos mais decepcionantes da história do Goiás, porque o Santos não almejava nada e ganhou de 3 a 0 dentro do Serra Dourada. O que aconteceu de fato naquela partida?
Muita gente me pergunta isso. Foi um jogo estranho. Eu penso que, naquele momento, o Goiás não queria ir para a Libertadores. Aquela semana [anterior ao jogo] foi uma semana fria. Ninguém falava que o jogo era importante, ninguém para motivar, para dizer para ir para cima, que tinha de ganhar.
Cilas Gontijo – Como assim? Desmotivação? Não apareceu ninguém da diretoria para animar?
O time queria [se motivar], mas não via esse clima no ambiente. Fim de campeonato, jogador já pensando em contrato já assinado com outro time, o Enderson já estava acertado com o Grêmio e ainda teve o caso da cirurgia [Enderson Moreira passou por um procedimento cirúrgico eletivo, que não era urgente]. Foi muita coisa nos últimos jogos. Foram três chances para ganhar um jogo, contra Atlético Mineiro, Grêmio e Santos. Lógico, três jogos difíceis, mas levamos uma goleada do Atlético, jogamos bem contra o Grêmio e chegamos ao último precisando ganhar do Santos. Não jogamos nada e, quando vimos, estava 3 a 0. Penso que, se tivéssemos conseguido ir para uma Libertadores, teria sido outra história.
Cilas Gontijo – Essa não classificação, então, você coloca na conta da diretoria?
Penso que sim, mas não só. É na nossa conta também, porque não jogamos nada, o Santos atropelou. Mas, como era um jogo importante, penso que a diretoria precisaria estar em cima durante a semana, mas não deu a importância necessária.
Cilas Gontijo – Isso parece ser a falta de uma pessoa forte para liderar esse tipo de situação. Você acha que não tem uma pessoa para substituir Hailé Pinheiro?
Não tem, hoje não tem. O Atlético Goianiense tem o Adson [Batista, presidente do clube], que faz lá o que o “seu” Hailé no Goiás. É a pessoa que manda no Atlético. É preciso ter uma pessoa certa para falar, senão um fala uma coisa e outro fala outra.
Elder Dias – Como foi sua passagem pelo Atlético?
Muito boa, fiz cinco gols em 25 jogos no Campeonato Brasileiro, apesar de que o time foi rebaixado. Mas era outro momento do Adson. Ele fazia um time para o Campeonato Goiano e outro para o Brasileiro. Trazia 20 atletas e mandava 20 embora. Veja agora quanto tempo o Atlético tem a mesma base, além de ter uma estrutura muito melhor. Hoje, o Adson traz algumas peças-chave para arrumar o time. Hoje eles também têm mais dinheiro para pagar. E o Adson sabe fazer um jogador render mais.
Cilas Gontijo – Essa passagem pelo Atlético foi logo depois de sair do Goiás, em um de seus piores momentos no clube, que foi o episódio de agressão ao goleiro Matheus, em 2017, na sua segunda passagem. Você se arrepende?
Muito (enfático). Conheci o Matheus em 2012, ainda um menino praticamente. Quando eu voltei em 2016 ele já era um Matheus diferente, um goleiro muito bom. Um dia, no ano seguinte, eu estava passando por muitos problemas pessoais, com questões de separação, com a cabeça a mil. Fui para o treino achando que seria um “rachão” [treino informal] e o Gilson [Kleina, então treinador do Goiás] não fez o “rachão”. Aí, já fiquei bolado com isso. Então, estava treinando com o time reserva e pedi uma bola para o Matheus e ele me mandou ir para aquele lugar… Eu já estava nervoso e mandei ele ir também, ficamos um xingando o outro, até que eu meti a mão nele. Mas na hora que eu bati, eu já falei “que m* que eu fiz, cara”. Na hora eu me arrependi muito, saí do treino muito bravo comigo mesmo. Infelizmente, foi um momento muito ruim, que manchou minha carreira, mas eu pedi desculpas e hoje somos amigos. Contudo, tenho muita mágoa do Harlei em relação a isso. A impressa não viu nada disso. No entanto, o Harlei foi para um jornal ao vivo e expôs essa situação. Ainda disse que eu falei que bati [em Matheus] e bateria outra vez, coisa que eu jamais falei. Acho que eles queriam que eu saísse do Goiás naquele momento, então inventaram essa situação. Não havia necessidade de levar isso para a imprensa. Brigas desse jeito acontece o tempo todo nos treinos.
