“Fascismo de esquerda” é delírio de Ciro Gomes, segundo cientista política
28 setembro 2022 às 14h05
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O ex-governador do Ceará e candidato à presidência da República, Ciro Gomes (PDT), vem repetindo a expressão “fascismo de esquerda” durante a sua campanha eleitoral, como forma de equiparar as campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Por exemplo, ele usou o termo durante a sabatina realizada pelo jornal Estadão, no qual disse que o movimento seria “liderado pelo Partido dos Trabalhadores” no Brasil. Na ocasião, o vice-presidente do Partido Democrático Trabalhista estava se referindo às pressões e ataques da ala de esquerda que apoia o ex-presidente Lula. Entretanto, sem mais delongas, existe “fascismo de esquerda”?
De acordo com a cientista política Ludmila Rosa, em entrevista para o Jornal Opção, o fascismo conceitualmente faz parte do espectro político de direita. “Os fascistas eram avessos aos comunistas. É autocrático, autoritário, personalista, populista, tem a ideia do culto ao líder e identificação da nação com essa liderança”, explica. Ou seja, segundo a especialista, a fala do presidenciável é um “delírio” e está “completamente equivocada”.
Ludmila acredita que as falas do pedetista podem ser analisadas estrategicamente em duas frentes: ressentimento com a disputa eleitoral ou busca por força política para 2026.
No primeiro caso, ela defende que o candidato não estaria conseguindo lidar com a possível derrota nas urnas e a “desidratação” de sua campanha eleitoral. “É como se ele já estivesse de alguma maneira rendido diante dessas candidaturas que estão consolidadas. Sem saber como lidar com isso, me parece que está no momento de ressentimento”, refletiu a cientista. “Será que o Ciro imaginou que poderia sair disparando uma metralhadora para todos os principais concorrentes e que ninguém revidaria de alguma maneira? É muita ingenuidade”.
Ludmila avalia que Ciro está dando mais importância para si, do que o processo eleitoral dá para ele, incluindo nos ataques ao movimento recorrente e natural de transferência de votos, típico das eleições. “Ele personalizou muito a ideia de que o voto útil seria para drená-lo e acabar com ele. Não é sobre isso, é uma estratégia legítima e faz parte do xadrez político. Afinal, o objetivo é ganhar a eleição”, afirmou.
Na outra frente, Ludmila acredita que Gomes possa estar “flertando” com o eleitorado mais à direita que defende o antipetismo. Dessa forma, seria uma mudança estratégica para as próximas eleições buscando os eleitores de Jair Bolsonaro (PL). “Pode estar mirando o próximo processo eleitoral, com o objetivo de canalizar a sua força política para esse grupo que vota no atual presidente. Mas, por conta do voto ser muito personalista, essas pessoas podem buscar um sucessor”, contou a analista.