Ciro Gomes (PDT) já fez de tudo para ganhar eleições presidenciais. Está na quarta tentativa e parece que nunca esteve tão longe do intento. Corre o risco de fechar esta campanha com uma votação de menos da metade do que conseguiu em 2018.

É bem verdade que ultimamente ele tem tentado ser o maior responsável pelo próprio fracasso, mas seria injusto creditá-lo ao pedetista. É que em 2018 havia apenas o antipetismo como força impactante; agora, a essa rejeição se juntou outra, contrária e de igual (ou maior) força, chamada antibolsonarismo.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) atraem multidões a si, por si mesmo e por serem considerados um o antipolo do outro. O cenário maniqueísta está posto desde a liberação de Lula para concorrer às eleições.

Não haveria, como não há, espaço para uma terceira via em tais condições. De um lado, todos veem Bolsonaro como o único que pode deter o avanço do comunismo no Brasil – e, para esses, “comunismo” é tudo que não seja Bolsonaro. Do outro, Lula, duas vezes presidente, nunca deixou de ser popular nem no pior momento do PT: basta lembrar que em 2018 o atual arquirrival perdia em todas as pesquisas de intenção de voto até que a candidatura do petista foi negada.

Lula é maior do que o PT e maior do que a esquerda, porque as pessoas simples – e notadamente as mais pobres –, sem ideologia política alguma, veem nele o único que pode mudar para melhor suas vidas. Por quê? Porque ele já foi presidente por oito anos e fez isso acontecer na vida delas.

Lula, com todas as suas falhas, é um democrata. Bolsonaro, ainda que tivesse acertado tudo (e passou longe disso), é um autoritário

Então, Ciro já seria menos votado do que há quatro anos, naturalmente. O que ele faz, ao dobrar a aposta contra Lula e a igualá-lo a Bolsonaro, é dizer que “não sendo eu”, qualquer um dos outros é a mesma coisa. Só que não é. Lula, com todas as suas falhas, é um democrata. Bolsonaro, ainda que tivesse acertado tudo (e passou longe disso), é um autoritário.

Ao colocar os dois no mesmo patamar de “estelionato eleitoral”, como fez em seu previsível “pronunciamento à Nação”, Ciro Gomes oficializa o que quem conhece o mundo político já sabe há muito tempo: o que vale é apenas “ele” comandando o projeto “dele” e ninguém mais. Não há negociação possível.

Não havendo negociação possível, só resta a Ciro a consequência do que vem buscando, como que numa autossabotagem: aumentar o fracasso que já teria diante de dois homens cheios de votos e de devotos.

Portanto, ao repetir no “manifesto” desta segunda-feira tudo que já vinha falando em debates e entrevistas, o pedetista nos deixa a não notícia: veio a público para dizer que diria o mesmo que vem dizendo há meses. O “breaking news”, na verdade, era “clickbait”.

Sendo assim, Ciro Gomes vem cada vez mais se colocando nesta eleição como o mais bem preparado – para disputar a medalha de bronze. Mas, cuidado: Simone Tebet vem aí e pode não sobrar nem lugar no pódio.