Cilas Gontijo – A culpa de aquele time de 2013 não ter ido para a Copa Libertadores realmente, em parte, foi da diretoria, por conta do Campeonato Brasileiro. No entanto, naquele mesmo ano, o Goiás teve chances reais de jogar a final da Copa do Brasil. E teve uma declaração sua, muito polêmica, dizendo que iria “deitar e rolar” para cima do Flamengo. Acabou sendo uma provocação que mexeu com o adversário e o resultado foi a eliminação do Verdão. Você acredita que isso, de alguma forma, teve algo a ver com sua brincadeira?
Não, de forma alguma. Aconteceu que, antes do primeiro jogo, teve um amigo meu – nem tão “amigo”, né? – que também é jogador, estava fazendo um vídeo e falou para mim: “Walter, e aí? Você vai deitar e rolar contra o Mengão?”. E eu respondi: “Vou sim, vou deitar e rolar em cima do Flamengo”. Era uma brincadeira particular, para ficar no nosso vestiário. Mas o problema foi que o cara mandou esse vídeo para a mulher dele, flamenguista, e ela enviou em um grupo de torcedores do Flamengo. Até que isso chegou aos ouvidos dos jogadores deles e os caras ficaram bolados com isso. O Enderson [Moreira, então treinador do Goiás em 2013] ficou muito bravo, não comigo, mas com o zagueiro que passou o vídeo. Para ele, essa declaração motivou ainda mais os jogadores do Flamengo. Só que eu falei isso antes do primeiro jogo, eles ganharam por 1 a 0 em Goiânia, mas esperaram até o outro jogo, na casa deles, para dar o troco, né? (risos) Ganharam de virada lá e então deitaram e rolaram no gramado. Foi uma brincadeira que pegou. Só que em 2014 eu fui para o Fluminense e a minha estreia foi contra o Flamengo. Fiz um gol, então deitei e rolei (risos). A torcida então começou a gritar: “O Walter deita e rola!”, acabou virando música (risos). Acabou que me chamaram até para entrar ao vivo no Globo Esporte para explicar isso e aquilo.
Cilas Gontijo – Em 2013, você estava muito bem, até sendo aclamado pela torcida brasileira para uma possível convocação para a seleção. A Copa do Mundo já seria no ano seguinte. Você acha que foi injustiçado? Merecia ter sido convocado?
Na verdade, naquele momento eu estava já acima do peso ideal e o Jô [atacante, hoje no Ceará] estava arrebentando na Libertadores, sendo campeão. Ainda tinha o Fred, que fez um 2013 muito bom pela seleção. Penso que, para a Copa, esses dois eram os caras do momento. Porém, eu penso que merecia uma convocação para algum jogo da seleção, por tudo que fiz aquele ano – ainda fiz parte da seleção do campeonato e com a marca de 30 gols.
Elder Dias – Depois de 2013, você passou por vários clubes, voltou ao Goiás em 2016, rodou por mais outros times e retornou pela terceira vez, em 2019, no meio da suspensão pelo doping. Estava magrinho, se condicionando fisicamente para jogar bem, fazer dupla com Michael, com uma expectativa muito grande dos torcedores para ver você e ele jogando juntos. Mas aí veio a alteração da sua pena, aumentando mais um ano nela. Isso lhe trouxe muito desânimo?
Muito, muito. O Michael estava voando e a gente se deu muito bem, éramos amigos – ainda é, o “seu” Hailé gostava muito de nós dois, éramos iguais irmãos, ficou igual uma família. Estávamos muito empolgados. Como eu não poderia jogar mais, foi aí que o “seu” Hailé trouxe o Rafael Moura. E o Rafael se deu muito bem com o Michael. Se eu também estivesse naquele ano no time, meu Deus do céu, as coisas iriam ser muito boas. Pela minha inteligência de jogo, com o Michael daquele jeito, as coisas iriam dar muito certo. Até aconteceu, o Goiás foi bem, mas comigo iria acontecer muito mais, tenho certeza disso.
Elder Dias – Qual foi o gol mais bonito que você fez?
Graças a Deus, eu tenho muitos gols bonitos. Só que tem um muito importante e que as pessoas nunca esquecem: foi o que eu fiz contra o Flamengo, em 2013, pelo Brasileiro. Eu peguei de primeira um cruzamento, sem chance para o goleiro, que era o Felipe. Esse gol aí, é aquele que o povo de todo canto me fala: “Ê Walter, mas aquele gol contra o Flamengo foi muito bonito”. Acho que marcou minha vida e a dos flamenguistas (risos).
Cilas Gontijo – O único time de Goiânia em que você nunca jogou é o Vila Nova. Foi porque nunca recebeu convite?
Tive muitos convites, sim. O Vila é um time grande, é o meu perfil, sou um cara guerreiro. Mas eu tenho um carinho e uma gratidão muito grande pelo Goiás, eu tenho uma história muito bonita lá. Tenho certeza de que, assim que eu vestisse a camisa do Vila, essa história minha do Goiás iria se apagar, e eu não quero isso. Penso que minha volta para o Goiás em 2019 foi boa para limpar minha imagem, que tinha ficado um pouco arranhada em 2017. Tive cinco convites do Vila, mas preferi não aceitar justamente para não apagar essa imagem bonita que deixei no Goiás.
Elder Dias – Você acha que o Goiás valoriza seus ídolos?
Não. O que eu fiz no Goiás, se fosse no Vila, imagina… A torcida do Goiás, sim, é grata, sempre tem carinho quando me veem. Aqui em Goiânia, aliás, eu sou um dos poucos jogadores amados por todas as torcidas, me sinto assim. A torcida do Vila me ama, já fui assistir jogo do Tigrão e fui muito bem tratado por lá, da mesma forma no Atlético. Mas, falando de clube, as coisas são difíceis nesse sentido, o povo [diretoria] não sabe valorizar seu jogador. Basta ver o caso do Fernandão, um cara teve de morrer para se tornar ídolo do clube. Todos sabem que ele é mais ídolo no Internacional. O Araújo é outro exemplo de jogador que não é valorizado no clube. Lá no Vila, o Robston [ex-jogador] conseguiu um acesso da Série C para o Vila e é ídolo lá para eles. O que eu joguei e fiz de gols pelo Goiás, se fosse pelo Vila eu não poderia andar nas ruas.
Cilas Gontijo – Você se arrepende por não ter jogado no Vila Nova?
Não, por tudo o que eu já disse, tenho muita gratidão pelo Goiás e pelo “seu” Hailé.

O Goiás precisa aprender a preservar a história dos seus ídolos
Elder Dias – O Goiás parece mesmo não valorizar seus craques do passado. Você acha que isso é responsabilidade da diretoria?
Sim, da diretoria. O Goiás precisa aprender a preservar a história dos seus ídolos. O Harlei, que foi um dos maiores ídolos do clube e também não teve o reconhecimento devido, mas trabalha lá dentro [como vice-presidente de futebol], ele poderia muito bem fazer isso, poderia partir dele a iniciativa de começar a valorizar os ídolos, porque ele mesmo sentiu isso na pele. Para você ver: depois de tudo o que ele fez no clube, não teve um jogo de despedida, penso que mereceria isso, junto à torcida que o ama. Afinal, foram 15 anos no clube, a história dele é igual à do Rogério Ceni [ex-goleiro, hoje treinador] no São Paulo, a do Marcos [ex-goleiro] no Palmeiras e o Fábio [goleiro do Fluminense] no Cruzeiro. O Harlei dirigente é uma coisa, mas no Harlei jogador a torcida é apaixonada. O Goiás precisa melhorar nisso. Para ter ideia, o Michael jogou muito, embora tenha sido só um ano. Minha história no clube é grande e mais vitoriosa até do que a dele. Depois do Fernandão, eu sou o último ídolo do Goiás. A diretoria do Goiás é muito fria. Para você entender, as duas conquistas mais importantes do clube foram em 1999 e 2012, com os títulos da Série B. Eles não se lembram, não fazem uma homenagem, não postam nada sobre o assunto. Agora faz dez anos da última conquista e ainda não vi nada em lugar nenhum.
Elder Dias – E como é para você, depois de ter uma carreira tão cheia de momentos brilhantes, estar hoje no Goiânia, na 2ª divisão do Estado, e um clube de tão pouca estrutura?
Eu já passei por tudo no futebol, em clubes de estruturas muito boas. Também tive meus momentos bons e momentos muito ruins. No Goiânia, o Alexandre [Godoy, dirigente do clube] assumiu o clube em uma situação complicadíssima, um time quebrado, sem divisão. Hoje o Goiânia é outro time, tem uma concentração para os atletas dormirem, tem comida boa para os jogadores, têm os profissionais para trabalhar, um campo para treinar. Lógico, ainda precisa arrumar muita coisa, mas é só uma pessoa fazendo isso tudo. O Goiânia era um clube grande da cidade, poderia ter mais gente para ajudar, para fazer parcerias, coisas assim. Infelizmente, o clube nem tem muito dinheiro e entra gente para pegar esse resto que tem. Aí, é recomeçar, do zero.
O Goiânia está fazendo um time para subir de novo e estou lá para ajudar da melhor forma, dentro ou fora de campo, porque o Alexandre é muito amigo. Fiquei de três a quatro meses parado, muitas coisas acontecendo na minha vida e eu pensando se voltava a jogar neste ano, ou só no ano que vem. O Alexandre conversou comigo, me pediu para ajudar e jogar no clube e achei que seria bom. Começo a trabalhar agora e me preparo, entro em forma para estar bem no final do ano. Sei que não estou no melhor da forma, falta muita coisa mesmo, mas só de voltar a jogar, sentir o gostinho do campo, treinando, está sendo uma experiência muito boa vestir a camisa do Goiânia.
Cilas Gontijo – E os companheiros de elenco no clube, são bons?
É um elenco bom, um grupo que quer vencer. Fiquei um mês treinando no Goiânia antes, só para conhecer. Pode ter certeza de que é um grupo comprometido com os objetivos. E há bons profissionais nos dando apoio como o Henrique [diretor de futebol], Marcus [Alexandre, treinador da equipe], um cara muito bom, que estava com quase 20 anos nas categorias de base no Vasco e que me surpreendeu.
Elder Dias – Falando como um cidadão. Como você vê esse momento político que o Brasil está vivendo?
Eu não entendo muito de política. Mas eu percebi, por exemplo, que muitas falas do presidente [Jair Bolsonaro] em relação a pandemia agravaram a situação. Porém, o PT ficou 14 anos no poder e deixou o País do jeito que ficou. Sou nordestino e vi muitas coisas que o Lula [presidente de 2003 a 2010] fez por lá, mas também vi a corrupção no governo dele. Na verdade, em minha opinião, não seria nenhum dos dois o próximo presidente. Gostaria que tivesse uma terceira via, no entanto, não tem. Como preciso escolher um lado, fico com Bolsonaro.
* Cilas Gontijo é estagiário do Jornal Opção em convênio com a UniAraguaia, sob a supervisão do editor PH Mota.